sexta-feira, 15 de março de 2013

O Anarquismo Epistemológico de Paul Feyerabend



O Anarquismo Epistemológico de Paul Feyerabend






Paul Feyerabend, filósofo austríaco, vem na seqüência de T. Kuhn e também acaba colaborando para a crítica dos modelos normativos existentes na epistemologia. Ele começa desmistificando o método científico (tratando de assuntos pouco usuais como a astrologia e a magia), e acaba denunciando o fato de que “a ciência não é o único e nem o melhor sistema de pensamento desenvolvido pelo homem”






 A ciência simplesmente foi elevada a um estatuto de superioridade por “forças históricas e violentas que usurparam o poder e decretaram qual deveria ser o padrão de conhecimento”.

Sendo assim, o problema da demarcação entre ciência e não-ciência - como é o caso da discussão sobre a cientificidade da astrologia - tende a se tornar obsoleto, pelo menos do ponto de vista "puramente epistemológico”, passando a ser entendido como “uma questão de natureza ético-política”.

O problema da astrologia é citado por Feyerabend em seu texto "O estranho caso da astrologia". Propõe ele uma nova forma de racionalidade científica, que seja contextualizada (associada a uma cultura), quer seja associada a paradigmas (Kuhn), programas de pesquisa (Lakatos) ou tradições de pesquisa (Laudan).

Assim, nas palavras de Feyerabend

“a comunidade é a medida de todas as coisas que lhe dizem respeito, pois é no seu interior que se definem os conceitos e que se tecem as redes semânticas que emprestarão significado ao mundo. Critérios, métodos, padrões e regras só fazem sentido, portanto, num dado contexto, pois só se constituem (ou se modificam) com o uso, não podendo ser estabelecidos a priori”.

O problema da não-existência de critérios intrínsecos à ciência (que possam nos conduzir a uma escolha racional, universal e atemporal), leva-nos à seguinte questão: Como justificar a ciência da maneira usual, com pretensões de verdade, universalidade e neutralidade, numa sociedade plural em que tanto verdade quanto falsidade podem ser explicadas racionalmente?

Em seus estudos de Física, Paul Feyerabend (que foi contemporâneo dos filósofos Wittgenstein e Popper), reparou que na história da ciência não há regras imutáveis, nem mesmo aquelas próprias do método científico. Portanto, se historicamente, os cientistas (de Galileu a Mach) não seguem as mesmas regras, então não haveria um tal “método absoluto” que garantisse o status de “pesquisa certa” ou “boa”.

Ou seja, se as verdades têm prazo de validade (o que é verdade aqui e agora, pode não sê-lo amanhã ou noutro contexto), então não há mais como justificar a ciência dessa maneira, já que todos os modelos normativos dos filósofos da ciência foram severamente questionados.

Nesse sentido, Feyerabend propugna um relativismo democrático ou um pluralismo cultural, nos quais não se impõe quaisquer abstrações e estereótipos, nem se pensa em uniformização, em detrimento da criatividade humana e da diferença cultural.

Partindo do princípio de que a ciência se instituiu, não por sua superioridade epistemológica e metodológica, mas pela força (assim como ocorreu com a própria cultura ocidental), passamos a entender melhor o exercício de poder da ciência sobre todos os outros sistemas de pensamento.

Ele ilustra sua tese sobre o problema enumerando os seguintes fatos: 1) a criação da Academia de Ciências por Colbert, em 1666, sem incluir a astrologia; 2) o decreto de Luís XIV, em 1682, condenando a difusão dos almanaques astrológicos; 3) a proibição, a partir de 1710, da impressão das Efemérides e das tábuas de casas; e 4) o manifesto de 186 cientistas contra a astrologia, em 1975).

Dessa maneira, ele pretende defender que a relação entre astrologia e ciência é, na verdade, uma relação de poder (de força política), assim como é também o problema da demarcação entre ciência e não-ciência. Toda esta discussão nada teria a ver com autênticos critérios epistemológicos.

Para Feyerabend, este “mito” da verdade formal é o mesmo que sustenta os anátemas da Igreja. Quando alguém, cientista ou religioso, pensa que detém a razão (seja ela um conjunto de regras ou uma iluminação que conduz à verdade), devemos entender que tal crença é fruto das “certezas” que cada época proporciona. É óbvio que os cientistas seguem padrões e regras dentro de cada processo, mas não há uma verdade formal fora disto e nomeadamente não há um método certo e atemporal.

O anything goes, diz Feyerabend em sua obra Farewell to Reason, talvez seja a posição à qual seria forçado um racionalista perante o esfacelamento do seu “edifício de verdades”. Os critérios da ciência ocidental não são sempre válidos para além das circunstancias históricas e do grupo ou da cultura que as produziu.


Síntese elaborada por Silvio Motta Maximino.

Principal fonte bibliográfica: O que é Ciência afinal? de A. F. Chalmers

2 comentários:

  1. Tenho que dizer, esse é o site mais fácil de compreender o assunto. Obrigado! Parabéns pela criação desse site.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. obrigado pelo comentário, Sarah.
      Fique à vontade para utilizá-lo como fonte de pesquisa.

      Excluir