Como é sentir-se num corpo que mal
consegue conter a grandeza da própria alma? Qual é a alegria e a dor de
nascer num país de tantas riquezas naturais e culturais, cujo povo
desconhece sua história e seu valor? Como é ser um intelectual num país
como o Brasil?
O Educador bauruense Antonio João Fraga Padilha
sabia. E podiam também experimentá-lo, todos que tivemos a honra, o
privilégio, a felicidade, o destino e a bênção de conhecê-lo ou de tê-lo
como professor.
É!! Nossa cidade acaba de sofrer uma perda
inenarrável. Impossível quantificar quanto aprendemos e quantos
aprenderam de seus lábios, de sua caligrafia pedagógica, de suas
pesquisas... Bauru acaba de ver passar um de seus grandes, uma alma
ímpar, um como poucos, lhes garanto! Conselheiro da 1ª diretoria da
Sociedade Bauruense de Esperanto (ainda em 1965) e cofundador da
Academia Bauruense de Letras, nosso caro mestre ainda era poeta,
escritor, poliglota, pesquisador da História e da Ciência Política,
profundo conhecedor das religiões orientais e ocidentais, formidável
orientador de inúmeras gerações.
Ninguém passava por ele impune,
sem sentir um pouco de vergonha pelo pouco (ou nada) que fazíamos em
prol da cidadania pátria, em prol de nossa brasilidade e de nosso povo.
Perto dele, qualquer um descobria, querendo ou não, o valor de um
Ricardo Gonçalves, de um Godofredo Rangel, de um Monteiro Lobato, de um
Machado de Assis, de uma Florbela Espanca ou de um Assis
Chateaubriand... dono de uma bagagem cultural invejável, leitor assíduo
de diversos periódicos, de distintas orientações ideológicas, além de
ouvinte contumaz de emissoras de rádio da Inglaterra, da França, da
Alemanha, da Itália e do Brasil, nunca se deixava pegar neófito ou
desinformado sobre qualquer que fosse o tema proposto para debate.
Estudioso das Ciências Humanas, da Filosofia e até da Parapsicologia,
jamais se furtava ao debate vigoroso e profundo de ideias, o qual
pairava sempre um pouco acima das superficiais ideologias políticas ou
religiosas, com as quais tantos se deixam contagiar.
Quem não se
banhou nas memoráveis Noites de Poesia, nos saraus e círculos de leitura
que este mestre presidia, perdeu muito! De um jeito ou de outro,
teimosamente, sempre e sempre, o Educador nos fazia lembrar o que é “ser
brasileiro”! E era para que não perdêssemos esse senso de brasilidade,
que ele ensinava, energicamente! Uma luta árdua contra a ignorância,
contra nossa preguiça intelectual e espiritual.
Enfim, Professor
Antonio João Fraga Padilha era uma vacina contra a superficialidade dos
discursos, contra a manipulação hipnótica das mídias, em especial contra
o papel destrutivo, deformativo e bestializante a que se prestava (e se
presta) a televisão brasileira.
De suas aulas, fosse de Língua
Portuguesa, da Língua Internacional Esperanto, de História, ou do que
mais fosse, sempre saíamos com muito mais do que tínhamos ido buscar!
Suas aulas sempre magnas, não só eram informativas, mas formativas.
Aprendíamos, sempre embasados em documentos, não em simples retórica,
desde as mazelas dos republicanos positivistas no Golpe de Estado de
1889 até as conspirações hodiernas de alienação do povo, da Monarquia
brasileira à genealogia das dinastias egípcias, todo encontro pedagógico
era um apelo indireto, mas incisivo, à consciência de cada um.
Desde ontem não temos mais nosso ilustre mestre e o espaço aqui é ínfimo para ainda
dizer tanto. Mas algo valiosíssimo herdamos: exemplo e sábios
conselhos.
Sua imortalidade jaz em nós, seus órfãos!