Afinal, onde queremos chegar?
O ano 2013 ficará irremediavelmente
marcado na nossa memória, por inúmeras conquistas e derrotas, no aspecto
sociológico e político. Nosso país
entrou orgulhosamente no circuito internacional das grandes mobilizações e protestos
massivos. Ao lado da mobilização das
ruas, destacamos a atuação perene e menos difusa das redes de cidadãos que,
organizados em ONGs, também contribuíram para barrar retrocessos como a PEC 37,
para ampliar a aplicabilidade da Ficha Limpa em todos os níveis da gestão
pública, para fulminar o vergonhoso voto secreto parlamentar, bem como para dar
um empurrãozinho na aprovação da importante Lei nº 12.846, que dispõe sobre a
responsabilização administrativa e civil de empresas pela prática de atos
contra a administração pública. Referida lei será sim muito útil para inibir a
prática da corrupção com os contratos de obras e serviços públicos.
Questões como a Reforma
Política, a busca por eleições mais limpas, as distorções de representação
política do atual sistema eleitoral brasileiro, além da vil questão da permissão
para que empresas financiem campanhas eleitorais, para posteriormente serem
beneficiadas com contratos junto à Administração Pública, também entraram na
pauta, mas avançaram menos do que esperávamos. Ao lado de tudo isto, tivemos o
fato inédito de políticos do alto escalão e importantes empresários terem sido condenados
por corrupção, inclusive muitos com penas de prisão em regime fechado. Por mais
que estejamos frustrados com a timidez dos avanços, certamente abriu-se um
precedente para outros casos que também precisam de urgente apuração, mas que
jaziam no limbo tenebroso da prática político-partidária brasileira.
Paradoxalmente, o Índice de
Percepção da Corrupção da Transparência Internacional mostra que a corrupção no
Brasil continua alarmante, o que nos leva a concluir que muito ainda há para
ser feito. O brasileiro em geral se tornou mais consciente de que em ambiente
de corrupção dificilmente prosperam projetos de desenvolvimento econômico e
social. O combate à corrupção aumentou, mas a corrupção (ou a percepção dela)
também parece ter aumentado.
Como resolver o aparente
paradoxo? Podemos efetivamente construir uma sociedade mais justa? Ou tudo não
passa de utopia e engodo ideológico? Temos evidenciado que a simples percepção consciente
do mal, juntamente com os duros golpes que desferimos contra ele, não o eliminam.
Assim, não deveríamos focar somente no combate aos corruptos e corruptores,
pois há uma lei condicionando nesse momento a psicologia e a sociologia humanas:
tudo no que nos concentramos e simploriamente combatemos, acaba se fortalecendo.
Tudo que se tenta simploriamente reprimir, só faz aumentar sua resistência, tal
como um antibiótico mal administrado fortalece ainda mais o micróbio que se queria
eliminar.
Por isso, ao invés de
simplesmente criticar e combater o mal, mudemos nosso foco! Valorizemos as
pessoas que respeitam o próximo, que pagam seus impostos honestamente, que
respeitam a sinalização, que pautam suas vidas em atitudes éticas. Notemos a
influência do nosso comportamento na vida social e percebamos que, a partir de
pequenas atitudes, vai se formando aquela cultura das boas práticas de conduta,
que por sua vez, em efeito cascata, contribuirão para que as relações pessoais,
comerciais e de governo sejam construídas sobre as novas bases da honestidade e
da integridade.
Por fim, precisamos, cada um
de nós, despertar nas pessoas que nos cercam, não fatalismos e derrotismos, mas
aquele senso de brasilidade que vai além da torcida pela seleção em dia de jogo,
que vai além do patriotismo tolo e etnocêntrico. Precisamos despertar a
consciência cidadã, resgatando valores e atitudes que compõem o senso coletivo
de moralidade, civismo e cidadania. Precisamos vigiar a sombra que nos espreita
a partir de nós mesmos, mas nosso foco principal não deve ser o mal que enxergamos
tão bem no mundo fora de nós. Nossa atenção deve se voltar para aquelas atitudes
que gostaríamos de ver generalizadas na prática social e política. Somos sim
capazes de mudar o mundo a nossa volta. Mas não adianta espernear: o mundo só
muda se mudamos primeiro a nós mesmos.
Silvio MMax.
publicado no Jornal da Cidade (Bauru) em 06/01/2014
disponível em: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=232327
disponível em: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=232327
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