Honra ao Mérito na Bananolândia
De repente, um susto! A inusitada manchete: "Assembleia legislativa do
Amazonas concede certificado de honra ao mérito à segunda colocada"...
em quê?? Num dos torneios mais torpes e fúteis da atualidade: o abjeto
Big Brother... mas a notícia não era crível! Talvez um falso boato?
Pus-me a investigar, ávido por ao menos um desmentido que fosse... Em
vão! Nenhuma contradita para aliviar o desgosto amargo. Dizem que a
distinta moça "foi motivo de grande orgulho para o seu Estado"...
Miserável é um povo alienado e desmemoriado! Miserável do povo que se
vangloria de sua própria parvoíce! Não há bolsa-família que lhe resgate a
honra! Quais são as referências desse povo órfão? Temos por acaso
alguma fome de cultura? O que acontece com o povo de Bananolândia?
Contente, devidamente entretido, sem pudor, nutre-se do lixo, agora
disponível em sinal digital! Tudo isso enquanto logo ali, lhe sequestram
a vergonha e a pouca dignidade que lhe restavam.
Mas não generalizemos! É sempre um erro grosseiro generalizar
apressadamente. Há bons políticos na Bananolândia, ainda há bons líderes
entre nós, sim. É que raras vezes a sociedade do espetáculo irá
destacá-los, é verdade... A indústria cultural necessita ignorá-los para
que haja espaço de sobra para valores rasos, para a banalização do vil,
para a espetacularização do bizarro, para o fomento de rivalidades
debiloides, apresentadas sempre sob o viés do discurso politicamente
correto.
Há não muitos anos, já havíamos assistido, estupefatos, à Academia
Brasileira de Letras desta mesma republiqueta conceder sua maior
honraria (a medalha Machado De Assis) para, ninguém mais, nem menos, que
um jogador de futebol. É isso mesmo! Não é piada não! A mesma casa dos
intelectuais e literatos que a tantos escritores brasileiros ignora e
despreza, honrando alguém que, como ele mesmo confessara, sequer tinha o
hábito da leitura. Embora não seja da nossa conta, eis que não consigo
deixar de pensar na ironia bizarra do feito que, ao mesmo tempo
desmoraliza e ridiculariza, além da própria ABL, também a mesma classe
literária e intelectual brasileira que supostamente representava (no
passado).
É verdade que homenagens esdrúxulas não são privilégio cultural de
Bananolândia. Se formos enumerar quantos belicosos já ganharam o Nobel
da Paz, quantos estelionatários e corruptos já receberam títulos de
doutores em famosas Universidades por aí, e ainda quantos títulos
honoríficos já foram distribuídos sem qualquer critério meritocrático,
de repente acordamos para a realidade óbvia: "papel aceita tudo".
Papel aceita e sustenta, tanto a 'utopia' de um socialismo, quanto a 'mão
invisível' de um liberalismo... e continuará aceitando todos os "ismos" que a
ideologia puder conceber, mesmo que isso implique alienação e
manipulação das mesmas massas humanas, sempre ávidas por ídolos de barro ou de ferro.
A
Assembleia do Amazonas e a ABL, por fim, nos fizeram foi um grande
favor: recordar-nos de que suas distinções e honrarias (e não só as
suas) continuam tão vãs, ridículas e vazias, quanto sempre foram. Tolo
de quem as leva a sério.
Povo de Bananolândia: tomemos vergonha na cara!