domingo, 12 de outubro de 2014

Síndrome de Gabriela

Síndrome de Gabriela 



- parte I -
Mario Sergio Cortella, em sua obra 'Não Nascemos Prontos', (pág. 124) menciona um interessantíssimo comportamento psicológico batizado de "Síndrome de Gabriela". Quem conhece a música*, por certo se lembrará que a certa altura do refrão, a cantora declara: eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim... 
Deste modo, metaforicamente falando, não haveria problema algum se pensássemos na síndrome como pressuposto explicativo de nossa forma física (cor e tipo de cabelo, cor da pele ou dos olhos, estatura e formato do rosto, nariz, mãos etc). Porém, o que acabamos por fazer? nós estendemos inapropriadamente a noção de 'herança genética' advinda da biologia para também justificar/explicar os porquês de todos os nossos comportamentos, hábitos, manias, vícios etc. Então, diante da dificuldade de mudarmos nosso ‘jeitinho de ser’, acabamos assumindo que tudo decorre de algum tipo de determinismo genético. A nossa carga genética biológica explicaria tudo!

Não! Definitivamente, nossa biologia não explica tudo. A genética pode, no máximo, nos predispor a certas índoles, mas jamais determinar como seremos. Nossa personalidade sofre, evidentemente, muito mais influência do meio no qual se desenvolveu, do que propriamente da genética. Nem tudo é culpa dos ácidos desoxirribonucleicos (DNA). Mas, então por que não cair logo na tentação de pensar que somos mero resultado das influências empíricas ambientais (família, escola, sociedade)? Na verdade, nem é uma coisa, nem outra. Nem somos apenas o resultado do determinismo mecânico das moléculas de DNA, nem tampouco somos o resultado mecânico dos estímulos ambientais recebidos. Ambos os fatores são importantes coadjuvantes e indubitavelmente condicionantes, mas nem um, nem outro é determinante. Cada humano pode reagir de distintas formas, mesmo diante dos mesmos estímulos. Podemos, no máximo, arriscar prognósticos baseados em probabilidades.

De fato, não estamos querendo dizer que é fácil livrar-se de certos traços de personalidade. O condicionamento promovido pela endoculturação, ajuda a definir nossa visão de mundo, nossas crenças, nosso gosto musical e alimentar, nossas habilidades profissionais, nosso padrão estético e até mesmo a maioria de nossas regras morais de convivência social. Não nascemos com nada disso pronto, mas a cultura, associada às experiências individuais de cada um, se encarrega de configurar inúmeros traços de nossa personalidade.

O que somos? Afinal, temos uma identidade psíquica definida? 
Habita nosso psiquismo individual, aquilo que chamaremos de ‘eus psicológicos’ (expressão amplamente utilizada na literatura da psicologia gnóstica). Tais eus psicológicos guardam correspondência exata com o que chamamos de pensamentos e sentimentos. Eles funcionariam semelhantemente a 'programas de computador'. Programas são conjuntos de 'dados' gravados sobre um suporte midiático. Ou seja, cada programa é constituído de uma ‘memória’ específica, geralmente contendo comandos executáveis. Quando devidamente inseridas em uma máquina específica, ‘respondem’ aos estímulos advindos do ‘exterior’, executando aqueles comportamentos previamente escritos em sua programação. Tais ‘softwares’, tais memórias sempre executam mecanicamente a mesma tarefa para a qual foram previamente programadas.

Uma questão de autocontrole?
Controlar a ação destas memórias é certamente um trabalho muitas vezes complicado, ingrato e até inútil. Por detrás de cada velho hábito, costume, crença, paradigma, pensamento, sentimento ou comportamento, está um eu ou um conjunto de eus, um conjunto de programas (ou de memórias). Então, uma vez que o programa começou a executar certa tarefa, monitorar ou reprimir sua execução, quase nunca é fácil, muitas vezes até impossível para um usuário ingênuo que não conhece sua própria máquina (portanto, que não se autoconhece). Quase todos nós (se você é exceção, favor considerar-se excluído desta minha generalização) ...somos viciados em algo. É claro que há vários tipos de vícios, em muitos graus de intensidade, bem como associados a diversos tipos de situações ou substâncias. 
Uma coisa é evidente: nunca é fácil libertar-se de um vício, seja este numa substância psicoativa (nicotina, cocaína, codeína, cafeína, sacarina etc), seja em atividades (sexo, jogos, esportes radicais, filmes etc.). O estímulo de certas emoções garante uma produção extra de hormônios específicos, o que afeta o humor, a sensação de prazer, etc.

Mas (me pergunto sempre) "o que é fácil nessa vida?" Nascer e respirar foi algo fácil? aprender a andar ou a falar por acaso foi fácil? aprender fórmulas de trigonometria ou de física era assim tão fácil? desde quando nossos aprendizados deixaram de exigir esforço, empenho e algum sacrifício? 

Pois bem! a ‘síndrome de Gabriela’ é mais comum do que parece. Ela acomete a um grande número de pessoas. E se não estamos dispostos (ou realmente motivados) para mudar, a síndrome fica bem mais evidente. Mas não chegamos na síndrome sem um bom motivo: geralmente já lutamos muito contra aquilo que nos perturba há tempos (por vezes há séculos), e em geral já lutamos tanto, e tantas vezes fracassamos nas tentativas de dominá-lo, que por fim optamos por algum tipo de justificação ou de racionalização. Promovemos racionalizações quando não entendemos ou não controlamos suficientemente nossas próprias atitudes, comportamentos, reações ou vícios. Geralmente buscamos ou identificamos a causa como estando fora de nós mesmos: ou é a nossa genética que nos complica, ou é uma condição ambiental (uma pessoa ou situação). A justificação/racionalização é a primeira armadilha.


A Síndrome de Gabriela e o Paradoxo da Mudança

É fato que, em média, 98% dos átomos presentes no interior das moléculas que compõem as células do corpo humano são renovados anualmente através do ar que respiramos e dos alimentos que consumimos. Estudos baseados na medição do carbono-14 no organismo (absorvido pelo ar ou pelos alimentos, e presente no DNA), demonstraram que as células se renovam periodicamente, isto é, elas vão envelhecendo e morrendo, sendo substituídas por outras novas. O corpo, dizem, levaria de 7 a 10 anos para ser totalmente renovado (lembrando que as células de diferentes órgãos e tecidos se renovam com ritmos diferentes)**.

Segundo pesquisas publicadas desde a década de 50 (séc. XX), citadas em “How Stuff Works”***, humanos envelhecem e morrem porque as células sofrem mutações ao longo dos anos, e essas alterações vão se tornando cada vez piores conforme são transmitidas para as novas células. Só as células dos neurônios não se renovariam. (Será? Questiono-me por que as tais células nervosas seriam exceção à regra do amplo processo de renovação a que todo o restante de nosso corpo está submetido continuamente). 

Pensemos então no paradoxo: se os átomos que compõem nossas células, tecidos, órgãos e sistemas estão sendo substituídos com o passar das horas e dos dias, é certo que teremos, em semanas ou meses, novos olhos, novos rins, novo estômago, novo coração, novos ossos, nova pele e (por que não dizer?) ‘novos’ neurônios. Poder-se-ia até discutir sobre qual seria o ritmo/velocidade específico de substituição de cada uma de tais células (células de nossa pele, por exemplo, são substituídas em questão de horas ou dias; já, células de ossos e órgãos, podem demorar mais). O fato incontestável, contudo, permanece: os átomos de nosso corpo estão efetivamente sendo substituídos por outros novos átomos (absorvidos pelo ar, pela luz ou pelo alimento sólido/líquido).

Se é, pois, indiscutível que tudo fisicamente em nós está constantemente se renovando, por que nosso aspecto físico ou nossos caracteres psicológicos não se modificam na mesma intensidade e velocidade? Por que nossas debilidades físicas simplesmente não desaparecem? Estados psíquicos tem algo a ver com o aparente paradoxo? Por que certas enfermidades, deficiências físicas ou psíquicas nos acompanham por anos ou décadas ou pela vida inteira?

A resposta para o aparente paradoxo pode estar nos padrões vibracionais que emitimos com nossos pensamentos e sentimentos (conscientes ou não)... aos poucos tais padrões energéticos vão imprimindo sua marca sobre a matéria (corpo). Como o padrão psicológico não mudou significativamente (mas é repetitivo), a marca impressa cria a 'ilusão' da permanência de certas características tanto no corpo, como na personalidade. A solução para o enigma pode estar justamente nos ‘programas’ que operam nessa máquina maravilhosa que chamamos ‘corpo humano’. O cerne da questão está no conhecimento profundo de si mesmo, e é claro, dos efeitos causados por esses ‘programas’ em nosso corpo. 
Então: já nascemos chatos, irritantes, possessivos, mesquinhos, dissimulados, preconceituosos ou moralmente fracos? Reformulando em termos mais técnicos e menos simplistas: nascemos com tendências para possessividade, vícios, preconceitos, imoralidades etc?   

Há um DNA ou um processo educacional que consiga 'programar' um comportamento de bondade, altruísmo, simpatia, de chatice, de rabugice, de possessividade, de passionalidade ou de mesquinhez?

Sim e não... em algumas hipóteses sim, noutras, não.... Pergunta de mil respostas: uma para cada contexto, uma para cada sujeito. O cientista atualizado dirá que em nosso DNA, no âmago de nossas células, estão potencialmente todas as tendências, esperando apenas condições ambientais precisas (que desencadeariam processos psicossomáticos relacionados com tal ou qual comportamento e enfermidade). Já avançamos bastante na questão, mas tudo que já foi dito até aqui não é a verdade toda.

Fazendo uma leitura mais pragmática e menos filosófica, a pergunta que realmente vai fritar seus neurônios é: podemos mudar? Está ao nosso alcance suplantar condições genéticas ou ambientais? É possível nos livrar de certas características psicológicas? 
depois, desejaremos saber: temos sozinhos, individualmente, força suficiente para mudar? 

Sim? não? ou depende? Em quê acreditamos? E até que ponto nossa crença por si só não está afetando nosso potencial para a mudança? 
Mudanças dependem de Deus, do que Deus quer? Qual é a imagem que fazemos de Deus? Temos alguma noção sobre Deus (que vá além das alegorias culturais)? A ciência tem a resposta?

O que é que determina ou desencadeia um processo de mudança psicológica? É preciso um fator externo ou basta um fator interno? Uma pressão externa é capaz de promover mudança autêntica ou perene? 

Mudanças geradas por mera censura ou repressão social da personalidade são eficazes na transformação e no melhoramento do sujeito, da pessoa humana? Ou tais mudanças não passam de uma fina casca de verniz que trincará no primeiro estresse mais violento?

Será que há algum interesse real em nós, em prol de alguma mudança? há espaço de manobra para mudanças internas? Permitiremos mudanças? Por ora, fiquemos com essas questões, fermentando dentro de cada um...


Síndrome de Gabriela 
- parte II -
Em nosso corpo/mente há agora neste exato instante, quantidades enormes de 'programas' de todo tipo... programinhas operando aqui e ali aos milhares. ‘Programas’, em última análise, são conjuntos de dados. Tais dados podem conter comandos, tarefas executáveis, podem promover 'ações' muito específicas dentro do ‘computador’. 

A maioria dos dados armazenados (a exemplo das centenas de programas que estão agora mesmo rodando no software e no hardware de seu computador ou celular), a maioria dos tais "programas" estão ali, mas não os vemos, estão ocultos "dentro da máquina", executando aquelas tarefas rotineiras, milhares de operações mecânicas, ajustes e cálculos, tudo em prol da 'inteligência' da máquina. De tempos em tempos há colapsos, conflitos entre os programas: sua máquina trava e você precisa procurar um especialista para destravá-la. Geralmente tais problemas são chamados genericamente de erros ou de vírus... mas no fundo o problema está na vulnerabilidade criada pelos próprios programas...

De qualquer modo, tais eus psicológicos que chamamos aqui de programas (externos ou internos) vão se acumulando, até que não há mais 'espaço vital' para todos operarem simultaneamente. A partir daí, os problemas começam a aparecer e a se avolumar mais ou menos rapidamente. Tantos programas (maliciosos ou não) geralmente não causam um grande dano logo de cara. No princípio, geram apenas tráfego inútil e maior consumo de energia, ao ponto de esgotarem a capacidade de processamento. Aos poucos, começam a congestionar o ambiente virtual de trabalho da máquina, deixando-a sensivelmente mais lenta e aparentemente mais 'burra'... Então, o que antes parecia útil, "funcional", "bonitinho", inofensivo ou emocionante, agora começa a ser um problema. Eus psicológicos são como os programas, trojans, spams, vírus, vermes virtuais etc... Eles são dados, são memórias, como qualquer programa. Só que agora estão competindo todos pela mesma energia e pela mesma memória virtual disponível da máquina, que é o seu corpo.

Síndrome de Gabriela 
- parte III -
A síndrome que nos acomete decorre de nossa IDENTIFICAÇÃO COM O PROGRAMA, decorre do paradigma que nos faz crer que "NÓS SOMOS O QUE PENSAMOS OU SENTIMOS", em síntese, que 'somos os programas', que somos os eus, que somos a personalidade... mas, o que é mesmo a personalidade? a personalidade não é o programa, nem somos nós. A personalidade é apenas a 'interface' gráfica, o ambiente visual, a aparência, uma ilusão projetada pelos programas, que você vê no monitor do seu computador. 

De fato e verdadeiramente, o que somos? somos co-programadores. Não conseguimos perceber que não somos a interface, nem as memórias que foram introjetadas na máquina (corpo/mente), porque não fomos educados culturalmente para vermos de outro modo. Então, nem suspeitamos que estamos além da máquina, além dos programas. Uma vez identificados com as memórias (que cremos ser nossas), não achamos que temos forças para mudar. 

Evidentemente, cada programa é como é! Não se pode pedir para o eu da cobiça, que não cobice mais, pois é da sua natureza cobiçar. Não se pode exigir que o eu da luxúria não fornique mais, pois é da sua natureza fantasiar e realizar cenas luxuriosas... ele simplesmente não sabe fazer outra coisa. Tampouco se pode forçar um eu da gula a não querer comer mais, nem a um eu da ira, que não se enraiveça nunca mais, nem a um eu da preguiça, que não sinta muito sono, nem a um "eu do cigarro", que não sinta desejo de fumar, ou a um eu do álcool, que não sinta ânsia de beber... será simplesmente inútil. Igualmente será tolice brigar, recriminar ou se engalfinhar psicologicamente com este ou aquele programa, no intuito de forçá-lo, amoldá-lo, discipliná-lo ou convencê-lo a operar fora ou contra sua própria programação. 

Assim, não importa se o seu sentimento é de culpa, de autopunição, de remorso, ou algum tipo de autovitimização, de autorrecriminação ou de auto-adulação... nada disso irá ajudar. Técnicas de repressão ou de justificação fracassam mais cedo ou mais tarde. Todos esses recursos são estratégias da própria mente para que o eu continue se alimentando, só que agora de forma mais sutil e camuflada que antes.

Outro detalhe: Se um certo programa inconveniente for bastante simples ou pequeno, será relativamente fácil reprimi-lo no início usando algum outro programa implantado ou introjetado em seu próprio processador (“corpo/mente”)... cada um pode fazê-lo ou deixar que outra pessoa/instituição o faça, tanto faz. O máximo que você terá serão ‘programas controlando programas’... agora, acha mesmo que isso vai dar certo? 

Podemos simplesmente criar rotinas ou anexar programas suplementares visando a bloquear aqueles outros programas inconvenientes... isso pode parecer funcionar no início... mas com o tempo, nossa mente/corpo tornar-se-á cada vez mais lento e problemático em suas respostas... então, o que você realmente se ganhou com esse procedimento?


Síndrome de Gabriela 
- parte final -

Se de fato queremos acabar com essa síndrome e começar a mudança interior, então precisamos primeiramente não nos confundir com os mesmos programas... "não-identificação" é a primeira e principal chave: isso se alcança com a auto-observação consciente.

A auto-observação psicológica consiste em separar-se, em 'desidentificar-se' dos programas em relação aos seus próprios programas (nosso real Ser não se confunde com os distintos ‘pensadores’ e ‘sentidores’ que se acham alojados, alocados dentro da máquina).

Se agora compreendo que não sou é aquele que pensa dentro de mim mesmo, posso observar o pensador/sentidor como um elemento estranho, como outra pessoa no mesmo momento em que o pensamento/sentimento se manifesta...
Para isso, é necessário ficar à espreita! como uma onça esperando ou observando sua presa, em estado de alerta, de plena atenção e vigilância... se passo alguns momentos vigiando silenciosamente (quer dizer, sem julgamento ou autojustificação) cada pensamento ou sentimento, logo os perceberei como entes estranhos a mim mesmo, embora vivam muito bem aninhados dentro de mim. Apenas colocando a plena atenção aí é podemos dar o segundo importante passo! 

A ressalva mais importante aqui é considerar as três armadilhas da mente: 
1ª) a tentação de recriminar-se;
2ª) a tentação de recriminar o outro (ao mesmo tempo em que justifica ou adula seu próprio ego).
3ª) refugiar-se no passado ou no futuro.

Essas armadilhas são um último recurso dos programas, visando evitarem serem ‘deletados’ ou aniquilados. Eis a tentativa desesperada de sobreviverem. Embora nunca possam efetivamente se tornar melhores ou ‘evoluírem’, os distintos eus têm mais esse estratagema: eles podem se deslocar, se camuflar e até mesmo se disfarçarem no seu oposto, formando-se uma tremenda confusão mental. Essa é a fase em que programas lutam contra programas, visando cada um sua própria sobrevivência, ainda que em condições bastante inóspitas dentro de nós mesmos.

É assim que funciona: quantos mais vírus surgem, mais vacinas temos que comprar, quanto mais vacinas temos, mais vírus surgem... e o círculo vicioso nunca cessa... os eus, em desespero, brigam corajosamente entre si, eus bons contra eus maus, eus corajosos contra eus medrosos, eus orgulhosos contra eus asquerosos, eus que cobiçam virtudes contra eus preguiçosos e morbosos... em batalhas formidáveis e disputas encarniçadas. Começa uma guerra de trincheiras. Entrincheirados ficam os distintos eus que se sentem ameaçados... Longos períodos de lutas, de abstenções e sacrifícios se sucedem, para por fim conquistarmos apenas alguns centímetros no campo de batalha... tudo para quê? na primeira cochilada, lá estão eles de novo... por vezes a sensação é de que digladiamos contra nossa própria sombra... 

A lei do pêndulo em ação
Oscilamos de um lado extremo para o outro, com energia e velocidade intensas... o espetáculo é dantesco e formidável. E o resultado? fortalece-se novamente. Mas como? por que? Como funciona esta lei?
Ela atua tanto no nível físico quanto metafísico, mas quase nunca damos atenção. Conhecida academicamente como a 3ª Lei de Newton, temos aí o princípio da Ação e Reação: "A uma ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as ações de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e se dirigem a partes contrárias". Traduzindo para uma linguagem mais simples: tudo a que você resiste, persiste.

Quando um eu psicológico se sente ameaçado, ele passa a usar certas estratégias para continuar vivo. Uma delas consiste em camuflar-se de forma sutil, de modo que o programador não perceba onde se escondeu... os programas preferem sobreviver na sombra, diminutos e disfarçados, do que correr risco de serem eliminados radicalmente. 

Então como escapar, transcender esta lei mecânica e ao mesmo tempo nos livrar dos programas indesejáveis? Acontece que só a formatação radical do sistema pode nos livrar dos programas...

Formatar quer dizer eliminar os programas. A formatação tratada aqui consiste na aniquilação do ego já referida em inúmeras obras da filosofia oriental; também corresponde ao preceito bíblico do ‘negar-se a si mesmo’, mencionado por Jesus. A verdade é que precisamos ‘morrer em vida’, eliminar essas vibrações egóicas, tudo que é desnecessário, mas que ao mesmo tempo se alimenta de nossa energia vital, mental, sexual e emocional.

Assim, abrimos um canal de comunicação gradualmente mais limpo com nosso próprio Ser autêntico. ‘Retornar para casa’, retornar para a fonte, retornar para o ‘zero absoluto’ é a meta! Mas muito poucas pessoas estão maduras para entenderem isso que acabamos de dizer.  A maioria não entende isso de modo algum. E mesmo os poucos que entendem, muitas vezes se perdem no labirinto complexo e difícil de nossas próprias mentes.

Falando um pouco mais da terceira armadilha, considere que o ego é tempo, é memória. Logo, se passarmos a viver o Agora, a viver o momento, de instante a instante, teremos em mãos a chave revolucionária da liberação interior. Só assim é possível se livrar dos programas. A memória detesta o presente, não sobrevive com a nossa Presença no Agora. Nossas memórias vivem quando nossa consciência se projeta no passado ou se entrega à ansiedade pelo futuro. Nenhum programa, nenhuma memória sobrevive diante da luz do Agora. Essa luz pulveriza o ego, tira seu sustento, seu principal alimento.

Conclusão
Na trilogia ‘Matrix’, o personagem Neo, no último episódio (Revolutions), ilustra bem essas armadilhas e essa dificuldade de suplantar o ego (agente Smith), o qual parece fortalecer-se cada vez mais, na mesma proporção em que o Escolhido (Neo) ganha poderes. Somente nas cenas finais, Neo finalmente compreende sua missão, bem como entende de que forma seria possível aniquilar o perigoso e demoníaco agente Smith (que simboliza o conjunto de eus psicológicos que prolifera em nosso interior).

Finalmente o processo de ‘morrer em si mesmo’ fica claro. Nada parece funcionar enquanto desejamos nos preservar enquanto pessoas, enquanto indivíduos, separados do Todo. É tão inútil lutar contra o ego, quanto inútil seria tentar preservá-lo. No fim de tudo, a lei universal da ação e reação irá equilibrar as coisas.

A morte do ego não acontece sem a ajuda do Criador. A eliminação consciente dos programas tampouco acontece sem a ajuda do programador. A formatação dos programas de modo consciente só ocorre quando estivermos prontos e dispostos a abandonar essa segunda natureza egóica que pensamos e sentimos como sendo nós mesmos. Durante tanto tempo os nutrimos com nossa energia que é difícil acreditar que não somos o ego, que não somos essa mesma mente. Aliás, esse é o grande truque da mente egóica: fazer-nos pensar que somos ela...







notas:

* a música e letra original da música Gabriela, em https://www.youtube.com/watch?v=tJucR8_dxJA
** As hemácias (transportam o oxigênio) sobrevivem por um pequeno período. Já as células da pele sofrem bastante desgaste, renovando-se a cada duas ou quatro semanas. Os cabelos demoram por volta de seis anos para as mulheres e três para os homens. O fígado (que funciona como um tipo de filtro do sangue) tem suas células renovadas em períodos que variam de 150 a 500 dias. As células do estômago e dos intestinos possuem um ciclo vital aproximado de 5 dias. Já, as células do esqueleto levam cerca de 10 anos para concluir o ciclo.
*** Mais de cinco décadas depois, o biólogo molecular sueco Dr. Jonas Frisen estudou a renovação dos tecidos do corpo por níveis do material radioativo carbono-14 (que é absorvido pelas plantas, que por sua vez são ingeridas pelos seres humanos, acabando presente em nossas estruturas). Como o DNA de uma pessoa permanece o mesmo desde que a célula nasce (o que ocorre quando uma célula-mãe se divide até o término de sua vida útil com raras exceções, em casos de alteração por mutação, provocada por agentes externos), quando uma célula se divide, o DNA incorporado na nova célula inclui um certo nível de carbono-14 que corresponde ao nível de material presente no ar ao redor, o qual funciona como ‘registro’ de tempo, para que o cálculo possa ser realizado.


algumas das referências bibliográficas:


Tolle, Eckhart. O Poder do Agora. Ed. Sextante,  10ª edição, 2002.

Vitale, Joe. Limite Zero. Ed. Rocco, Rio de Janeiro, 2009.
Vitale, Joe. Marco Zero. Ed. Rocco, 1ª edição, Rio de Janeiro, 2014.

Weor, Samael Aun. Tratado de Psicologia Revolucionária. Ed. Movimento Gnóstico, 1991.
 
Chris, Opfer. Artigo Todas as células do corpo humano são substituídas completamente por novas a cada 7 anos. Mito ou verdade?, publicado em 04/08/2014, disponível em http://www.jornalciencia.com/saude/corpo/4247-todas-as-celulas-do-corpo-humano-se-renovam-completamente-a-cada-7-anos-mito-ou-verdade .
fonte original do artigo: Howstuffworks

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