Gostaria que
atentasse para o teor da entrevista reproduzida logo
abaixo, feita com uma das principais representantes do movimento indígena no Brasil na
atualidade.
Note que os mesmos problemas
enfrentados por essas minorias étnicas no passado, continuam sendo enfrentados
na atualidade, com poucas variações... são praticamente os mesmos dos séculos
passados...
Quando se trata da
questão indígena, pouca coisa muda, algumas coisas melhoram e outras pioram.
Para quem estuda a
fundo o assunto, qual seria o problema principal que atinge essas etnias hoje?
Qual era o problema
principal no passado, desde a desastrosa chegada do europeu por aqui?
Podemos identificar
uma constante perpassando o tempo e o espaço desde que o Brasil nasceu em
"berço esplêndido"?
É possível afirmar
que este problema citado acaba sendo o principal catalisador ou desencadeador
de inúmeros processos de ódio e preconceito contra as distintas culturas
autóctones espalhadas por todo o mundo?
E por que morrem
tantos indígenas ainda hoje no Brasil, apesar dos discursos politicamente
corretos das autoridades políticas desse país?
O problema do
racismo aumentou, conforme crê a entrevistada? Ou o preconceito racial antes já
existente apenas se tornou mais evidente (na proporção em que foram se
intensificando os conflitos fundiários)?
O que gera os
preconceitos das populações urbanas e rurais em relação ao indígena? Seriam os
mesmos fatores em ambos os casos?
A imagem “romantizada”
que criamos do indígena, nos permite idealizá-lo... uma fantasia sobre
“quem é o indígena” é alimentada em nossas cabeças, por diversas
fontes...
em geral, pensamos o
indígena com um ser culturalmente “congelado no tempo e no espaço” e queremos a
todo custo, que ele “se encaixe”, que se amolde ao modelo fantasioso criado em
nossa mente devidamente doutrinada pela ideologia dominante... e o pior! Nem
notamos isso!
Os estereótipos
(alguns positivos e outros negativos) continuam povoando o imaginário das
massas e até da classe média pseudo-esclarecida (que se deleita lendo certas
revistas semanais). Nem de longe imaginam o lixo que “engolem” a cada edição da
revista ou do desinformativo telejornal.
Populações inteiras,
alimentadas por essa classe de mídia, não respeitam e nem sequer fazem ideia do
que é ser indígena no Brasil. Não sabem e nem querem saber da dívida social que
se acumula desde os últimos séculos nesse país.
A mídia de massa
cumpre seu papel: deliberadamente atinge seus inconfessáveis propósitos.
Que pena se pode
sentir de um povo que não se reconhece quando se olha no espelho!
Reflita sobre
isso... e leia abaixo a reportagem produzida pelo canal BBC Brasil
Silvio M. Maximino.
Gostaria que
atentasse para o teor da entrevista reproduzida logo
abaixo, feita com uma das principais representantes do movimento indígena no Brasil na
atualidade.
Note que os mesmos problemas
enfrentados por essas minorias étnicas no passado, continuam sendo enfrentados
na atualidade, com poucas variações... são praticamente os mesmos dos séculos
passados...
Quando se trata da
questão indígena, pouca coisa muda, algumas coisas melhoram e outras pioram.
Para quem estuda a
fundo o assunto, qual seria o problema principal que atinge essas etnias hoje?
Qual era o problema
principal no passado, desde a desastrosa chegada do europeu por aqui?
Podemos identificar
uma constante perpassando o tempo e o espaço desde que o Brasil nasceu em
"berço esplêndido"?
É possível afirmar
que este problema citado acaba sendo o principal catalisador ou desencadeador
de inúmeros processos de ódio e preconceito contra as distintas culturas
autóctones espalhadas por todo o mundo?
E por que morrem
tantos indígenas ainda hoje no Brasil, apesar dos discursos politicamente
corretos das autoridades políticas desse país?
O problema do
racismo aumentou, conforme crê a entrevistada? Ou o preconceito racial antes já
existente apenas se tornou mais evidente (na proporção em que foram se
intensificando os conflitos fundiários)?
O que gera os
preconceitos das populações urbanas e rurais em relação ao indígena? Seriam os
mesmos fatores em ambos os casos?
A imagem “romantizada”
que criamos do indígena, nos permite idealizá-lo... uma fantasia sobre
“quem é o indígena” é alimentada em nossas cabeças, por diversas
fontes...
em geral, pensamos o
indígena com um ser culturalmente “congelado no tempo e no espaço” e queremos a
todo custo, que ele “se encaixe”, que se amolde ao modelo fantasioso criado em
nossa mente devidamente doutrinada pela ideologia dominante... e o pior! Nem
notamos isso!
Os estereótipos
(alguns positivos e outros negativos) continuam povoando o imaginário das
massas e até da classe média pseudo-esclarecida (que se deleita lendo certas
revistas semanais). Nem de longe imaginam o lixo que “engolem” a cada edição da
revista ou do desinformativo telejornal.
Populações inteiras,
alimentadas por essa classe de mídia, não respeitam e nem sequer fazem ideia do
que é ser indígena no Brasil. Não sabem e nem querem saber da dívida social que
se acumula desde os últimos séculos nesse país.
A mídia de massa
cumpre seu papel: deliberadamente atinge seus inconfessáveis propósitos.
Que pena se pode
sentir de um povo que não se reconhece quando se olha no espelho!
Reflita sobre
isso... e leia abaixo a reportagem produzida pelo canal BBC Brasil
Dilma acha que precisamos consumir e ter chuveiro quente", diz líder indígena
09/06/2014 - BBC Brasil
Para Sonia Guajajara,
Dilma ignora as aspirações dos índios brasileiros
A escalada de conflitos que envolvem
índios no país desnudou o racismo dos brasileiros contra seus povos nativos,
diz Sônia Guajajara, uma das maiores líderes do movimento indígena nacional. "Até
uns dez anos atrás, negavam nossa presença, faziam de conta que não existíamos.
O racismo estava escondido", afirma Guajajara, coordenadora executiva da
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). "Hoje o preconceito é
muito mais visível e declarado".
Em
entrevista à BBC Brasil no fim de maio, quando esteve em Brasília ao lado de
outros 500 índios para protestar, ela atribui o acirramento das tensões no
campo à suspensão das demarcações de Terras Indígenas pelo governo federal.
Segundo
a líder, integrante do povo guajajara, do Maranhão, o governo paralisou as
demarcações para não desagradar políticos ligados ao agronegócio e buscar o
apoio deles à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Guajajara,
de 40 anos, diz ainda que Dilma desconhece os índios brasileiros e ignora suas
aspirações. "Ela pensa que, para ficarmos bem, precisamos ter bens,
chuveiro quente, casa de alvenaria". "Nossa lógica e nosso modo de
vida são outros: qualidade de vida para nós é liberdade, e liberdade é ter
nossos territórios livres de ameaças e invasões para produzir sem destruir,
como fazemos milenarmente."
Procurados,
o Ministério da Justiça e a Presidência não se pronunciaram sobre as críticas
de Guajajara. Leia os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - A relação dos índios com o governo federal piorou?
Sonia Guajajara - Piorou
bastante, e o desgaste tem ocorrido por conta da omissão do ministro da Justiça
[José Eduardo Cardozo] em relação à questão de demarcação de terras. Os
conflitos no campo se acirraram, e ele simplesmente suspendeu todos os
processos de demarcação em curso.
A
Dilma demarcou apenas dez terras em quatro anos de mandato, o pior resultado
para um governo desde que nossas terras começaram a ser demarcadas. Há 12
processos de demarcação na mesa do ministro Cardozo que dependem somente da
assinatura dele. Esses processos já estão concluídos e não envolvem conflito
nenhum. Mesmo assim, ele não assina. Eles não querem perder o apoio da bancada
ruralista para a eleição da Dilma.
BBC Brasil - O ministro diz que os processos foram paralisados
para evitar conflitos e que as soluções devem ser negociadas.
Guajajara - Todas as medidas do governo para tentar
resolver agravaram os conflitos. Quando em 2012 saiu a portaria 303 da
Advocacia Geral da União [que define a posição do órgão federal quanto à
demarcação de terras e, entre outros pontos polêmicos, admite obras nessas
áreas se houver "relevante interesse público da União"], grandes
fazendeiros voltaram a áreas que haviam sido retomadas por indígenas, e só na
Bahia índios instalaram 64 acampamentos de retomada de terra.
Temos
a sensação de que as mesas de diálogo não são para resolver. Como se pode fazer
diálogo se apenas uma das partes tem de ceder sempre? Não são mesas de diálogo,
mas de imposição.
BBC Brasil - O governo e associações rurais dizem que várias das
terras reclamadas pelos índios hoje não são ocupadas por grandes fazendeiros,
mas sim por pequenos agricultores, que têm os títulos dessas áreas.
Guajajara - Nosso problema não é com o pequeno
agricultor. Em quase todas as áreas a serem livradas de intrusos ou devolvidas
a indígenas, os pequenos agricultores aceitam sair se receberem indenização.
Quem está lutando contra isso e pressionando são os grandes. E o governo não
está a fim de pagar, por isso fica se escondendo atrás desse argumento falso.
BBC Brasil - O clima ruim com o governo se deve somente à atuação
do ministro da Justiça?
Guajajara - O ministro da Justiça obedece ordens
superiores. A Dilma não está nem aí para nós. Para ela, nem existe índio no
Brasil. O interesse dela é o avanço da economia e o desenvolvimento, não
importa quem estiver no meio.
Durante
todo o governo fomos recebidos uma só vez por ela, em junho de 2013, durante as
manifestações. Foi até muito simpática, prometeu que nenhum ato de governo
seria implantado em Terras Indígenas sem nos ouvir.
Mas
o que vemos é o avanço das hidrelétricas e as obras do PAC ocorrendo sem
qualquer consulta. Na região do Tapajós [no Pará], quando os munduruku
resistiram à construção das hidrelétricas que estão planejadas lá, a presidente
publicou o decreto 7957 [que regulamenta o emprego de forças federais em
conflitos ambientais]. O decreto permite a entrada da Força Nacional nas Terras
Indígenas para facilitar estudos ambientais, mas a presença dela acaba inibindo
manifestações.
BBC Brasil - Há espaço para os índios no modelo de desenvolvimento
pregado pelo governo?
Guajajara - A Dilma acha que temos que comprar,
consumir e fazer cooperativas para ter dinheiro. Ela pensa que, para ficarmos
bem, ter qualidade de vida, precisamos ter bens, chuveiro quente, casa de
alvenaria.
Nas
grandes obras, às vezes oferecem às comunidades algum dinheiro, achando que vão
resolver os problemas. Mas para o indígena o dinheiro acaba sendo um ponto de
conflito, porque não temos o costume de lidar com ele. Não temos essa coisa de
acumular riquezas.
Nossa
lógica e nosso modo de vida são outros. O que a maioria dos indígenas nas
aldeias quer é tranquilidade. Qualidade de vida para nós é liberdade, e
liberdade é ter nossos territórios livres de ameaças e invasões para produzir
sem destruir, como fazemos milenarmente.
BBC Brasil - Quem o movimento indígena vai apoiar nas eleições?
Guajajara - Estamos numa sinuca de bico. O governo
Dilma foi muito ruim para nós, e não há nada que possa mudar nossa revolta, inclusive
contra o PT. Mas outro governo de direita do PSDB seria muito ruim também. O
Eduardo Campos, apesar de aliado com a Marina Silva, não sabe nem o que são
povos indígenas. A Marina acabou se enrolando bastante. É um cenário político
muito ruim, que não apresenta nenhuma perspectiva para nós.
BBC Brasil - Quais os temas mais urgentes para os índios hoje?
Guajajara - Tudo é relacionado à terra. Na
Amazônia, a demarcação avançou bastante, mesmo assim praticamente todas as
Terras Indígenas sofrem a exploração ilegal de recursos naturais.
Em
outras áreas os índios ficaram quase sem terra nenhuma. Em Mato Grosso do Sul,
a questão é mais urgente por conta da violência. Os pistoleiros entram nas
aldeias, e morre gente todo dia. Em São Paulo, tem uma área, a Terra Indígena
Jaraguá, em que 600 índios vivem em pouco mais de um hectare!
No
Sul, os indígenas também estão sem terras e há mais de 60 acampamentos à beira
da estrada. Quando eles resolvem fazer retomada e lutar pelo direito
territorial, são presos.
E
tem a situação no Nordeste, onde, além da criminalização e falta de terras, os
indígenas têm que lutar pelo seu reconhecimento enquanto etnias, enquanto
povos. Lá se acirrou muito o preconceito dos que acham que não é índio quem não
tem as características físicas associadas aos indígenas. Sabemos que a
violência do processo de colonização, que teve abusos de todos os tipos,
inclusive sexual, mudou muito as características desses povos. É uma situação
que demonstra o preconceito no Brasil contra os indígenas.
BBC Brasil - O preconceito tem aumentado?
Guajajara - Ao mesmo tempo que aumentou bastante o
número de brasileiros que se autodeclaram indígenas, aumentou muito mais ainda
o preconceito e o racismo. Até uns dez anos atrás, negavam a nossa presença,
faziam de conta que não existíamos. O racismo estava escondido. Hoje o
preconceito é muito mais visível e declarado.
Teve
aquele caso no sul do Amazonas, onde população da cidade de Humaitá se revoltou
com os índios, tacando fogo nas aldeias e nos prédios públicos que cuidam das
questões indígenas [os ataques ocorreram em dezembro de 2013 após a morte de
três moradores que sumiram enquanto cruzavam uma área da etnia tenharim; desde
então, seis índios foram presos e acusados pelas mortes, mas negam o crime].
BBC Brasil - Tem havido no Brasil um forte avanço das políticas
afirmativas, especialmente em favor dos negros, como as cotas em universidades
e em concursos públicos. Os índios, porém, parecem ainda não ter conquistado o
mesmo espaço nessas políticas e nas instituições do Estado. Por quê?
Guajajara - De fato tem avançado bastante a
inserção do negro na universidade, inclusive em ministérios e no Parlamento.
Mas isso não quer dizer que a situação deles melhorou lá na ponta. Veja a
situação dos quilombos. Eles têm as mesmas dificuldades que nós. Temos a
preocupação de não ter representantes só por ter. Queremos indígenas nos
espaços de decisão, mas com autonomia.
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário