terça-feira, 16 de maio de 2017

a arte de distorcer estatísticas...



 

Você facilmente pode notar que o quadro acima não faz o menor sentido, não é mesmo?
Por outro lado, ele não afirma nenhuma falsidade absoluta.  Nenhum dos 'fatos' mencionados é, em si mesmo, mentiroso. Quando lemos um jornal, revista ou postagem nas redes sociais, pode ocorrer o mesmo.
Pode ocorrer do fato, em si, ter ocorrido. Mas, as conclusões que as pessoas querem que você aceite rapidamente, nem sempre são válidas.

O problema é que os fatos, por si próprios, não dizem muita coisa. O problema começa quando começamos a interpretá-los. E sempre fazemos isso!
Além disso, sentimos um prazer quase irresistível em estabelecer conexões, relações e vínculos de causalidade entre eles. Adoramos buscar sentido (ainda que esse sentido só faça sentido para nós mesmos ou ao grupo ao qual integramos).
Pois bem!
Para que fatos aparentemente evidentes não nos levem a conclusões falsas, é preciso que façamos uma criteriosa contextualização espacial e temporal entre eles. E não apenas isso! É preciso também não se deixar iludir pelas chamadas "falácias" (erros de raciocínio) que podem contaminar a argumentação e invalidar totalmente certo raciocínio e, portanto, também a conclusão. Mas isso nem sempre é fácil. 

É mais fácil notar o óbvio, aquilo que se mostra aos olhos... mas até aí há armadilhas, pois nosso olhar nunca é "neutro", jamais é completamente "imparcial". Nosso "olhar", aquilo que achamos que estamos vendo já é resultado de vários filtros (mentais, cerebrais e psicológicos) que aplicamos quase sempre sem perceber.
Daí, quando começamos a relacionar dois ou mais fatos entre si, o risco de equívocos de interpretação é muitas vezes maior... e as conclusões frequentemente são falsas ou inválidas. 

Ora, se alguém lhe 'prova' estatisticamente, que 'água faz mal', você não precisa raciocinar muito para entender que tal 'prova' não presta, correto?

Você nota que a água só faz mal se for mal usada ou se estiver no lugar errado.  Assim é como, qualquer remédio se torna veneno.

Porém, quando a questão envolve ideologias religiosas, políticas, sociológicas ou mesmo científicas, quando envolve temas metafísicos ou culturais, já não é tão fácil perceber o engodo, o sofisma (seja material ou formal), os equívocos, as generalizações apressadas, as falsas analogias, as aporias, os estereótipos, os fatos ocultos, as meias-verdades, e assim por diante...

Então, muito cuidado! não acredite cegamente nas conclusões (mesmo que aparentemente lógicas) que se pode extrair a partir de dados estatísticos "puros" e "autênticos". 
Além disso, não é porque o raciocínio e o argumento lhe parece sofisticado e elegante, recheado de terminologia técnica, que ele será necessariamente verdadeiro. Os jornais, os telejornais, as revistas, as redes sociais, os livros e até muitos compêndios ditos 'científicos' estão repletos de falácias de todo tipo.

Muitas "falsas relações de causalidade" são induzidas na psicologia das massas a partir da propaganda ideológica veiculada pelas distintas mídias. E os dados estatísticos sempre são invocados quando se deseja convencer alguém de que certa pessoa ou ideologia é boa ou ruim. E isso nem sempre é fácil de se notar. 

Na dúvida, melhor antes estudar as falácias formais e materiais. Não aceite nada automaticamente, apenas porque foi dito por alguém com alguma autoridade, por um erudito, por alguém inteligente ou com muitos títulos acadêmicos... 
 
A filosofia nos ajuda nesse caminho pedregoso, já que estuda minuciosamente todos os tipos de falácias e sofismas, comumente encontrados nos discursos que ouvimos todos os dias, nas igrejas, nos palanques políticos, ou nos ambientes acadêmicos.
 
Use seu bom senso! E não tenha pressa de concluir nada, de aceitar nada, de engolir as ideias e discursos alheios.



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