quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Sua Versão - Flávio Siqueira

Mais um excelente texto para reflexão de autoria de Flávio Siqueira, abordando de modo 'cortante', nossa mania de acreditar que nosso paradigma é melhor que o paradigma do outro... 

Nossa visão de mundo, nossa filosofia, nossa ideologia... o quanto tudo isso de fato nos aproxima da realidade, da verdade mais pura sobre qualquer coisa?

No fundo, o que vemos, senão um fragmento da paisagem, pelo "buraquinho de uma fechadura"?

 

Sua Versão

Flávio Siqueira

Você só conhece uma versão. Olha por uma única fresta e pensa que viu tudo. Sente-se seguro por acreditar que sabe. Pensar que sabe lhe deixa seguro.

A ciência pensa que sabe, a filosofia imagina ter chegado a algum lugar, a teologia orgulha-se sem saber que não sabe.

Nada é exatamente como percebemos. A vida está em movimento, toda perspectiva fixa é reducionista.
Você só vê pela fechadura, não sabe quase nada, portanto seja humilde. Esse é o primeiro e mais básico sinal de sabedoria. Ainda há muito para aprender. Felizmente

Seus olhos

Você é um jeito de ver. Suas verdades, certezas, os cenários que conhece, tudo reflete você.
A mesma crença pode ser compartilhada por milhões de pessoas, mas haverá nuances, colorações absolutamente vinculadas às percepções de quem vê.
Podemos chamar pelos mesmos nomes, mas serão apenas "nomes".
O mundo de fora reflete o de dentro e o de dentro se projeta no de fora, de modo que dificilmente sabemos quando é "o mundo" ou quando "sou eu".

Sua mente é o lugar de onde você observa a vida, portanto seu olhar denuncia onde você está. Ninguém vê exatamente como você. Ninguém é exatamente como você. Esse lugar é só seu. Você é seu olhar. Como sente, como escolhe, como pensa, com se movimenta na história, a sua história.

Quase não vemos

Só enxergamos a superfície. Quase não vemos a conexão entre acontecimentos, o quanto se vinculam, complementando-se, provocando desencadeamentos de situações que jamais teremos acesso. Por isso é melhor não ter pressa em julgar nada. Cada evento carrega bilhões de possibilidades. Nós, com nossa mente condicionada, só percebemos uma, duas, três no máximo.

Caixas

Caixas são nossas tentativas de lidar com o que tememos ou desconhecemos, com o que é maior do que elas, com o que é selvagem, como tudo o que é.
Tigres nas jaulas, amor em caixas. Leões nos zoológico, Deus na teologia.
Enquanto mantemos pássaros em gaiolas, acreditamos que a espiritualidade cabe em religiões.

São nossas regras, nossos códigos, nossa moral, nossos preconceitos se tornando maiores do que as pessoas, sobrecarregando-as, fazendo com que pensem que a liberdade é uma utopia, um erro. Engano: a liberdade é a essência do ser e por mais que as caixas nos protejam chegará o momento em que precisaremos sair delas.

Há milhares de anos filósofos, religiosos e cientistas tentam responder qual o sentido da vida. Há muitas explicações, muitas tentativas, mas nunca haverá contundência definitiva enquanto a pretensão for encontrar uma resposta absoluta, que se encaixe para todos. O sentido é pessoal. Reflexo da somatória de significados cotidianos que se projetam no caminho. Para mim o sentido da vida agora é escrever esse bilhete para você. Depois? Depois descobrirei. Acho que todo sentido da existência se projeta no agora, no lugar onde vivo, no olhar que sou.





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