interessante
texto de Leonardo Sakamoto, a respeito dos trabalhos da "Comissão da
Verdade" que foram concluídos recentemente. Sakamoto faz algumas reflexões
ideológicas e políticas muito apropriadas para o momento.
O
completo absurdo é vermos brasileiros defendendo ardorosa e escancaradamente a
volta dos militares ao Poder, justamente quando já se sabe que essa combinação
não faz nenhum bem para nenhum povo, em nenhum lugar do mundo, nem a médio, nem
a longo prazo. Que falta faz estudar História!!!! Vejo pessoas fazendo
apologia do golpe militar e dos regimes totalitários, como se na época de
vigência desses regimes, não houvesse inflação, corrupção, problemas sociais e
econômicos, violência, exploração do trabalho, crise de valores e censura
político-ideológica. Então, o contrassenso e evidente sinal de ignorância
histórica, está em nutrir a ingênua crença de que regimes ditatoriais são
sinônimo de "ordem e de desenvolvimento", quando em verdade, é o uso
da censura e da violência institucional que dá ao povo, a falsa sensação de
segurança, de que tudo vai bem. Memória curta e torta, hein! Ignoram que num
regime militar ditatorial, as opiniões discordantes são caladas, os dados
estatísticos comprometedores são manipulados ou simplesmente suprimidos?
Será
a ingenuidade tão grande a ponto de não notarem que estão abrindo mão e
desprezando sua própria liberdade de pensamento ou expressão? (inclusive a
liberdade de dizerem as bobagens que costumam dizer?)
Por
acaso ignoram que um regime totalitário representa a ruptura do Estado de
Direito, das garantias individuais e sociais, tão lenta e duramente
conquistadas? Simplesmente não dá prá entender...
silvio mmax.
Leiam o artigo abaixo:
Os golpistas precisam saber, em vida, que sua versão da História morreu
Leonardo Sakamoto
10/12/2014
O
golpe e a ditadura cívico-militar de 1964 ainda são temas que não fazem
parte de nosso cotidiano em comparação com outros países que viveram
realidades semelhantes e que almejam ser boas democracias. Por aqui,
lidamos com o passado como se ele tivesse automaticamente feito as pazes
com o presente.
A Comissão
da Verdade entregou o seu relatório final, nesta quarta (10),
encaminhando 29 propostas para governos e órgãos públicos a fim
de assegurar que as violações aos direitos humanos na ditadura militar não continuem ocorrendo ou voltem a acontecer. Uma delas é que as forças
armadas assumam a responsabilidade, inclusive legal, pelos atos
cometidos. Outra, que as polícias estaduais sejam desmilitarizadas.
Pouco me importa o que pensam os verde-oliva da reserva que tomam seu uísque nos Clubes Militares enquanto, saudosos, lançam confetes ao Dia da Revolução (sic). Demonstrações de afeto a um período autoritário são peça de museu, então que fiquem, democraticamente, com quem faz parte do passado.
Mas
eles precisam saber – ainda em vida – que, desta vez, a História não
vai ficar com a versão dos golpistas. E que o sistema de opressões que
eles ajudaram a estruturar, mais cedo ou mais tarde, vai embora com
eles. Não por vingança, mas por Justiça.
Como
já disse aqui em outras ocasiões, em nome de uma suposta estabilidade
institucional, o passado não resolvido permanece nos assombrando. Seja
através de um olhar perdido da mãe de um amigo que, da janela, permanece
a esperar o marido que jaz no fundo do mar, lançado de helicóptero.
Seja adotando os métodos desenvolvidos por eles para garantir a ordem e o
progresso.
Durante
a ditadura, os militares armaram uma farsa para encobrir o assassinato
do jornalista Vladimir Herzog. A explicação trazida à público, de
suicídio na cela, não convenceu e a morte de Vlado tornou-se símbolo na
luta contra o regime.
Mas
fez escola pois, tempos atrás, aqui em São Paulo, um homem de 39 anos
foi encontrado enforcado pouco mais de duas horas depois de ter sido
preso.
Supostamente, era traficante e transportava cocaína. Supostamente, teria se enforcado usando um cadarço de sapato.
Questionado
por jornalistas se não é praxe da polícia retirar os cadarços de
sapatos de presos, um policial afirmou que o acusado usou um pedaço de
papelão para arrastar um cadarço que estava fora da cela. Seria cômica
se não fosse ofensiva uma justificativa dessas.
O impacto
de não resolvermos o nosso passado se faz sentir no dia-a-dia dos
distritos policiais, nas salas de interrogatórios, nas periferias das
grandes cidades, em manifestações, nos grotões da zona rural, com o
Estado aterrorizando ou reprimindo parte da população (normalmente mais
pobre) com a anuência da outra parte (quase sempre mais rica). A verdade
é que não queremos olhar para o retrovisor não por ele mostrar o que
está lá atrás, mas por nos revelar qual a nossa cara hoje.
Lembrar é fundamental para que não deixemos certas coisas acontecerem novamente.
Que
o Estado e a sociedade discutam as propostas da Comissão Nacional da
Verdade, reconsiderem as políticas atuais que mantém a estrutura de
injustiça e afirmem que crimes contra a humanidade, como a tortura, não
podem ser anistiados, nunca. Um relatório sozinho não resolve nada. Mas é
fundamental na construção de uma nova narrativa que não aceite a
impunidade como parte necessária de nossa transição democrática e que,
sem medo, use a experiência do passado para corrigir os rumos do
presente.
Narrativa
que será construída também pelas próximas gerações. Com a história dos
assassinatos sob responsabilidade da ditadura sendo conhecida e contada
nas escolas até entrar nos ossos e vísceras de nossas crianças e
adolescentes a fim de que nunca esqueçam que a liberdade do qual
desfrutam não foi de mão beijada.
fonte
http://blogdosakamoto.
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