quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Porque não somos o que parecemos ser...



Seja um Especialista!

- a vantagem do autoconhecimento -


Você acha que vou falar de seu nível de escolaridade ou capacitação profissional? Fique calmo... Não vou! Conquistar aquele “salário dos sonhos” é um jogo excitante, mas hoje não vamos jogar. Proponho, antes, uma pitada de filosofia e que sejamos especialistas... em nós mesmos! 


Sim, isso tem a ver com felicidade, liberdade... tudo que todos aparentemente buscam. Mas haveria relação de causalidade entre felicidade e formação técnica? É mais feliz quem “sabe” mais? É verdade que alguém tecnicamente mais preparado tem, em regra, melhor remuneração e assim, possui tudo quanto acredita ser preciso para ser feliz. Então, após apostar nossas melhores fichas –tempo e vitalidade- começamos a desconfiar que o “pote de felicidade” não estava lá no final do arco-íris. Todas aquelas técnicas, saberes, ritos de passagem, títulos e amuletos acumulados não nos tornaram, nem mais felizes, nem mais livres... por quê? É aqui que um especialista em si mesmo fará toda a diferença.


Para um médium, parece simples incorporar entidades de outras dimensões. Para um cristão, a incorporação daquilo que ele chama de demônio ou do próprio Espírito divino também é possível. Mas não precisamos ir tão longe para fazer um simples exercício de auto-observação e responder: quantas pessoas distintas incorporamos durante um mesmo dia? Ou você realmente acredita que é a mesma pessoa o tempo todo? Quantos impulsos e desejos contraditórios já experimentamos? Quantos deles se introjetaram e se aninharam em nossas mentes, mesmo contra nossa própria vontade? Agora, tente o contrário: incorporar a entidade chamada “você mesmo”, seu Eu verdadeiro, seu real ser! Você tem certeza de que consegue? Isso, de fato, não é prá qualquer um... É tarefa para um especialista em si mesmo!

É fato que a ciência da Psicologia já identificou diversos egos convivendo na psique humana, uns mais simples, outros mais complexos, uns úteis, outros prejudiciais, uns cordiais, outros nem tanto... todos fragmentos nutridos por nossa energia, hábitos e distrações. Mas, qual destes egos realmente representa nossa essência? E quais seriam meros agregados que grudaram em nós com o tempo, advindos do ambiente, das culturas ou das memórias coletivas? A pergunta filosófica crucial é sempre atual: quem realmente somos nós?

Um especialista em si mesmo não só descobre que não era quem pensava ser, como também que, em boa parte do tempo, sequer tinha posse de seu próprio corpo! De fato, é estarrecedor e quase inacreditável constatar que perambulamos por aí dispersos, pelos corredores do futuro ou do passado, à moda de Alice no País das Maravilhas.  O corpo físico? Quase sempre um barco à deriva... por vezes, correndo perigo. O que acontece em um barco ou casa não vigiada por seu dono? Andarilhos e vendilhões forasteiros começam a se apossar... e é lógico que consigo trazem suas sujidades, seus cacarecos, seus vícios e seu lixo. Instalam-se na forma de pensamentos, sentimentos, medos e desejos excitantes e viciantes. 
a multidão de habitantes viventes em nosso interior


O primeiro passo para o especialista é retomar o leme de si próprio, colocando-se mais atento a pensamentos e sentimentos, não se confundindo mais com eles. Uma vez conscientemente flagrados, aqueles andarilhos vão aos poucos se desarticulando e perdendo boa parte de seu domínio. Cada um de nós é chamado a ser esse especialista, para, por fim descobrir que aquela felicidade e liberdade buscadas fora, sempre estiveram ocultas bem debaixo da poeira dos agregados acumulados dentro de nós mesmos.

publicado em 01/02/2017 no Jornal da Cidade de Bauru

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