Síndrome de Gabriela
- parte I -
Mario Sergio
Cortella, em sua obra 'Não Nascemos Prontos', (pág. 124) menciona um
interessantíssimo comportamento psicológico batizado de "Síndrome de
Gabriela". Quem conhece a música*, por certo se lembrará que a certa altura
do refrão, a cantora declara: eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo
assim, vou ser sempre assim...
Deste modo,
metaforicamente falando, não haveria problema algum se pensássemos na síndrome como pressuposto explicativo de nossa forma física (cor e tipo de cabelo, cor da pele ou dos olhos, estatura e formato do rosto, nariz, mãos etc). Porém, o que acabamos por fazer? nós estendemos inapropriadamente a noção de 'herança genética' advinda da biologia para também justificar/explicar os porquês de todos os nossos comportamentos, hábitos, manias, vícios etc. Então,
diante da dificuldade de mudarmos nosso ‘jeitinho de ser’, acabamos assumindo que tudo decorre de algum tipo de determinismo genético.
A nossa carga genética biológica explicaria tudo!
Não! Definitivamente, nossa biologia não explica tudo. A genética pode, no máximo, nos predispor a certas índoles, mas jamais determinar como seremos. Nossa personalidade sofre, evidentemente, muito mais influência do meio no qual se desenvolveu, do que propriamente da genética. Nem tudo é culpa dos ácidos desoxirribonucleicos (DNA). Mas, então por que não cair logo na tentação de pensar que somos mero resultado das influências empíricas ambientais (família, escola, sociedade)? Na verdade, nem é uma coisa, nem outra. Nem somos apenas o resultado do determinismo mecânico das moléculas de DNA, nem tampouco somos o resultado mecânico dos estímulos ambientais recebidos. Ambos os fatores são importantes coadjuvantes e indubitavelmente condicionantes, mas nem um, nem outro é determinante. Cada humano pode reagir de distintas formas, mesmo diante dos mesmos estímulos. Podemos, no máximo, arriscar prognósticos baseados em probabilidades.
Não! Definitivamente, nossa biologia não explica tudo. A genética pode, no máximo, nos predispor a certas índoles, mas jamais determinar como seremos. Nossa personalidade sofre, evidentemente, muito mais influência do meio no qual se desenvolveu, do que propriamente da genética. Nem tudo é culpa dos ácidos desoxirribonucleicos (DNA). Mas, então por que não cair logo na tentação de pensar que somos mero resultado das influências empíricas ambientais (família, escola, sociedade)? Na verdade, nem é uma coisa, nem outra. Nem somos apenas o resultado do determinismo mecânico das moléculas de DNA, nem tampouco somos o resultado mecânico dos estímulos ambientais recebidos. Ambos os fatores são importantes coadjuvantes e indubitavelmente condicionantes, mas nem um, nem outro é determinante. Cada humano pode reagir de distintas formas, mesmo diante dos mesmos estímulos. Podemos, no máximo, arriscar prognósticos baseados em probabilidades.
De fato, não
estamos querendo dizer que é fácil livrar-se de certos traços de personalidade. O condicionamento promovido pela
endoculturação, ajuda a definir nossa visão de mundo, nossas crenças, nosso gosto musical e alimentar, nossas habilidades profissionais, nosso padrão estético e até mesmo a maioria de nossas regras morais de convivência social. Não nascemos com nada disso pronto, mas a cultura, associada às experiências
individuais de cada um, se encarrega de
configurar inúmeros traços de nossa personalidade.
O que somos?
Afinal, temos uma identidade psíquica definida?
Habita nosso psiquismo individual, aquilo
que chamaremos de ‘eus psicológicos’ (expressão amplamente utilizada na
literatura da psicologia gnóstica). Tais eus psicológicos guardam correspondência exata com o que
chamamos de pensamentos e sentimentos. Eles funcionariam semelhantemente a
'programas de computador'. Programas são conjuntos de 'dados' gravados sobre um
suporte midiático. Ou seja, cada programa é constituído de uma ‘memória’ específica, geralmente
contendo comandos executáveis. Quando devidamente inseridas em uma máquina
específica, ‘respondem’ aos estímulos advindos do ‘exterior’, executando
aqueles comportamentos previamente escritos em sua programação. Tais
‘softwares’, tais memórias sempre executam mecanicamente a mesma tarefa para a
qual foram previamente programadas.
Uma questão de autocontrole?
Controlar a
ação destas memórias é certamente um trabalho muitas vezes complicado, ingrato
e até inútil. Por detrás de cada velho hábito, costume, crença, paradigma, pensamento,
sentimento ou comportamento, está um eu ou um conjunto de eus, um conjunto de
programas (ou de memórias). Então, uma vez que o programa começou a executar certa
tarefa, monitorar ou reprimir sua execução, quase nunca é fácil, muitas
vezes até impossível para um usuário ingênuo que não conhece sua própria máquina (portanto, que não se autoconhece). Quase todos nós (se você é exceção, favor considerar-se
excluído desta minha generalização) ...somos viciados em algo. É claro
que há vários tipos de vícios, em muitos graus de intensidade, bem como associados a diversos tipos de situações ou
substâncias.
Uma coisa é
evidente: nunca é fácil libertar-se de um vício, seja este numa substância
psicoativa (nicotina, cocaína, codeína, cafeína, sacarina etc), seja em atividades (sexo, jogos, esportes radicais, filmes etc.). O estímulo de certas emoções garante uma produção extra de hormônios específicos, o que afeta o humor, a sensação de prazer, etc.
Mas (me
pergunto sempre) "o que é fácil nessa vida?" Nascer e respirar foi algo fácil? aprender a andar ou a falar por acaso foi fácil?
aprender fórmulas de trigonometria ou de física era assim tão fácil? desde
quando nossos aprendizados deixaram de exigir esforço, empenho e algum
sacrifício?
Pois bem! a ‘síndrome de
Gabriela’ é mais comum do que parece. Ela acomete a um grande número de pessoas. E se não estamos
dispostos (ou realmente motivados) para mudar, a síndrome fica bem mais
evidente. Mas não chegamos na síndrome sem um bom motivo: geralmente já lutamos
muito contra aquilo que nos perturba há tempos (por vezes há séculos), e em
geral já lutamos tanto, e tantas vezes fracassamos nas tentativas de dominá-lo,
que por fim optamos por algum tipo de justificação ou de racionalização. Promovemos
racionalizações quando não entendemos ou não controlamos suficientemente nossas
próprias atitudes, comportamentos, reações ou vícios. Geralmente buscamos ou
identificamos a causa como estando fora de nós mesmos: ou é a nossa genética que
nos complica, ou é uma condição ambiental (uma pessoa ou situação). A justificação/racionalização é a
primeira armadilha.
A Síndrome de
Gabriela
e o Paradoxo da Mudança
É fato que,
em média, 98% dos átomos presentes no interior das moléculas que compõem as
células do corpo humano são renovados anualmente através do ar que respiramos e dos alimentos que consumimos. Estudos baseados na
medição do carbono-14 no organismo (absorvido pelo ar ou pelos alimentos, e presente no DNA), demonstraram que as células se renovam
periodicamente, isto é, elas vão envelhecendo e morrendo, sendo substituídas
por outras novas. O corpo, dizem, levaria de 7 a 10 anos para ser totalmente
renovado (lembrando que as células de diferentes órgãos e tecidos se renovam
com ritmos diferentes)**.
Segundo pesquisas
publicadas desde a década de 50 (séc. XX), citadas em “How Stuff Works”***,
humanos envelhecem e morrem porque as células sofrem mutações ao longo dos
anos, e essas alterações vão se tornando cada vez piores conforme são
transmitidas para as novas células. Só as células dos neurônios não se renovariam. (Será? Questiono-me por que as tais células nervosas seriam exceção à regra do
amplo processo de renovação a que todo o restante de nosso corpo está submetido continuamente).
Pensemos então no paradoxo: se os átomos que compõem nossas
células, tecidos, órgãos e sistemas estão sendo substituídos com o passar das
horas e dos dias, é certo que teremos, em semanas ou meses, novos
olhos, novos rins, novo estômago, novo coração, novos ossos, nova pele e (por
que não dizer?) ‘novos’ neurônios. Poder-se-ia até discutir sobre qual seria o
ritmo/velocidade específico de substituição de cada uma de tais células (células de nossa
pele, por exemplo, são substituídas em questão de horas ou dias; já, células de
ossos e órgãos, podem demorar mais). O fato incontestável, contudo, permanece: os átomos de nosso corpo estão efetivamente sendo substituídos por outros novos átomos (absorvidos
pelo ar, pela luz ou pelo alimento sólido/líquido).
Se é, pois,
indiscutível que tudo fisicamente em nós está constantemente se renovando, por que nosso aspecto físico ou nossos caracteres psicológicos não se modificam na mesma intensidade e velocidade? Por que nossas debilidades físicas simplesmente não desaparecem? Estados psíquicos tem algo a ver com o aparente paradoxo? Por que certas enfermidades, deficiências
físicas ou psíquicas nos acompanham por anos ou décadas ou pela vida inteira?
A resposta
para o aparente paradoxo pode estar nos padrões vibracionais que
emitimos com nossos pensamentos e sentimentos (conscientes ou não)... aos poucos tais padrões energéticos vão imprimindo sua marca sobre a matéria (corpo). Como o padrão psicológico não mudou significativamente (mas é repetitivo), a marca impressa cria a 'ilusão' da permanência de certas características tanto no corpo, como na personalidade. A solução
para o enigma pode estar justamente nos ‘programas’ que operam nessa máquina
maravilhosa que chamamos ‘corpo humano’. O cerne da questão está no
conhecimento profundo de si mesmo, e é claro, dos efeitos causados por esses ‘programas’ em nosso
corpo.
Então: já nascemos chatos, irritantes, possessivos, mesquinhos, dissimulados, preconceituosos ou moralmente fracos? Reformulando em termos mais técnicos e menos simplistas: nascemos com tendências para possessividade, vícios, preconceitos, imoralidades etc?
Há um DNA ou um processo educacional que consiga 'programar' um comportamento de bondade, altruísmo, simpatia, de chatice, de rabugice, de possessividade, de passionalidade ou de mesquinhez?
Então: já nascemos chatos, irritantes, possessivos, mesquinhos, dissimulados, preconceituosos ou moralmente fracos? Reformulando em termos mais técnicos e menos simplistas: nascemos com tendências para possessividade, vícios, preconceitos, imoralidades etc?
Há um DNA ou um processo educacional que consiga 'programar' um comportamento de bondade, altruísmo, simpatia, de chatice, de rabugice, de possessividade, de passionalidade ou de mesquinhez?
Sim e não...
em algumas hipóteses sim, noutras, não.... Pergunta de mil respostas: uma para cada
contexto, uma para cada sujeito. O cientista atualizado dirá que em nosso DNA, no
âmago de nossas células, estão potencialmente todas as tendências, esperando
apenas condições ambientais precisas (que desencadeariam processos psicossomáticos
relacionados com tal ou qual comportamento e enfermidade). Já avançamos
bastante na questão, mas tudo que já foi dito até aqui não é a verdade toda.
Fazendo uma
leitura mais pragmática e menos filosófica, a pergunta que realmente vai fritar
seus neurônios é: podemos mudar? Está ao nosso alcance suplantar condições genéticas ou ambientais?
É possível nos livrar de certas
características psicológicas?
depois,
desejaremos saber: temos sozinhos, individualmente, força suficiente para
mudar?
Sim? não? ou
depende? Em quê acreditamos? E até que ponto nossa crença por si só não está afetando nosso potencial para a mudança?
Mudanças dependem de Deus, do que Deus quer? Qual é a imagem que fazemos de Deus? Temos alguma noção sobre Deus (que vá além das alegorias culturais)? A ciência tem a resposta?
Mudanças dependem de Deus, do que Deus quer? Qual é a imagem que fazemos de Deus? Temos alguma noção sobre Deus (que vá além das alegorias culturais)? A ciência tem a resposta?
O que é que
determina ou desencadeia um processo de mudança psicológica? É preciso um
fator externo ou basta um fator interno? Uma pressão externa é capaz de
promover mudança autêntica ou perene?
Mudanças
geradas por mera censura ou repressão social da personalidade são eficazes na transformação
e no melhoramento do sujeito, da pessoa humana? Ou tais mudanças não passam de
uma fina casca de verniz que trincará no primeiro estresse mais violento?
Será que há
algum interesse real em nós, em prol de alguma mudança? há espaço de manobra para
mudanças internas? Permitiremos mudanças? Por ora, fiquemos com essas questões,
fermentando dentro de cada um...
Síndrome de
Gabriela
- parte II -
Em nosso
corpo/mente há agora neste exato instante, quantidades enormes de 'programas'
de todo tipo... programinhas operando aqui e ali aos milhares. ‘Programas’, em
última análise, são conjuntos de dados. Tais dados podem conter comandos, tarefas
executáveis, podem promover 'ações' muito específicas dentro do ‘computador’.
A maioria dos
dados armazenados (a exemplo das centenas de programas que estão agora mesmo
rodando no software e no hardware de seu computador ou celular), a maioria dos
tais "programas" estão ali, mas não os vemos, estão ocultos
"dentro da máquina", executando aquelas tarefas rotineiras, milhares
de operações mecânicas, ajustes e cálculos, tudo em prol da 'inteligência' da máquina.
De tempos em tempos há colapsos, conflitos entre os programas: sua máquina
trava e você precisa procurar um especialista para destravá-la. Geralmente tais
problemas são chamados genericamente de erros ou de vírus... mas no fundo o
problema está na vulnerabilidade criada pelos próprios programas...
De qualquer
modo, tais eus psicológicos que chamamos aqui de programas (externos ou
internos) vão se acumulando, até que não há mais 'espaço vital' para todos
operarem simultaneamente. A partir daí, os problemas começam a aparecer e a se
avolumar mais ou menos rapidamente. Tantos programas (maliciosos ou não)
geralmente não causam um grande dano logo de cara. No princípio, geram apenas
tráfego inútil e maior consumo de energia, ao ponto de esgotarem a capacidade
de processamento. Aos poucos, começam a congestionar o ambiente virtual de
trabalho da máquina, deixando-a sensivelmente mais lenta e aparentemente mais
'burra'... Então, o que antes parecia útil, "funcional",
"bonitinho", inofensivo ou emocionante, agora começa a ser um
problema. Eus psicológicos são como os programas, trojans, spams, vírus, vermes
virtuais etc... Eles são dados, são memórias, como qualquer programa. Só que
agora estão competindo todos pela mesma energia e pela mesma memória virtual
disponível da máquina, que é o seu corpo.
Síndrome de
Gabriela
- parte III -
A síndrome que
nos acomete decorre de nossa IDENTIFICAÇÃO COM O PROGRAMA, decorre do paradigma
que nos faz crer que "NÓS SOMOS O QUE PENSAMOS OU SENTIMOS",
em síntese, que 'somos os programas', que somos os eus, que somos a
personalidade... mas, o que é mesmo a personalidade? a personalidade não é o programa, nem
somos nós. A personalidade é apenas a 'interface' gráfica, o ambiente visual, a
aparência, uma ilusão projetada pelos programas, que você vê no monitor do seu
computador.
De fato e
verdadeiramente, o que somos? somos co-programadores. Não conseguimos
perceber que não somos a interface, nem as memórias que foram introjetadas na
máquina (corpo/mente), porque não fomos educados culturalmente para vermos de
outro modo. Então, nem suspeitamos que estamos além da máquina, além
dos programas. Uma vez identificados com as memórias (que cremos ser
nossas), não achamos que temos forças para mudar.
Evidentemente,
cada programa é como é! Não se pode pedir para o eu da cobiça, que não
cobice mais, pois é da sua natureza cobiçar. Não se pode exigir que o eu da
luxúria não fornique mais, pois é da sua natureza fantasiar e realizar cenas
luxuriosas... ele simplesmente não sabe fazer outra coisa. Tampouco se pode
forçar um eu da gula a não querer comer mais, nem a um eu da ira, que não se
enraiveça nunca mais, nem a um eu da preguiça, que não sinta muito sono, nem a
um "eu do cigarro", que não sinta desejo de fumar, ou a um eu do
álcool, que não sinta ânsia de beber... será simplesmente inútil. Igualmente será
tolice brigar, recriminar ou se engalfinhar psicologicamente com este ou aquele
programa, no intuito de forçá-lo, amoldá-lo, discipliná-lo ou convencê-lo a
operar fora ou contra sua própria programação.
Assim, não
importa se o seu sentimento é de culpa, de autopunição, de remorso, ou algum
tipo de autovitimização, de autorrecriminação ou de auto-adulação... nada disso
irá ajudar. Técnicas de repressão ou de justificação fracassam mais cedo ou
mais tarde. Todos esses recursos são estratégias da própria mente para que o eu
continue se alimentando, só que agora de forma mais sutil e camuflada que
antes.
Outro detalhe:
Se um certo programa inconveniente for bastante simples ou pequeno, será
relativamente fácil reprimi-lo no início usando algum outro programa implantado
ou introjetado em seu próprio processador (“corpo/mente”)... cada um pode
fazê-lo ou deixar que outra pessoa/instituição o faça, tanto faz. O máximo que
você terá serão ‘programas controlando programas’... agora, acha mesmo que isso
vai dar certo?
Podemos
simplesmente criar rotinas ou anexar programas suplementares visando a bloquear
aqueles outros programas inconvenientes... isso pode parecer funcionar no
início... mas com o tempo, nossa mente/corpo tornar-se-á cada vez mais lento e
problemático em suas respostas... então, o que você realmente se ganhou com
esse procedimento?
Síndrome de Gabriela
- parte final -
Se de fato queremos
acabar com essa síndrome e começar a mudança interior, então precisamos primeiramente
não nos confundir com os mesmos programas... "não-identificação" é a
primeira e principal chave: isso se alcança com a auto-observação
consciente.
A auto-observação psicológica consiste em
separar-se, em 'desidentificar-se' dos programas em relação
aos seus próprios programas (nosso real Ser não se confunde com os distintos ‘pensadores’
e ‘sentidores’ que se acham alojados, alocados dentro da máquina).
Se agora
compreendo que não sou é aquele que pensa dentro de mim mesmo, posso observar o
pensador/sentidor como um elemento estranho, como outra pessoa no mesmo momento
em que o pensamento/sentimento se manifesta...
Para isso, é
necessário ficar à espreita! como uma onça esperando ou observando sua presa,
em estado de alerta, de plena atenção e vigilância... se passo alguns momentos vigiando
silenciosamente (quer dizer, sem julgamento ou autojustificação) cada
pensamento ou sentimento, logo os perceberei como entes estranhos a mim mesmo,
embora vivam muito bem aninhados dentro de mim. Apenas colocando a plena
atenção aí é podemos dar o segundo importante passo!
A ressalva
mais importante aqui é considerar as três armadilhas da mente:
1ª) a tentação
de recriminar-se;
2ª) a tentação
de recriminar o outro (ao mesmo tempo em que justifica ou adula seu próprio
ego).
3ª)
refugiar-se no passado ou no futuro.
Essas
armadilhas são um último recurso dos programas, visando evitarem serem ‘deletados’
ou aniquilados. Eis a tentativa desesperada de sobreviverem. Embora nunca
possam efetivamente se tornar melhores ou ‘evoluírem’, os distintos eus têm mais
esse estratagema: eles podem se deslocar, se camuflar e até mesmo se disfarçarem
no seu oposto, formando-se uma tremenda confusão mental. Essa é a fase em que
programas lutam contra programas, visando cada um sua própria sobrevivência,
ainda que em condições bastante inóspitas dentro de nós mesmos.
É assim que
funciona: quantos mais vírus surgem, mais vacinas temos que comprar, quanto
mais vacinas temos, mais vírus surgem... e o círculo vicioso nunca cessa... os
eus, em desespero, brigam corajosamente entre si, eus bons contra eus maus, eus
corajosos contra eus medrosos, eus orgulhosos contra eus asquerosos, eus que
cobiçam virtudes contra eus preguiçosos e morbosos... em batalhas formidáveis e
disputas encarniçadas. Começa uma guerra de trincheiras. Entrincheirados ficam
os distintos eus que se sentem ameaçados... Longos períodos de lutas, de
abstenções e sacrifícios se sucedem, para por fim conquistarmos apenas alguns
centímetros no campo de batalha... tudo para quê? na primeira cochilada, lá
estão eles de novo... por vezes a sensação é de que digladiamos contra nossa
própria sombra...
A lei do
pêndulo em ação
Oscilamos de
um lado extremo para o outro, com energia e velocidade intensas... o espetáculo
é dantesco e formidável. E o resultado? fortalece-se novamente. Mas como? por
que? Como funciona esta lei?
Ela atua tanto
no nível físico quanto metafísico, mas quase nunca damos atenção. Conhecida
academicamente como a 3ª Lei de Newton, temos aí o princípio da Ação e
Reação: "A uma ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as
ações de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e se dirigem a partes
contrárias". Traduzindo para uma linguagem mais simples: tudo a que você resiste, persiste.
Quando um eu
psicológico se sente ameaçado, ele passa a usar certas estratégias para
continuar vivo. Uma delas consiste em camuflar-se de forma sutil, de modo que o
programador não perceba onde se escondeu... os programas preferem sobreviver na
sombra, diminutos e disfarçados, do que correr risco de serem eliminados radicalmente.
Então como
escapar, transcender esta lei mecânica e ao mesmo tempo nos livrar dos
programas indesejáveis? Acontece que só a formatação radical do sistema pode
nos livrar dos programas...
Formatar quer
dizer eliminar os programas. A formatação tratada aqui consiste na aniquilação
do ego já referida em inúmeras obras da filosofia oriental; também corresponde
ao preceito bíblico do ‘negar-se a si mesmo’, mencionado por Jesus. A verdade é
que precisamos ‘morrer em vida’, eliminar essas vibrações egóicas, tudo que é
desnecessário, mas que ao mesmo tempo se alimenta de nossa energia vital, mental,
sexual e emocional.
Assim, abrimos
um canal de comunicação gradualmente mais limpo com nosso próprio Ser autêntico.
‘Retornar para casa’, retornar para a fonte, retornar para o ‘zero absoluto’ é
a meta! Mas muito poucas pessoas estão maduras para entenderem isso que
acabamos de dizer. A maioria não entende
isso de modo algum. E mesmo os poucos que entendem, muitas vezes se perdem no
labirinto complexo e difícil de nossas próprias mentes.
Falando um
pouco mais da terceira armadilha, considere que o ego é tempo, é memória. Logo,
se passarmos a viver o Agora, a viver o
momento, de instante a instante, teremos em mãos a chave revolucionária da
liberação interior. Só assim é possível se livrar dos programas. A memória
detesta o presente, não sobrevive com a nossa Presença no Agora. Nossas
memórias vivem quando nossa consciência se projeta no passado ou se entrega à
ansiedade pelo futuro. Nenhum programa,
nenhuma memória sobrevive diante da luz do Agora. Essa luz pulveriza o ego,
tira seu sustento, seu principal alimento.
Conclusão
Na trilogia ‘Matrix’,
o personagem Neo, no último episódio
(Revolutions), ilustra bem essas
armadilhas e essa dificuldade de suplantar o ego (agente Smith), o qual parece fortalecer-se cada vez mais, na mesma
proporção em que o Escolhido (Neo)
ganha poderes. Somente nas cenas finais, Neo
finalmente compreende sua missão, bem como entende de que forma seria possível
aniquilar o perigoso e demoníaco agente
Smith (que simboliza o conjunto de eus psicológicos que prolifera em nosso
interior).
Finalmente o
processo de ‘morrer em si mesmo’ fica claro. Nada parece funcionar enquanto desejamos
nos preservar enquanto pessoas, enquanto indivíduos, separados do Todo. É tão inútil
lutar contra o ego, quanto inútil seria tentar preservá-lo. No fim de tudo, a
lei universal da ação e reação irá equilibrar as coisas.
A morte do ego
não acontece sem a ajuda do Criador. A eliminação consciente dos programas tampouco
acontece sem a ajuda do programador. A formatação dos programas de modo
consciente só ocorre quando estivermos prontos e dispostos a abandonar essa
segunda natureza egóica que pensamos e sentimos como sendo nós mesmos. Durante
tanto tempo os nutrimos com nossa energia que é difícil acreditar que não somos
o ego, que não somos essa mesma mente. Aliás, esse é o grande truque da mente
egóica: fazer-nos pensar que somos ela...
notas:
* a música e letra original da música
Gabriela, em https://www.youtube.com/watch?v=tJucR8_dxJA
** As hemácias (transportam
o oxigênio) sobrevivem por um pequeno período. Já as células da pele sofrem
bastante desgaste, renovando-se a cada duas ou quatro semanas. Os cabelos
demoram por volta de seis anos para as mulheres e três para os homens. O fígado
(que funciona como um tipo de filtro do sangue) tem suas células renovadas em
períodos que variam de 150 a 500 dias. As células do estômago e dos intestinos
possuem um ciclo vital aproximado de 5 dias. Já, as células do esqueleto levam
cerca de 10 anos para concluir o ciclo.
*** Mais de cinco
décadas depois, o biólogo molecular sueco Dr. Jonas Frisen estudou a
renovação dos tecidos do corpo por níveis do material radioativo carbono-14 (que é absorvido pelas plantas, que por sua vez são ingeridas pelos seres humanos, acabando presente em nossas estruturas).
Como o
DNA de uma pessoa permanece o mesmo desde que a célula nasce (o
que ocorre quando uma célula-mãe se divide até o término de sua vida útil com raras exceções, em casos de alteração por mutação, provocada por agentes externos), quando uma célula se divide, o DNA incorporado na nova célula inclui um certo
nível de carbono-14 que corresponde ao nível de material presente no ar ao redor, o qual funciona como ‘registro’ de tempo, para que o cálculo possa ser realizado.
algumas das referências bibliográficas:
Tolle, Eckhart. O Poder do Agora. Ed.
Sextante, 10ª edição, 2002.
Vitale, Joe. Limite
Zero. Ed. Rocco, Rio de Janeiro, 2009.
Vitale, Joe. Marco Zero.
Ed. Rocco, 1ª edição, Rio de Janeiro, 2014.
Weor, Samael Aun. Tratado
de Psicologia Revolucionária. Ed. Movimento Gnóstico, 1991.
Chris, Opfer. Artigo Todas as células do corpo humano são substituídas completamente por novas a cada 7 anos. Mito ou verdade?, publicado em 04/08/2014, disponível em http://www.jornalciencia.com/saude/corpo/4247-todas-as-celulas-do-corpo-humano-se-renovam-completamente-a-cada-7-anos-mito-ou-verdade .
fonte original do artigo: Howstuffworks
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluir