Nós somos profundamente
enganados por nós mesmos. Nós acreditamos na nossa identidade, no nosso corpo e
nossa mente como separados de todo o resto. Nós não conseguimos perceber que a
vida é só uma e que somos manifestações da vida. Nós não percebemos que nós e
todos os seres pertencemos à mesma vida, que nós e a humanidade somos um (...).
Acreditamos no nosso “eu”
E esse “eu” nasce e morre. Mas a
vida não nasce e morre. Nossa visão é muito pequena e, porque estamos
mergulhados nessa minúscula percepção individual, temos medo da morte, temos
medo do sofrimento, não conseguimos viver plenamente porque não sabemos morrer para nós mesmos. Esse
ensinamento não é exclusivo do Budismo, ele está escondido em vários outros
lugares.
Posso citar aqui várias passagens
dos evangelhos cristãos com o mesmo ensinamento. Paulo diz “Não sou mais eu quem vive, mas Cristo que vive em mim”. São João
da Cruz diz “Eu morro porque não morro”,
o que significa, “Eu estou morto porque
não morro para mim mesmo; como não sei morrer para mim mesmo, eu morro”.
Se nós ao menos conseguíssemos
morrer para nós mesmos, poderíamos subitamente enxergar nossa própria
eternidade e grandeza. Aqueles que conseguem libertar-se do seu eu, do seu ego,
tornam-se completamente diferentes, porque os sofrimentos não podem mais
alcançá-los da mesma forma, porque as angústias não têm mais o significado que
tinham, porque as perdas são só ondas na superfície do mar.
O mar é belo, as ondas surgem e
desaparecem. Nós, quando olhamos o mar, o vemos belo, perfeito, lindo e jamais
nos preocupamos com o fato de que as ondas morrem na beira da praia. Quando
olhamos a humanidade, sofremos as suas misérias, mortes e perdas, porque
olhamos sob a perspectiva de um “eu” individual. Mas quando olhamos o mar, não
choramos pelas ondas. Quando olhamos as florestas, não choramos pelas folhas
que caem das árvores. Nós conseguimos ver que é uma floresta. Conseguimos ver
que ela continuamente nasce e morre, e ela é a própria vida se manifestando.
Nós somos isso! a própria vida se
manifestando e porque não enxergamos, estamos perdidos.
Por isso sentamos em zazen, para
nos esquecer de nós mesmos, porque aquele que consegue esquecer-se de si mesmo, pode ser iluminado por todas as coisas.
Autor: Meihō Genshō,
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