publicado no Jornal da cidade, em 23/09/2007
O Brasil é uma nação sem ética?
Adilson Camargo
Diógenes, filósofo grego, um certo dia, saiu pelas ruas de Atenas com uma lanterna acesa. O fato não causaria estranheza se ele não tivesse feito isso em plena luz do dia. Indagado sobre a razão de tal atitude, ele respondeu: “Procuro um homem honesto”. Isso foi há 2.400 anos. Se Diógenes vivesse nos dias atuais e morasse em Brasília, ele estaria repetindo o ato e teria muito trabalho para alcançar seu objetivo tamanho a crise ética que assola a classe política, que se diz representante do povo.
Mensalão, mensalinho, máfia dos sanguessugas, dólar na cueca, Renan Calheiros. Os casos de corrupção são tantos e em tantas áreas (política, policial, esportiva e trabalhista, entre outras) que surge a pergunta: o Brasil é um País sem ética? Para responder a essa indagação, o Jornal da Cidade ouviu estudiosos das ciências humanas, políticos e a população. Não há respostas conclusivas, mas é consenso que no País uma boa parte da população é adepta de atitudes antiéticas, igualzinho aos políticos.
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Na opinião do filósofo Sílvio Motta Maximino, o povo, de uma forma geral, necessita de bons exemplos. Se seus principais representantes não exibem um comportamento ético, o povo fica sem referencial. “O brasileiro não tem uma personalidade definida. Comparada a outras nações milenares, nós vemos que o Brasil é um adolescente ainda. Sendo assim, ele carece de bons exemplos. Quando eles faltam, vemos uma falta de ética generalizada”, afirma.
Para o professor de ética Roberto Daniel, mais conhecido como Padre Beto, o Brasil ainda não amadureceu para a ética. Na opinião dele, o individualismo que impera na sociedade brasileira impede que haja uma melhor qualidade de vida para todos. “O que vemos hoje é que o brasileiro está mais preocupado em obter vantagens momentâneas, custe o que custar. Se para ganhar tempo e dinheiro for preciso transgredir leis, ele faz isso descompromissadamente”, aponta.
Para o professor de ética Roberto Daniel, mais conhecido como Padre Beto, o Brasil ainda não amadureceu para a ética. Na opinião dele, o individualismo que impera na sociedade brasileira impede que haja uma melhor qualidade de vida para todos. “O que vemos hoje é que o brasileiro está mais preocupado em obter vantagens momentâneas, custe o que custar. Se para ganhar tempo e dinheiro for preciso transgredir leis, ele faz isso descompromissadamente”, aponta.
De acordo com o professor, ainda permanece na mentalidade e no comportamento de parcela do povo brasileiro muito do que foi trazido pelos aventureiros que passaram pelo País desde o descobrimento. Segundo ele, o lema desses aventureiros era buscar o enriquecimento no Brasil e viver a riqueza fechado em seu mundo particular. “Infelizmente, o brasileiro ainda vive se perguntando ‘o que eu posso fazer para ter sucesso individual?’ Não há uma preocupação com o coletivo”, comenta Padre Beto.
Ele não vê perspectiva de mudanças a curto prazo. Para o professor de ética, será preciso algumas gerações até que as pessoas se acostumem a refletir levando em consideração o bem comum de toda a sociedade. “Não podemos ficar eternamente centrado na lei que ensina levar vantagem
Para o também professor e filósofo Maximino, o caminho da mudança passa pela educação. Segundo ele, foi assim que outras nações amadureceram eticamente. “Sócrates, Platão e Aristóteles acreditavam que a felicidade só seria possível se as pessoas pensassem em primeiro lugar no bem da coletividade”, lembra ele.
O que pensam os 3 poderes de Bauru
Prefeito, presidente da Câmara e diretor do Judiciário avaliam o comportamento da população e fazem relatos
O deputado Pedro Tobias também afirma que a punição das pessoas envolvidas em corrupção é o que diferencia o Brasil dos países desenvolvidos, que avançaram no combate às práticas desonestas. O parlamentar já morou na França. Segundo ele, lá também existe corrupção, mas as pessoas têm medo da lei.
“No Brasil, a lei é só para o pobre. Vemos tantas coisas que foram apuradas, como o mensalão, e ninguém é preso. Mas se alguém rouba uma lata de leite, vai parar na cadeia”, compara. Na avaliação dele, para que o Brasil chegue ao nível de um país desenvolvido, no quesito corrupção, será preciso investir muito em escola. “Não acredito que isso ocorra antes de 100 anos.”
O prefeito Tuga Angerami, representante do Poder Executivo, diz que o brasileiro tem um perfil cultural mais informal, que acaba gerando algumas distorções éticas. “Essa informalidade (própria do brasileiro) é um aspecto até sedutor, associado à simpatia, mas às vezes as pessoas estendem esse comportamento para áreas em que a informalidade não deveria prevalecer.”
Tuga lembra que, como prefeito ou na época que era deputado, já aconteceu de ele reivindicar algo e receber uma resposta negativa. Ele insistia perguntando se o “não” era em razão de alguma norma ou regra do local. Se a resposta era “sim”, Tuga diz que se contentava e não insistia mais. Mas ele conta que essas normas e regras não valiam para certos políticos, ou seja, embora elas existissem, não eram respeitadas em certos casos.
Reflexo
A classe política vai ser sempre um reflexo da sociedade. Mas isso não significa, necessariamente, que a culpa pela corrupção que assola o País cabe exclusivamente ao povo. Para o filósofo Silvio Motta Maximino, a população tem sua parcela de culpa, mas muito se deve à falta de senso ético dos próprios políticos, que, em sua maioria, ainda não têm consciência de que aquilo que ele está administrando pertence à coletividade e não deve ser usado para proveito próprio.
“O político brasileiro ainda não amadureceu para compreender que a função dele é gerir a coisa pública e não usufruir dela”, critica.
Para a cientista política Maria Tereza Kerbauy, é da cultura brasileira o uso de bem público como se fosse algo privado. “Acho que a sociedade não entende claramente o que é um bem público e um bem privado”, acredita ela.
Na opinião do juiz Horácio Furquim Guanaes, o fato de parte dos representantes políticos ser corrupta não significa que parte da população também o seja. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Às vezes, um eleitor vota em um candidato mal-falado como forma de protesto”, justifica.
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A classe política vai ser sempre um reflexo da sociedade. Mas isso não significa, necessariamente, que a culpa pela corrupção que assola o País cabe exclusivamente ao povo. Para o filósofo Silvio Motta Maximino, a população tem sua parcela de culpa, mas muito se deve à falta de senso ético dos próprios políticos, que, em sua maioria, ainda não têm consciência de que aquilo que ele está administrando pertence à coletividade e não deve ser usado para proveito próprio.
“O político brasileiro ainda não amadureceu para compreender que a função dele é gerir a coisa pública e não usufruir dela”, critica.
Para a cientista política Maria Tereza Kerbauy, é da cultura brasileira o uso de bem público como se fosse algo privado. “Acho que a sociedade não entende claramente o que é um bem público e um bem privado”, acredita ela.
Na opinião do juiz Horácio Furquim Guanaes, o fato de parte dos representantes políticos ser corrupta não significa que parte da população também o seja. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Às vezes, um eleitor vota em um candidato mal-falado como forma de protesto”, justifica.
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O que é moral
É um conjunto de regras e de comportamentos aceitos por um determinado grupo e exigidos socialmente. Ela varia de povo para povo e de época para época. O que era moralmente aceito no Brasil há 50 anos, hoje não é mais e vice-versa. A moral é algo mutável.
O que é ética
No sentido teórico, é o estudo crítico e sistemático dos fundamentos de todas as morais. No sentido prático, é a busca por um conjunto de regras "universais" de convivência.
No sentido clássico, é um conjunto de fundamentos que possam servir de base racional para direcionar a conduta de todos os cidadãos, independentemente da cultura ou da época.
Hoje, pode ser definida como a busca por um conjunto coerente de princípios norteadores do comportamento humano com o fim de atingir o bem estar tanto dos sujeitos como da coletividade de forma geral.
Fonte: Filósofo Sílvio Motta Maximino
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Parabéns Professor Sílvio, acompanho seu blog e gosto muito de ler os textos, muita coisa, aqui, me ajuda na prova e todas as coisas, aqui, me ajudam a ser um ser melhor!!!
ResponderExcluirLucas Salvianno Letras USC
Muito grato pelos seus comentários, Lucas!
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