Excelente reflexão de Flávio Siqueira! O texto fala dos milagres que não percebemos, dos milagres dos quais participamos sem percebermos nosso protagonismo no cenário que se mostra a nós e aos outros.
Siqueira fala sobre a necessidade premente de estarmos atentos.
Atenção é tudo! Atenção a si, atenção ao outro, atenção ao outro em mim...
Quantos "sinais" estamos "perdendo", por simples e ingênua desatenção!
Quantos significados perdidos! Quantos equívocos poderiam ter sido evitados?
Quantas respostas já não estão aí, a nossa frente, mas não reparamos nelas, atordoados que estamos pelos nossos próprios pensamentos e emoções confusas...
silvio mmax.
by flaviosiqueira
Gosto
de uma cena narrada por Saint Exupéry em Terra dos homens. Ele conta
que logo pela manhã estava diante do espelho rachado, toalha no pescoço,
fazendo a barba enquanto se preparava para decolar. Ele ouve um leve
ruído. Um pequeno inseto bate em sua lanterna e então acontece o
milagre: "Sem que eu saiba por quê" - ele diz, "esse pequeno inseto
parece dar uma picada em meu coração."
Pouco
depois uma borboleta verde. Alguns segundos e dois outros insetos
parecem querer dizer alguma coisa. Inquieto o piloto/escritor para o que
está fazendo e vai observar o tempo com mais cuidado. Apesar da
sutileza os sinais ocupam seus lugares: o vento, a poeira, a
temperatura, os insetos... Todos dizendo a mesma coisa: Uma tempestade
de areia se aproxima.
Sempre
que leio essa passagem fico pensando nas borboletas que não vi. Nos
sinais do dia a dia, tão cotidianos para merecerem minha atenção, sempre
na expectativa de algo grandioso, de trombetas, pirotecnias,
espetáculos que supram a necessidade de respostas.
É
essa expectativa que nos torna tão expostos aos "vendedores de
facilidades", tão cegos para os movimentos sutis, constantes, presentes
da vida. Corremos atrás de muito barulho, de complexidades que nos
frustarão, promoverão distrações e nada mais.
Você
não precisa ser "merecedor" de respostas. Elas já estão espalhadas pelo
caminho. Tudo o que precisa é aquietar-se e deixar que a "picada em seu
coração" lhe mova o rosto para o que os insetos querem dizer. Tudo
fala. Eu que não ouço.
Saint
Exupéry termina dizendo "O que me enche de alegria bárbara é haver
compreendido por um leve sinal uma linguagem secreta, é haver farejado a
tempestade como um primitivo, em que todo o futuro se anuncia por leves
rumores. É ter lido a cólera do deserto no fremir das asas de uma
lavadeira."
Os insetos. As sutilezas. Os milagres. A vida. Só os simples percebem.
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