Com certa
frequência, ressurge a questão das origens da crença de que “o negro não tinha alma”.
Alguns afirmam sem titubear, mas sem indicar a fonte, que a Igreja
Católica seria a responsável pela disseminação desta crença. Será?
Na obra Antropologia:
uma reflexão sobre o homem, 1ª ed. Bauru: Edusc, 2011, encontramos a
afirmação de que, entre os séculos XVIII e XIX, havia preconceito em nossa
sociedade baseado “na crença de que negros eram desprovidos de inteligência e até
de alma”, porém em nenhum momento os autores afirmam que a Igreja seria a
responsável por essa esquisita ideia.
De certo modo, tal
afirmação chega a ser até contraditória com certos fatos históricos que traremos
a seguir. Comecemos citando três papas africanos (Victor,
Gelasius e Melquiades ou Miltiades) advindos do norte da África (onde os povos eram predominantemente negros). Embora não tenhamos nenhum retrato
autêntico, há desenhos e referências na Enciclopédia Católica, a
respeito de serem africanos.
Por outro lado, é possível
encontrar documentos papais autorizando a escravização de pagãos e muçulmanos,
por reis cujo objetivo fosse espalhar a fé cristã. Neste sentido, veja-se a
bula Dum Diversas, onde o Papa
Nicolau V expressamente reconhece o direito dos reis da Espanha e Portugal, de
conquistar quaisquer “pagãos” e mantê-los sob “servidão perpétua”. Tal
posicionamento teria sido confirmado também por papas posteriores (Calisto III,
em 1456, Sixto VI, em 1481, e Leão X, em 1514). O mesmo Nicolau V, em 1455,
emitiria a bula Romanus Pontifex,
estendendo esse direito a outras nações católicas do continente. Se considerarmos
a moral vigente à época, notar-se-á que poucos questionariam o direito de, numa
guerra entre cristãos e não cristãos, os primeiros escravizarem quaisquer inimigos
capturados (seria uma opção melhor ao simples assassínio dos referidos
prisioneiros).
Corroborando a tese
de que o assunto não tinha tratamento uniforme por parte da Igreja, veremos em
janeiro de 1435, a bula Sicut Dudum, do
papa Eugénio IV mandar “restituir à liberdade” os que eram mantidos presos nas
ilhas Canárias. Em setembro de 1462, foi
a vez do papa Pio II também dar instruções aos bispos a respeito dos negros
provenientes da Etiópia, condenando o
comércio de escravos como “grande crime”.
O 'apresamento' de índigenas versus escravidão de negros
Por questões morais,
políticas e econômicas, a questão do “apresamento” de indígenas para trabalhos
forçados sempre contou com a repreensão da Igreja. No início do século XVI o
dominicano Domingos de Minaja que atuava na América Espanhola, foi a Roma e
relatou ao Papa Paulo III, os abusos que eram cometidos contra os índios. Em
consequência, o Pontífice escreve, em maio de 1537, a bula Sublimus Dei e posteriormente a encíclica Veritas ipsa (do mês de junho), onde manifesta a posição oficial eclesiástica,
a respeito deste tema:
“O inimigo
da raça humana, que se opõe a todas as boas ações para levar os homens à
destruição (…) inventou um modo nunca visto antes de evitar a pregação da
palavra de Deus para a salvação dos povos: ele inspirou seus servos, os quais,
para agradá-lo, não hesitaram em propagar a ideia de que os Índios do Ocidente
e do Sul, e outros povos sobre os quais tomamos conhecimento recentemente,
deveriam ser tratados como brutos incapazes de razão, criados para nosso
serviço, supostamente incapazes de receber a fé católica.
Nós,
que, embora indignos, exercemos na Terra o poder de Nosso Senhor e buscamos com
todas as nossas forças trazer para a nossa proteção as ovelhas do rebanho do
Senhor que estão fora dele, consideramos, no entanto, que os índios são verdadeiramente homens e que, de acordo com
o que fomos informados, não apenas são capazes de entender a fé católica como
desejam muitíssimo recebê-la.
Definimos e declaramos (…) que
os ditos índios e todas as demais pessoas que possam ser descobertas mais
tarde por cristãos não devem de modo algum ser destituídas de sua liberdade ou
da posse de sua propriedade, mesmo que estejam fora da fé de
Jesus Cristo, e que eles podem e devem,
livre e legitimamente, gozar de sua liberdade e da posse de sua propriedade,
nem devem eles de maneira alguma ser escravizados; e, se acontecer o
contrário, que a ação seja anulada e não tenha efeito.”
Quanto aos
afrodescendentes, porém, o tratamento não foi tão uniforme. Apenas um ano
depois da bula Sublimus Dei, o Pastorale Officium teria sido revogado e
as penas cominadas anuladas. O Pastorale
Officium era considerado um documento complementar à bula Sublimis Dei, estabelecendo penalidades
específicas para cristãos que tivessem escravizado índios. Esse documento
acabou anulado em Non Indecens videtur.
Em 1545, o mesmo
papa Paulo III, porém, em outro contexto, teria permitido a escravidão em Roma.
Em 1548, autoriza a compra e posse de escravos muçulmanos nos Estados Papais.
A posição da Igreja no Brasil
Em Pernambuco havia
confrarias e igrejas dos "homens pretos" desde o século XVIII. A
maior era a confraria e igreja de "Nossa Senhora do Rosário dos
Pretos". Então, como se poderia permitir confrarias e templos de negros se
a Igreja os considerava destituídos de alma?
Padre Antônio
Vieira condenava publicamente a exploração de escravos negros (sermão XXVII):
“Os
senhores poucos, e os escravos muitos, os senhores rompendo galas, os escravos
despidos e nus; os senhores banqueteando, os escravos perecendo à fome, os
senhores nadando em ouro e prata, os escravos carregados de ferros, os senhores
tratando-os como brutos, os escravos adorando-os e temendo-os como deuses. /…/
Estes homens não são filhos do mesmo Adão e da mesma Eva? Estas almas não foram
resgatadas com a sangue do mesmo Cristo? Estes corpos não nascem e morrem como
os nossos? Não respiram com a mesmo ar? Não os cobre o mesmo. céu? Não os
aguenta o mesmo sol? Que estrela é logo aquela que as domina, tão cruel?”.
(Sermão XXVII sobre o Rosário, in Sermões, vol 12, Porto, 1951, p.333-371)
“Saibam
as pretos, e não duvidem, que a mesma Mãe de Deus é Mãe sua… porque num mesmo
Espírito fomos batizados todos nós para sermos um mesmo corpo, ou sejamos
judeus ou gentis, ou servos ou livres” (Sermão XIV).
“Nas
outras terras, do que aram os homens e do que fiam e tecem mulheres se fazem os
comércios: naquela (na África) o que geram os pais e o que criam a seus peitos
as mães, é o que se vende e compra. Oh! trato desumano, em que a mercancia são
homens! Oh! mercancia diabólica, em que os interesses se tiram das almas
alheias e as riscos são das próprias! ” (Sermão XXVII).
O Papa Pio VII foi
outro pontífice que condenou a escravidão e defendeu sua abolição no Congresso
Internacional de Viena (1814-15). Ainda enviou uma Carta ao Imperador Napoleão
Bonaparte da França, em protesto contra os maus tratos a homens vendidos como
animais:
“Proibimos
a todo eclesiástico ou leigo apoiar como legítimo, sob qualquer pretexto, este
comércio de negros ou pregar ou ensinar em público ou em particular, de
qualquer forma, algo contrário a esta Carta Apostólica” (citado por L. Conti,
“A Igreja Católica e o Tráfico Negreiro”, em ‘O Tráfico dos Escravos Negros nos
séculos XV-XIX”. Lisboa 1979, p. 337).
O mesmo Sumo
Pontífice se dirigiu a D. João VI de Portugal nos seguintes termos:
“Dirigimos
este ofício paterno à Vossa Majestade, cuja boa vontade nos é plenamente
conhecida, e de coração a exortamos e solicitamos no Senhor, para que, conforme
o conselho de sua prudência, não poupe esforços para que… o vergonhoso comércio
de negros seja extirpado para o bem da religião e do gênero humano”.
Na América
espanhola não foi diferente: O bispo de Chiapa, na América, Frei Bartolomeu de
las Casas (1474-1566), levantou-se em defesa dos índios contra sua escravidão. Além
disso, em abril de 1639 o Papa Urbano VIII (1623-1644) publicou o Commissum Nobis, incluindo a questão da liberdade
dos índios da América. Neste documento, o Papa ordenava, sob pena de
excomunhão, que ninguém prendesse, vendesse, trocasse, doasse ou tratasse como
cativos os índios da terra. Dispunha ainda que a ninguém seria lícito ensinar
ou apregoar o aprisionamento dos mesmos. Por conta disso, os colonos do Rio de
Janeiro, de São Paulo, Santos e no Maranhão entraram em sérios conflitos com os
jesuítas brasileiros, a ponto de lograr expulsá-los do Brasil por algum tempo.
O segundo bispo do
Brasil, D. Pedro Leitão (1559-1573), assinou aos 3 de julho de 1566 na Bahia,
com o Governador Mem de Sá e o Ouvidor Dr. Brás Fragoso, uma junta em defesa
dos índios; defendia-os contra os abusos dos brancos e dava maior apoio aos
aldeamentos instaurados pelos jesuítas.
Na Bula Immensa Pastorum, de 1741, o Papa Bento
XIV (1740-1758) condenou a escravidão.
Também o Papa
Gregório XVI (1831-1846) em dezembro de 1839 advertia:
"Admoestamos os fiéis para que se abstenham do
desumano tráfico dos negros ou de quaisquer outros homens que sejam".
O Papa Leão XIII
(1878-1903), disse na Carta In Plurimis,
em maio de 1888 aos bispos do Brasil:
“E
profundamente deplorável a miséria da escravidão a que desde muitos séculos
está sujeita uma parte tão pequena da família humana”.
Por fim, qual teria
sido o papel da Igreja frente à escravatura no Brasil? Sabe-se que, após a
assinatura da lei de abolição (13 de maio de 1888), a Regente Princesa Isabel
foi homenageada pelo Papa Leão XIII, que lhe enviou a famosa distinção
denominada Rosa de Ouro, em reconhecimento à relevância de seu feito.
Afinal, quem disseminou a crença de que o 'negro não tinha alma'?
Com base em documentos da própria Igreja, nota-se que, apesar da política do Vaticano ser dúbia em relação à escravidão há séculos atrás, ora condenando-a ora tolerando-a e até autorizando-a, inexiste comprovação de que a Igreja Católica tenha defendido, em alguma época, a crença de que “negros não têm alma”. Muito pelo contrário, a existência de santos e papas negros, além das frequentes tentativas de conversão e catequização de afrodescendentes, demonstra que a Igreja não comungava, nem propagava a citada crença. A dúvida sobre quem a teria disseminado persiste.
Referências bibliográficas:
Aquino, Felipe. “A Igreja não acreditava que o escravo tivesse alma?”, de 17/11/2010, disponível em: http://cleofas.com.br/a-igreja-nao-acreditava-que-o-escravo-tivesse-alma/
Aquino, Felipe. “A Igreja não acreditava que o escravo tivesse alma?”, de 17/11/2010, disponível em: http://cleofas.com.br/a-igreja-nao-acreditava-que-o-escravo-tivesse-alma/
Balmes, Jaime, “A Igreja Católica em face da Escravidão”, São Paulo
1988.
Carvalho, José Geraldo Vidigal, « A Escravidão. Convergências e
Divergências”. Ed. Folha de Viçosa, 1988.
Carvalho, José Geraldo Vidigal, “A Igreja e a Escravidão. As Irmandades
de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos”. Instituto Histórico e Geográfico do
Brasil, Rio de Janeiro, 1988.
Terra, João Evangelista Martins, “A Igreja e o Negro no Brasil”. Ed.
Loyola 1983.
___, João Evangelista Martins, “Bíblia, Igreja e Escravidão". Ed.
Loyola 1983.
Revista “Pergunte e Responderemos”, D. Estevão Bettencourt: N. 448/1999
– pg. 399-409; Nº 318 – Ano 1988 – Pág. 509; N. 267/1983, pp. 106-132; N.
274/1984, pp. 240-247.
VIANA, Marina. Documentos Oficiais da Igreja contra
a escravidão. Disponível em: http://www.apologistascatolicos.com/index.php/magisterio/documentos-eclesiasticos/decretos-e-bulas/506-documentos-oficiais-da-igreja-contra-a-escravidao.
Tira das igreja as responsabilidade da escravidão e fácil ,,mais a igreja que concedeu os colonizadores ,,que poderia escravizar os nativos porque ele nã tinha almas
ResponderExcluirvocê não leu as coisas acima né?Em momento nenhum a igreja fala que tal etnia não tenha raça.http://ocatequista.com.br/archives/6379
ExcluirTe aconselho a ler.
Oi, Carlos! Eu sou historiadora, e o que o texto está falando é verdade, a Igreja foi a que mais incentivou o casamento de negros e brancos, e incentivava o batismo de negros, as vezes dependendo da situação, até obrigava. Isso demonstra que o negro, segundo a ótica da Igreja, tem alma.
ExcluirMas eu entendo porque pensa assim, afinal foi o que vc aprendeu.
ExcluirA igreja se limitou apenas em assistir milhões de negros serem desumanizados e escravizados.
ExcluirA Igreja é a fonte de todas estas tragédias... E a fonte de toda hipocrisia.
ResponderExcluirDaqui a 100 anos, vão falar que nunca discriminaram homossexuais, quem viver, verá.
Mas a igreja também foi fonte de grandes avanços, a igreja foi importante, não só a cristã, mas qualquer uma, as pessoas precisam acreditar em alguma coisa pra responder as suas perguntas, não vem paga de ateu de Facebook que diz que o mundo seria melhor se a igreja não tivesse sido criada, isso é burrice
ExcluirAnônimo, eu sugiro que vc leia "A História das Crianças no Brasil", de Mary Del Priore. Lá vai falar tão bem, quanto mal da Igreja. Um dos artigos esclarece esta ideia de que o negro não tinha alma. Só quero te dizer, que a História não é neutra, ela sempre é contada e recontada, segundo interesses próprios e visões pessoais dos historiadores e da sociedade que ele está inserido. Eu sou católica, e é claro que vou puxar sardinha para a Igreja, mas procuro analisar os erros dela tbm, e posso te afirmar como professora e historiadora, que esse não foi um dos erros da Igrja. Fica com Deus!
ExcluirExiste dois tipos de pessoas no mundo... pessoas boas e pessoas ruins não importa se é ateo, judeu... Um verdadeiro cristão (existem falsos não esqueça) não discrimina ele procura amar as pessoas como Jesus amou... e Jesus nos ama muito...Ele deu a sua propria vida por nós... E não vai passar um século... Ele ama cada ser humano desde quando estávamos sendo formado...Como temos o livre arbítrio... levamos a vida que escolhemos...Mas com todo esse amor recebido penso que devemos fazer escolhas boas para nossa saúde espiritual e física...
ExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ExcluirA igreja catolica foi a primeira a cuidar dessa populaçao que vivia atoamente. Assim cresceu e expandiu,trazendo inveja as outras religioes e seitas dispersas pelo mundo inteiro...
ResponderExcluirJá li discursos inflamados do Padre Antônio Vieira condenando qualquer tratamento aos pretos que não fosse o da escravidão. Vi também documento de doação de sesmarias a pessoas que tinham o título de padre, de modo que fossem senhores de escravos nas fazendas no início do século XVII. Vi ainda discursos teológicos católicos afirmando que a salvação do preto e a graça de Deus somente era possível mediante a escravidão, de modo que "rebelados" iriam para o inferno.
ResponderExcluirCaro Unknown,
ExcluirVocê poderia indicar essas fontes que você viu ? Ou vai ficar apenas no diz que me diz ???
Vou me chamar de Anônimo1, só para me diferir do outro, mas a INSTITUIÇÃO da Igreja Católica não apoiou e era contra estes atos, não foi dito que ALGUNS padres nunca cometeram tal ato.
ExcluirA ESPADA E A CRUZ
ResponderExcluirNa América - as últimas nações indígenas foram dizimadas, (Astecas, Maias, Incas, no Brasil índios Guaranis, Tamoios...). O principal interesse da coroa portuguesa, no sentido de "descobrir" (ou seria invadir?) novas terras, era o de estabelecer novas rotas comerciais. O Brasil, Terra de Santa Cruz, Terra de Vera Cruz, tinha esses nomes não por acaso. Os portugueses, desde a tomada de Celta em 1415, carregavam consigo o espírito das cruzadas. As embarcações da expedição cabralina traziam a cruz da Ordem de Cristo estampada em suas velas. D. Manuel I, então rei de Portugal, era também Grão Mestre da Ordem de Cristo. Em 1500, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, o Brasil foi batizado, com a fixação em terra da cruz, seguida da reza da primeira missa, proferida, na ocasião, pelo frei Henrique de Coimbra, um franciscano.
Portanto, a religiosidade sempre esteve presente no processo de colonização dos portugueses.
Bahia, na primeira metade do século XVI: Os navegadores portugueses, além da beleza, encontraram também os homens gentios, assim denominados por Manuel da Nóbrega, que representava um dos quadros da Companhia de Jesus, fundada em 1534 por Inácio de Loyola. Era da incumbência de Nóbrega a Missão no Brasil, além da educação dos filhos de colonos. Todas as atividades que a Companhia de Jesus realizava era para a “glória de Deus”, um lema dos soldados de Cristo. A primeira impressão deixada pelos nativos na visão dos viajantes era de que esses homens gentios não possuíam qualquer vínculo religioso, ou seja, não adoravam nenhum tipo de Deus, nenhuma santidade, ou até mesmo um ídolo. Padre Antônio Vieira, afirmou em seus Sermões (XI e XXVII):
“É melhor ser escravo no Brasil e salvar sua alma que viver livre na África e perdê-la.”
“A África é o inferno de onde Deus se digna retirar os condenados para, pelo purgatório da escravidão nas Américas, finalmente alcançarem o paraíso”.
No entanto, não demoraria muito tempo para que esse conceito elaborado pelos portugueses caísse por terra. Ronaldo Vainfas - (A heresia dos índios - Catolicismo Rebeldia no Brasil Colonial – Editora Companhia das Letras) um renomado estudioso de assuntos coloniais do Brasil, trata dessa dimensão da religiosidade dos índios desse período. Com muito brilhantismo e competência, o autor reúne fontes fidedignas que nos revela a preocupação, por parte dos portugueses - jesuítas, após terem se apercebidos da estrutura ritual religiosa contida nos Tupinambás – Tupi. Os adeptos da santidade ameaçavam os "nativos traidores" (índios) com as piores penas. Na verdade, uma metamorfose punitiva, como chamou Vainfas. Ameaçavam transformar os resistentes em animais, pedras, paus, etc. O mito da Terra sem Mal, conta o autor, revela os maiores inimigos do índio: o homem branco, os portugueses, o cativeiro, a Igreja dos padres, a lei dos cristãos...
...Se pensarmos nos Dez Mandamentos “recebidos por Moisés” no monte Sinai, percebemos as inumeráveis contradições éticas que perpassaram o modelo colonialista que, justamente, matava em prol do respeito às leis cristãs, princípios como não matar e não roubar!
ExcluirO culto a Deus foi relegado ao esquecimento diante do valor material que as minas de prata e ouro do Novo Mundo podiam oferecer. A espada e a cruz marchavam juntas na conquista e na espoliação colonial, conforme o preceito de Maquiavel de que “os fins justificam os meios”. A religião e a Bíblia foram usadas para legitimar a violência praticada contra os povos indígenas na época da conquista das terras nas Américas. Os teólogos e juristas da corte espanhola elaboraram um documento que chamaram de "Requerimento". Um dos teólogos espanhóis que ajudou a elaborar essa ideologia foi Juan de Sepúlveda. Por trás dessa ideologia estava o projeto de conquista da corte real da Espanha. Era um longo tratado teológico que os conquistadores deveriam ler para os povos indígenas ingênuos antes de qualquer ação militar. Esse documento tinha sua fundamentação teológica no livro de Gênesis. Dizia que, "apesar de toda a humanidade descender de Adão e Eva, só alguns eleitos por Deus tinham a sublime missão de divulgar o verdadeiro Deus". Naturalmente, os espanhóis e também os portugueses diziam que os eleitos eram eles. Que sua missão era levar a fé cristã aos pagãos mesmo com a violência das armas. Conhecemos as consequências desastrosas dessa teologia, dessa ideologia: roubo das terras; saque das riquezas; destruição de costumes, línguas, crenças; imposição do modo de vida europeu; trabalho escravo; abuso sexual das índias; violência, massacres, mortes. Os povos indígenas foram reduzidos à condição de exilados em sua própria terra. Esta lhes foi roubada. Temos também muitos missionários que tomaram a defesa das nações indígenas, em nome do Evangelho da vida. Entre eles, lembramos Montesinos e Bartolomeu de Las Casas.
O Chefe índio Pontiac nos disse:
“Eles vieram com uma Bíblia e sua religião roubaram a nossa terra, esmagaram nosso espírito... e agora nos dizem que devemos ser agradecidos ao “Senhor”, por sermos salvos”.
Um nativo brasileiro estava amarrado em troncos para ser queimado quando um padre tentou orientá-lo para rezar e conquistar o céu no último minuto.
“Os espanhóis vão para o céu?”, perguntou o índio. “Então quero ir para o inferno, para ficar bem longe deles”. No século XVII, o padre Gregório Garcia sustentava que os índios eram de ascendência judaica, porque, como os judeus “... não creem nos milagres de Jesus Cristo... e não descendiam de Adão e Eva”. Já os índios preferiam ir ao inferno para não se encontrarem com os cristãos.
A IGREJA CATÓLICA APOIOU A ESCRAVIDÃO
ResponderExcluirDum diversas é uma bula papal emitida a 18 de Junho de 1452 pelo papa Nicolau V e dirigida ao rei Afonso V de Portugal acompanhada pelo breve apostólico Divino amore communiti. Por aquela bula os portugueses eram autorizados a conquistar territórios não cristianizados e consignar a escravatura perpétua os sarracenos e pagãos que capturassem, razão pela qual é considerada frequentemente como o advento do comércio e tráfico europeu de escravos na África Ocidental. (Fonte: Paulo de Assunção (2004). Negócios jesuíticos. o cotidiano da administração dos bens divinos. [S.l.]: EdUSP. p. 94. ISBN 8531407990. Consultado em 26 de maio de 2015.). Pela bula Dum Diversas, dirigida ao rei Afonso V de Portugal, o pontífice afirma:
(...) outorgamos por estes documentos presentes, com a nossa Autoridade Apostólica, permissão plena e livre para invadir, buscar, capturar e subjugar sarracenos e pagãos e outros infiéis e inimigos de Cristo onde quer que se encontrem, assim como os seus reinos, ducados, condados, principados, e outros bens [...] e para reduzir as suas pessoas à escravidão perpétua. (...) nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo (...).
Devemos lembrar dos negros escravos batizados antes de embarcarem trazidos da África, talvez o maior terror da humanidade. Supõe-se que entre 1550 e 1855, cerca de quatro milhões de africanos foram trazidos para o Brasil. Os navios negreiros que traziam em média seiscentos escravos eram chamados de “tumbeiros” (palavra referente a tumba) ou “túmulos flutuantes”.
Na África eram caçados como animais e batizados sob os signos da cruz e da marca com ferro em brasa. Os escravos eram responsáveis por todos os trabalhos braçais da fazenda, trabalhavam de sol a sol e não tinham tempo de descanso. Todo esse ritmo de vida frenético, aliado a má alimentação, fazia com que a vida de um escravo adulto não passasse de 10 anos. Quando cometesse algum deslize ou resistência ao seu senhor, tinham castigo e punições horrorosas. Para fugir disso, muito se suicidavam, matavam seus feitores e até mesmo fugiam para os lugares distantes chamados quilombos. O que os unia era o fato de que todos eram pobres e oprimidos. Fizeram uma sociedade sem exclusão, sem miséria, sem preconceito de cor ou de etnia. Não havia divisão entre ricos e pobres, explorador e explorado.
(Fontes: COTRIM, Gilberto. Saber e fazer História, 6ª série. São Paulo: Saraiva, 1999; SCHMIDT, Mario Furley. Nova História crítica. São Paulo: Nova Geração, 1999).
“Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me Vós. Senhor Deus!
Tanto horror perante os céus!
Era o navio negreiro e a escravidão, num genocídio da alma negra liberta?”.
Essa bula por você citada é se referindo apenas aos mouros, que invadiram a península Ibérica e escravizaram considerável parcela dos cristãos, essa bula foi apenas uma resposta a séculos de opressão que os cristãos sofreram sob o julgo mulçumano.
ExcluirEsse site refuta tudo o que você afirmou:
https://ocatequista.com.br/historia-da-igreja/item/6379-a-igreja-e-a-escravidao-dos-negros-cinco-passos-para-detonar-um-professor-mentiroso
Vc pode até estar certo, mas não muda o fato de que eles ainda a usaram para justificar a escravidão dos negros. Me responda uma coisa: quantos anos levaram até um outro papa dizer que essa bula não deveria mais ser usada para escravizar pessoas negras?
ExcluirMaravilhosos esclarecimentos
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