epistemologia, o que é?
A
palavra epistemologia não é encontrada na literatura grega antiga. Apesar do
problema do conhecimento fazer parte das questões da Filosofia desde os gregos
antigos, o termo epistemologia começou a ocupar maior espaço na literatura
filosófica apenas na modernidade.
Não
obstante, o termo grego que origina a expressão (episteme) começa a ser mais
comumente encontrado na literatura do período clássico (Sófocles, Platão e
Aristóteles), em torno do século V a.C. Este período marca o auge da polis
grega.
Uma
epistemologia é uma forma de indagar a realidade. A palavra epistemologia é
definida no dicionário etimológico de Antonio Geraldo da Cunha como:
“o
estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já
constituídas e que visa a determinar os fundamentos lógicos, o valor e o
alcance objetivo delas.”
Mais
especificamente, os vocábulos espiteme
e logos provêm do grego e significam “ciência” e “estudo”, respectivamente. De
outro modo, dizemos que epistemologia é um conjunto de conhecimentos
teoricometodológicos interligados que permitem elaborar uma forma de
investigação de um objeto. Epistemologia é o estudo dos princípios de
investigação que direcionam um modo de enfrentar um certo tema.
Enfim,
nada mais é do que o “estudo do conhecimento científico”. A palavra designa o
conjunto de pesquisas que buscam responder à questão "O que é a ciência?”,
colocando particularmente a questão das relações entre a ciência e as formas
não científicas do saber. Em última instância, por epistemologia designa-se o
que se entende hoje por Filosofia da Ciência.
O que é ciência?
Etimologicamente,
o vocábulo “ciência” vem do latim scientia,
que quer dizer sabedoria. Hodiernamente, há dezenas de conceituações, mas pouco
consenso. Para chegarmos ao conceito de ciência, devemos recorrer a uma
disciplina externa a ela mesma: a filosofia da ciência.
Observando
inúmeros fatos do nosso dia a dia, percebemos a ocorrência de fenômenos
regulares, que se repetem: as estações do ano, a atração dos corpos, os ciclos
da natureza em geral... Ao examinar as regularidades, a ciência procura chegar
a uma conclusão geral que possa ser aplicada a todos os fenômenos semelhantes;
ela procura estabelecer “enunciados generalizadores”, descobrir as leis que
regem o mundo.
Conforme
nos adverte Paul Davies, a ciência envolve mais do que a mera catalogação de
fatos ou a descoberta por meio da tentativa e erro, dos modos de proceder para
que as coisas funcionem. A “verdadeira ciência” envolve “a descoberta de
princípios que subjazem e conectam os fenômenos naturais”. Tais princípios,
para serem válidos, devem operar como leis (serem universais e necessárias). A
função básica destes enunciados é explicar sinteticamente como o mundo funciona
e prever novos fenômenos.
Para
sabermos melhor o que é “conhecimento científico”, precisamos distingui-lo do
chamado conhecimento do senso comum. Se pensarmos em como os antigos
interpretavam o mundo, podemos chegar no ponto de nos perguntar: como duvidar
que o sol seja menor do que a Terra se, todo dia, vemos um pequeno círculo de
cor vermelha percorrendo o céu? Como duvidar que a terra seja imóvel se
diariamente vemos o sol nascer, percorrer o céu e se pôr? Cada espécie de
animal não surgiu tal como a conhecemos? Como imaginar um peixe evoluindo até
tornar-se réptil ou pássaro, se não presenciamos ditas transformações em nosso
cotidiano?
Questões
como estas estão presentes na nossa vida e expressam o que nós chamamos de
"senso comum". Porém a astronomia nos revela que o sol é muitas
vezes maior do que a Terra e que é a Terra que se move em torno dele, ou que
certas espécies complexas surgiram de outra mais simples.
O
senso comum encerra um saber não-sistematizado, mas útil para o homem na sua
vida cotidiana. É obtido geralmente pelas observações realizadas pelos
sentidos, sem preocupar-se com a investigação e o questionamento, ao contrário
da ciência.
Os Tipos de Conhecimento
No
processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode
escolher diferentes ângulos de observação e assim, construir distintas
categorias de conhecimento. Por exemplo, ao estudar o Homem, podemos observá-lo
empiricamente, como se comporta em sociedade; podemos analisá-lo como ser
biológico, verificando minuciosamente as relações existentes entre os órgãos e
suas funções; pode-se questioná-lo filosófica e antropologicamente quanto à sua
origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; igualmente, podemos
observá-lo como ser criado pela divindade e refletirmos criticamente sobre o
que dele dizem os textos sagrados das distintas religiões.
Notamos,
portanto, que apesar da separação metodológica entre os tipos de conhecimento
popular, filosófico, religioso e científico, estas formas de conhecimento podem
coexistir. Por exemplo, um cientista dedicado à Física Quântica, pode ser
praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em
muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes
do senso comum.
Para
entendermos cada um desses tipos de conhecimento, vamos primeiramente traçar um
paralelo entre conhecimento científico e conhecimento popular:
Relações entre o conhecimento
popular e o científico
O
conhecimento vulgar ou popular (também chamado de senso comum), não se
distingue do conhecimento científico, nem pela veracidade, nem pela natureza do
objeto conhecido. O que os diferencia é a FORMA, O MODO ou o MÉTODO, bem como
os INSTRUMENTOS que cada um utiliza para o ato de conhecer. Podemos afirmar que
o conhecimento vulgar visa às coisas, enquanto o conhecimento científico estuda
sua constituição íntima e suas causas.
É
importante ter em mente que a ciência não é o único caminho de acesso ao
conhecimento e à verdade.
Um
objeto ou fenômeno pode ser observado tanto pelo cientista quanto pelo homem
comum. O que leva um ao conhecimento científico e o outro ao saber popular é a
forma de observação. Tanto o "bom senso", quanto a
"ciência" se pretendem saberes racionais e objetivos, mas nunca o são
completamente, como veremos em capítulos posteriores.
Se
analisarmos qualquer situação de nosso cotidiano, poderemos notar como estas
duas modalidades se comportam: uma simples dor de estômago ou de cabeça, por
exemplo: No âmbito popular, empírico, transmitido de geração em geração por
meio da educação informal ou pela experiência pessoal, várias “soluções”
surgirão: “a dor foi causada pela ingestão de algum alimento estragado” ou
“porque comemos muito depressa”, ou ainda “devido a alguma entidade maléfica ou
diabólica”. Não faltará a receita de um amigo que conhece uma erva ou
comprimido eficaz (mesmo que se ignore sua composição, a natureza da dor e
a forma de atuação do medicamento).
O
"bom senso", apesar de sua aspiração à racionalidade, só consegue
atingir essa condição de forma limitada. O modo comum e espontâneo de conhecer
se adquire no contato direto com as coisas e com os seres humanos. É um saber
que se elabora sem a preocupação com a aplicação de um método sistemático e
rigoroso. É aquele saber que todo ser humano comum desenvolve, no contato
direto e diário com a realidade. Este tipo de conhecimento, obtido por
informação ou experiência casual, recebe o nome de conhecimento vulgar ou
empírico.
Dizemos
ser “vulgar” porque possível a todo ser humano, de qualquer nível
cultural. Não questiona, não analisa, não exige demonstração, é ocasional
e assistemático. Estrutura-se como um conjunto de crenças e opiniões,
utilizadas em geral para objetivos práticos. É basicamente desenvolvido por
meio dos sentidos, e não tem intenção de ser profundo, sistemático e/ou
infalível.
Verificamos
que o conhecimento científico diferencia-se do popular muito mais no que se
refere ao seu contexto metodológico, do que propriamente ao seu conteúdo ou
objeto. Essa diferença ocorre também em relação ao conhecimento filosófico e
teológico. Veja, sinteticamente, as características principais dos quatro
tipos:
SINTETIZANDO, o conhecimento popular mostra-se:
Superficial
|
Conforma-se
com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente
observando as coisas ou colhendo informações informalmente.
|
Sensitivo
|
Referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária.
|
Subjetivo
|
é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos.
|
Assistemático
|
a
organização da experiência não visa a uma sistematização das idéias,
nem da forma de adquiri- las, nem na tentativa de validá- las.
|
Acrítico
|
verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica.
|
Já, o Conhecimento Científico mostra-se:
Real, factual
|
lida com ocorrências e fatos, isto é, com qualquer fenômeno observável e manifestado de algum modo.
|
Contingente
|
suas
proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade atestada por
meio da experimentação e não pela pura razão, como ocorre no
conhecimento filosófico.
|
Sistemático
|
saber ordenado logicamente, formando um sistema de idéias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos.
|
Verificável
|
as hipóteses que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência.
|
Falível
|
em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final.
|
Aproximadamente exato
|
novas proposições e o desenvolvimento de novas técnicas ou novas metodologias podem reformular o acervo de teorias existente.
|
Observe que a objetividade, a neutralidade ou a exatidão (equivalência da teoria com a realidade) não são mais consideradas condições ou qualidades do conhecimento científico, como era consenso geral até fins do século XIX.
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