quinta-feira, 9 de junho de 2016

o condicionamento, o apego e o acúmulo - parte III

a causa do apego

Por que somos tão apegados a alguma coisa, nossos haveres, pessoas, ideias, crenças? (…) Não há um sentimento de temor, se não estamos apegados a alguma coisa? Se não estou apegado a meu amigo, a uma ideia, uma experiência, um filho, irmão, mãe, esposa morta? (…)
(Transformação Fundamental, pág. 14-15)

Vede, (…) eu sou apegado; meu apego resulta de temor, de variadas formas de solidão, de vazio, etc. (…) Quando a mente está assim vigilante, cônscia, pode então perceber o inteiro significado do apego. Mas, não se pode discernir todo o significado interior do apego, se há qualquer forma de condenação, comparação, julgamento, avaliação.
(Idem, pág. 15)

(…) O sexo, a bebida, a fama, a idolatria, com toda a sua complexidade; o desejo de autopreenchimento seguido da inevitável ambição e frustração; busca de Deus, da imortalidade. Todas essas formas de íntimas exigências geram o apego, que é a origem do medo, do sofrimento e da dor da solidão. (…)
(Diário de Krishnamurti, pág. 65)



É possível liberta-se do “eu”? (…) Em outras palavras: é possível ser totalmente livre de apegos (que é um dos atributos, uma das qualidades do “eu”)? As pessoas são apegadas à própria reputação, ao próprio nome, às próprias experiências. (…) Se você quer realmente libertar-se do “eu”; isso significa ausência de laços; o que não quer dizer que você se torne desinteressado, indiferente, insensível (…)
(Perguntas e Respostas, pág. 11)

Nosso problema, pois, consiste em libertar a mente dessa atividade egocêntrica, não só no nível das relações sociais, mas também no nível psicológico. É essa atividade do “eu” que está causando males e sofrimentos, tanto em nossas vidas individuais como em nossa existência como grupo e como nação. E só podemos pôr fim a tudo isso se compreendermos inteiramente o processo do nosso pensar. (…)
(Claridade na Ação, pág. 46)

São sutis as atividades de acumulação; a acumulação é afirmação do “eu”, tal como o é a imitação. Chegar a uma conclusão é levantar o indivíduo uma muralha ao redor de si mesmo (…) Uma mente oprimida pela acumulação é incapaz de acompanhar o célere movimento da vida, incapaz de uma vigilância profunda e flexível.
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 249-250)

Interiormente, psicologicamente, todo o processo da memória, que é acumulação de experiência, de conhecimentos, é um meio pelo qual o “eu”, o “ego”, pode achar segurança e perpetuar-se. (…) Pode haver, porém, preenchimento para o ego? (…) Certo, o “eu” é só uma ideia, não tem realidade.

O “eu” que busca a prosperidade, riqueza, posição, prazer, o “eu” que está sempre evitando a dor, que se esforça (…) para aumentar, vir-a-ser - essa entidade não é mais do que uma ideia, um desejo que se identificou com dada forma de pensamento. (…)
(Percepção Criadora, pág. 117)

Nessas condições, a liberdade, ou a verdade, ou Deus, é o aliviar da mente, que é, ela própria, inteligência, do fardo da memória. Já vos expliquei o que entendo por memória, (…) a carga imposta à mente pela consciência do “eu” (…) A imortalidade não é a perpetuação dessa consciência do “eu”, mero resultado de um ambiente falso, mas a liberdade da mente aliviada do fardo da memória.
(A Luta do Homem, pág. 64)

Permiti-me (…) Não é certo que, por muitas de nossas ações, estimulamos, de maneira positiva, a expansão do “ego”? Nossa tradição, nossa educação, nosso condicionamento social, tudo isso sustenta (…) as atividades do “ego”. Essa atividade positiva pode assumir forma negativa: não ser coisa alguma. Nossa atuação é, pois, sempre uma atividade positiva ou negativa do “ego”. (…)
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 188)

O ansiar não é a raiz do “ego”? Como pode o pensamento, que se tornou o veículo da expansão pessoal, agir sem alimentar o “ego”, a causa do conflito e da dor? (…) Nutrimos o “ego” por muitas maneiras e, (…) devemos compreender o seu significado. (…) Servimo-nos da religião e da filosofia como instrumentos da expansão do “ego”; nossa estrutura social está baseada no engrandecimento do “ego” (…)
(Idem, pág. 189-190)

O esclarecimento, a compreensão do Real, não poderá vir nunca pela expansão do “ego”, por um esforço realizado pelo “ego” no sentido de crescer, vir-a-ser, alcançar algo (…) A consciência individual é produto da mente e a mente é resultado de condicionamento, de anseios, sendo, portanto, a sede do “ego”. Só depois de cessar a atividade do “ego”, da memória, apresenta-se um consciência totalmente diferente (…) Essa consciência, por mais que venha a expandir-se, prende-se ao tempo e por isso não se encontra nela o Atemporal.
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 200)

Nessas condições, essa atividade expansiva do “ego”, essa inteligência, por mais atenta, por mais capaz e diligente que seja, não pode ultrapassar a própria escuridão e alcançar a Realidade. Essa inteligência não pode, em tempo algum, resolver os seus conflitos e tribulações, porquanto estes resultam da atividade dela própria. É incapaz essa inteligência de descobrir a Verdade (…)
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 259)

(…) Quando observamos o que se passa em nossas vidas e no mundo, percebemos que a maioria de nós, por métodos sutis ou grosseiros, ocupamo-nos da expansão do “ego”. Almejamos expansão pessoal (…); para nós, a vida é um processo de contínua expansão do “ego”, por meio do poder, da riqueza, do ascetismo ou da prática da virtude (…) Estamos sempre a lutar dentro das grades do “ego” (…)
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 186)

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