Perguntas como essa foram tema de recente reportagem de Robynne
Boyd, tratando a respeito do "mito dos 10 por cento". A mesma tese (de que usamos tão somente 10% de nossa capacidade cerebral) é retomada no recente filme de ficção "Lucy".
O filme é instigante, embora 'brinque' de modo superficial e sensacionalista, com as 'infinitas possibilidades' (mas remotíssimas), de uma 'hiperestimulação' artificial de áreas inativas do cérebro.
Mas, há realmente regiões do cérebro humano não funcionais neste momento?
No âmbito da Filosofia da Mente, esse tema não é novidade. Porém, as conclusões das ciências cognitivas por ora não chegam nem perto do romantismo hollywoodiano cinematográfico. O que se sabe ao certo é que utilizamos de modo geral, todo o nosso cérebro, embora não 100% dele simultaneamente, é claro. Todos os testes "científicos" informam que não há qualquer comprovação da suposta existência de áreas adormecidas em nosso cérebro .
Se a questão não é quantitativa (de maior ou menor utilização de áreas do cérebro), então o que determina no humanóide a existência de tantos graus distintos de desenvolvimento cognitivo? Por que temos a nítida impressão de que há pessoas estúpidas, outras mais inteligentes ou 'espertas', e ainda outras 'geniais'?
Percebemos empiricamente esse fenômeno, ao observarmos o desempenho das mesmas pessoas em distintas modalidades artísticas, ou na comparação das habilidades logicomatemáticas e linguísticas, na área da religião, dos esportes, ou mesmo no âmbito dos relacionamentos etc.
A ciência contemporânea afirma que o que nos distingue cognitivamente uns dos outros não tem absolutamente nada a ver com a etnia (erroneamente chamada de "raça") ou com a classe social (acreditem! há um século, cientistas defendiam que pobres, analfabetos ou membros de certas etnias eram menos inteligentes ou capazes de adaptação que os ricos, os integrantes da elite); nossa capacidade cognitiva tampouco é determinada meramente pela herança genética recebida dos ascendentes.
Já, as condições e a qualidade dos estímulos ambientais (recebidos desde o nascimento), parecem ser muito mais decisivos na definição do potencial cognitivo de cada um.
Já, as condições e a qualidade dos estímulos ambientais (recebidos desde o nascimento), parecem ser muito mais decisivos na definição do potencial cognitivo de cada um.
Para explicar os graus e tipos de inteligência, a Filosofia da Mente e as ciências cognitivas falam em 'qualidade das conexões neurais'. Deste modo, buscam explicar diferenças cognitivas entre seres humanos.
Tais diferenças seriam portanto, condicionadas muito mais pelo ambiente (consequentemente, pela cultura), do que por uma predeterminação genética de algum tipo.
Tais diferenças seriam portanto, condicionadas muito mais pelo ambiente (consequentemente, pela cultura), do que por uma predeterminação genética de algum tipo.
De qualquer modo, fica a dica: não acredite em tudo que os filmes apresentam como 'real' ou 'científico'. Não acredite tampouco só no que a ciência ou a metafísica apresentam como supostamente 'comprovado'. Tanto a ciência quanto a metafísica, na verdade, sabem praticamente nada sobre o funcionamento do cérebro ou da mente humana.
versão do texto acima em Esperanto:
KIEL NI
UZAS NIAN CERBON? ĈU EKZISTAS AREOJ DE NIA CERBO, KIUJN NI NE
UZAS?
Demandoj
tiaj estis la temo de freŝdata raporto de Robynne Boyd, traktante pri la “mito
de la 10 procento”. La sama tezo aŭ argumento (ke ni uzas nur 10% de nia cerba
kapablo) estas inkluzivita en la lasta fikcia filmo “Lucy”. La filmo estas
ekscita, kvankam “ludas” malprofunde kaj sensacie kun la “senfinaj ebloj” (sed
tre neproblablaj) stimuli “tre intense” areojn neuzatajn de la cerbo.
Sed
ĉu fakte ekzistas regionoj de la homa cerbo ne funkciantaj nuntempe?
Laŭ
la Filozofio de la Menso, ĉi tiu temo ne estas novaĵo. Tamen, la konkludoj de
la kognaj sciencoj ankoraŭ eĉ ne alproksimiĝas al la kina holivuda romantikismo.
Tio, kio estas certe konata, estas ke ni uzas ĝenerale la tuton de nia cerbo,
kvankam ne 100% da ĝi samtempe, kompreneble.
Ĉiuj
“sciencaj testoj” informas, ke ne estas evidentaĵo pri la supozata ekzisto de
dormantaj areoj en nia cerbo.
Se
la temo de rilatas al la kvanto (plia aŭ malplia uzo de cerbaj areoj), kio do
determinas, en la homo, la ekziston de tiom da malsamaj niveloj de kogna
disvolviĝo?
Kial
ni havas la klaran impreson, ke estas stultuloj kaj “inteligentuloj”, kaj
ankoraŭ “geniuloj”?
Ni
rimarkis tiun fenomenon empirie, observante la agadon de la sama homo en
malsamaj artaj kategorioj, aŭ komparante la matematikajn, logikajn kaj lingvajn
kapablojn, en la kunteksto de la religio, de la sporto aŭ eĉ ene de la
interrilatoj, ktp.
Nuntempa
scienco diras, ke tio, kio distingas nin kogne, tute ne rilatas kun la etneco
(erare nomata “raso”) aŭ kun la socia klaso.
Kredu!
Antaŭ jarcento, sciencistoj argumentis, ke malriĉuloj, analfabetuloj aŭ anoj de
certas etnaj grupoj estis malpli inteligentaj aŭ kapablaj adaptiĝi ol riĉuloj,
membroj de la elito.
Fakte
nia intelekta kapablo ankaŭ ne estas decidita nure pro genetika heredaĵo de la
prauloj
La
kondiĉoj kaj kvalitoj de mediaj stimuloj (ricevitaj en la naskiĝo) ŝajne estas
pli decidaj por difini la kognan potencialon de ĉiuj.
Por
ekspliki la tipojn kaj gradojn de inteligenteco, Filozofio de la Menso kaj Kognaj
Sciencoj parolas pri “kvalito de neŭronaj ligoj”. Tiel, ili celas klarigi la
kognajn diferencojn inter la homoj.
Tiaj
diferencoj estus multe pli limigitaj de la medio (konsekvence de la kulturo),
ol de ia genetika antaŭdetermineco.
Ĉuokaze,
la konsilo estas: ne kredu ĉion, kion filmoj prezentas kiel “reala” aŭ “scienca”.
Nek kredu nur tion, kion scienco aŭ metafiziko prezentas kiel supozeble “pruvita”.
Okazas
ke ambaŭ, scienco kaj metafiziko, vere scias preskaŭ neniom pri la funkciado de
la cerbo aŭ de la homa menso.
Silvio
Motta Maximino
Abaixo segue a reportagem recentemente publicada:
Não se sabe como o mito surgiu, mas, assim como os músculos,
a maior parte do cérebro está constantemente ativa.
dezembro
de 2014
Robynne
Boyd
Não
é surpresa que o cérebro permaneça um mistério. Além de realizar milhões de
tarefas corriqueiras, ele compõe sinfonias, problematiza e apresenta soluções
elegantes para equações. Ele é a fonte de todas as experiências, sentimentos e
comportamentos humanos, além de ser o repositório da memória e da
autoconsciência.
A
esse mistério soma-se a afirmação de que humanos empregam “apenas” 10% de seus
cérebros. Se pessoas comuns pudessem acessar aqueles outros 90%, elas também poderiam
se tornar como aqueles que se lembram do valor de π (Pi = 3,1415926...) até a
vigésima milésima casa decimal ou talvez tivesse até poderes telecinéticos.
Apesar de atraente, a ideia do “mito de 10%” é tão errônea que é quase risível, opina o neurologista Barry Gordon da Johns Hopkins School of Medicine, em Baltimore. Embora não haja um vilão definitivo para se culpar por ter iniciado essa lenda, a noção tem sido associada ao psicólogo e escritor americano William James. Em sua obra The Energies of Men (As energias do homem, em tradução livre) ele afirmou que “estamos aproveitando apenas uma pequena parte de nossos recursos mentais e físicos possíveis”. A noção também foi associada a Albert Einstein, que supostamente a empregava para explicar sua extraordinária inteligência cósmica.
A durabilidade do mito, na opinião de Gordon, deriva das concepções que as pessoas têm de seus próprios cérebros: elas veem suas próprias falhas como evidência da existência de matéria cinzenta inexplorada. Essa é uma suposição falsa.
“Acontece que usamos praticamente todas as partes do cérebro, e a maior parte dele está ativa quase todo o tempo”, acrescenta Gordon. “Vamos colocar da seguinte forma: o cérebro representa 3% do peso do corpo e usa 20% de sua energia”.
O encéfalo humano médio pesa aproximadamente 1,36 kg. Esse conjunto compreende o cérebro, que é a maior porção e executa todas as funções cognitivas superiores; o cerebelo, responsável pelas funções motoras, como a coordenação de movimentos e do equilíbrio; e o tronco cerebral, destinado a funções involuntárias como respirar.
A maior parte da energia consumida pelo cérebro aciona os rápidos disparos de milhões de neurônios que se comunicam entre si. Cientistas acreditam que é esse tipo de disparo e conectividade neuronal que dá origem a todas as funções superiores do cérebro. O resto de sua energia é destinado a controlar outras atividades — tanto involuntárias, como a frequência cardíaca, como conscientes, como dirigir um carro.
Embora seja verdade que as regiões do cérebro não disparam simultaneamente a todo o momento, neurocientistas mostraram por meio de técnicas de imagem que, como os músculos do corpo, a maioria das regiões está continuamente ativa durante um período de 24 horas. “No decorrer de um dia, as evidências mostrariam que a pessoa usa 100% do cérebro”, garante John Henley, um neurologista da Clínica Mayo em Rochester, Minnesota. Mesmo durante o sono, áreas como o córtex frontal, que controla processos como o raciocínio de nível superior e a autoconsciência, ou as áreas somatossensoriais, que ajudam as pessoas a experimentar sensações físicas e perceber seus arredores, estão ativas, explica Henley.
Considere o simples ato de servir café de manhã: ao andar em direção do bule, estender a mão para pegá-lo, colocar a bebida na caneca e até deixar espaço extra para o leite, os lobos occipital e parietal, os córtices sensório-motores, os gânglios basais, o cerebelo e os lobos frontais são todos ativados. Uma “tempestade elétrica” de atividade neuronal ocorre praticamente em todo o cérebro no intervalo de apenas alguns segundos.
“Isso não quer dizer que se o cérebro estivesse danificado a pessoa seria incapaz de realizar tarefas cotidianas”, prossegue Henley. “Existem pessoas que sofreram lesões cerebrais ou tiveram partes dele removidas, que ainda têm uma vida razoavelmente normal; mas isso se deve ao fato de o cérebro ter uma forma de compensação, garantindo que aquilo que sobrou assuma a atividade”.
Ser capaz de mapear as várias regiões e funções do cérebro é fundamental para entender os possíveis efeitos colaterais caso uma dada região comece a falhar. Especialistas sabem que neurônios que desempenham funções similares tendem a se agrupar. Os neurônios que controlam o movimento do polegar, por exemplo, estão localizados do lado dos que controlam o dedo indicador. Por essa razão, quando realizam uma cirurgia cerebral, neurocirurgiões evitam cuidadosamente os agrupamentos neurais associados à visão, audição e aos movimentos, permitindo assim que o cérebro retenha o máximo possível de suas funções.
Ainda não se sabe como aglomerados de neurônios das diversas regiões do cérebro contribuem para formar a consciência. Até agora, não há nenhuma evidência de que exista um lugar específico para ela, o que leva especialistas a acreditar que realmente se trata de um esforço neural coletivo. Outro mistério oculto em nossos córtices enrugados é que, de todas as células do cérebro, apenas 10% são neurônios; os outros 90% são células gliais (ou gliócitos), que encapsulam e suportam neurônios, mas cuja função continua em grande parte desconhecida.
Em
última análise, não é que usemos apenas 10% de nossos cérebros; o fato é que só
compreendemos cerca de 10% de como ele funciona.
fonte:
http://www2.uol.com.br/
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