O que nossa realidade tem a ver com nossa linguagem?
Uma coisa eu posso lhe garantir: o elogiadíssimo filme A Chegada (de 2016), é diferente de
tudo que você já assistiu com o tema ‘extraterrestres’.
Baseado no conto A
história da Sua Vida de Ted Chiang, The Arrival (título em inglês) recebeu oito indicações ao Oscar de 2017 e levou o
prêmio de melhor edição de som. Muito pouco pela originalidade e qualidade de uma obra que, sem dúvida, já é um clássico no
gênero ficção científica.
O filme
A Chegada começa quando doze espaçonaves alienígenas pousam
em distintos locais na Terra (Inglaterra, Rússia, Venezuela, China e Paquistão)
e a linguista Dra. Louise Banks (Amy Adams) é convocada pelo governo
americano para auxiliar nas tentativas de tradução da língua alienígena, bem como de comunicação com os novos e estranhos visitantes.
Deste modo, o enredo do filme trabalha expondo a reação por
parte das autoridades mundiais, de distintos grupos culturais, e até dos
influenciadores digitais. O filme expõe logo de início o primeiro grande desafio
que enfrentaríamos: como nos comunicar com seres que não utilizam formas humanas de linguagem?
Assim, enquanto a tensão mundial aumenta e pesquisadores do
mundo todo lutam contra o tempo para compreender a linguagem alienígena, a
protagonista Louise começa a ter “flashbacks” sobre sua própria vida. Tais flashbacks,
contudo, não são o que pareciam ser a princípio, e a partir de um certo ponto,
começamos a perceber que as cenas que acreditávamos ser o passado, eram na
realidade, fragmentos do futuro da personagem.
O que é o passado? O que é o futuro?
O filme é brilhante na forma como desafia a linearidade do
tempo. Interessante notar como os símbolos (grifos) usados pelos alienígenas
são circulares, não apresentando começo ou fim. Do mesmo modo, o início e o
final da história também são interligados de forma circular (não linear) e
completam um círculo, da mesma forma como a linguagem utilizada pelos alienígenas.
É desta mesma forma que o tempo é representado no filme.
Os Heptapods (como os alienígenas
são apelidados) têm uma percepção diferente do tempo, o que eles representam de
forma genial pela sua escrita. Ao começar a compreender a estranha língua alienígena,
a protagonista passa simultaneamente a perceber o tempo também de forma não
linear (não sucessiva – passado, presente e futuro).
Filosofia da Linguagem
Um aspecto extraordinário do enredo é representado na
tentativa da pesquisadora Louise de explicar a hipótese dos linguistas Sapir e Whorf
(primeira metade do século XX), segundo a qual a língua nativa de um grupo tem
relação direta com o modo de pensar e perceber o mundo. Ou seja, segundo eles, a
língua de um grupamento humano influenciaria ou determinaria a forma de pensar
das pessoas que fazem parte deste mesmo grupo.
Embora a hipótese não seja bem aceita
pela maioria dos linguistas, ela serve muito bem como pano de fundo para o
enredo ser costurado de forma verossímil.
Deste modo, ao contrário do que pensaríamos num primeiro
momento, o questionamento que o filme traz não é “o que faríamos se alienígenas
invadissem nosso planeta”, mas o que faríamos “se pudéssemos mudar nossas escolhas
feitas no passado de nossas vidas”.
Enfim, uma ótima dica de filme para quem gosta de ficção científica e de temas relacionados a filosofia da linguagem, linguística, comportamento, etc.
Não deixem de assistir!
Não deixem de assistir!
🔺Ficha técnica🔻
- Nome: A Chegada
- Nome Original: Arrival
- Cor filmagem: Colorida
- Origem: EUA
- Ano de produção: 2016
- Gênero: Ficção científica
- Duração: 116 min
- Classificação: 12 anos
- Direção: Denis Villeneuve
- Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker
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