Vamos chover no molhado porque parece que o óbvio
está esquecido: escola existe para o desenvolvimento de seus alunos! Sabia
disso? Pois é.
Para o psicólogo da educação, Lev Vygotsky, o
desenvolvimento só se dá após a aprendizagem, por isso, se as escolas não
fizerem seus alunos aprender alguma coisa, coisa alguma será desenvolvida
neles. Ponto.
Sobre esse tema, duas professoras dialogavam esses
dias dentro de uma escola: “Vygotsky era russo, por isso suas ideias não dão
certo no Brasil!”, disse uma. A outra completou: “É, e ele é de 1896 a 1934,
por isso não dá certo na atualidade!”. Parece piada, mas não é.
O velho e russo professor Vygotsky era
interacionista, ou seja, defendia a inevitável troca que se dá entre o aluno e
o meio em que vive. Simples, não é? Pois é.
Hoje em dia, em nossas escolas, uma troca que vem
acontecendo cada vez mais corriqueiramente é a de tiro, troca de tiros. E era
exatamente disso que Vygotsky estava falando!
O ambiente escolar, de professores estressados e mal
pagos, de classes lotadas, indisciplinadas e barulhentas, de muros pichados, de
venda de drogas, de cerca de arame farpado etc., este é o lócus
didático-pedagógico que nossa sociedade oferece para o desenvolvimento de seus
alunos.
É neste lugar que há a interação inevitável, a troca
sujeito-meio, e os alunos internalizam esse ambiente para seu
“desenvolvimento”, se é que podemos chamar assim.
Vygotsky era, também, construtivista, isto é,
pensava que a aprendizagem só pode se dar através de alicerces: o aluno traz
até a escola seus alicerces pessoais e, sobre eles, serão construídos os
conceitos que a escola julgar mais adequados.
Nossa! Será, então, que nossas escolas julgam
adequados os conceitos de desorganização, abuso de autoridade, desrespeito,
desestímulo etc?
Tentar plantar semente boa em terreno ruim, é difícil de dar certo; imagine se for para plantar semente ruim em terreno ruim, só um milagre mesmo para fazer crescer coisa boa. É este milagre que todos os dias professores brasileiros tentam fazer.
E continuando sobre Vygotsky: nosso pedagogo
interacionista e construtivista tem suas ideias batizadas de “Teoria
Histórico-Cultural”, isso porque ele não era nada mais do que um marxista, e
nada menos do que um sábio.
Defendia ele: o aluno está preso à história da
espécie humana (filogênese), preso à sua história enquanto indivíduo biológico
(ontogênese), preso à história de sua sociedade cultural (sociogênese) e preso
à história particular e irrepetível de cada aspecto mínimo do seu
desenvolvimento enquanto sujeito, por exemplo: abotoar a camisa, cada um
aprende em época e de forma diferentes, é a microgênese na prática.
A partir disso, podemos pensar: que será que
Vygotsky teria a dizer sobre a história e cultura do Brasil?
Temos uma história marcada pela exploração; será que
é por isso que nossos alunos e suas famílias aceitam quase morrer de fome
morando em favelas?
Temos uma história marcada pela escravidão; será que
é por isso que ‘proletários’ aceitam trabalhar ganhando um quase nada?
Temos uma cultura de violência por parte da polícia,
bandidos, filmes e novelas da TV; será que é por isso que nossos jovens estão
batendo e matando nossos velhos?
Temos uma cultura de ‘oba-oba’, carnaval e futebol
(lembra do pão e circo em Roma?); será que é por isso que nossos alunos sabem petecar
uma bola, mas não sabem ler uma frase nem calcular uma soma?
É... qual seria o teor da crítica do nosso velho e
russo Vygotsky quanto à história e cultura brasileiras?
Este psicólogo famoso, que escreveu mais de 200
livros e morreu de tuberculose aos 37 anos, costumava chamar de Fala
Egocêntrica a fase em que as crianças “pensam alto”, ou seja, que começam a
usar a linguagem em conformidade com seus pensamentos e, por isso, falam aquilo
que estão pensando.
É uma etapa importantíssima do desenvolvimento
linguístico e que dará início ao pensamento abstrato. Daí a pergunta: nas
nossas costumeiras classes de 30 alunos, existe algum super-professor que
consiga dar atenção e desenvolva sistematicamente a linguagem de seus
educandos, partindo do pressuposto da microgênese de que cada um é único e
necessita de diagnóstico e intervenção individualizados?
É claro que não!
O que usamos são métodos generalistas que tratam de
todos como se fossem não apenas parecidos, mas idênticos, por isso não funciona
como gostaríamos.
A teoria vygotskyana ainda vai mais longe quando
conceitua a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que se trata da área que
fica entre o que o aluno já sabe (desenvolvimento prévio, real) e o que o aluno
pode saber (desenvolvimento alcançável, potencial).
É neste intervalo psicológico batizado de ZDP que pode e deve agir o professor, porque é onde se dá a interação e a construção epistêmicas. Caso haja a intervenção ‘benéfica’ do docente, então se dará a troca entre o concreto (objeto externo interpsicológico) e o abstrato (sujeito interno intrapsicológico), esta é a interação que leva à adaptação e construção de qualidades, ou seja, leva os alunos ao desenvolvimento pleno, gera a consciência que ativa as funções psicológicas superiores, tornando o indivíduo crítico e reflexivo (memorização ativa e pensamento abstrato).
É neste intervalo psicológico batizado de ZDP que pode e deve agir o professor, porque é onde se dá a interação e a construção epistêmicas. Caso haja a intervenção ‘benéfica’ do docente, então se dará a troca entre o concreto (objeto externo interpsicológico) e o abstrato (sujeito interno intrapsicológico), esta é a interação que leva à adaptação e construção de qualidades, ou seja, leva os alunos ao desenvolvimento pleno, gera a consciência que ativa as funções psicológicas superiores, tornando o indivíduo crítico e reflexivo (memorização ativa e pensamento abstrato).
Que é exatamente o que nós queremos, certo? Que é o
que nossos políticos, tipo Tiririca, Sarney, Romário, Maluf querem, não é?! É
sim...
Por fim, importante salientar que uma professora
apaixonada pelo teórico Lev Vygotsky é a pesquisadora brasileira Marta Kohl de
Oliveira que já escreveu o seguinte:
“O homem
biológico transforma-se em social por meio da internalização de conceitos
histórico-culturais!”.
texto de autoria de Wellington Martins
* Prof. Wellington Martins, é graduado em Filosofia, graduando em Pedagogia e pós-graduando em Psicopedagogia (am.wellington@hotmail.com)
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