quinta-feira, 27 de agosto de 2015

foto rara de um navio negreiro



A foto acima é atribuída ao fotógrafo francês Marc Ferrez
Diz-se que se trata da única foto de um navio negreiro, e que ela só pôde ser tirada de maneira clandestina. 
Talvez uma descrição mais sincera, no entanto, fosse dizer que os acima fotografados eram os sobreviventes de uma viagem a bordo de um navio negreiro, em um tempo colonial em que chegar ao destino, no caso, a colônia Brasil, era a primeira de uma sucessão de vitórias contra a morte que teriam que ser enfrentadas. 
Talvez, também, fosse mais sincero dizer que, mesmo quando a escravidão era, mais do que legalizada, prática do Estado, não se queria projetar luz sobre ela e, portanto, nunca foi fenômeno histórico moralmente aceitável; era apenas um método capitalista tolerado cruelmente pelas sociedades coloniais. (...)
O Estado e as Instituições reconheceram constitucional e formalmente a imoralidade da escravidão, mas criaram poucos cenários em que efetivamente buscou-se mexer na pirâmide sócio-racial do país. Ainda hoje é tabu falar sobre ações afirmativas (conhecidas por sua plataforma mais polêmica, que são as cotas raciais). Ainda hoje a suprema Corte do país é acionada para tentar barrar a constitucionalidade do reconhecimento das terras quilombolas. Ainda hoje se fala mais sobre a exploração do trabalho como consequência de uma necessidade econômica do que se discute a adequação, moralidade e humanidade da forma de se trabalhar no mundo. (...)
*Amanda Alves Darienzo é Analista de Promotoria da Promotoria de Direitos Humanos-Área de Saúde Pública. 

reflexão: tempestades nas asas de uma borboleta

Excelente reflexão de Flávio Siqueira! O texto fala dos milagres que não percebemos, dos milagres dos quais participamos sem percebermos nosso protagonismo no cenário que se mostra a nós e aos outros.
Siqueira fala sobre a necessidade premente de estarmos atentos.
Atenção é tudo! Atenção a si, atenção ao outro, atenção ao outro em mim...
Quantos "sinais" estamos "perdendo", por simples e ingênua desatenção!
Quantos significados perdidos! Quantos equívocos poderiam ter sido evitados? 
Quantas respostas já não estão aí, a nossa frente, mas não reparamos nelas, atordoados que estamos pelos nossos próprios pensamentos e emoções confusas...

silvio mmax.

by flaviosiqueira

Antoine.5d905fa841a6dc2b3bde7879864a38e7

Gosto de uma cena narrada por Saint Exupéry em Terra dos homens. Ele conta que logo pela manhã estava diante do espelho rachado, toalha no pescoço, fazendo a barba enquanto se preparava para decolar. Ele ouve um leve ruído. Um pequeno inseto bate em sua lanterna e então acontece o milagre: "Sem que eu saiba por quê" - ele diz, "esse pequeno inseto parece dar uma picada em meu coração."
Pouco depois uma borboleta verde. Alguns segundos e dois outros insetos parecem querer dizer alguma coisa. Inquieto o piloto/escritor para o que está fazendo e vai observar o tempo com mais cuidado. Apesar da sutileza os sinais ocupam seus lugares: o vento, a poeira, a temperatura, os insetos... Todos dizendo a mesma coisa: Uma tempestade de areia se aproxima.
Sempre que leio essa passagem fico pensando nas borboletas que não vi. Nos sinais do dia a dia, tão cotidianos para merecerem minha atenção, sempre na expectativa de algo grandioso, de trombetas, pirotecnias, espetáculos que supram a necessidade de respostas.
É essa expectativa que nos torna tão expostos aos "vendedores de facilidades", tão cegos para os movimentos sutis, constantes, presentes da vida. Corremos atrás de muito barulho, de complexidades que nos frustarão, promoverão distrações e nada mais.
Você não precisa ser "merecedor" de respostas. Elas já estão espalhadas pelo caminho. Tudo o que precisa é aquietar-se e deixar que a "picada em seu coração" lhe mova o rosto para o que os insetos querem dizer. Tudo fala. Eu que não ouço.
Saint Exupéry termina dizendo "O que me enche de alegria bárbara é haver compreendido por um leve sinal uma linguagem secreta, é haver farejado a tempestade como um primitivo, em que todo o futuro se anuncia por leves rumores. É ter lido a cólera do deserto no fremir das asas de uma lavadeira."
Os insetos. As sutilezas. Os milagres. A vida. Só os simples percebem.

domingo, 23 de agosto de 2015

Aikido em Bauru - agosto 2015

O Aikido foi criado pelo filósofo e mestre de várias artes marciais Morihei Ueshiba, no Japão, no início do século XX. As técnicas podem ser colocadas em três grandes grupos: Tai Jitsu (arte corporal - a mãos livres), Ken Jitsu (arte da espada ou Aikiken), e Jo Jitsu (arte do bastão, denominado Aikijo).
Aikido - 合気道
O conceito fundamental desta arte marcial consiste no princípio da harmonia, seja entre seus praticantes, seja entre estes e o universo que os rodeia.
Em todas as artes marciais havia o conceito de vencer, ou destruir o inimigo, pois todas elas foram desenvolvidas, e transmitidas através de gerações, por antigos Samurais, a partir de suas experiências nos campos de batalhas, onde o objetivo era a vitória, com a aniquilação do inimigo.
Consciente de que não poderia haver harmonia na destruição, Morihei Ueshiba começou a desenvolver os conceitos de sua própria Arte Marcial, onde não mais havia a idéia de vencer ou destruir um inimigo, mas pura e tão somente a de encerrar um conflito. Fundou, então a “Escola Ueshiba” e, em 1923, deu a sua Arte Marcial o nome de Aiki Bujutsu; passou a viajar pelo Japão ensinando-a, sendo que sua fama e sua incrível habilidade, rapidamente se espalharam. 
Em 1924, Ueshiba já era mestre reconhecido em diversas artes marciais e tinha vários alunos. Ao retornar de uma expedição na Mongólia, foi desafiado por um oficial da Marinha, armado com espada, para um combate. Conta a história que, a mãos livres, Ueshiba enfrentou o espadachim e, com movimentos circulares, fez o agressor render-se exausto. Em 1936, para deixar mais clara a diferença entre sua modalidade e as outras, a chamou de Kobukan Aiki Budo. Só em 1942 ele decidiu chamar sua forma de budo de Aikido. 

Aikido Bauru - agosto 2015 -treino especial com Sensei Makoto Nishida












mestres e alunos - exame para mudança de faixa - agosto 2015



DOMO ARIGATO GOZAI MASHITA - Muito Obrigado


O termo Aikido é composto por três caracteres kanji:

Ai : harmonia  合
Ki : energia     気
Dô : caminho 道


Em tradução livre, "caminho da harmonização das energias".

O termo AI significa HARMONIA e refere-se à característica do Aikido de que, para controlar um oponente, primeiramente é necessário tornar-se um só com ele, para em seguida, como um só conjunto, dominá-lo.  O conceito básico deste princípio é nunca se opor ao golpe ou esforço do oponente; se ele puxar, empurre; se ele empurrar, gire o corpo, de forma a, em ambos os casos, usar o impulso do oponente em seu benefício.
O KI significa a ENERGIA empregada neste ato. Trata-se de uma energia universal, existente em todas as coisas, conceito que os antropólogos chamam de animatismo.
O DO significa o CAMINHO, no sentido de caminho de busca de uma evolução pessoal e espiritual; é exatamente o mesmo significado do Tao, no Taoísmo.

 “O Aikido não é uma técnica para lutar contra um inimigo ou derrotá-lo. É uma maneira de conciliar as diferenças que existem no mundo e fazer dos seres humanos uma família. Isto quer dizer que o segredo do Aikido é a busca da harmonia com o universo, é tornar-nos unos com o universo. Seus praticantes devem buscar esse entendimento por meio do treinamento diário".  ( Ueshiba)

domingo, 16 de agosto de 2015

A vida é como um piquenique


A vida é como um piquenique em uma tarde de domingo...

...ela não dura muito tempo. Só olhar o sol, sentir o perfume das flores ou respirar o ar puro já é uma alegria.
Mas se tudo o que fazemos é ficar discutindo onde pôr a toalha, quem vai sentar em que canto, quem vai ficar com o peito ou a coxa do frango…, que desperdício!
Mais cedo ou mais tarde o tempo fecha, a tarde cai e o piquenique acaba. E tudo o que fizemos foi ficar discutindo e implicando uns com os outros.
Pense em tudo que se perdeu.

Você pode estar se perguntando: se tudo é impermanente, se nada dura, como pode alguém viver feliz?
É verdade que não podemos, de fato, agarrar ou nos segurar às coisas, mas podemos usar esse conhecimento para olhar a vida de modo diferente, como uma oportunidade muito breve e rara.
Se trouxermos à nossa vida a maturidade de saber que tudo é impermanente, vamos ver que nossas experiências serão mais ricas, nossos relacionamentos mais sinceros, e teremos maior apreciação por tudo aquilo que já desfrutamos.

Também seremos mais pacientes. Vamos compreender que, por pior que as coisas possam parecer no momento, as circunstâncias infelizes não podem durar. Teremos a sensação de que seremos capazes de suportá-las até que passem. E com maior paciência seremos mais delicados com as pessoas a nossa volta.
Não é tão difícil manifestar um gesto amoroso quando nos damos conta de que talvez nunca mais estaremos com a nossa tia-avó.
Por que não deixá-la feliz? Por que não dispor de tempo para ouvir todas aquelas histórias antigas?
Chegar à compreensão da impermanência e ao desejo autêntico de fazer os outros felizes nesta breve oportunidade que temos juntos, constitui o começo da verdadeira prática espiritual. É esse tipo de sinceridade que efetivamente catalisa a transformação em nossa mente e em nosso ser.

Não precisamos raspar a cabeça nem usar vestes especiais.
Não precisamos sair de casa nem dormir em uma cama de pedras.
A prática espiritual não requer condições austeras — apenas um bom coração e a maturidade de compreender a impermanência. Isso nos fará progredir.”
 (Chagdud Tulku Rinpoche)


fonte:A vida é como um piquenique em uma tarde de domingo

Rousseau e a essência humana

“Ignoramos o que nossa natureza nos permite ser (...)”.
(Jean J. Rousseau) 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O Mendigo e o Tesouro: da obra "O Poder do Agora" em Esperanto



“O Poder do Agora”

de Eckart Tolle.

Por mais de trinta anos um mendigo ficou sentado no mesmo lugar, debaixo de uma marquise. Até que um dia, uma conversa com um estranho mudou sua vida:
– Tem um trocadinho aí pra mim, moço? – murmurou, estendendo mecanicamente seu velho boné.
– Não, não tenho – disse o estranho. – O que tem nesse baú debaixo de você?
– Nada, isso aqui é só uma caixa velha. Já nem sei há quanto tempo sento em cima dela.
– Nunca olhou o que tem dentro? – perguntou o estranho.
– Não – respondeu. – Para quê? Não tem nada aqui, não!
– Dá uma olhada dentro – insistiu o estranho, antes de ir embora.
– O mendigo resolveu abrir a caixa. Teve que fazer força para levantar a tampa e mal conseguiu acreditar ao ver que o velho caixote estava cheio de ouro.

Eu sou o estranho sem nada para dar, que está lhe dizendo para olhar para dentro.
Não de uma caixa, mas sim de você mesmo. Imagino que você esteja pensando indignado: “Mas eu não sou um mendigo!”
Infelizmente, todos que ainda não encontraram a verdadeira riqueza – a radiante alegria do Ser e uma paz inabalável – são mendigos, mesmo que possuam bens e riqueza material. Buscam, do lado de fora, migalhas de prazer, aprovação, segurança ou amor, embora tenham um tesouro guardado dentro de si, que não só contém tudo isso, como é infinitamente maior do que qualquer coisa oferecida pelo mundo.
A palavra iluminação transmite a ideia de uma conquista sobre-humana – e isso agrada ao ego –, mas é simplesmente o estado natural de sentir-se em unidade com o Ser.
Quando você se percebe, consciente ou inconscientemente, como um fragmento isolado, o medo e os conflitos internos e externos tomam conta da sua vida.

(Trecho extraído do capítulo 1º da obra citada)


tradução para a Língua Internacional, Esperanto:

Eltiraĵo el la 1ª ĉapitro de la verko "La Potenco de la Nuno", de Eckhart Tolle.

Dum pli ol tridek jaroj almozulo sidis en la sama loko, sub markezo.
Unu tagon, konversacio kun fremdulo ŝanĝis lian vivon:
- Ĉu vi havas monereton por mi, fraŭlo? - li murmuris, aŭtomate etendante lian malnovan ĉapon.
- Ne, mi ne havas – diris la fremdulo. – Kion vi havas en tiu kofro sub vi?
- Nenion, ĉi tio estas nur malnova skatolo. Mi eĉ ne scias kiom longe mi sidas sur ĝi.
- Ĉu vi neniam rigardis ĝian internon? - demandis la fremdulo.
- Ne – respondis la almozulo. Por kio? Estas nenio tie!
- Rigardu internen - insistis la fremdulo, antaŭ ol foriri.
- La almozulo decidis malfermi la skatolon. Li pene levis la kovrilon kaj apenaŭ povis kredi, kiam li vidis, ke la malnova skatolo estis plena de oro.

Mi estas la fremdulo kun nenio por doni, kiu diras al vi: rigardu internen. Tamen ne rigardu internon de skatolon, sed de vi mem. Mi imagas, ke vi pensas indigne: "Mi ne estas almozulo!"
Bedaŭrinde ĉiuj, kiuj ankoraŭ ne trovis la veran riĉecon la radian ĝojon de la Esto kaj neskueblan pacon -, estas almozuloj, se ili posedas havaĵojn kaj materian riĉecon. Ili serĉas ekstere erojn de plezuro, aprobon, sekurecon amon, kvankam havantaj en si mem garditan trezoron, kiu ne nur enhavas ĉion tion, sed kiu estas ankaŭ senfine pli granda ol io ajn proponata de la mondo.
La vorto iluminiĝo portas signifon de superhoma atingo - kaj tio plaĉas al la ego -, sed ĝi estas simple la natura stato sentiĝi en unueco kun la Esto.
Kiam vi sin perceptas, konscie nekonscie, kiel izolita fragmento, la timo kaj la internaj kaj eksteraj konfliktoj regas vian vivon.

Tradukita de Silvio M. Maximino, reviziita de José Mauro Progiante – Bauru-SP