sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Vocabulário básico para uma “Análise do Discurso”



 

Vocabulário básico para uma “Análise do Discurso”




É importante conhecer alguns conceitos básicos que são utilizados durante a análise filosófica de um discurso. 
Por exemplo, quando se diz “enunciado”, devemos entendê-lo como sendo aquela “sequência acabada de palavras de uma língua emitida por uma ou vários falantes”. O 'fechamento' do enunciado é assegurado por um período de silêncio (realizado pelo falante) antes e depois da sequência de palavras, lembrando que ele pode ser formado de uma ou mais frases. Além dos enunciados gramaticais e semânticos, podemos ter também enunciados agramaticais e assemânticos. Pode-se acrescentar um adjetivo se se quiser qualificá-lo. Então teremos:
tipos de discurso: enunciado literário, polêmico, didático, etc.; 
tipo de comunicação: enunciado falado ou escrito; ou ainda 
tipo de língua: enunciado francês, latino, etc. 

Então, um conjunto de enunciados constituirá o corpo de dados empíricos (corpus) da análise linguística.

Em oposição complementar ao enunciado, teremos a “enunciação”, que é o "ato individual de utilização (ou criação) da língua". Assim, a enunciação é constituída pelo conjunto dos fatores e dos atos que promovem a produção de um enunciado. Noutras palavras, enunciado é simplesmente o resultado do ato de enunciação. A enunciação é a emissão de um conjunto de signos que é produto da interação de indivíduos socialmente organizados.
Já, a “interlocução” é o processo de interação entre pessoas através da linguagem verbal ou não-verbal, sendo o “discurso”, o efeito de sentido construído no processo de interlocução (opondo-se assim àquela concepção de língua como mera transmissão de informação). 

“O discurso não é fechado em si mesmo e nem é do domínio exclusivo do locutor: aquilo que se diz significa em relação ao que não se diz, ao lugar social do qual se diz, para quem se diz, em que relação a outros discursos” (Orlandi).

O discurso constitui “o ponto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos”. A linguagem enquanto discurso de signos, serve apenas como instrumento de comunicação ou suporte de pensamento, mas a linguagem enquanto discurso é interação, um modo de produção social.  Importante considerar que a linguagem está muito longe de ser neutra ou inocente (na medida em que está engajada numa intencionalidade). Ela é, sem dúvida, o lugar privilegiado de manifestação da ideologia.

Como elemento de mediação necessária entre o homem e sua realidade e como forma de engajá-lo na própria realidade, a linguagem constitui lugar de conflito, de confronto ideológico, não podendo ser estudada fora da sociedade, pois os processos que a constituem são histórico-sociais. Seu estudo não pode estar desvinculado de suas condições de produção. ” (Brandão).

O processo de formação social, por sua vez, caracteriza-se por um estado determinado de relações entre as classes que compõem uma comunidade em dado momento de sua história. Estas relações estão assentadas em práticas exigidas pelo modo de produção que domina a formação social. A essas relações correspondem posições políticas e ideológicas que mantém entre si laços de aliança, de antagonismo ou de dominação.

Já, a formação ideológica é constituída por um conjunto complexo de atitudes e representações que não são nem individuais, nem universais, mas dizem respeito, mais ou menos diretamente, às posições de classes em conflito umas com as outras. Cada formação ideológica pode compreender várias formações discursivas interligadas. Assim, uma  formação discursiva é um conjunto de enunciados marcados pelas mesmas regularidades,  pelas mesmas regras de formação. A formação discursiva se define pela sua relação com a formação ideológica, isto é, os textos que fazem parte de uma formação discursiva remetem a uma mesma formação ideológica. A formação discursiva determina “o que deve ser dito” a partir de um lugar social historicamente determinado. Um mesmo texto pode aparecer em formações discursivas diferentes, acarretando, com isso, variações de sentido.

As regras de formação são regras constitutivas de uma formação discursiva, possibilitando a determinação dos elementos que a compõem. Foucault apresenta-as como um sistema de relações entre os objetos do discurso, os diferentes tipos de enunciação que permeiam o discurso, os conceitos e as diversas estratégias capazes de dar conta de uma formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias.

Para a Análise do Discurso, não existe sentido a priori, mas ele é construído, produzido no processo da interlocução; por isso deve ser referido às condições de produção (contexto histórico-social, interlocutores...) do discurso. Segundo Pêcheux, o sentido de uma palavra muda de acordo com a formação discursiva a que pertence. O sujeito, na perspectiva da Análise do Discurso, deixa de ser uma noção idealista, imanente; o sujeito da linguagem não é o sujeito em si, mas tal como existe socialmente, interpelado pela ideologia. Dessa forma, o sujeito não é a origem, a fonte absoluta do sentido, porque na sua fala outras falas se dizem. Para Pêcheux, “a ilusão discursiva do sujeito consiste em pensar que é ele a fonte, a origem do sentido do que diz”.

A forma-sujeito é uma denominação criada por Pêcheux para indicar o sujeito afetado pela ideologia. Já, o texto é a unidade complexa de significação cuja análise implica as condições de sua produção (contexto histórico-social, situação, interlocutores). Para Orlandi, o texto como objeto teórico não é uma unidade completa; sua natureza é intervalar, pois o sentido do texto se constrói no espaço discursivo dos interlocutores. Mas, como objeto empírico de análise, o texto pode ser um objeto acabado com começo, meio e fim.

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