Antes de apresentarmos alguns dos argumentos terraplanistas, cumpre-nos fazer algumas prévias observações:
Tome
muito cuidado toda vez que um argumentador começar sua frase dizendo... "está
comprovado cientificamente"...
Implicitamente,
o que seu interlocutor deseja é que você aceite como absolutamente verdadeira
sua tese e sua conclusão, e que, portanto, não seria admissível questioná-la,
já que conhecimento científico seria sinônimo de "verdade".
Obviamente,
nenhum saber humano é dotado de semelhante qualidade. Em nenhuma hipótese, o
conhecimento filosófico, o religioso ou o científico poderão ser tratados como
sinônimos de verdade em sentido absoluto.
Porém,
do mesmo modo, tome igual cautela diante de qualquer argumentador que ignore ou
despreze a metodologia científica e a lógica filosófica para em seguida
defender a veracidade de qualquer afirmação dogmática, por mais elegante ou
fascinante que tal afirmação lhe possa parecer...
Terraplanistas, crendo-se possuidores de algum segredo ou saber valioso, orgulham-se aconselhando que as pessoas questionem, pesquisem, que não se comportem como gado, etc... Defendem que as conclusões de um verdadeiro cientista devem ser baseadas na simples "observação empírica".
É fato que qualquer ciência começa (ou seja, "dá o primeiro passo", de muitos outros que deverá dar) sim, com a observação empírica. O problema começa quando se utiliza essa simples observação, sem metodologia, sem critério técnico algum e pior, sem se dar conta de que nossos sentidos também nos enganam. É claro que, e a partir destas simples observações, pode-se chegar a muitas conclusões, mas todas falaciosas.
Além disso, em ciência, como em filosofia, o ônus da prova cabe a quem afirma a tese.
Se alguém resolve afirmar que a "Terra é plana", deve apresentar os dados que corroboram sua hipótese... e não esperta e arrogantemente, sair exigindo provas dos outros. Deverá sim, realizar aqueles experimentos que demonstrem sua afirmação. Negacionismo e conspiracionismo?? É isso que chamam de ciência?
Negar por negar, sem apresentar qualquer explicação melhor, mais bem fundamentada, é muito cômodo, muito hipócrita e muito desonesto, para dizer o mínimo.
O terraplanista ataca soberbamente a ciência oficial (que sabemos, não é perfeita, e tem lá seus muitos defeitos), mas em nenhum momento promove a produção de uma nova ciência para substituir a primeira, que mal sabe criticar...
Isto é, o negacionista ingênuo não satisfaz nenhum dos requisitos básicos para que sua tese seja reconhecida como "conhecimento científico", dentre outros, não prevê novos fenômenos, não resolve problemas concretos, não apresenta corroboração por meio de fórmulas ou equações matemáticas...nada... absolutamente nada.
Assim, caem no terreno do dogmatismo, da crença estéril. O típico terraplanista não explica nada, não soluciona nada, não responde qualquer questão ainda não respondida pela ciência ortodoxa. Em síntese, não contribui em nada, mas se presta a confundir incautos.
O terraplanismo sequer tem um modelo consensual, pois sequer apresenta um modelo de mapa verossímil!! Mas como assim??
É!! Até hoje não há um mapa terraplanista em escala, com as medidas concernentes (latitude e longitude). Apropriar-se espertamente de um mapa azimutal equidistante (que, aliás, foi criado para outras finalidades, mas nunca para ser "modelo proporcional" da realidade) não vale, né?
Ademais, não há sequer uma tabela para cálculo e previsões de fenômenos naturais futuros (como por exemplo, datas dos eclipses porvir, seguindo o modelo de uma suposta Terra plana).
Abaixo segue um interessante artigo jornalístico, publicado recentemente, sintetizando as principais hipóteses e argumentos terraplanistas...
Fonte: Futuro Exponencial
Passados quase 500 anos da expedição do navegador português Fernão de Magalhães ao redor do mundo e quase 50 anos do lançamento da missão espacial Apollo 11, muitas pessoas ainda acreditam que a Terra não é redonda, mas um disco coberto por uma redoma invisível e cercado por uma enorme muralha de gelo.
A
teoria da Terra plana, que vem sendo fortemente propagada nas redes
sociais nos últimos meses, não é novidade. Por volta do século 16 a.C,
os egípcios e mesopotâmios já falam na possibilidade de uma Terra plana,
acreditando ser um disco flutuando no oceano. Na época, é claro, a
ciência não era avançada.
Mas,
mesmo com todas descobertas científicas nos últimos anos, os adeptos da
teoria (terraplanistas) seguem firmes na convicção de que a Terra não é
esférica. A diferença é que, se antes a teoria estava restrita aos
debates acadêmicos, hoje ela atingiu em cheio as redes sociais, caindo
na “boca do povo”.
Por que insistem em dizer que a Terra é plana?
O principal expoente das ideias da teoria é a Flat Earth Society.
Fundada em 1956 pelo inglês Samuel Shentonem, a organização se
fundamenta, em parte, na Bíblia (que, em algumas passagens, apontaria
para a existência de uma Terra plana) e, em outra parte, sobre uma
abordagem empírica.
A
abordagem empírica é baseada na observação. Para a Flat Earth Society,
confiar nos próprios sentidos é essencial para discernir a verdadeira
natureza do mundo que nos rodeia. Se o mundo é plano, o fundo das nuvens
é plano, o movimento do sol é plano, não haveria como acreditar em uma
Terra esférica.
Quando
pensamos em evidências de que a Terra é redonda, costumamos dizer que
aprendemos assim na escola ou mesmo apontar fotografias retiradas
durante missões espaciais. Em nosso cotidiano, no ritmo acelerado de
nossas vidas, realmente não há como notar que a Terra é esférica.
Isso
leva algumas pessoas a realmente acreditar que a Terra é plana. Afinal,
quando olhamos ao nosso redor, estamos enxergando um mundo plano. Os
terraplanistas perceberam esta fragilidade e, a partir dela, construíram
argumentos minimamente críveis para fundamentá-la.
Embora
o empirismo seja um método útil para diversas áreas do conhecimento,
reconhecer sua validade no campo da astronomia é temerário. Colocar uma
régua no horizonte, na praia, não prova que a Terra é plana. Nosso
planeta é tão grande que é impossível perceber sua curva de uma
distância pequena.
Precisamos
ir mais longe para perceber a curva. É preciso atingir em torno de
60.000 pés (18.000 metros acima do nível do mar) para ver a curvatura da
Terra. O avião comercial supersônico Concorde, produzido pela British Aircraft Corporation e pela Aérospatiale, conseguiu esta façanha na década de 70.
Por razões financeiras, muitos de nós jamais teremos a oportunidade de viajar em novos Concordes
ou ir ao espaço para conferir a curva com nossos próprios olhos.
Contudo, não é preciso ir tão longe para entender por que os argumentos
dos terraplanistas simplesmente não convencem.
1. Se a Terra é plana, por que ninguém jamais viu a muralha de gelo?
De acordo com os terraplanistas, a Terra tem a forma de um disco. No modelo aceito entre os membros da Flat Earth Society,
o Ártico está no centro do disco, enquanto a Antártica é a parede ao
redor da borda. Assim, o planeta estaria cercado, de todos os lados, por
uma parede de gelo que retém os oceanos.
A
Antártica seria uma grande muralha de gelo que circunda a Terra, cuja
função é manter os oceanos, impedindo que se espalhem por toda a Terra, e
nos proteger de tudo que estiver além deles. Na imagem a seguir vemos
um modelo de Terra plana, embora, segundo os terraplanistas, a versão
não seja definitiva:
Os
terraplanistas propõem a existência de um muro de gelo, mas não sabem
exatamente até onde o gelo se estende, como ele termina e o que existe
além dele. Para eles, o gelo se estende mais longe do que o olho humano
ou o telescópio podem alcançar. Ao final, tudo que está além do gelo é
mera especulação.
A
visão mais comum é que a parede de gelo sobe em torno de 45 metros
acima do nível do mar, evitando que o oceano derrame sobre a borda da
Terra. Já alguns acreditam que o muro seja maior, com até 15.240 metros
de altura. O tamanho exato da parede de gelo varia entre os
terraplanistas.
Segundo
os adeptos da teoria, o muro de gelo seria impossível de ser
atravessado por qualquer humano por dois motivos. Primeiro, pela
quantidade praticamente perpétua de gelo. Segundo, o que talvez soe mais
surpreendente, por existir um grande número de militares vigiando a
Antártida.
Em
outras palavras: membros das forças armadas (sobretudo dos Estados
Unidos) estariam diariamente se certificando que ninguém atravesse a
muralha de gelo. Contudo, o argumento desconsidera que a superfície da
Antártida tem aproximadamente 14.000.000 km².
Quantos
militares seriam necessários para proteger toda esta extensão? Quantos
bilhões de dólares seriam gastos para custear o armamento, alimentação e
estadia dos militares para que ninguém pise no gelo? E por que ninguém
até hoje conseguiu fotografar os vigilantes? Os terraplanistas não sabem
responder.
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2. Se a Terra é plana, por que conseguimos circum-navegá-la?
No modelo plano da Terra, não sabemos o que está do outro lado.
Logo, não somos capazes de circum-navegar o globo, pois nos deparamos
com o muro de gelo e, passado este ponto, tudo morre. Para os
terraplanistas, dar a “volta ao mundo” seria se mover em círculo ao
redor do Polo Norte:
O argumento dos terraplanistas desconsidera, contudo, a conquista de Fernão de Magalhães,
que circum-navegou o globo no século XVI. A serviço do rei Carlos I, o
navegador português saiu da Espanha em 1519, contornou o ponto sul da
América do Sul (hoje chamado de Estreito de Magalhães) até as Filipinas.
Magalhães
acabou sendo morto nas Filipinas, mas a expedição foi chefiada por Juan
Sebastián Elcano e concluída em 1522. Como se vê a seguir, o navegador
não chegou a passar pelo topo da América do Norte, Europa e Ásia. Se a
Terra fosse plana, o navegador teria de passar por cima destes
continentes:
3. Se a Terra é plana, por que as fotografias do espaço revelam o contrário?
Os terraplanistas acreditam que as agências espaciais do mundo estão envolvidas em uma conspiração para fingir viagens e explorações no cosmos. As falsificações teriam iniciado durante a Guerra Fria, quando se intensificou a corrida espacial entre os Estados Unidos e a URSS.
Segundo
os adeptos da teoria, os países estariam tão obcecados por vencer a
corrida que fingiram suas conquistas, na tentativa de acompanhar as
supostas realizações do outro. A lendária fotografia retirada na
superfície da Lua, em 1969, teria sido forjada pela NASA para superar a
URSS na disputa.
No
entanto, afirmar que as fotos da NASA são falsas esbarra em um detalhe
muito importante: a NASA não é a única agência espacial do mundo. Hoje,
recebendo em torno de 0,4% de recursos do governo estaduniense (10% a
menos que na época das missões Apollo), nem é mais a agência principal.
O
argumento dos terraplanistas pressupõe que todas as agências espaciais
do mundo teriam se juntado para forjar fotografias da Terra vista do
espaço, o que não faz sentido. Além disso, equivaleria a dizer que até
os vídeos gravados a bordo da Estação Espacial Internacional seriam
forjados em tempo real.
Como
forma de rebater a crítica, os adeptos da teoria da Terra plana
insistem em dizer que algumas fotografias foram registradas com as
chamadas lentes “olho de peixe”, cuja principal característica é
proporcionar um ângulo de 180º, resultando em uma imagem com grande
distorção óptica.
Porém,
embora algumas fotografias tenham sido de fato retiradas com as lentes
“olho de peixe”, os astronautas das missão Apolo registraram outras
imagens da Terra quando estavam a 200.000 km de distância. E, nestas
ocasiões, usam câmeras teleobjetivas, que oferecem alta qualidade nas
imagens.
Ainda
que as fotografias de todas as agências espaciais fossem falsas, há
experimentos com balões meteorológicos que apresentam a curvatura da
Terra. Estudantes da Universidade de Leicester recententemente capturaram imagens da estratosfera usando um balão meteorológico a uma altitude de 23.600 m:
4. Se a Terra é plana, por que conseguimos ver a curvatura da janela dos aviões?
Supondo
que tanto as fotografias das agências espaciais quanto do balão
meteorológico sejam falsas, o que dizer da percepção de passageiros a
bordo de aviões sobre a curvatura da Terra? Ou mesmo de pilotos de
aeronaves militares, que chegaram a altitudes elevadas e conseguiram
enxergar a curva do planeta?
Bem,
os aviões comerciais voam a uma altitude de 11.000 metros. A esta
distância vertical, não é possível observar a curvatura da Terra. Mas há
aviões comerciais e aeronaves militares que podem escalar maiores
altitudes. Nestes casos, quando o passageiro vê a Terra da janela, a
curvatura da Terra é clara.
Ainda
assim, os terraplanistas têm um argumento pronto para estas situações:
as janelas do avião é que são curvas. O vidro curvo sempre mostra uma
imagem curva, distorcendo a percepção. Logo, mesmo a bordo de um
Concorde, o passageiro teria uma falsa impressão da realidade pela
curvatura da janela.
5. Se a Terra é plana, por que vemos os navios desaparecendo no horizonte?
Afinal,
se a Terra é plana, por que nossa visão não ultrapassa o horizonte? Por
que não conseguimos enxergar o monte Everest, cuja altitude é de 8.844 m?
De acordo com os terraplanistas, não conseguimos enxergar além do
horizonte em decorrência da neblina e da limitação da visão humana.
Contudo,
o argumento não faz qualquer sentido, já que conseguimos enxergar
estrelas localizadas a 40 trilhões de quilômetros de distância (4,3 anos-luz).
Nossa visão não ultrapassa no horizonte por causa da curvatura da
Terra, embora os terraplanistas insistam em não reconhecer o aspecto.
É possível comprovar a curvatura da Terra pela sequência de desaparecimento de um grande navio no horizonte.
Se você observar os navios que se afastam no horizonte, perceberá que
eles nunca desaparecem de uma só vez, mas sempre de baixo para cima.
Isso acontece porque a Terra é redonda.
À
medida que a embarcação desaparece no horizonte, algumas estruturas vão
sumindo antes de outras. Primeiro, some o casco, depois o mastro, até o
navio sumir totalmente. Na realidade, a embarcação desaparece de nosso
campo de visão por causa da curvatura arredondada de planeta.
Em
uma Terra Plana, se você estivesse a bordo de um navio e avistasse o
monte Everest, você já o enxergaria por completo. E à medida que se
aproximasse dele, perceberia ele aumentando de tamanho. Mas não é o que
acontece: você começa a ver os pontos mais altos e gradualmente enxerga o
monte todo.
6. Se a Terra é plana, por que existem dias, noites e estações do ano?
Segundo
os adeptos da teoria da Terra plana, o sol se move em círculos em torno
do Polo Norte. Logo, quando ilumina o país que você reside, é dia.
Quando não ilumina o local em que você está, é a noite. O gif abaixo
ilustraria como o sol se move e como as estações funcionam em uma Terra
plana:
Apesar
da insistência dos terraplanistas, as estações do ano existem por causa
da inclinação do eixo da Terra. Em uma Terra plana, a inclinação não
existiria. A posição do sol seria a mesma em relação ao solo. A
iluminação solar seria idêntica em todas as épocas do ano, havendo uma
única estação.
Apenas
um planeta em forma de globo justificaria a diferente posição do sol em
duas cidades a poucos metros de distância. Em uma Terra plana, também
não haveria diferença entre o comprimento das sombras. O matemático Eratóstenes demonstrou, em 276 a. C., que as sombras variam conforme a posição dos corpos.
Se
a Terra fosse plana, os raios solares iluminariam o planeta sob o mesmo
ângulo. E todos os corpos projetariam sombras iguais no mesmo momento.
No entanto, a existência de objetos projetando sombras diferentes em
lugares diferentes no mesmo horário comprova que a Terra é redonda.
O
mesmo vale para os ciclos de dia e de noite. As varias regiões do mundo
estão em horários diferentes em virtude da curvatura do planeta. Se a
Terra fosse plana, pessoas do Brasil e do Japão enxergariam o sol nascer (e se pôr) ao mesmo tempo. E sabemos que isso não ocorre na realidade.
7. Se a Terra é plana, por que todos os demais planetas são redondos?
As
constelações são visíveis a partir de diferentes latitudes. A
constelação Cruzeiro do Sul, considerada uma das mais facilmente
reconhecíveis, é mais vista no hemisfério sul. Já no hemisfério norte,
podemos enxergá-la apenas no arquipélago Florida Keys, nos Estados
Unidos.
Essas
diferentes perspectivas só fazem sentido se imaginarmos a Terra como um
globo. Nesta lógica, olhar “para cima” realmente significa olhar para
uma faixa de espaço diferente do hemisfério sul ou norte. Se a Terra
fosse plana, poderíamos ver as mesmas constelações de qualquer lugar do
planeta.
Finalmente,
se a Terra é plana, todos os demais planetas não deveriam ser planos
também? Por que planetas “vizinhos” como Marte e Vênus, facilmente
observáveis por telescópios, são redondos? O que faz a Terra ser tão
especial para apresentar uma forma diversa de todo sistema solar?
A
Terra não é diferente. Nosso planeta não é plano por um simples motivo:
a gravidade. Embora a gravidade seja uma força fundamental do Universo,
os terraplanistas não a reconhecem como tal, preferindo acreditar que a
densidade de nossos corpos é que nos mantêm sobre a Terra.
Mas
nosso planeta é redondo, sim, por causa da gravidade. Em uma esfera,
todos os pontos da superfície ficam na mesma distância do centro e
recebem a mesma forma gravitacional. Essa é a forma ideal para
distribuir a matéria e a que consome menos energia. Em suma, é a forma
mais fácil que o Universo encontrou para existir.
Fonte: Futuro Exponencial
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