Ariane Póvoa
abril/2015
Após mais de 40 anos, índios Yanomami conseguiram que o sangue colhido de seus ancestrais por cientistas norte-americanos, retornasse ao Brasil. As amostras foram colhidas sem autorização no fim da década de 60.
A repatriação aconteceu depois de diversas negociações entre o MPF - Ministério Público Federal - e a Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
Uma cerimônia fúnebre foi realizada na aldeia de Piaú, na região de Tootobi, em Roraima, no começo do mês. Cerca de 2.700 frascos com sangue de índios Yanomami foram derramados e enterrados. Na cultura da etnia, as amostras são restos mortais que precisam seguir rituais para trazer paz e descanso aos ancestrais Yanomamis.
De acordo com o Ministério Público, o material chegou ao Brasil no dia 26 de março. A Sub-Procuradora da República, Deborah Duprat, responsável pela temática indígena no MPF, disse que a repatriação tem valor histórico. Ela afirma que se surpreendeu com a cerimônia:"Eu confesso que nunca vi nada tão tocante. O início da cerimônia, ele foi reservado. Nós não pudemos assistir - os não indígenas - e nós escutávamos ao longe os gritos, os lamentos, os choros, aquele sentimento de dor. Depois, quando nós tivemos acesso, havia uma ritualística ali entre os pajés, que era alguma coisa deles estarem conversando com os mortos, e pedindo autorização para a realização do funeral naquelas circunstâncias".
A advogada do Instituto Socioambiental, Ana Paula Souto Maior, disse que a repatriação destaca a importância da consulta aos povos indígenas sobre questões que os afetem diretamente: "Essa repatriação tem uma força simbólica muito grande, no sentido de trazer para a atualidade a questão da consulta aos povos indígenas, às comunidades indígenas que podem ser afetadas por alguma medida que diga respeito à vida deles. É necessário saber o ato, qual a consequência do ato que está sendo realizado."
A reportagem não conseguiu localizar uma liderança indígena que tenha participado do evento, mas o indígena Ancelmo Yanomami falou da importância da volta do sangue de seus ancestrais: "É um respeito, né, que as autoridades do mundo tiveram com nós, os Yanomami, de devolver esse sangue, que maioria desses pessoas que deram seu sangue - sem saber porquê - já morreram; então pra nós é importante ter devolvido .E isso para nós é um pouco de respeito com os Yanomami."
Os trabalhos para a repatriação começaram em 2002, quando as lideranças Yanomami procuraram o MPF e relataram o caso.
Fonte: Radioagência Nacional/EBC - http://radioagencianacional. ebc.com.br
http://radioagencianacional.
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