O Anarquismo
Epistemológico de Paul Feyerabend
Paul Feyerabend, filósofo austríaco, vem na seqüência de T. Kuhn e também acaba colaborando para a crítica dos modelos normativos existentes na epistemologia. Ele começa desmistificando o método científico (tratando de assuntos pouco usuais como a astrologia e a magia), e acaba denunciando o fato de que “a ciência não é o único e nem o melhor sistema de pensamento desenvolvido pelo homem”.
A ciência simplesmente foi elevada a um estatuto de superioridade por “forças históricas e violentas que usurparam o poder e decretaram qual deveria ser o padrão de conhecimento”.
Sendo assim, o
problema da demarcação entre ciência e não-ciência - como é o caso da discussão
sobre a cientificidade da astrologia - tende a se tornar obsoleto, pelo menos
do ponto de vista "puramente epistemológico”, passando a ser entendido
como “uma questão de natureza ético-política”.
O problema da
astrologia é citado por Feyerabend em seu texto "O estranho caso da astrologia". Propõe ele uma nova
forma de racionalidade científica, que seja contextualizada (associada a uma
cultura), quer seja associada a paradigmas (Kuhn), programas de pesquisa
(Lakatos) ou tradições de pesquisa (Laudan).
Assim, nas palavras
de Feyerabend
“a comunidade é a medida de todas as coisas que lhe dizem
respeito, pois é no seu interior que se definem os conceitos e que se tecem as
redes semânticas que emprestarão significado ao mundo. Critérios, métodos,
padrões e regras só fazem sentido, portanto, num dado contexto, pois só se
constituem (ou se modificam) com o uso, não podendo ser estabelecidos a priori”.
O problema da
não-existência de critérios intrínsecos à ciência (que possam nos conduzir a
uma escolha racional, universal e atemporal), leva-nos à seguinte questão: Como
justificar a ciência da maneira usual, com pretensões de verdade,
universalidade e neutralidade, numa sociedade plural em que tanto verdade
quanto falsidade podem ser explicadas racionalmente?
Em seus estudos de
Física, Paul Feyerabend (que foi contemporâneo dos filósofos Wittgenstein e
Popper), reparou que na história da ciência não há regras imutáveis, nem mesmo aquelas próprias do método
científico. Portanto, se historicamente, os cientistas (de Galileu a Mach) não
seguem as mesmas regras, então não haveria um tal “método absoluto” que
garantisse o status de “pesquisa certa” ou “boa”.
Ou seja, se as
verdades têm prazo de validade (o que é verdade aqui e agora, pode não sê-lo
amanhã ou noutro contexto), então não há mais como justificar a ciência dessa
maneira, já que todos os modelos normativos dos filósofos da ciência foram
severamente questionados.
Nesse sentido,
Feyerabend propugna um relativismo
democrático ou um pluralismo
cultural, nos quais não se impõe quaisquer abstrações e
estereótipos, nem se pensa em uniformização, em detrimento da criatividade
humana e da diferença cultural.
Partindo do princípio
de que a ciência se instituiu, não por sua superioridade epistemológica e
metodológica, mas pela força (assim como ocorreu com a própria cultura
ocidental), passamos a entender melhor o exercício de poder da ciência sobre
todos os outros sistemas de pensamento.
Ele ilustra sua tese
sobre o problema enumerando os seguintes fatos: 1) a criação da Academia de Ciências por Colbert, em 1666, sem
incluir a astrologia; 2) o
decreto de Luís XIV, em 1682, condenando a difusão dos almanaques astrológicos;
3) a proibição, a partir de
1710, da impressão das Efemérides e das tábuas de casas; e 4) o manifesto de 186 cientistas
contra a astrologia, em 1975).
Dessa maneira, ele pretende
defender que a relação entre astrologia e ciência é, na verdade, uma relação de
poder (de força política), assim como é também o problema da demarcação entre
ciência e não-ciência. Toda esta discussão nada teria a ver com autênticos
critérios epistemológicos.
Para Feyerabend, este
“mito” da verdade formal é o mesmo que sustenta os anátemas da Igreja. Quando
alguém, cientista ou religioso, pensa que detém a razão (seja ela um conjunto
de regras ou uma iluminação que conduz à verdade), devemos entender que tal
crença é fruto das “certezas” que cada época proporciona. É óbvio que os
cientistas seguem padrões e regras dentro de cada processo, mas não há uma
verdade formal fora disto e nomeadamente não há um método certo e atemporal.
O anything
goes, diz Feyerabend em sua obra Farewell to Reason, talvez seja a
posição à qual seria forçado um racionalista perante o esfacelamento do seu
“edifício de verdades”. Os critérios da ciência ocidental não são sempre
válidos para além das circunstancias históricas e do grupo ou da cultura que as
produziu.
Síntese elaborada por
Silvio Motta Maximino.
Principal fonte bibliográfica: O
que é Ciência afinal?
de A. F. Chalmers
Tenho que dizer, esse é o site mais fácil de compreender o assunto. Obrigado! Parabéns pela criação desse site.
ResponderExcluirobrigado pelo comentário, Sarah.
ExcluirFique à vontade para utilizá-lo como fonte de pesquisa.