a causa do apego
Por que somos tão apegados a alguma coisa, nossos haveres, pessoas,
ideias, crenças? (…) Não há um sentimento de temor, se não estamos
apegados a alguma coisa? Se não estou apegado a meu amigo, a uma ideia,
uma experiência, um filho, irmão, mãe, esposa morta? (…)
(Transformação
Fundamental, pág. 14-15)
Vede, (…) eu sou apegado; meu apego resulta de temor, de variadas
formas de solidão, de vazio, etc. (…) Quando a mente está assim
vigilante, cônscia, pode então perceber o inteiro significado do apego.
Mas, não se pode discernir todo o significado interior do apego, se há
qualquer forma de condenação, comparação, julgamento, avaliação.
(Idem,
pág. 15)
(…) O sexo, a bebida, a fama, a idolatria, com toda a sua
complexidade; o desejo de autopreenchimento seguido da inevitável
ambição e frustração; busca de Deus, da imortalidade. Todas essas formas
de íntimas exigências geram o apego, que é a origem do medo, do
sofrimento e da dor da solidão. (…)
(Diário de Krishnamurti, pág. 65)
É possível liberta-se do “eu”? (…) Em outras palavras: é possível ser
totalmente livre de apegos (que é um dos atributos, uma das
qualidades do “eu”)? As pessoas são apegadas à própria reputação, ao
próprio nome, às próprias experiências. (…) Se você quer realmente
libertar-se do “eu”; isso significa ausência de laços; o que não quer
dizer que você se torne desinteressado, indiferente, insensível (…)
(Perguntas e Respostas, pág. 11)
Nosso problema, pois, consiste em libertar a mente dessa atividade
egocêntrica, não só no nível das relações sociais, mas também no nível
psicológico. É essa atividade do “eu” que está causando males e
sofrimentos, tanto em nossas vidas individuais como em nossa existência
como grupo e como nação. E só podemos pôr fim a tudo isso se
compreendermos inteiramente o processo do nosso pensar. (…)
(Claridade
na Ação, pág. 46)
São sutis as atividades de acumulação; a acumulação é afirmação do
“eu”, tal como o é a imitação. Chegar a uma conclusão é levantar o
indivíduo uma muralha ao redor de si mesmo (…) Uma mente oprimida pela
acumulação é incapaz de acompanhar o célere movimento da vida, incapaz
de uma vigilância profunda e flexível.
(O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 249-250)
Interiormente, psicologicamente, todo o processo da memória, que é
acumulação de experiência, de conhecimentos, é um meio pelo qual o “eu”,
o “ego”, pode achar segurança e perpetuar-se. (…) Pode haver, porém,
preenchimento para o ego? (…) Certo, o “eu” é só uma ideia, não tem
realidade.
O “eu” que busca a prosperidade, riqueza, posição, prazer, o “eu” que
está sempre evitando a dor, que se esforça (…) para aumentar, vir-a-ser
- essa entidade não é mais do que uma ideia, um desejo que se
identificou com dada forma de pensamento. (…)
(Percepção Criadora, pág.
117)
Nessas condições, a liberdade, ou a verdade, ou Deus, é o aliviar da
mente, que é, ela própria, inteligência, do fardo da memória. Já vos
expliquei o que entendo por memória, (…) a carga imposta à mente pela
consciência do “eu” (…) A imortalidade não é a perpetuação dessa
consciência do “eu”, mero resultado de um ambiente falso, mas a
liberdade da mente aliviada do fardo da memória.
(A Luta do Homem, pág.
64)
Permiti-me (…) Não é certo que, por muitas de nossas ações,
estimulamos, de maneira positiva, a expansão do “ego”? Nossa tradição,
nossa educação, nosso condicionamento social, tudo isso sustenta (…) as
atividades do “ego”. Essa atividade positiva pode assumir forma
negativa: não ser coisa alguma. Nossa atuação é, pois, sempre uma
atividade positiva ou negativa do “ego”. (…)
(O Egoísmo e o Problema da
Paz, pág. 188)
O ansiar não é a raiz do “ego”? Como pode o pensamento, que se tornou
o veículo da expansão pessoal, agir sem alimentar o “ego”, a causa do
conflito e da dor? (…) Nutrimos o “ego” por muitas maneiras e, (…)
devemos compreender o seu significado. (…) Servimo-nos da religião e da
filosofia como instrumentos da expansão do “ego”; nossa estrutura social
está baseada no engrandecimento do “ego” (…)
(Idem, pág. 189-190)
O esclarecimento, a compreensão do Real, não poderá vir nunca pela
expansão do “ego”, por um esforço realizado pelo “ego” no sentido de
crescer, vir-a-ser, alcançar algo (…) A consciência individual é produto
da mente e a mente é resultado de condicionamento, de anseios, sendo,
portanto, a sede do “ego”. Só depois de cessar a atividade do “ego”, da
memória, apresenta-se um consciência totalmente diferente (…) Essa
consciência, por mais que venha a expandir-se, prende-se ao tempo e por
isso não se encontra nela o Atemporal.
(O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 200)
Nessas condições, essa atividade expansiva do “ego”, essa
inteligência, por mais atenta, por mais capaz e diligente que seja, não
pode ultrapassar a própria escuridão e alcançar a Realidade. Essa
inteligência não pode, em tempo algum, resolver os seus conflitos e
tribulações, porquanto estes resultam da atividade dela própria. É
incapaz essa inteligência de descobrir a Verdade (…)
(O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 259)
(…) Quando observamos o que se passa em nossas vidas e no mundo,
percebemos que a maioria de nós, por métodos sutis ou grosseiros,
ocupamo-nos da expansão do “ego”. Almejamos expansão pessoal (…); para
nós, a vida é um processo de contínua expansão do “ego”, por meio do
poder, da riqueza, do ascetismo ou da prática da virtude (…) Estamos
sempre a lutar dentro das grades do “ego” (…)
(O Egoísmo e o Problema da
Paz, pág. 186)
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