ótima reflexão de Flávio Siqueira, a qual reproduzo abaixo:
Universos sobre pernas
Nesse
espaço infinito que chamo de universo, entre galáxias, planetas,
cometas chocando-se, estrelas que nascem e morrem, entre o mistério em
constante movimento há um micro cosmos caminhando sobre pernas. Sou
espaço que se reconhece como indivíduo, maravilhado por fazer parte de
algo que não posso nominar.
Sinto-me
incapaz de entender o cosmos que sou e isso me inquieta. Em que tipo de
universo vivo? Que universo sou? Recorro à fresta da ciência, há tantos
limites. A filosofia me ajuda na busca por significados, mas em cada
resposta novas perguntas, tantas, tantas, tantas, novos dilemas,
paradoxos que me mantém em movimento.
Movimento-me.
Vivo no tempo que sei relativo. Grita em mim o contraste entre o eterno
que habita este vasto espaço contido em um corpo, templo do que não
cabe na cronologia que modifica meus traços, meus pensamentos, o mundo
que me veste. Modifico-me e mal percebo.
Sobre
a janela anseio respostas. Suspiro com saudade da casa que desconheço.
Suspiro. Deixo que os olhos passeiem entre o horizonte e as estrelas,
que descansem sobre o teto escuro da noite na Terra e se percam,
ultrapassam camadas de ar, de gases, de verdades, de crenças e se
percam...
Agora
tudo é silêncio. Possibilidades. Vagando, deixei de saber. Encanto,
universos que se encontram, galáxias infinitas, não posso calcular, os
fenômenos geram explosões devastadoras, mundos que nascem e morrem
contemplados pelo silêncio do abismo em movimento, voraz em sua lógica
caótica, promotora de vida, de morte, de espantos.
Sou
além grão de poeira das estrelas. Forma que temporariamente assume
alguma consciência e depois vai, vira outra coisa, reintegra-se ao
mistério.
O
corpo onde não caibo perderá a forma. Universo decantando-se em outros
universos, assumindo múltiplas paisagens, outros mundos que se desfazem.
Cada
expressão de consciência é parte de uma única mente. Fragmentos do
absoluto reconhecendo-se entre o lapso de vida e morte, caminhando em
busca de significados, esforçando-se para permanecerem, relutando em ir.
Mas
talvez o único jeito de permanecer seja colocando-se no fluxo do
movimento que não cessa, que modifica todas as coisas, que nos desfaz,
quem sabe, para lembrar que somos parte do todo e que o todo se
reconhece ao nos reconhecermos.
Somos consciências do universo. Mistérios aculturados contidos em identidades que anseiam pelo céu.
O
céu, abrigo de mistérios indecifráveis, contemplados em nossas frestas,
expressões simétricas dos mundos que habitam esse espaço que sou,
universo que caminha sobre pernas.
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