Salvar loteamentos, vereadores?
Causou perplexidade a notícia publicada no último dia 6 de maio de 2010, pelo JC, informando pretensão de vereadores bauruenses no sentido de emendar lei municipal visando, segundo eles, “salvarem” loteamentos irregulares dessa cidade.
Segundo
o artigo, um ilustre vereador chega ao cúmulo de afirmar: “Se você
ficar três anos sem limpar um terreno em Bauru ele cresce cerrado”
(sic!).
Ora, qualquer cidadão minimamente informado a respeito do ecossistema do Cerrado ou da questão ambiental de modo geral seria incapaz de pronunciar tamanho absurdo. Gostaria de saber de onde este ilustre senhor tirou tão estapafúrdia declaração.
A
julgar por declarações desse naipe, sou forçado a concluir que nós,
bauruenses, estamos pessimamente representados nessa Câmara. Espero
sinceramente que esta infeliz declaração não reflita a opinião da
maioria dos vereadores.
A
questão ambiental vem ganhando relevância tanto no âmbito público
quanto no privado. Não sem razão, recentemente tivemos a aprovação da
primeira lei específica de proteção ao ecossistema do Cerrado em nosso
país: a mesma lei contra a qual lamentavelmente alguns vereadores se
insurgem agora.
Embora
com secular atraso, veio esta lei para apoiar a todos os agentes
públicos e demais cidadãos que antes não possuíam meios eficazes de
defender o nosso meio ambiente de pessoas interessadas apenas no lucro
fácil e inconsequente.
Agora
somos surpreendidos por alguns que, se dizendo representantes da
comunidade bauruense, escolher atacar frontalmente a lei e o povo que,
antes deveriam defender!
Que lástima, senhores vereadores! Que vergonha para Bauru! Que papelão diante da população atônita e bestificada!
Justamente
os senhores que deveriam promover, por todos os meios, um ambiente de
qualidade para todos! Ouvir de alguém que ocupa um cargo público a frase
transcrita anteriormente é algo grave e sintomático: sinal de
desinformação? Sinal de desrespeito? Ou seria só profunda ignorância?
Ignorância do papel que o Cerrado representa para o equilíbrio do clima e
para a sobrevivência de milhares de espécies vegetais e animais,
inclusive de homens como os senhores, vereadores!
A
falácia no discurso desse tipo é evidente. Já os interesses que geram
os atentados criminosos contra o nosso Cerrado, travestidos de ações
legais, é que ainda não estão evidentes. Seria interessante conhecer as
pessoas responsáveis pelos referidos “loteamentos irregulares”, até
mesmo para saber que compensações ambientais eles pretendem oferecer à
comunidade bauruense.
Defender
o interesse dos moradores desses lotes é algo legítimo. O que não vamos
admitir é que usem o nome do povo enganado como escudo para distorcer a
lei, dando um “jeitinho” para que áreas de preservação permanente sejam
desrespeitadas.
Senhores:
se estavam achando que iam “pisotear” impunemente a Lei de Proteção ao
Cerrado aqui em Bauru, prezo em informá-los que estão redondamente
enganados!
O autor, Silvio Motta Maximino, é professor de filosofia e de antropologia e membro da Associação SOS Cerrado
publicada na Coluna Opinião - Jornal da Cidade, em 12/05/2010.
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