Efeito Borboleta
Você
acredita em destino?
Acredita no
acaso governando sua vida?
Leis
mecânicas baseadas na lei de causa/efeito controlam todos os acontecimentos?
Determinismo
e Acaso...
Em quaisquer ciências, sabemos todos que pequenas
variações nas condições iniciais de um sistema ou problema descrito por
equações não-lineares podem ter resultados completamente distintos e
inesperados com o passar do tempo.
Ocorre que na natureza, praticamente
todos os fenômenos são não-lineares!
E mais do que isso: não há como
determinarmos as condições iniciais de um problema/sistema!!
Consequentemente, embora conheçamos algumas
"leis", o universo sempre terá um considerável componente de
imprevisibilidade.
Noutras palavras: todas as nossas melhores equações
matemáticas e modelos físicos, de fato são maquetes mais ou menos incompletas que tentam
antever e controlar o comportamento dos fenômenos no universo que nos cerca.
Mas o que tudo isso tem a ver com nosso destino?
Falemos um pouquinho do Efeito
Borboleta...*
Você provavelmente já ouviu falar ou assistiu ao filme "Efeito Borboleta"... A ideia de que uma pequena ação agora pode desencadear grandes consequências, às vezes imprevisíveis, a médio e longo prazo...
Essa "ideia" de "imprevisibilidade dos acontecimentos" nasceu na própria Ciência.
Deste modo, justamente devido ao fato
de desconhecermos todas as variáveis que influenciam em um dado acontecimento, o “Efeito
Borboleta” pode ser enunciado afirmando que "pequenas oscilações nas condições iniciais de um problema
podem causar efeitos completamente inesperados, divergentes ou imprevisíveis
em um futuro" (próximo ou distante).
Vejam o simples exemplo das previsões
meteorológicas...
A quantidade de erros nessas previsões costuma ser enorme. E tais erros de previsão serão proporcionalmente mais numerosos quanto mais distante no
tempo e no espaço estiver a dita "previsão" do nosso meteorologista.
Filosoficamente, podemos dizer que a Teoria do Caos
Determinístico nos ensina que o Universo é "naturalmente
imprevisível". Ou seja: os fenômenos não-lineares são a regra na natureza.
Assim, parafraseando o matemático E. Lorenz, "se uma
borboleta batesse as asas na China, e o pequeno deslocamento de ar provocado
pelo seu movimento, somado a outros fatores igualmente desconhecidos ou não
mensuráveis, mudasse as condições iniciais de um sistema climático, pode ser
que acabasse desencadeando uma tempestade do outro lado do planeta".
Impressionante pensar nos possíveis desdobramentos desse efeito!
Isso quer
dizer que o universo é caótico e o caos governa tudo?
Claro que não!
O fato de desconhecermos todas as variáveis de um
sistema, não nos habilita a inferir como regra, que o universo é caótico (como a
princípio poderia sugerir a expressão 'Teoria do Caos').
De fato, o que ocorre é que nossas melhores
equações não nos dão um quadro completo da realidade. Noutras palavras, nossas
equações e aparelhos de medição não dão conta de abarcar toda a gama de forças e condições ambientais que interagem simultaneamente, nem tampouco de avaliar a real relevância de cada uma delas no
'resultado final'.
Em síntese: nossas melhores equações físicas e matemáticas, sim, estão incompletas.
Evidente que nossa ignorância não pode (não deveria) servir para ratificar quaisquer hipóteses filosóficas, por mais
fascinantes que nos parecessem!
Recapitulando: já sabemos que as equações lineares que estudamos na escola são 'modelos
aproximados' nos quais os termos não-lineares são desprezados por serem
considerados 'insignificantes' ou 'incomensuráveis' (dentro de certo contexto
espaçotemporal). E é fato também que, graças a tais simplificações,
podemos usufruir dos avanços tecnológicos disponíveis em nosso dia a
dia...
Então, o fato de existirem 'termos não-lineares'
desconhecidos (e, portanto, desconsiderados) está a nos dizer o quê exatamente?
...Que as teorias científicas aceitas, por mais elegantes ou complexas, não nos fornecem uma descrição realmente objetiva (nem mesmo
aproximada) da realidade!
Desapontado?
Não fique.
As equações dos físicos, dos químicos, dos
matemáticos e dos biológicos são lindas, elegantes e funcionais, mas não são
absolutamente exatas.
Nossa técnica é sim uma ferramenta útil, nossos instrumentos são
funcionais (dentro de certos limites), mas isso não quer dizer que a Ciência humana seja "uma descrição fidedigna da realidade", como
sonhavam os positivistas.
Apesar de todos os benefícios que colhemos dos
avanços científicos, estamos tão próximos de compreender a razão e os porquês
do nosso universo, quanto estavam os cientistas e filósofos gregos de 2500 anos
atrás.
Então, quando usamos expressões como
"caos" e "acaso", estamos falando das aparências (não sobre
como as coisas são em si mesmas)...
Quando falamos em "acaso" e
"caos", estamos falando muito mais sobre o tamanho de nossa
ignorância, do que sobre como as coisas realmente são.
Palavras, rótulos, criados para encobrir as lacunas
de nosso desconhecimento das leis universais, de como o universo é e como
funciona realmente.
Se tão pouco sabemos do mundo visível, o que
diremos daquele que nos é invisível...
Tal constatação não impede que a ciência nos seja
útil, como já vimos.
E o tal do livre-arbítrio?
Estamos sujeitos ao caos ou a leis determinísticas?
O efeito borboleta nos lembra que leis mecânicas determinísticas, enunciadas pelo ser humano, também têm seus 'limites'.
Ademais,
além de sabermos quase nada sobre nosso mundo físico, precisamos
considerar a muito provável hipótese de que nosso mundo (tridimensional)
não seja o único a ser considerado em nossas equações e fórmulas...
Então, pensemos nisso: O
que seria de nossa 'vontade livre', da liberdade, se considerássemos
cada mínimo movimento universal (do micro ao macro), submetidos às
inexoráveis leis mecânicas naturais?
Então, se tudo estivesse
submetido a tais leis mecânicas absolutas, onipresentes e onipotentes,
então nossa consciência, junto com nossos pensamentos, emoções e
volições, seriam todos pálidos reflexos delas, nada mais... por
exemplos, uma Nona Sinfonia de Beethoven, toda a nossa poesia, ciência e
ideais, não passariam de mero resultado mecânico da ação cega de leis
impessoais, inconscientes e indiferentes.
Nada, nenhuma ação ou
sentimento teria valor real, enquanto manifestação livre e consciente do
'espírito humano'. Até nosso destino, de igual modo, já estaria
traçado/determinado desde o misterioso e mítico 'Big Bang'...
Mais algumas perguntas intrigantes:
-
Há algo na dimensão humana que transcende, em algum momento, as leis
mecânicas naturais mais elementares? Se sim, é possível descrevê-la?
- Como (com qual base ou fundamento), de fato, fazemos nossas escolhas?
- Todas as nossas decisões podem ser explicadas em termos de reações eletrofisicoquímicas de nossos cérebros?
- Quem/o quê nos impulsiona a agir, a nos omitir, a matar ou a nos matar?
- Qual a fonte de nossa rebeldia interior, de nossa insatisfação existencial?
- O que/quem, de fato, nos impulsiona à transcendência?
São
questões filosóficas ainda abertas, para que cada um busque
respondê-las... Para a Filosofia, ainda tem a mais profunda de todas as
questões básicas: o porquê. Por que tudo isso, afinal? Por que o
universo existe e nós nele? Qual a razão?
As respostas não estão prontas...
se as perguntas não são fáceis, não serão fáceis as respostas.
1. Se
presumirmos que somos resultantes da mera ação de leis mecânicas
(portanto, vítimas, não do 'acaso' como crêem alguns, mas de leis
onipotentes e onipresentes), então, isso resultaria em que todas as
nossas ações do passado e do presente, incluindo pensamentos e vontades,
não estariam de fato sob nosso real controle. Livre-arbítrio seria, como algumas pesquisas neurológicas sugerem, uma ilusão criada pela área cerebral responsável pela nossa consciência'.
Bom lembrar que tal conclusão poria em xeque a legitimidade de qualquer debate na área da ética, já que certos comportamentos de ordem moral não poderiam ser exigidos do ser humano, o qual, em última análise, não seria realmente responsáveis pelas decisões que toma). Assim, se cada um é aquilo que a natureza fez dele, seria igualmente inútil qualquer busca ou esforço por melhorias de ordem moral, seja no plano individual, seja coletivo.
Além disso,
indo às últimas consequências, isso acabaria por eximir o ser humano
de qualquer responsabilidade moral ou espiritual por suas ações (já que inexistiria real
livre-arbítrio, nossas ações e reações já estariam todas absolutamente determinadas pelas leis mecânicas e amorais).
2. Contudo, se presumirmos, por outro lado, que, apesar dos condicionamentos que regem nosso corpo físico e até mesmo a grande maioria de nossas reações psicológicas básicas, somos algo com potencial para transcender tais condicionamentos, então podemos deduzir que somos responsáveis por nossas reações e, portanto, por tudo (ou quase tudo) que começa a acontecer graças a essas nossas reações cotidianas. Seríamos então plenamente responsáveis pela nossa vida, seja ela dolorosa ou não, trágica ou afortunada.
Neste caso, teríamos
que reconhecer que cada um de nós é o real causador de seus próprios
infortúnios. Mas... somos capazes de assumirmos essa dimensão de
responsabilidade?
Ou preferimos enxergar nosso
'destino insondável' como algo determinado por algum ente metafísico?
Tem até uma versão ateísta para esse ponto de vista: basta substituir o
rótulo "deus" pelo rótulo "leis universais da física".
Você pode
ser um teísta covarde, que vive justificando seus infortúnios (ou os de
outras pessoas), baseando-se em contos míticos, ou pode ser um cínico
ateu, que vive reduzindo tudo a leis mecânicas que tampouco conhece de fato... Tanto
faz, se não vai mesmo assumir a responsabilidade.
Quando penso em
'efeito borboleta', me vem à mente a hipótese científica de que não sabemos quase nada
do que está acontecendo a um palmo de nosso nariz... Consequentemente,
não sabemos o que vai acontecer, nem daqui a cinco minutos, muito menos daqui a
cinco semanas ou cinco meses ou...
É claro que alguns resultados são de certo modo
previsíveis (se bebo álcool e saio dirigindo um veículo, os resultados
são previsíveis). Por outro lado, contudo, como desconhecemos o real alcance
de nossas atitudes, omissões, palavras, pensamentos, hábitos e costumes (tanto a médio como a longo prazo), então, prepare-se para muitas
surpresas em sua vida!!
Há uma tese dentro da Ciência Cognitiva e da Neurologia que afirma que não sabemos, efetiva e absolutamente, o
que está acontecendo, nem mesmo nesse exato instante, já que nossos
sentidos são limitados e nosso cérebro tem acesso a uma gama bastante
diminuta do total de dados disponíveis no ambiente que nos cerca.
Então,
no fundo, é como se estivéssemos sonhando... e quase nada notando a
respeito do que realmente está acontecendo ao nosso redor...
Penso que toda o nosso esforço deva ser,
primeiramente, no sentido de 'despertar'. Uma vez 'acordados', tudo
tornar-se-á mais claro e autoexplicativo. O sentido do que nos inquieta
ou aborrece nos será autoevidente (além da crença e da
racionalização).
Dormindo como estamos, alheios ao que sucede ao redor ou dentro de nós, ficamos de fato a mercê... como gravetos de madeira a deriva da correnteza.
O "efeito borboleta" citado anteriormente, assim, mostra-se como uma evidência que contradiz a ideia de um destino predeterminado imutável, ao mesmo tempo que não nega a existência de leis naturais onipresentes.
Você pode sim mudar o rumo dos acontecimentos, mesmo não fazendo a menor ideia do que está acontecendo agora (dentro ou fora de você). Se essas mudanças serão eficazes e farão alguma diferença significativa mais adiante, vai depender de inúmeros fatores que talvez não estejam totalmente sob nosso controle: intensidade, frequência e duração das intenções e das ações divergentes que você empreender.
O destino se mostra como uma obra escrita a várias mãos, por vários co-autores, dirigida por vários diretores e contracenada por vários protagonistas, com finais ainda imprevisíveis, mas aparentemente influenciáveis.
silvio m.max.
* Efeito Borboleta: expressão utilizada na Teoria
do Caos para referir a importância das condições iniciais de um sistema
abeerto. Foi detectado e descrito pelo matemático estadunidense E. Lorenz
quando trabalhava em um sistema de equações diferenciais com o objetivo de
modelar a evolução do tempo (clima).