domingo, 14 de abril de 2013

O problema da demarcação: Popper e Lakatos



O problema da demarcação: Popper e Lakatos

Imre Lakatos ocupou-se desta e de outras questões importantes para a filosofia da ciência. Examinou as filosofias da ciência mais influentes e propôs a metodologia dos programas de pesquisa (ou de investigação), a qual é uma tentativa original de elaborar uma reconstrução racional da história da ciência. Essa tentativa estrutura os ensaios reunidos na obra “História da ciência e suas Reconstruções Racionais”.

A resposta de Popper para o problema da demarcação das ciências é que as teorias científicas distinguem-se das pseudocientíficas em virtude de serem refutáveis, e que a atitude científica consiste em submeter as teorias a “testes cruciais” que visam refutá-las ou falsificá-las. Lakatos, no entanto, considera ingênuo o falsificacionismo de Popper, já que este não condiz com o comportamento dos cientistas. 

De fato, quando rejeitam uma teoria, cientistas não o fazem “apenas porque os fatos a contradizem”. Diante de dados empíricos adversos, cientistas em geral não hesitam em invocar hipóteses auxiliares (ad hoc) para salvar as teorias. Vêem tais dados não como “refutações” de suas conjecturas, mas como simples “anomalias” que não requerem solução imediata. Os testes cruciais de que Popper fala são assim ficções infundadas; os próprios relatos desses testes “são forjados muito depois de as teorias terem sido abandonadas”.
Como alternativa ao falsificacionismo, Lakatos sugere que para resolver o problema da demarcação é melhor pensar não em teorias ou conjecturas isoladas, mas em unidades mais abrangentes, pois “a ciência não é simplesmente ensaio e erro, uma série de conjecturas e refutações”.
Popper buscou substituir a ideia de verificacionismo pela de falsificacionismo, extraindo desta última o critério que separaria a ciência da pseudo-ciência: é preciso definir em que condições estamos dispostos a abandonar determinada teoria.   Por outro lado, a experiência deixa definitivamente de servir como ponto de partida para a formulação de enunciados gerais; agora ela limitar-se-á a um modo de testar as hipóteses e eliminar aquelas que se demonstrem equivocadas. O impulso, o que determina o progresso da ciência são as conjecturas eventualmente falsificáveis, portanto, reside nas hipóteses e não nos dados observacionais. Ou seja, para Popper, é no mundo das teorias, das ideias (mundo 3), que se encontram os germes da criação científica. A experiência servirá apenas como filtro decisivo para a eliminação das teorias impuras ou anomalias. De qualquer modo, a experiência opera como árbitro implacável.
Os críticos de Popper, como vimos, acreditam que o critério de falsificabilidade é demasiado estreito e deixaria de fora um razoável número de disciplinas do saber, como, por exemplo, a paleontologia, a cosmologia, a etnologia, dentre outras ciências ditas “humanas”.
Procurando evitar interpretações ingênuas do falsificacionismo, Lakatos reformulou a teoria de Popper de modo que se pudesse, ainda, apresentar as “revoluções científicas” como resultantes de um progresso racional. A ideia central de Lakatos consiste em substituir o “problema da apreciação de teorias” pelo “problema da apreciação de séries de teorias” (ou mais exatamente de programas de investigação). Dessa forma, as anomalias podem ser ignoradas desde que o programa de investigação consiga manter uma heurística positiva resultante dos desenvolvimentos teóricos, sendo apenas substituído quando surgir um outro programa de investigação melhor. Assim, uma experiência não pode, só por si, derrotar uma teoria pois esta apenas pode ser derrubada por uma teoria melhor que apresente um conteúdo empírico adicional.
Por exemplo, à luz da teoria de Popper, a descoberta do periélio anômalo de Mercúrio não devia ter permitido manter a teoria gravitacional de Newton enquanto, com base no novo critério de Lakatos, o desenvolvimento histórico (que não fez ruir a teoria apesar do fenômeno só ter sido explicado mais tarde por Einstein) se apresenta como perfeitamente racional.
Lakatos também responde à sua própria pergunta referente à validade de sua filosofia da ciência: em que condições abandonaria o seu critério de demarcação? Ele propõe o seguinte meta-critério: uma teoria da racionalidade só deve ser abandonada quando se dispõe de uma melhor (sendo que melhor representa aqui a possibilidade de interpretar racionalmente uma maior quantidade de juízos de valor básicos na história da ciência).

Texto elaborado por Silvio Motta Maximino
Fonte pesquisada: resenha crítica de Daniel Marques Pinto

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