Pesquisadora resgata
história de quilombo dizimado por suíços em Casimiro de Abreu
Janeiro 2015. em Ecologia Humana
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Assunto foi tema da dissertação de mestrado de Renata em História, defendida há um ano, e deve virar livro
POR
STÉFANO SALLES
RIO - A existência de um bairro
chamado Quilombo, mas povoado por brancos de aspecto e hábitos europeus, sempre
intrigou tanto Renata Lima que ela levou o assunto para a faculdade de História
e transformou a localidade de Casimiro de Abreu em objeto de estudo. O assunto
foi tema de seu trabalho de conclusão de curso durante a graduação, mas a
pesquisa continuou no mestrado, defendido na UFF há um ano. Em um trabalho
minucioso, que agora dará origem a um livro, ela descobriu que a área fora
cedida pelo imperador Dom Pedro II a imigrantes suíços, que dizimaram os
quilombolas e seus descendentes.
Nos
períodos mais populosos, o Quilombo chegou a ter cerca de três mil moradores. A
localização do bairro, afastado da sede do município, e o bom solo, tornaram-no
uma área destinada à produção agrícola. Renata lamenta que a influência da
cultura africana seja tão desconhecida pela população da cidade. Na pesquisa,
ela encontrou um documento em que descendentes dos imigrantes propõem medidas
para minimizar a importância da influência africana na constituição do
município. De acordo com a estudiosa, os primeiros conflitos entre quilombolas
e suíços datam de 1823:
— Os
suíços dizimaram famílias inteiras de africanos. Encontrei até um mapa
revelando que os europeus queriam transformar o distrito onde está o Quilombo
em Nova Suíça, negando por completo o papel dos escravos e de seus descendentes
em nossa sociedade.
Os poucos
descendentes de quilombolas vivos ainda sofrem com as lembranças. O aposentado
Alci Silva tem, pelas contas da própria família, 103 anos. Ele nasceu e cresceu
no Quilombo, de onde, ao lado dos outros últimos sete moradores, foi expulso.
Mas, antes de fazer as malas, conquistou o coração de uma filha de suíços, com
quem teve três filhos. Lúcido, atualmente ele mora a 40 minutos do bairro, ao
qual preferiu não retornar para não sofrer.
— A terra
era muito boa para o plantio de trigo e de aipim. Trabalhávamos duro, mas era
bom viver lá. Não tenho ressentimentos, apenas saudade — garante.
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