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Somos o povo borra-botas?parte II |
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Há
dois anos (edição do JC de 26/7/2011*), escrevi um texto buscando
responder à intrigante pergunta do jornalista espanhol Juan Arias, no
jornal El País: por que os brasileiros não reagiam diante da corrupção
de seus políticos?
Só para citar os casos mais recentes: estádios padrão-Fifa (pagos com o nosso suor) e escolas padrão-Etiópia; enquanto isso, agentes políticos e entidades classistas defendendo a venenosa PEC da impunidade (PEC 37), vil atentado à cidadania... violência descontrolada nas ruas e nas escolas públicas, enquanto deputados perdem tempo em manobras para diluir as penas dos mensaleiros e para introduzir imorais reformas na Lei da Ficha Limpa... é melhor parar por aqui. Naquela ocasião, há dois anos, eu perguntava a você que me lê: somos o povo borra-botas? E eu mesmo respondia: Definitivamente não! Hoje, muito antes do que todos imaginavam, estamos podendo confirmar com nossos próprios olhos. Nossos eleitos ignoram as causas das impressionantes manifestações populares. Seu costumeiro distanciamento, seu descompromisso e desprezo para com os cidadãos em geral, agora os deixam atordoados. Esses mesmos eleitos, de ontem de de hoje, causaram a desmoralização do que existe de mais sagrado em um Estado de direito democrático: suas próprias instituições políticas. Agora estão assustados e preocupados, fazendo reuniões sigilosas aqui e acolá, tentando adivinhar o próximo passo! Lembrem-se! É graças a gente como vocês que as instituições políticas brasileiras caíram em desgraça e descrédito. Dos partidos, centrais sindicais e entidades estudantis cooptadas por esses mesmos partidos, até as câmaras legislativas... todos infelizmente, estão sumariamente banidos das últimas manifestações populares.
Que vergonha devem estar
sentindo! (ou não?) E que inveja talvez estejam sentindo, não é
mesmo?... está acontecendo a maior das festas lá fora e vocês não foram
convidados! Lamento informá-los, perderam o bonde da história. Para
quem sabe o valor de um partido político, ou sindicato para o regime democrático, isso
não é motivo para festejo, mas motivo de pesar.
Brevemente surgirão em cena os “profetas do passado”, a traçar um “diagnóstico” pseudo-científico de causas complexas daquilo que estão vendo, mas não entendendo. Quando escrevi, há dois anos atrás, lembrava que em meio ao mar de lama, a boa notícia era que ciência da antropologia nos ensinava ser a cultura algo dinâmico, sempre se modifica, em diversos sentidos, de forma aleatória ou intencional, lenta ou rapidamente. Só não pensávamos que tudo se precipitaria tão rapidamente. Todos que trabalhamos séria e gratuitamente em ONGs, em prol de um despertar para o exercício consciente da cidadania, que plantamos sementes de cidadania diariamente, estamos ao mesmo tempo contentes, surpresos e apreensivos, pois ninguém está habilitado a decifrar o porvir, os possíveis e também os improváveis desdobramentos.
Este grande
movimento ainda precisará estabelecer uma pauta perene de reivindicações, para não perder
seu vigor e capacidade de mobilização. Precisamos aproveitar esse
momento para fortalecer as instituições democráticas, não para
enfraquecê-las.
Hoje digo: Parabéns para você que se levantou do sofá! Enquanto os cães velhos latiam sentados, vocês mostraram que não são o povo borra-botas! Desprezaram os anátemas da mídia de massa (que por ora espertamente mudou seu discurso). A todos que deram o primeiro passo em direção ao exercício pleno da cidadania, nota dez! E a nota zero vai para o vandalismo acéfalo e irracional, que nada acrescenta, nada soma, apenas subtrai e desmoraliza. O autor é professor de filosofia e antropologia, bem como membro da BATRA – Bauru Transparente publicado no Jornal da Cidade (Bauru) em 25/06/13 * artigo "Somos o Povo borra-botas?" publicado em 26/07/2011, disponível no endereço http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=212291 |
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Somos o povo borra-botas?- parte II
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