Mais uma excelente reflexão de Flávio Siqueira. Texto muito bem redigido, com uma visão original do assunto da semana: a vergonhosa derrota de um time de futebol e a perspectiva que poderíamos ter sobre os fatos.
Minha sugestão de leitura para todos: flaviosiqueira
Abaixo segue a interessante reflexão:
Qual tragédia?
Não
tenho nenhuma pretensão de comentar as razões táticas que influenciaram
a histórica derrota da seleção brasileira para a seleção alemã.
Felizmente não cabe a mim entrar no coro do "eu já sabia", como se
obviedades fossem suficientes para explicar o que houve. Mais do que
posicionamento desse ou daquele, da falta de um ou de outro, da
organização daqui ou de lá, enxergo o fenômeno humano impresso no pranto
de tantos torcedores desolados.
Vingarão
o apoderamento dos cofres da república por quadrilhas com legendas de
partidos políticos, vingarão nossa baixa estima como país de "terceiro
mundo", nossas cidades lotadas, violentas e mal cuidadas, vingarão o
salário que não dura até o fim do mês e, pior, vingará o desconforto
diante da vida que levo, daquilo que sou, ou pelo menos sinto ser.
Repare
que, apesar do fenômeno se expressar em níveis diferentes da
individualidade, há uma projeção coletiva presente na alma de um país
que, perplexo diante da derrota, tem a chance de extrair importantes
aprendizados.
Um
deles é, refeitos do natural desconforto da derrota, definitivamente
entendermos que não é uma seleção nacional de jogadores que constitui
uma nação. Nação é formada por indivíduos conscientes de sua importância
no coletivo e por isso mesmo atentos em como suas ações no dia a dia
refletirão no dia de todos.
Isso
se estende a tudo. Ao voto, as importâncias, a educação, as
prioridades, a honestidade, a falta do tal "jeitinho" , ao senso
coletivo, a prática do cotidiano que fragmenta o amor à nação em cada
pequena atitude, ao invés de descarregar tudo na hora em que o hino
nacional toca no estádio, especialmente porque jamais podemos amar uma
"nação", se esse amor não se projetar em amor aos indivíduos assim como,
jamais amaremos indivíduos, se não aprendermos a nos amar.
No
dia em que aprendermos a nos amar, não será mais necessário
projetar-nos em nada. Seja no futebol, no trabalho, na comida, no
marido, nos filhos, na religiosidade, em nada.
Nesse
dia perderemos a necessidade de nos "vingarmos" e todo sentimento de
euforia, substituído pelo equilíbrio que a pacificação consigo mesmo
traz.
Futebol sempre haverá, vitórias e derrotas também, isso faz parte do jogo.
O
importante é enxergarmos como nossas reações nos revelam e o quanto
cada revelação aponta para algo muito maior do que o esquema tático de
um time, mas aos nossos próprios vazios e necessidades de preenchimento,
nossa busca por identidade, nossa auto afirmação na coletividade,
sintomas de quem ainda não entendeu, mas entenderá, que tudo se
equilibra quando equilibra na gente. Tragédia não é perder por 7 a 1,
isso acontece.
Tragédia
é nos esquecermos que o jogo mais importante não está em nenhum gramado
que não seja nossa própria consciência, e nossa capacidade de nos
enxergarmos com honestidade e coragem. Isso vale qualquer campeonato.
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