UMA ENTREVISTA COM MESTRE E. TOLLE
(COMO TUDO COMEÇOU)
Jenny Simon – As pessoas ao seu redor devem pensar que você é um
pouco lunático. Em sua experiência interior, você nunca questionou o que
aconteceu?
Eckhart – Não. Era tão claro e não havia nenhuma pergunta
sobre uma realidade que era tão óbvia. Uma vez eu disse que mesmo se tivesse
encontrado o Buda e ele me apontasse “não, não é isso”, eu diria – “que
interessante, mesmo Buda pode estar errado”. Isto não é algo do ego, é só para
deixar claro como essa realidade é tão óbvia que nenhuma questão mental,
nenhuma pergunta adiantaria. Por exemplo, se alguém me desse uma maçã e
dissesse “não, não é uma maçã”, eu diria “não, eu sei que é”.
Jenny Simon – Você aponta que seu estado de consciência implicou numa
redução de 80% na atividade de sua mente pensante. Isso criou alguma espécie de
carência ou algo parecido?
Eckhart- Bem, não tanto para mim, mas para as pessoas ao
meu redor (risos). Isso é certo, pois as pessoas que me conheciam,
especialmente a família, pais, alguns amigos, pensaram que algo errado tinha
acontecido comigo – isto porque por algum tempo, após a mudança, eu prossegui
com as estruturas externas de minha vida. Apenas prosseguia como se nada
houvesse acontecido, porque ainda havia um “momentum” e continuei seguindo-o
durante três ou quatro anos. Então percebi que essas estruturas externas
estavam totalmente fora do alinhamento com meu ser – no mundo acadêmico
totalmente dominado pela mente, o ego dominado completamente. Então aconteceu
um momento em que deixei tudo para trás…
Foi aí que as pessoas pensaram que eu estava realmente louco – abandonado uma promissora carreira acadêmica e indo sentar-me em um banco do parque, sem fazer mais nada. Era bem estranho, porque eu não tinha nenhuma orientação espiritual, ninguém para dizer-me “você não precisa viver no banco do parque, você pode continuar funcionando no mundo”. Eu defini isso por mim mesmo. E isso levou bastante tempo, para que então eu pudesse de novo continuar funcionando no mundo.
Por uns tempos, o estado da presença, do ser, era
tão satisfatório, belo e completo que perdi todo o interesse no futuro… quanto
mais ter ambição ou viver para adquirir isto ou aquilo. Se o momento presente
era tão preenchedor, por que precisaria do futuro? Mas naturalmente, no nível
prático o futuro ainda opera, e saber disso às vezes ajuda. Você precisa tomar
um avião daqui a alguns dias, ou aprender algo que leva certo tempo, aprender
uma língua, ou o que quer que seja.
Mas, eu não mais necessitava do futuro,
internamente, e passaram-se anos antes que eu começasse a ser capaz de lidar
com o mundo novamente, sem necessitar dele – era quase como uma forma de
brincadeira. Iniciar coisas, fazer coisas e, miraculosamente, também um bom
tanto de coisas vinham a mim…
Mesmo enquanto estava sentado no banco do parque,
com quase nada em meu bolso, geralmente no último momento alguma ocorria ou
alguém vinha e novamente eu tinha algo com que viver, por enquanto.
Milagrosamente isso sempre acontecia, e gradualmente, então, eu comecei a
funcionar no mundo de novo.
Devo dizer que duas ou três vezes tentei voltar às
estruturas do mundo, sentia que meu tempo no banco do parque estava terminando,
então me dizia: “Ok, é melhor eu fazer alguma coisa”. Uma vez me candidatei a
um emprego, e isso é bem engraçado, um emprego num banco mercantil na cidade de
Londres (riso).
Durante a entrevista, ouviram-me com interesse, mas
não me deram o lugar. Depois candidatei-me a um emprego acadêmico e houve outra
entrevista, só que devo ter dito algo, embora tenha procurado evitar a
linguagem espiritual, mas… havia seis ou sete professores ao meu redor e ao
final da entrevista um deles me perguntou: o que você realmente quer fazer?
(riso). E na realidade não havia nada que eu realmente quisesse fazer, então
essa foi a minha última entrevista – eu percebi que na realidade não queria
voltar às estruturas do mundo.
Foi então que gradualmente as pessoas vieram e
passaram a me fazer perguntas, começando com situações de ensino informal. Algo
um pouco mais estruturado surgiu e então eu me tornei um professor espiritual
aos olhos do mundo (risada), foi isso que aconteceu. Não ganharia um emprego se
colocasse no meu currículo “não mais preciso pensar”, mas realmente é o que
acontece. O próprio poder de ensinar vem desse estado, da consciência. Não sou
eu, e sempre que começo a falar tenho essa sensação de que não tenho nada,
absolutamente nada, a dizer.
Assim, não é realmente esta pessoa que está fazendo
qualquer coisa. Todo o ensinamento que tem causado um certo impacto no mundo
vem desse estado de não-pensamento, não tem nada a ver com esta pessoa aqui…
(riso)
Jenny Simon – Eu ouvi você várias vezes citar o mestre indiano
Ramana Maharshi. Como se mede o progresso espiritual? É pela ausência do pensamento?
Você acredita nisso realmente?
Eckhart – Sim, sim. No grau da ausência de pensamento, sim,
está certo. É simples, muito simples. A mente pode dizer: “OK” – mas isto
significa que não fiz nenhum progresso, porque estou pensando o tempo todo.
Talvez você não saiba que já há ausência de pensamento em si, talvez algum
breve momento, mas não importa… Você respondeu à beleza? Deve haver ausência de
pensamento em você, porque de outra forma não veria a beleza. Esse momento é
ausência de pensamento. Pode haver muitos momentos de ausência de pensamento –
de repente você percebe: “Gente, há ocasiões em que o pensamento está ausente”.
Ou você pode exclamar: “Oh! Eu não estou pensando!” (riso). E você já está
pensando de novo. Algumas vezes você sabe que não está pensando e ainda não
está pensando (riso). Mas é bom não tentar provocar esse estado, porque poderia
ser um esforço muito grande.
A forma mais rápida de tornar-se livre de
pensamento é ainda render-se ao momento, aceitar este momento como ele é,
porque se você observa o processo de pensar compulsivo, descobre que sempre
está associado à não-aceitação. A não-aceitação é a característica essencial do
estado egóico criado na mente – a não-aceitação do agora. E toda a compulsão
realmente é uma fuga, é o negar da beleza e da vida do agora.
Quando você vê a verdade disso, pode aceitar este
momento como ele é. É um estado de grande força – não de fraqueza, como a mente
pode dizer-lhe, exceto que há um efeito colateral dessa aceitação: a mente
deixada de fora. Porque quando você não está lutando com o que é, a compulsão
para pensar cessa. Isso é algo que requer continuidade da prática
espiritual.
Muitas vezes você não aceita o que é e então
percebe que está novamente negando o agora. E essa percepção está certa, quando
você vê a não-aceitação, já está livre dela. Quando você não vê a
não-aceitação, então fica novamente preso em todo o ruído mental, porque não
está aceitando o que é.
Assim, a mais poderosa prática espiritual é aceitar
este momento como ele é. Aceitação descomprometida deste momento como ele é. É
por isso que grandes mestres às vezes parecem tão aterradores, embora sejam
gentis internamente, na realidade. Olhando velhos retratos ou fotos de grandes
mestres, seus olhos são tão aterradores.
Sim, descompromissado agora, sim, não movendo,
estando aberto. E este estado é tanto gentil quanto aterrador, ambos ao mesmo
tempo. Então essa é a prática espiritual mais poderosa e é realmente a única
prática espiritual que não lhe dá tempo (riso). Há tantas práticas espirituais
que lhe concedem tempo para tornar-se um bom adepto, praticar mais e mais,
gradualmente. Mas aceitar este momento como ele é, você só pode fazê-lo agora.
Jenny Simon – Frequentemente temos ouvido você falar sobre a nova
consciência que está emergindo e como esse estado está disponível cada vez para
um número maior de pessoas. Mas, honestamente, não estou convencida de que isso
não seja uma projeção de sua experiência. Não tenho dúvida de que você
floresceu como ser humano, mas não vejo evidência, ao meu redor, de que muitas
pessoas passarão por isso. Pergunto: você tem alguma premonição de que isso vai
acontecer em 5, 10, mil anos? Como isso realmente transformará o mundo?
Eckhart – Certo. Admito que pareço estar no epicentro da
onda de transformação porque isso é o que eu faço e as pessoas chegam para
estar em contato comigo. Todos que encontro estão sofrendo transformações e às
vezes, quando ligo a televisão, sou repentinamente lembrado – “Oh! Não está
acontecendo com todo mundo”.
Por causa de minha posição peculiar, admito que
certas vezes parece, para mim, que o mundo inteiro está se transformando. Ao
mesmo tempo, recebo mesmo imensa massa de correspondência de pessoas que estão
relatando mudanças na consciência e enorme diminuição do sofrimento, etc. Isso
eu vejo em toda parte; porém não, não tenho uma escala do tempo, tudo que eu
sei é que há uma aceleração de algo.
Também sinto que o planeta provavelmente não
sobreviverá outros cem anos se a velha consciência predominar por muito tempo
no planeta, com tudo que isso significa. É impossível que a natureza do planeta
possa suportar isso. Assim, pela primeira vez na história humana essa
transformação tornou-se uma necessidade, até mesmo para a sobrevivência da
espécie. E talvez seja somente assim, em qualquer evolução e transformação,
talvez seja apenas quando a espécie alcança um ponto crítico em que a
sobrevivência fica ameaçada se ela continuar sem transformar-se – aí então essa
transformação acontece em nível coletivo.
Eu acredito – e posso dizer que é quase um fato –
que se os velhos padrões de fazer as coisas continuarem por mais cem anos, e
naturalmente esses padrões ficarão ainda mais ampliados, os meios de destruição
serão maiores e o planeta não será mais capaz de sustentar a vida humana por
mais cem anos.
Assim, pela primeira vez na história humana
chegamos a um ponto em que a transformação da consciência não é mais um luxo.
Talvez tenha havido no tempo de Buda os primeiros florescimentos, também no
tempo de Jesus, já apontando para algo novo, uma maneira de ver o que estava
acontecendo.
Os primeiros sinais disso e depois algumas flores
aqui e ali, mas nunca tinha sido uma necessidade para a sobrevivência do
planeta e o fim da loucura humana. Mas depois veio a tecnologia, veio a ciência
– sim, também manifestações de grande inteligência –, e ainda assim ampliaram a
loucura em larga escala.
Antes as pessoas tinham sorte se conseguiam matar
uns poucos, agora podem matar centenas, milhões com um só aparelho (riso). Não
há mudanças, simplesmente amplia-se o efeito da inconsciência. E é uma boa
coisa, porque vemos mais claramente que nunca. É chocante para as pessoas que a
primeira guerra criou armas poderosas de destruição, provindas da tecnologia, e
aí pensamos: o que foi que fizemos? Milhões e milhões de jovens morrendo nas
trincheiras inutilmente – Oh, meu Deus – foi uma abertura da visão da loucura,
lá no começo do século XX.
Mas agora sabemos também o que aconteceu no
restante do século.Está em seu rosto agora, é tão óbvio. Eu sei que o trabalho
que faço, qualquer que seja, é uma manifestação da nova consciência e há muitas
pessoas atravessando isso. Para salvar o planeta? Eu não sei, talvez não.
Jenny Simon – Então, pode-se dizer que você é uma espécie de
necessidade da evolução, de certa forma?
Eckhart – Sim, na realidade é isto que está acontecendo. É
quase como se a espécie estivesse se tornando algo novo, uma nova espécie está
evoluindo da velha. E, novamente, não é algo do ego, dizendo eu sou da nova
espécie, e você não (riso). Mas sim, é bem como se uma nova espécie estivesse
chegando, e está chegando porque a velha espécie não é mais capaz de
sobreviver, a menos que mude (riso).
Jenny Simon – E você pode descrever a nova espécie, quais seriam
suas características?
Eckhart – A nova espécie não necessita de inimigos, drama ou
conflito para dar-lhe um sentido de identidade e assim, torna-se livre, em
grande escala, do conflito e do sofrimento causado pelo homem, que é uma
característica da velha consciência. Buda teve uma bela perspectiva disso,
quando disse, para descrever o estado de consciência da liberação, que ela é
livre do sofrimento – você não sofre mais.
Pode ainda haver dor, porque enquanto houver corpo
físico haverá dor, você pode ter uma dor de dente. Mas o sofrimento psicológico
é causado pela entidade do eu na cabeça. Você não mais causará sofrimento para
si próprio através das estruturas do pensamento. E quando você não mais causa
sofrimento para si, não mais causa sofrimento para outros. A interação entre
seres humanos não será mais coberta pelo medo, como é agora – o medo e o
desejo, dois movimentos de estado inconsciente.
A interação humana será caracterizada pelo amor e
compaixão. E o amor não será do tipo “preciso de você, não ouse abandonar-me,
porque eu não sei o que vou fazer se você me deixar”, o amor da chamada velha
consciência. Amor é simplesmente reconhecer o outro como sendo você próprio, o
reconhecimento da unidade é amor. E todas as interações, quando se reconhece o outro
como você próprio, não mais acontecem através da formação de uma imagem, uma
identidade da forma, de quem aquela pessoa é. E porque você vai além da
identificação da forma em si própria, não mais constrói pequenas armadilhas e
pequenos conceitos de outras pessoas… então o amor reina.
Não se pode conceber o que seria o mundo se uma
grande parte da humanidade vivesse nesse novo estado de consciência. Eu não
faço, geralmente, considerações sobre esse fato. Minha suposição sobre isso é
de que não seria possível reconhecer a estrutura da natureza humana. Seria
muito diferente.
Potencialmente este planeta poderia ser o paraíso –
é um paraíso, mas as pessoas se esforçam muito para torná-lo um inferno,
contudo ainda é um belo paraíso. Não estou dizendo que no nível da forma não
haverá limitação, sim, as formas ainda vêm e vão. Mas ainda assim a harmonia é
possível, viver em harmonia com a natureza.
Viver em um estado de amor, amando a essência de
cada forma, pois a vida se manifesta através de milhões de formas de vida.
Amando uma vida da qual milhões de formas são manifestações temporárias,
amando-as como a si próprio, sendo elas – esse é o novo estado de consciência.
fonte:
https://portal2013br.wordpress.com/2015/09/01/os-cientistas-da-nova-era-eckhart-tolle-e-o-poder-do-agora-o-despertar-de-uma-nova-consciencia-decima-primeira-parte/
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