segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

onde queremos chegar?



Afinal, onde queremos chegar?



O ano 2013 ficará irremediavelmente marcado na nossa memória, por inúmeras conquistas e derrotas, no aspecto sociológico e político.  Nosso país entrou orgulhosamente no circuito internacional das grandes mobilizações e protestos massivos.  Ao lado da mobilização das ruas, destacamos a atuação perene e menos difusa das redes de cidadãos que, organizados em ONGs, também contribuíram para barrar retrocessos como a PEC 37, para ampliar a aplicabilidade da Ficha Limpa em todos os níveis da gestão pública, para fulminar o vergonhoso voto secreto parlamentar, bem como para dar um empurrãozinho na aprovação da importante Lei nº 12.846, que dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de empresas pela prática de atos contra a administração pública. Referida lei será sim muito útil para inibir a prática da corrupção com os contratos de obras e serviços públicos.

Questões como a Reforma Política, a busca por eleições mais limpas, as distorções de representação política do atual sistema eleitoral brasileiro, além da vil questão da permissão para que empresas financiem campanhas eleitorais, para posteriormente serem beneficiadas com contratos junto à Administração Pública, também entraram na pauta, mas avançaram menos do que esperávamos. Ao lado de tudo isto, tivemos o fato inédito de políticos do alto escalão e importantes empresários terem sido condenados por corrupção, inclusive muitos com penas de prisão em regime fechado. Por mais que estejamos frustrados com a timidez dos avanços, certamente abriu-se um precedente para outros casos que também precisam de urgente apuração, mas que jaziam no limbo tenebroso da prática político-partidária brasileira.

Paradoxalmente, o Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional mostra que a corrupção no Brasil continua alarmante, o que nos leva a concluir que muito ainda há para ser feito. O brasileiro em geral se tornou mais consciente de que em ambiente de corrupção dificilmente prosperam projetos de desenvolvimento econômico e social. O combate à corrupção aumentou, mas a corrupção (ou a percepção dela) também parece ter aumentado.

Como resolver o aparente paradoxo? Podemos efetivamente construir uma sociedade mais justa? Ou tudo não passa de utopia e engodo ideológico? Temos evidenciado que a simples percepção consciente do mal, juntamente com os duros golpes que desferimos contra ele, não o eliminam. Assim, não deveríamos focar somente no combate aos corruptos e corruptores, pois há uma lei condicionando nesse momento a psicologia e a sociologia humanas: tudo no que nos concentramos e simploriamente combatemos, acaba se fortalecendo. Tudo que se tenta simploriamente reprimir, só faz aumentar sua resistência, tal como um antibiótico mal administrado fortalece ainda mais o micróbio que se queria eliminar.

Por isso, ao invés de simplesmente criticar e combater o mal, mudemos nosso foco! Valorizemos as pessoas que respeitam o próximo, que pagam seus impostos honestamente, que respeitam a sinalização, que pautam suas vidas em atitudes éticas. Notemos a influência do nosso comportamento na vida social e percebamos que, a partir de pequenas atitudes, vai se formando aquela cultura das boas práticas de conduta, que por sua vez, em efeito cascata, contribuirão para que as relações pessoais, comerciais e de governo sejam construídas sobre as novas bases da honestidade e da integridade.

Por fim, precisamos, cada um de nós, despertar nas pessoas que nos cercam, não fatalismos e derrotismos, mas aquele senso de brasilidade que vai além da torcida pela seleção em dia de jogo, que vai além do patriotismo tolo e etnocêntrico. Precisamos despertar a consciência cidadã, resgatando valores e atitudes que compõem o senso coletivo de moralidade, civismo e cidadania. Precisamos vigiar a sombra que nos espreita a partir de nós mesmos, mas nosso foco principal não deve ser o mal que enxergamos tão bem no mundo fora de nós. Nossa atenção deve se voltar para aquelas atitudes que gostaríamos de ver generalizadas na prática social e política. Somos sim capazes de mudar o mundo a nossa volta. Mas não adianta espernear: o mundo só muda se mudamos primeiro a nós mesmos.



Silvio MMax.



publicado no Jornal da Cidade (Bauru) em 06/01/2014
disponível em: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=232327

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