É... o mundo
anda mesmo bem esquisito. A modernidade, mais líquida do que nunca, virou
enchente. E o futuro? Na poesia e fora
dela, “o futuro não é mais como era antigamente”. Trouxemos ele para nossa sala
de estar... menos romântico do que se havia pintado, o futuro presentificado é multifuncional
e mais politicamente correto do que nunca. O cenário é estranho: vemo-nos, por
exemplo, preocupados com uma apocalíptica “reforma” da previdência pública, sem
notar que o avanço exponencial da tecnologia está sutilmente varrendo do mapa a
maioria de nossas profissões tradicionais. Exagero? Difícil de acreditar?
Compare
uma montadora de automóveis, um Banco ou o parque gráfico de um jornal, de
poucas décadas atrás com os dias atuais. Quantos trabalhadores ocupavam essas
oficinas antes e quantos ocupam agora? Poucos robôs computadorizados onde antes
havia milhares de pais e mães sustentando suas famílias. Pesquisadores da
Singularity University estimam que entre 70 a 80% dos empregos desaparecerão
nos próximos 20 anos. Haverá sim novos empregos, mas haverá vagas diante dos
atuais níveis de crescimento demográfico?
Hoje nos Estados Unidos, advogados jovens já não
conseguem empregos. Com softwares avançados, qualquer um obtém aconselhamento
legal (por enquanto, em assuntos mais ou menos básicos) em segundos, com 90% de
exatidão se comparado com os 70% de exatidão, quando feito por humanos. Por
isso, calcula-se haverá 90% menos advogados no futuro e apenas os especialistas
sobreviverão. Na área da medicina não será muito diferente. Hoje, já há
programas que conseguem diagnosticar até o câncer, com quatro vezes mais
precisão do que os próprios humanos faziam. Futurólogos nos avisam que a mesma indústria
automobilística que hoje descarta humanos e adota robôs, começará a ser “desmontada”
em poucos anos porque as pessoas em geral não desejarão mais possuir um
automóvel em seu nome. Assim, com a diminuição drástica do número de acidentes,
o modelo atual de negócio de seguros de automóveis tenderá a desaparecer. Carros
elétricos se tornarão dominantes, a eletricidade a partir da energia solar se
tornará barata, enquanto a água potável, hoje barata, será rara e caríssima.
Fácil
perceber que atravessamos
coletivamente uma fase de transformação intensa. O padrão segue mudando e o futuro, cada vez menos previsível. Estamos a um passo de uma crise sem precedentes de
desemprego, superpopulação e tensão social. Especialistas sentenciam que tanto
o tecido social, quanto os ciclos de produção e consumo estão perigosamente se
reorganizando. Importantes instituições
hierárquicas (Igrejas, Família, Escola, Polícias,
mega-empresas e o próprio Estado) têm visto seu poder de concentrar recursos e
disciplinar as vidas das pessoas diminuindo em ritmo acelerado. Foucault nos diria
que esse poder fragmentou-se e que agora circula nos indivíduos. A rede mundial
de computadores e o desenvolvimento de tecnologias disruptivas parecem nos empoderar
enquanto cidadãos, já que passamos a nos organizar cada vez mais em redes colaborativas horizontais.
E
anote aí: as soluções mais urgentes certamente surgirão dessas redes. Mas a
questão mais profunda talvez seja: estamos realmente nos apropriando de
nossas vidas, de nossos corpos e almas? Ou seguimos escravos em celas
invisíveis? O poeta acertou ao reclamar que nos coisificamos, que estamos mais
para “objeto que se oferece como signo”? De “ser
pensante, sentinte e solidário” para coisa, não foi um bom negócio. Ou percebemos que
mudanças precisamos fazer, diariamente, ou estaremos na próxima lista atualizada
de animais extintos. Agora que crescemos, o que seremos?
qual a ideia central ?
ResponderExcluiro mundo está mudando muito depressa...
Excluiros paradigmas estão derretendo...
quanto antes aprendermos a conquistar nossa autonomia enquanto seres humanos, melhor prá nós...