quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Breve Introdução à Epistemologia


epistemologia, o que é?

A palavra epistemologia não é encontrada na literatura grega antiga. Apesar do problema do conhecimento fazer parte das questões da Filosofia desde os gregos antigos, o termo epistemologia começou a ocupar maior espaço na literatura filosófica apenas na modernidade.
Não obstante, o termo grego que origina a expressão (episteme) começa a ser mais comumente encontrado na literatura do período clássico (Sófocles, Platão e Aristóteles), em torno do século V a.C. Este período marca o auge da polis grega.
Uma epistemologia é uma forma de indagar a realidade. A palavra epistemologia é definida no dicionário etimológico de Antonio Geraldo da Cunha como:
“o estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas e que visa a determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance objetivo delas.”
Mais especificamente, os vocábulos espiteme e logos provêm do grego e significam “ciência” e “estudo”, respectivamente. De outro modo, dizemos que epistemologia é um conjunto de conhecimentos teoricometodológicos interligados que permitem elaborar uma forma de investigação de um objeto. Epistemologia é o estudo dos princípios de investigação que direcionam um modo de enfrentar um certo tema.
Enfim, nada mais é do que o “estudo do conhecimento científico”. A palavra designa o conjunto de pesquisas que buscam responder à questão "O que é a ciência?”, colocando particularmente a questão das relações entre a ciência e as formas não científicas do saber. Em última instância, por epistemologia designa-se o que se entende hoje por Filosofia da Ciência.

O que é ciência?
Etimologicamente, o vocábulo “ciência” vem do latim scientia, que quer dizer sabedoria. Hodiernamente, há dezenas de conceituações, mas pouco consenso. Para chegarmos ao conceito de ciência, devemos recorrer a uma disciplina externa a ela mesma: a filosofia da ciência.


Observando inúmeros fatos do nosso dia a dia, percebemos a ocorrência de fenômenos regulares, que se repetem: as estações do ano, a atração dos corpos, os ciclos da natureza em geral... Ao examinar as regularidades, a ciência procura chegar a uma conclusão geral que possa ser aplicada a todos os fenômenos semelhantes; ela procura estabelecer “enunciados generalizadores”, descobrir as leis que regem o mundo.

Conforme nos adverte Paul Davies, a ciência envolve mais do que a mera catalogação de fatos ou a descoberta por meio da tentativa e erro, dos modos de proceder para que as coisas funcionem. A “verdadeira ciência” envolve “a descoberta de princípios que subjazem e conectam os fenômenos naturais”. Tais princípios, para serem válidos, devem operar como leis (serem universais e necessárias). A função básica destes enunciados é explicar sinteticamente como o mundo funciona e prever novos fenômenos.
Para sabermos melhor o que é “conhecimento científico”, precisamos distingui-lo do chamado conhecimento do senso comum. Se pensarmos em como os antigos interpretavam o mundo, podemos chegar no ponto de nos perguntar: como duvidar que o sol seja menor do que a Terra se, todo dia, vemos um pequeno círculo de cor vermelha percorrendo o céu? Como duvidar que a terra seja imóvel se diariamente vemos o sol nascer, percorrer o céu e se pôr? Cada espécie de animal não surgiu tal como a conhecemos? Como imaginar um peixe evoluindo até tornar-se réptil ou pássaro, se não presenciamos ditas transformações em nosso cotidiano? 
Questões como estas estão presentes na nossa vida e expressam o que nós chamamos de "senso comum". Porém a astronomia nos revela que o sol é muitas vezes maior do que a Terra e que é a Terra que se move em torno dele, ou que certas espécies complexas surgiram de outra mais simples.
O senso comum encerra um saber não-sistematizado, mas útil para o homem na sua vida cotidiana. É obtido geralmente pelas observações realizadas pelos sentidos, sem preocupar-se com a investigação e o questionamento, ao contrário da ciência.


Os Tipos de Conhecimento 
No processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode escolher diferentes ângulos de observação e assim, construir distintas categorias de conhecimento. Por exemplo, ao estudar o Homem, podemos observá-lo empiricamente, como se comporta em sociedade; podemos analisá-lo como ser biológico, verificando minuciosamente as relações existentes entre os órgãos e suas funções; pode-se questioná-lo filosófica e antropologicamente quanto à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; igualmente, podemos observá-lo como ser criado pela divindade e refletirmos criticamente sobre o que dele dizem os textos sagrados das distintas religiões.
Notamos, portanto, que apesar da separação metodológica entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, estas formas de conhecimento podem coexistir. Por exemplo, um cientista dedicado à Física Quântica, pode ser praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum.

Para entendermos cada um desses tipos de conhecimento, vamos primeiramente traçar um paralelo entre conhecimento científico e conhecimento popular: 

Relações entre o conhecimento popular e o científico 

O conhecimento vulgar ou popular (também chamado de senso comum), não se distingue do conhecimento científico, nem pela veracidade, nem pela natureza do objeto conhecido. O que os diferencia é a FORMA, O MODO ou o MÉTODO, bem como os INSTRUMENTOS que cada um utiliza para o ato de conhecer. Podemos afirmar que o conhecimento vulgar visa às coisas, enquanto o conhecimento científico estuda sua constituição íntima e suas causas.
É importante ter em mente que a ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade.
Um objeto ou fenômeno pode ser observado tanto pelo cientista quanto pelo homem comum. O que leva um ao conhecimento científico e o outro ao saber popular é a forma de observação. Tanto o "bom senso", quanto a "ciência" se pretendem saberes racionais e objetivos, mas nunca o são completamente, como veremos em capítulos posteriores.
Se analisarmos qualquer situação de nosso cotidiano, poderemos notar como estas duas modalidades se comportam: uma simples dor de estômago ou de cabeça, por exemplo: No âmbito popular, empírico, transmitido de geração em geração por meio da educação informal ou pela experiência pessoal, várias “soluções” surgirão: “a dor foi causada pela ingestão de algum alimento estragado” ou “porque comemos muito depressa”, ou ainda “devido a alguma entidade maléfica ou diabólica”. Não faltará a receita de um amigo que conhece uma erva ou comprimido eficaz (mesmo que se ignore sua composição, a natureza da dor e a forma de atuação do medicamento).
O "bom senso", apesar de sua aspiração à racionalidade, só consegue atingir essa condição de forma limitada. O modo comum e espontâneo de conhecer se adquire no contato direto com as coisas e com os seres humanos. É um saber que se elabora sem a preocupação com a aplicação de um método sistemático e rigoroso. É aquele saber que todo ser humano comum desenvolve, no contato direto e diário com a realidade. Este tipo de conhecimento, obtido por informação ou experiência casual, recebe o nome de conhecimento vulgar ou empírico.
Dizemos ser “vulgar” porque possível a todo ser humano, de qualquer nível cultural.  Não questiona, não analisa, não exige demonstração, é ocasional e assistemático. Estrutura-se como um conjunto de crenças e opiniões, utilizadas em geral para objetivos práticos. É basicamente desenvolvido por meio dos sentidos, e não tem intenção de ser profundo, sistemático e/ou infalível.
Verificamos que o conhecimento científico diferencia-se do popular muito mais no que se refere ao seu contexto metodológico, do que propriamente ao seu conteúdo ou objeto. Essa diferença ocorre também em relação ao conhecimento filosófico e teológico. Veja, sinteticamente, as características principais dos quatro tipos: 


SINTETIZANDO, o conhecimento popular mostra-se:

Superficial
Conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente observando as coisas ou colhendo informações informalmente.
Sensitivo
Referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária.
Subjetivo
 é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos.
Assistemático
 a organização da experiência não visa a uma sistematização das idéias, nem da forma de adquiri- las, nem na tentativa de validá- las.
Acrítico
 verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica.

Já, o Conhecimento Científico mostra-se:

Real, factual
 lida com ocorrências e fatos, isto é, com qualquer fenômeno observável e manifestado de algum modo.

Contingente
 suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade atestada por meio da experimentação e não pela pura razão, como ocorre no conhecimento filosófico.
Sistemático
 saber ordenado logicamente, formando um sistema de idéias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos.
Verificável
 as hipóteses que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência.
Falível
 em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final.
Aproximadamente exato
novas proposições e o desenvolvimento de novas técnicas ou novas metodologias podem reformular o acervo de teorias existente.


Observe que a objetividade, a neutralidade ou a exatidão (equivalência da teoria com a realidade) não são mais consideradas condições ou qualidades do conhecimento científico, como era consenso geral até fins do século XIX.

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