Você acha que vou falar de seu nível de
escolaridade ou capacitação profissional? Fique calmo... Não vou! Conquistar aquele
“salário dos sonhos” é um jogo excitante, mas hoje não vamos jogar. Proponho, antes,
uma pitada de filosofia e que sejamos especialistas... em nós mesmos!
Sim, isso tem a ver com felicidade,
liberdade... tudo que todos aparentemente buscam. Mas haveria relação de
causalidade entre felicidade e formação técnica? É mais feliz quem “sabe” mais?
É verdade que alguém tecnicamente mais preparado tem, em regra, melhor
remuneração e assim, possui tudo quanto acredita ser preciso para ser feliz. Então,
após apostar nossas melhores fichas –tempo e vitalidade- começamos a desconfiar
que o “pote de felicidade” não estava lá no final do arco-íris. Todas aquelas técnicas,
saberes, ritos de passagem, títulos e amuletos acumulados não nos tornaram, nem
mais felizes, nem mais livres... por quê? É aqui que um especialista em si mesmo
fará toda a diferença.
Para um médium, parece simples
incorporar entidades de outras dimensões. Para um cristão, a incorporação daquilo
que ele chama de demônio ou do próprio Espírito divino também é possível. Mas
não precisamos ir tão longe para fazer um simples exercício de auto-observação
e responder: quantas pessoas distintas incorporamos durante um mesmo dia? Ou você
realmente acredita que é a mesma pessoa o tempo todo? Quantos impulsos e
desejos contraditórios já experimentamos? Quantos deles se introjetaram e se aninharam
em nossas mentes, mesmo contra nossa própria vontade? Agora, tente o contrário:
incorporar a entidade chamada “você mesmo”, seu Eu verdadeiro, seu real ser! Você
tem certeza de que consegue? Isso, de fato, não é prá qualquer um... É tarefa
para um especialista em si mesmo!
É fato que a ciência da Psicologia já
identificou diversos egos convivendo na psique humana, uns mais simples, outros
mais complexos, uns úteis, outros prejudiciais, uns cordiais, outros nem tanto...
todos fragmentos nutridos por nossa energia, hábitos e distrações. Mas, qual
destes egos realmente representa nossa essência? E quais seriam meros agregados
que grudaram em nós com o tempo, advindos do ambiente, das culturas ou das
memórias coletivas? A pergunta filosófica crucial é sempre atual: quem
realmente somos nós?
Um especialista em si mesmo não só descobre
que não era quem pensava ser, como também que, em boa parte do tempo, sequer tinha
posse de seu próprio corpo! De fato, é estarrecedor e quase inacreditável
constatar que perambulamos por aí dispersos, pelos corredores do futuro ou do
passado, à moda de Alice no País das Maravilhas. O corpo físico? Quase sempre um barco à
deriva... por vezes, correndo perigo. O que acontece em um barco ou casa não
vigiada por seu dono? Andarilhos e vendilhões forasteiros começam a se apossar...
e é lógico que consigo trazem suas sujidades, seus cacarecos, seus vícios e seu
lixo. Instalam-se na forma de pensamentos, sentimentos, medos e desejos
excitantes e viciantes.
a multidão de habitantes viventes em nosso interior |
O primeiro passo para o especialista é retomar o leme de si próprio, colocando-se mais atento a pensamentos e sentimentos, não se confundindo mais com eles. Uma vez conscientemente flagrados, aqueles andarilhos vão aos poucos se desarticulando e perdendo boa parte de seu domínio. Cada um de nós é chamado a ser esse especialista, para, por fim descobrir que aquela felicidade e liberdade buscadas fora, sempre estiveram ocultas bem debaixo da poeira dos agregados acumulados dentro de nós mesmos.
publicado em 01/02/2017 no Jornal da Cidade de Bauru
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