A foto acima é atribuída ao
fotógrafo francês Marc Ferrez.
Diz-se que se trata da única foto
de um navio negreiro, e que ela só pôde ser tirada de maneira
clandestina.
Talvez uma descrição mais
sincera, no entanto, fosse dizer que os acima fotografados eram os sobreviventes
de uma viagem a bordo de um navio negreiro, em um tempo colonial em que chegar
ao destino, no caso, a colônia Brasil, era a primeira de uma sucessão de
vitórias contra a morte que teriam que ser enfrentadas.
Talvez, também, fosse mais
sincero dizer que, mesmo quando a escravidão era, mais do que legalizada,
prática do Estado, não se queria projetar luz sobre ela e, portanto, nunca foi
fenômeno histórico moralmente aceitável; era apenas um método capitalista
tolerado cruelmente pelas sociedades coloniais. (...)
O Estado e as Instituições
reconheceram constitucional e formalmente a imoralidade da escravidão, mas
criaram poucos cenários em que efetivamente buscou-se mexer na pirâmide
sócio-racial do país. Ainda hoje é tabu falar sobre ações afirmativas
(conhecidas por sua plataforma mais polêmica, que são as cotas raciais). Ainda
hoje a suprema Corte do país é acionada para tentar barrar a
constitucionalidade do reconhecimento das terras quilombolas. Ainda hoje se
fala mais sobre a exploração do trabalho como consequência de uma necessidade
econômica do que se discute a adequação, moralidade e humanidade da forma de se
trabalhar no mundo. (...)
*Amanda Alves Darienzo é Analista
de Promotoria da Promotoria de Direitos Humanos-Área de Saúde Pública.
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