terça-feira, 25 de abril de 2017

Big Brother e a honra ao mérito na Bananolândia

Honra ao Mérito na Bananolândia


De repente, um susto! A inusitada manchete: "Assembleia legislativa do Amazonas concede certificado de honra ao mérito à segunda colocada"... em quê?? Num dos torneios mais torpes e fúteis da atualidade: o abjeto Big Brother... mas a notícia não era crível! Talvez um falso boato? Pus-me a investigar, ávido por ao menos um desmentido que fosse... Em vão! Nenhuma contradita para aliviar o desgosto amargo. Dizem que a distinta moça "foi motivo de grande orgulho para o seu Estado"...

Miserável é um povo alienado e desmemoriado! Miserável do povo que se vangloria de sua própria parvoíce! Não há bolsa-família que lhe resgate a honra! Quais são as referências desse povo órfão? Temos por acaso alguma fome de cultura? O que acontece com o povo de Bananolândia? Contente, devidamente entretido, sem pudor, nutre-se do lixo, agora disponível em sinal digital! Tudo isso enquanto logo ali, lhe sequestram a vergonha e a pouca dignidade que lhe restavam.

Mas não generalizemos! É sempre um erro grosseiro generalizar apressadamente. Há bons políticos na Bananolândia, ainda há bons líderes entre nós, sim. É que raras vezes a sociedade do espetáculo irá destacá-los, é verdade... A indústria cultural necessita ignorá-los para que haja espaço de sobra para valores rasos, para a banalização do vil, para a espetacularização do bizarro, para o fomento de rivalidades debiloides, apresentadas sempre sob o viés do discurso politicamente correto.

Há não muitos anos, já havíamos assistido, estupefatos, à Academia Brasileira de Letras desta mesma republiqueta conceder sua maior honraria (a medalha Machado De Assis) para, ninguém mais, nem menos, que um jogador de futebol. É isso mesmo! Não é piada não! A mesma casa dos intelectuais e literatos que a tantos escritores brasileiros ignora e despreza, honrando alguém que, como ele mesmo confessara, sequer tinha o hábito da leitura. Embora não seja da nossa conta, eis que não consigo deixar de pensar na ironia bizarra do feito que, ao mesmo tempo desmoraliza e ridiculariza, além da própria ABL, também a mesma classe literária e intelectual brasileira que supostamente representava (no passado).

É verdade que homenagens esdrúxulas não são privilégio cultural de Bananolândia. Se formos enumerar quantos belicosos já ganharam o Nobel da Paz, quantos estelionatários e corruptos já receberam títulos de doutores em famosas Universidades por aí, e ainda quantos títulos honoríficos já foram distribuídos sem qualquer critério meritocrático, de repente acordamos para a realidade óbvia: "papel aceita tudo".

Papel aceita e sustenta, tanto a 'utopia' de um socialismo, quanto a 'mão invisível' de um liberalismo... e continuará aceitando todos os "ismos" que a ideologia puder conceber, mesmo que isso implique alienação e manipulação das mesmas massas humanas, sempre ávidas por ídolos de barro ou de ferro. 

A Assembleia do Amazonas e a ABL, por fim, nos fizeram foi um grande favor: recordar-nos de que suas distinções e honrarias (e não só as suas) continuam tão vãs, ridículas e vazias, quanto sempre foram. Tolo de quem as leva a sério.

Povo de Bananolândia: tomemos vergonha na cara!


Nenhum comentário:

Postar um comentário