quinta-feira, 27 de agosto de 2015

reflexão: tempestades nas asas de uma borboleta

Excelente reflexão de Flávio Siqueira! O texto fala dos milagres que não percebemos, dos milagres dos quais participamos sem percebermos nosso protagonismo no cenário que se mostra a nós e aos outros.
Siqueira fala sobre a necessidade premente de estarmos atentos.
Atenção é tudo! Atenção a si, atenção ao outro, atenção ao outro em mim...
Quantos "sinais" estamos "perdendo", por simples e ingênua desatenção!
Quantos significados perdidos! Quantos equívocos poderiam ter sido evitados? 
Quantas respostas já não estão aí, a nossa frente, mas não reparamos nelas, atordoados que estamos pelos nossos próprios pensamentos e emoções confusas...

silvio mmax.

by flaviosiqueira

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Gosto de uma cena narrada por Saint Exupéry em Terra dos homens. Ele conta que logo pela manhã estava diante do espelho rachado, toalha no pescoço, fazendo a barba enquanto se preparava para decolar. Ele ouve um leve ruído. Um pequeno inseto bate em sua lanterna e então acontece o milagre: "Sem que eu saiba por quê" - ele diz, "esse pequeno inseto parece dar uma picada em meu coração."
Pouco depois uma borboleta verde. Alguns segundos e dois outros insetos parecem querer dizer alguma coisa. Inquieto o piloto/escritor para o que está fazendo e vai observar o tempo com mais cuidado. Apesar da sutileza os sinais ocupam seus lugares: o vento, a poeira, a temperatura, os insetos... Todos dizendo a mesma coisa: Uma tempestade de areia se aproxima.
Sempre que leio essa passagem fico pensando nas borboletas que não vi. Nos sinais do dia a dia, tão cotidianos para merecerem minha atenção, sempre na expectativa de algo grandioso, de trombetas, pirotecnias, espetáculos que supram a necessidade de respostas.
É essa expectativa que nos torna tão expostos aos "vendedores de facilidades", tão cegos para os movimentos sutis, constantes, presentes da vida. Corremos atrás de muito barulho, de complexidades que nos frustarão, promoverão distrações e nada mais.
Você não precisa ser "merecedor" de respostas. Elas já estão espalhadas pelo caminho. Tudo o que precisa é aquietar-se e deixar que a "picada em seu coração" lhe mova o rosto para o que os insetos querem dizer. Tudo fala. Eu que não ouço.
Saint Exupéry termina dizendo "O que me enche de alegria bárbara é haver compreendido por um leve sinal uma linguagem secreta, é haver farejado a tempestade como um primitivo, em que todo o futuro se anuncia por leves rumores. É ter lido a cólera do deserto no fremir das asas de uma lavadeira."
Os insetos. As sutilezas. Os milagres. A vida. Só os simples percebem.

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