segunda-feira, 1 de junho de 2015

Cântico gutural Tuvan

Você já ouviu o "cântico gutural Tuvan"?

(Huun-Huur-Tu) 



O canto gutural (também conhecido como difônico), possui, acredita-se, mais de 4000 anos de existência e teria se originado na região entre a atual República de Tuva e o sudoeste da Mongólia (regiões de Khovd e Govi-Altai). 

Conhecido localmente como Khoomei, este tipo de canto permite à voz humana executar até três tipos de sons independentes, resultantes de uma apurada técnica que mistura vários mecanismos de movimentação do abdomen, da garganta, da cavidade nasal, lábios e até da língua. 
Encontrada atualmente em várias partes do mundo, a técnica é ainda muito utilizada na Ásia Central, principalmente na Mongólia, onde está muito ligada à música tradicional daquele país.
Assista no link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=LcNgWXgyM88#t=14
 

Alguns especialistas no estudo do canto difônico defendem que o Khoomei estaria intimamente ligado ao Animismo (mística que acredita na espiritualidade existente no interior dos objetos e sons da natureza. Durante a atividade de pastoreio, é frequente os mongóis procurarem rios, quedas de água ou subirem montes, para deste modo criarem um ambiente mais apropriado ao canto.



O Khoomei está dividido em vários estilos e diferenças na técnica utilizada para o canto. Alguns dos exemplos mais relevantes são:



Sygyt

É uma técnica vocal capaz de emitir dois sons simultaneamente, sendo constituída por uma fundamental * média e que resulta numa espécie de assobio muito agudo – sygyt traduzido para português significa assobiar. O som é muito cristalino e enquanto elemento terrestre, está associado ao canto dos pássaros ou à brisa da estepe.


músico de morin khuur
o instrumento mais simbólico para a nação mongol

Khoomei

Não se trata, em exclusivo, do nome genérico dado ao canto gutural na maior parte de Ásia, mas também num dos estilos ou técnicas amplamente utilizados.
Parecido com o Sygyt, resulta numa sonoridade clara, mas de harmônicos difusos e com uma ou duas oitavas acima de uma fundamental *. Durante a execução, são ouvidos dois ou mais sons simultaneamente e o vibrato rítmico efetuado pela língua, procura imitar o galope dos cavalos ou o vento a rodopiar nas rochas.

 

 

 

 

Kargyraa

Este estilo de canto, que significa “expectorar”, é aquilo se poderá considerar o oposto do Sygyt e Khoomei. A técnica utiliza a contração da laringe, as cordas vocais e cordas falsas, de forma a produzir um meio-tom com exatamente metade da frequência da fundamental *. A voz é assim projetada desde o peito e resulta num som muito grave e profundo.
Este estilo está ainda intimamente ligado ao canto budista tibetano.

 Ezenggileer

Trata-se de um estilo vibrante, que para ser executado exige uma grande habilidade e destreza, pelo que raramente é escutado. Uma boa execução da técnica passa por movimentos rápidos e precisos da língua, sendo utilizada como caixa de ressonância a boca e a cavidade nasal. O estilo está associado à imitação do som das esporas quando se monta a cavalo, pois ezenggi significa espora.

Chilangyt / Chilandyk

É um estilo muito associado à sonoridade efetuada pelas crianças da Mongólia e República Tuva, quando procuram imitar os adultos que cantam Khoomei. Trata-se de uma mescla das técnicas Kargyraa e Sygyt que tem por base o som grave e profundo da primeira, mas um posicionamento da língua usual da segunda, para assim dar à música uma melodia mais harmônica. A execução da técnica procura ainda imitar o som produzido pelas serpentes – chilangyt traduzido para português significa serpente.
Embora durante o período em que a República Tuva e Mongólia estiveram subjugadas ao domínio soviético, o canto gutural tenha estado à beira da extinção (muitos dos que dominavam as técnicas foram perseguidos e mortos), as tradições não se perderam Nos dias de hoje, há uma grande internacionalização dos músicos que exploram a tradição do canto gutural, e as novas gerações não só fazem questão em praticar e aprender as técnicas, como as olham como motivo de orgulho nacional.



* Frequência Fundamental, ou simplesmente Fundamental, é a frequência mínima e máxima que compõem a série harmónica de um som. Estritamente do ponto de vista técnico, a fundamental corresponde ao primeiro harmónico e é responsável pela percepção que se tem da altura de determinada nota, enquanto os demais harmónicos têm a ver com a forma da sinusóide que compõe o som.

** Todas as músicas e demonstrações áudio apresentadas neste texto são executadas pelos grupos Alash e Tyva Kyzy.

fonte: http://proximaviagem.com/sons-mundo/o-canto-gutural-mongol/

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