sábado, 9 de fevereiro de 2013

As regras do método segundo o empirismo e o racionalismo



As regras do método científico segundo o empirismo e o racionalismo


Ptolomeu
Atualmente, há uma crença amplamente aceita de que há “algo de especial a respeito da ciência e de seus métodos”. A atribuição do termo “científico” a alguma afirmação ou pesquisa é feita de modo a pretender que se possa atribuir-lhe algum mérito ou confiabilidade especial. Mas o que é tão especial em relação à ciência? O que vem a ser esse “método científico” que comprovadamente leva a resultados especialmente meritórios ou confiáveis?

A alta estima pela ciência é especialmente evidente no mundo escolar e acadêmico. Conforme lembra Chalmers:

“(...) muitas áreas de estudo são descritas como ciências por seus defensores, presumivelmente num esforço para demonstrar que os métodos usados são tão firmemente embasados e tão potencialmente frutíferos quanto os de uma ciência tradicional como a física. Ciência Política e Ciências Sociais são agora lugares-comuns. Os marxistas tendem a insistir que o materialismo histórico é uma ciência.

Porém, existe de fato um ou mais métodos que possibilitem às teorias científicas serem provadas verdadeiras ou mesmo provavelmente verdadeiras?

O senso comum, a explicação religiosa e o conhecimento filosófico eram as principais modalidades de conhecimento norteadoras dos seres humanos até fins da Idade Média. Contudo, a partir do século XVI, os cientistas passaram a pensar na elaboração de um conhecimento que estivesse embasado em maiores garantias. A busca pelas causas absolutas ou pela natureza íntima das coisas deixou de ser a prioridade do cientista; ao contrário, procura-se agora compreender as relações entre as coisas, a explicação dos acontecimentos, utilizando a observação científica aliada ao raciocínio.

Assim como o conhecimento e as técnicas se desenvolveram, seus métodos também sofreram e ainda sofrem transformações. Os pioneiros no âmbito do conhecimento científico foram Francis Bacon, Descartes e Galileu Galilei. Ao invés de buscarem, como os seguidores de Aristóteles, a “essência íntima das substâncias individuais”, o objetivo das investigações passa a ser a descoberta das leis que presidem os fenômenos (as relações quantitativas).

Eles concluíram que o processo de abstração e o silogismo (dedução formal que, partindo de duas proposições –premissas- conclui uma terceira -chamada conclusão), não propiciam um conhecimento completo do universo. O conhecimento científico é o único que nos permitiria acesso à verdade dos fatos. Os seguintes passos são fundamentais: experimentação; formulação de hipóteses; repetição exaustiva de testes das hipóteses, formulação de generalizações e leis. 

Descartes (em sua obra Discurso do Método), porém, afasta-se dos processos indutivos, enfatizando o método dedutivo, já que, para ele, só se pode chegar à certeza por meio da razão, a qual identifica-se como o “princípio absoluto do conhecimento”.

Postula ele, então, quatro regras básicas, as quais já estudamos em nosso curso de história da filosofia:



Evidência: não acolher jamais como verdadeira uma ideia ou coisa que não se reconheça como evidentemente clara e incontestável perante a razão (ou seja, evitar a precipitação e o preconceito, só aceitando aquilo que se apresente com absoluta clareza ao espírito, de tal modo que a dúvida seja impossível);


Análise: dividir cada uma das dificuldades em tantas partes quantas necessárias para melhor compreendê-las ou resolvê-las (processo que permite a decomposição do todo em suas partes constitutivas, indo sempre do mais para o menos complexo);


Síntese: processo que leva à reconstituição do todo, previamente decomposto pela análise (ou seja, conduzir ordenadamente os pensamentos, principiando com os objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para ascender, em seguida, pouco a pouco, até o conhecimento dos objetos não dispostos de forma natural, em seqüências de complexidade crescente);


Enumeração: consiste em realizar enumerações tão cuidadosas e revisões tão gerais que se tenha certeza de nada ter omitido. 

Com o passar do tempo, muitas outras concepções foram sendo incorporadas aos métodos existentes e também surgiram outros métodos, conforme veremos nas próximas aulas.

Apesar de muitos cientistas alegarem a infalibilidade de seus métodos e jurarem fidelidade a eles, seria correto aceitar a Ciência como um conhecimento de tipo superior aos demais saberes produzidos pelo homem? Será que se olharmos rigorosamente para as regras do método, não encontraremos algumas deficiências que tornariam relativos os conhecimentos produzidos a partir delas?


Texto elaborado por Silvio Motta Maximino

Fontes consultadas:
O QUE É CIÊNCIA AFINAL?, de Alan F. Chalmers – Tradução: Raul Filker Editora Brasiliense 1993

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