A Única Meditação Que Existe: Observar
Não "manter a mente tranquila", mas vazia.
Embora
você não tenha plena certeza se os professores das várias localidades
estão certos ou errados, se sua própria base é sólida e genuína, os
venenos das doutrinas erradas não serão capazes de lhe fazer mal, "manter a
mente calma" e "esquecer preocupações" incluídas.
Relaxe
e torne-se vasto e expansivo. Quando velhos hábitos repentinamente
surgirem, não use a mente para reprimi-los. Nessa hora, é como "um floco
de neve sobre uma fornalha aquecida"...
Só
então eles conhecem o dito de Jung: "usando a mente, sem nenhuma
atividade mental". (...)
O esvaziamento de que eu falo agora não
está separado de ter mente. Estas não são palavras para enganar
pessoas. Tem havido um grande mal-entendido sobre
estas duas coisas: "manter a mente tranquila" e "esvaziamento mental".
Existiram muitas pessoas que ensinaram que elas são sinônimos. Elas
parecem ser sinônimos, mas na realidade estão tão separadas quanto duas
coisas podem estar, e não há como interligá-las. Assim,
primeiro vamos tentar encontrar o exato significado dessas duas
palavras, porque o Sutra Ta Hui completo desta noite diz respeito ao
entendimento da diferença.
A diferença é muito
sutil. Um homem que está mantendo sua mente tranquila e um homem que não
tem mente irá parecer exatamente igual olhando de fora, porque o homem
que está mantendo sua mente tranquila também está silencioso. Porém, por baixo
de seu silêncio, há um grande tumulto, mas ele não está permitindo isto
vir à tona. Ele está no controle total.
O homem
com a não-mente, ou sem atividade mental, não tem nada para controlar.
Ele é somente puro silêncio com nada reprimido, com nada disciplinado -
apenas um puro céu vazio.
Superfícies podem ser
muito enganadoras. A pessoa precisa estar muito alerta sobre as
aparências, porque ambas parecem iguais do lado de fora - ambas são
silenciosas. O problema não teria surgido se a mente tranquila não fosse
fácil de alcançar. É fácil de alcançar. Esvaziamento mental não é tão
fácil de alcançar; não é barato é o maior tesouro do mundo
A
mente pode jogar o jogo de ser silenciosa... ela pode jogar o jogo de não
ter qualquer pensamento, qualquer emoção, mas estes estão apenas
reprimidos, plenamente vivos, prontos para aparecer a qualquer momento.
As assim chamadas religiões e seus santos caíram na falácia de
tranquilizar a mente. Se você continua sentado em silêncio, tentando
controlar seus pensamentos, não permitindo suas emoções, não permitindo
qualquer movimento dentro de você, lento, lentamente isso se tornará seu
hábito. Essa é a maior decepção do mundo que você pode dar a si
próprio, porque tudo é exatamente o mesmo, nada mudou, mas parece que
você sofreu uma transformação.
O estado de
não-mente ou de esvaziamento mental é exatamente o oposto de
tranquilizar a mente - é ir além da mente. É criar uma tal distância
entre você e a mente que esta se torna a mais distante estrela, milhões
de anos luz distante, e você é apenas um observador. Quando a mente é
tranquilizada você é o controlador. Quando a mente não está, você é o
observador. Estas são as marcas distintas.
Quando
você está controlando alguma coisa você fica tenso; você não pode ficar
sem tensão, porque aquilo que é controlado está continuamente tentando
revoltar-se contra você, aquilo que está escravizado deseja liberdade.
Sua mente mais cedo ou mais tarde irá explodir em vingança.
Uma história que eu tenho amado.
Em
uma vila, havia um homem de um tipo muito agressivo e raivoso, tão
violento que ele matou sua esposa, por algo trivial. Toda a vila o temia
porque ele não conhecia outro argumento a não ser violência.
No
dia que ele matou sua mulher jogando-a num poço, um monge jaina ia
passando. Juntou uma multidão e o monge jaina disse: "esta mente cheia de
raiva e violência vai lhe levar pro inferno". A situação era tal que o homem disse: "eu também desejo ser tão silencioso quanto você, mas que posso fazer? Eu nada sei. Quando a raiva me pega, fico quase inconsciente e agora matei minha própria mulher amada". O
monge Jaina disse: "A única maneira de acalmar essa mente, repleta de
raiva, rancor e violência, é renunciar ao mundo".
Jainismo é uma religião
de renúncia, e a renúncia final é até mesmo das roupas. O monge jaina
vive desnudo, devido a que não lhe é permitido possuir nem mesmo roupas.
O
homem era de um tipo muito arrogante e isso tornou-se um desafio para
ele. Diante da multidão, ele também jogou suas roupas no mesmo poço da
mulher. A vila inteira não podia acreditar nisso; até mesmo o monge jaina ficou um pouco amedrontado, pensando: ele é louco ou algo assim?
O homem
caiu aos seus pés e disse: Você deve ter levado muitas décadas para
alcançar o estado de renúncia... eu renuncio ao mundo, renuncio a tudo.
Sou seu discípulo - me inicie.
Seu nome era
Shantinath e shanti significa paz. Isso sempre acontece... se você vê
uma mulher feia, muito provavelmente seu nome será Sunderbhai, que
significa mulher bonita.
Na Índia as pessoas têm um jeito estranho...
para o homem cego eles dão o nome Nayan Sukh. Nayan Sukh significa
aquele a quem os olhos dão grande prazer.
O monge jaina disse: Você tem um belo nome. Não o mudarei; eu o conservarei,
mas de agora em diante você deve lembrar que a paz precisa tornar-se sua
própria vibração.
O homem disciplinou-se,
acalmou sua mente, jejuou por longo tempo, torturou a si mesmo e logo se
tornou mais famoso que seu mestre. Pessoas raivosas, pessoas
arrogantes, pessoas egoístas podem fazer coisas que pessoas pacíficas
levarão algum tempo para fazer. Ele tornou-se muito famoso e milhares de
pessoas costumavam vir apenas para tocar seus pés.
Após
vinte anos que ele estava na capital, um homem de sua vila tinha vindo por
algum propósito e ele pensou: Será bom ir e ver que transformação
aconteceu a Shantinath. Tantas histórias são contadas - que ele
tornou-se um homem totalmente novo, que seu velho eu se foi e um novo
ser surgiu nele, que ele realmente se tornou paz, silêncio,
tranquilidade.
Assim o homem foi com grande
respeito. Mas quando ele viu Muni Shantinath, vendo sua face, seus
olhos, ele não podia achar que tinha ocorrido alguma mudança. Não havia
nada da graça que necessariamente irradia de uma mente que se tornou
silenciosa. Aqueles olhos ainda eram tão egoístas - de fato, eles se
tornaram mais agudamente egoístas. A presença do homem era até mesmo
mais feia do que costumava ser.
Tranquilo, o homem
aproximou-se. Shantinath o reconheceu, ele havia sido seu vizinho - mas
agora isso estava abaixo de sua dignidade reconhecê-lo. O homem também
percebeu que Shantinath o havia reconhecido, mas estava fingindo que
não. Ele pensou, isto mostra muito. Ele aproximou-se de Shantinath e
perguntou: Posso lhe fazer uma pergunta? Qual é o seu nome?
Naturalmente,
grande raiva surgiu em Shantinath porque ele sabia que este homem sabia
perfeitamente bem qual era seu nome. Mas ele ainda manteve o controle e
disse: Meu nome é Muni Shantinath.
O homem disse: É um nome bonito - mas minha memória é muito curta, você pode repeti-lo? Eu esqueci... Que nome você falou?
Isso
foi demais. Muni Shantinath costumava carregar um bastão. Ele pegou o
bastão em suas mãos... ele esqueceu de tudo - vinte anos de controle da
mente - e ele disse: Pergunte de novo e mostrarei a você quem sou eu.
Você esqueceu? - Eu matei minha mulher, sou o mesmo homem.
Só então ele se deu conta do que tinha acontecido.
Só então ele se deu conta do que tinha acontecido.
Num
simples momento de inconsciência, ele se deu conta de que vinte anos
desceram pelo ralo; ele não havia mudado nada. Mas milhões de pessoas
sentem grande silêncio nele... Sim, ele se tornou muito controlado, ele
se mantém reprimido, e agora isso acabou. Tanto respeito e ele não tem
nenhuma qualificação para esse respeito - tanta honra, até mesmo reis
chegam para tocar seus pés.
Seus assim chamados
santos não são nada senão animais controlados. A mente não é nada senão
uma longa herança de todo seu passado animal. Você pode controlá-la, mas
uma mente controlada não é uma mente desperta.
O processo de
controlar, reprimir e disciplinar é ensinado por todas as religiões e
devido aos esses ensinamentos falaciosos a humanidade não avançou nem
uma polegada - permanece bárbara. A qualquer momento as pessoas começam a
matar uns aos outros. Não leva nem um simples momento para se perderem;
eles esquecem completamente que são seres humanos e algo bem maior,
algo melhor é esperado deles.
Existiram bem poucas pessoas que foram
capazes de evitar essa decepção de controlar a mente e acreditar que
alcançaram o estado de indiferença mental.
Para
alcançar o estado de indiferença mental, um processo totalmente
diferente está envolvido: Chamo isso de a suprema alquimia. Consiste
apenas de um simples elemento - que é a observação.
Gautama
Buda ia passando por uma cidade quando uma mosca chega e pousa na sua
testa. Ele está conversando com seu companheiro, Ananda, e ele continua
falando e move sua mão para espantar a mosca. Então subitamente ele se
deu conta de que seu movimento com a mão havia sido inconsciente,
mecânico. Porque ele estava falando conscientemente com Ananda, a mão
espantou a mosca mecanicamente. Ele pára e, embora agora não houvesse
mais nenhuma mosca, ele move sua mão novamente conscientemente.
Ananda
diz: Que você está fazendo? A mosca se foi... Gautama Buda diz: A mosca
se foi... mas cometi um pecado, porque fiz o movimento
inconscientemente.
A palavra inglesa pecado é
usada por Gautama Buda com seu significado correto. A palavra pecado
origina-se nas raízes que significa esquecimento, desatenção,
inobservância, fazendo coisas mecanicamente - e toda nossa vida é quase
mecânica. Nós vamos fazendo coisas da manhã à noite, da noite a manhã,
como robôs.
Um homem que deseja entrar no mundo da
indiferença mental precisa aprender somente uma coisa - um simples
passo e a jornada está concluída. Este passo simples é fazer tudo
atentamente.
Você move sua mão atentamente; você abre seus olhos
atentamente; você caminha, você dá seus passos alerta, cônscio; você
come, você bebe, mas nunca permite a mecanicidade se apossar de você.
Esta é a única alquimia secreta da transformação.
Um homem que
pode fazer tudo plenamente consciente torna-se um fenômeno luminoso.
Ele é todo luz e toda sua vida é cheia de fragrância e de flores. O
homem mecânico vive em buracos negros, buracos sujos. Ele não conhece o
mundo da luz; ele é como o cego. O homem de vigilância é realmente o
homem que tem olhos.
Ta Hui bem lentamente está
penetrando nos mais profundos segredos da transformação interior. Ele
diz: Embora você não saiba plenamente se os professores das várias
localidades estão certos ou errados, se sua própria base é sólida e
genuína, os venenos das doutrinas erradas não serão capazes de
prejudicar você...
Ele diz que é inútil pensar
quem está certo ou quem está errado. Existem milhares de doutrinas,
centenas de filosofias e se você continuar buscando a verdade nestas
palavras, você ficará perdido numa selva onde você não pode encontrar o
caminho. Tudo que você sabe é alcançar uma base sólida dentro de você.
(...) "Manter
a mente calma, e também esquecer as preocupações. Se você sempre
esquece as preocupações e mantém a mente calma, sem despedaçar a mente
do nascimento e morte, então as enganadoras influências de forma,
sensação, percepção, volição, e consciência acharão seu caminho e você
estará inevitavelmente dividindo o vazio em dois (...)".
Relaxe e torne-se
vasto e expansivo...
Não é uma questão
de autocontrole separado da existência; é uma questão de relaxar e
tornar-se vasto - tão vasto quanto a própria existência. E na observação
você se torna infinito: esta é a única coisa dentro de você que não tem
limites.
Apenas dê uma olhada em sua atenção, testemunhando. É ilimitada. Nenhum começo, nenhum fim... é sem forma.
Esta
calma absoluta da mente é exatamente não-mente ou indiferença mental.
Não é um controle, não é uma disciplina; não é que você esteja colocando
toda sua pressão sobre sua mente e mantendo-a silenciosa. Não, ela
simplesmente não está aí. A casa está vazia. Não há ninguém para
controlar e não há ninguém para ser controlado. Todas as preocupações
para controlar desapareceram em uma simples observação. Esta observação é
expansiva. Uma vez que você provou um pouco dela, ela continua se
expandindo até os limites do universo.
(...)"Quando
velhos hábitos subitamente surgirem, não use sua mente para
reprimi-los. Nessa hora, é como um floco de neve sobre uma fornalha
aquecida" (...).
Ele está lhe lembrando que até
mesmo quando você está se movendo no caminho da vigilância, às vezes,
velhos hábitos podem ressurgir. Mas não se preocupe; eles são como um
floco de neve sobre uma fornalha aquecida, eles irão desaparecer à sua
própria maneira.
Você simplesmente observa. Não se deixe envolver, não
se perturbe, não fique preocupado.
Ás vezes surgirá raiva, às
vezes surgirá um desejo, às vezes haverá ambição, mas eles não podem
perturbar sua vigilância. Eles virão e passarão sem deixar rastros em
seu espelho puro. Mas você tem apenas que lembrar uma coisa: não comece a
lutar com eles, despedaçando-os, destruindo-os, lançando-os fora. Isso
acontece muito naturalmente com a mente que, se alguma coisa errada está
acontecendo, pula sobre isso e o destrói.
Essa é a única coisa que você
deve ficar atento, porque isso é o que não permite ao homem ir além da
mente. Velhos hábitos virão - e velhos hábitos são muito antigos, muitas
e muitas vidas antigos. Sua vigilância é muito fresca e muito recente;
sua mecanicidade é antiga, assim é muito natural que isso reapareça.
Alguém
lhe insulta - você não tem que ficar zangado, mas subitamente você
percebe a raiva surgindo. Isso não é um esforço, é apenas um velho
hábito, uma velha reação. Não lute com isso, não tente sorrir e
escondê-la. Apenas observe-a, e isso virá e passará...
(...) "Como
um floco de neve sobre uma fornalha aquecida. Para aqueles com uma
visão penetrante e uma mão familiar, um salto e eles saltam livres.
Somente então eles compreendem o dito preguiçoso de Jung: quando usar a
mente, sem nenhuma atividade mental".
Se um homem aprendeu a arte da observação, ele também pode usar sua mente e ainda não ter nenhuma atividade mental. Eu estou falando para vocês e estou usando minha mente porque não há outra maneira.
A
mente é o único meio de comunicar qualquer mensagem em palavras; esse é
o único mecanismo disponível. Mas minha mente está absolutamente
silenciosa, não há nenhuma atividade mental: Eu não estou pensando no
que vou dizer e não estou pensando no que disse. Estou simplesmente
respondendo ao Ta Hui espontaneamente sem me envolver nisso.
É
como quando você vai para as montanhas e você grita e as montanhas
ecoam: as montanhas não estão realizando alguma atividade mental, elas
estão simplesmente ecoando. Quando falo sobre o Ta Hui, sou apenas uma
montanha ecoando.
Quando usando a mente,
sem nenhuma atividade mental. Conversas distorcidas por nomes e formas,
fale direto sem complicações. Sem mente mas funcionando...
Esta é uma experiência estranha, quando você puder usar a mente sem nenhuma atividade mental... Sem mente mas funcionando, sempre funcionando, mas não-existente.
Eu estive, desde minha infância, apaixonado pelo silêncio. Tão
logo me foi possível, apenas sentava em silêncio. Naturalmente, minha
família costumava pensar que eu não iria servir para nada - e eles
estavam certos. Eu certamente provei não servir para nada, mas não me
arrependo disso.
Isso chegou a tal ponto que às vezes, eu
estava sentado e minha mãe vinha até mim e dizia algo assim: Parece não
haver ninguém em casa. Preciso de alguém para ir ao mercado comprar
alguns vegetais. Eu estava sentado na frente dela e eu disse; Se eu
achar alguém lhe direi...
Era aceito que minha
presença não significava nada; se eu estava lá ou não, não fazia
diferença. Uma ou duas vezes eles tentaram e então acharam que seria
melhor deixar-me de fora e não me dar importância - porque pela manhã
eles me mandariam para comprar vegetais e à noite eu perguntaria;
esqueci o que vocês me mandaram fazer e agora o mercado está fechado...
Nas vilas os mercados de vegetais fecham ao anoitecer, e os moradores
voltam para suas casas.
Minha mãe disse. Não é culpa sua, é
nossa culpa. Esperamos por todo o dia, mas em primeiro lugar não
deveríamos ter pedido a você. Onde você esteve?
Eu disse;
Quando saí de casa, bem aqui perto havia uma bela árvore bodhi - o tipo
de árvore sob a qual Gautama Buda tornou-se iluminado. A árvore ganhou o
nome de árvore bodhi - ou em inglês, árvore bo - por causa de Gautama
Buda. A gente não sabe como ela era chamada antes de Gautama Buda; ela
tinha que ter algum nome, mas depois de Buda, ela ficou associada a seu
nome.
Havia uma linda árvore bodhi e ela era uma tal tentação para mim.
Costumava
haver lá sempre um tal silêncio, tal tranqüilidade debaixo dela,
ninguém para me perturbar, que não pude passar por ela sem me sentar
debaixo dela por algum tempo. E aqueles momentos de paz, acho que às
vezes devo ter ficado por todo o dia.
Após alguns poucos
desapontamentos eles pensaram: É melhor não importuná-lo. E eu fiquei
imensamente feliz por eles terem aceito o fato de que eu sou um quase
não-existente. Isso me deu uma tremenda liberdade. Ninguém esperava nada
de mim. Quando ninguém espera nada de você, você fica em um silêncio...
O mundo lhe aceitou; agora não há nenhuma expectativa de você.
Quando,
às vezes, eu chegava tarde em casa, eles costumavam me procurar em dois
lugares. Um era na árvore bodhi - e devido a que eles começaram a me
procurar sob a árvore bodhi , eu comecei a subir na árvore e sentava no
topo dela. Eles vinham e olhavam ao redor e diziam: Parece que ele não
está aqui. E eu dizia pra mim mesmo; sim, isto é verdade. Eu não estou
aqui.
Mas logo me encontraram, porque alguém me viu subindo e
contou pra eles; Ele tem enganado vocês. Ele sempre esteve aqui, a maior
parte do tempo sentado na árvore - assim eu tinha que ir um pouco mais
longe.
Havia um cemitério maometano...
Aqui
as pessoas normalmente não vão aos cemitérios. É claro, todos terão que
ir uma vez, mas exceto isso, as pessoas não gostam de ir ao cemitério.
Então aquele era um lugar muito silencioso... porque os mortos não
falam, eles não criam inconvenientes, eles não perguntam a você questões
desnecessárias, eles nem mesmo perguntam quem é você ou por
apresentações.
Eu costumava ficar sentado no cemitério
maometano. Era um lugar enorme, com muitas covas, com árvores, árvores
muito frondosas. Quando meu pai veio a saber que eu estava sentado lá,
ele disse: Isso é demais! Ele veio um dia ao meu encontro e disse: Você
pode se sentar na árvore bodhi ou debaixo da árvore bodhi e ninguém irá
lhe perturbar. Isso é demais, isso é perigoso - e de fato, quando alguém
vai para o cemitério ele deveria tomar banho e trocar de roupa. Você
fica sentado aqui o dia todo e às vezes à noite, e quando chega em casa
nós não sabemos de onde você está vindo.
Isto é comum, que
quando você chega do cemitério... Ordinariamente ninguém vai lá a menos
que seja mandado, e eles têm que ir; então, relutantemente eles vão. Do
cemitério, as pessoas normalmente vão direto para o rio tomar um banho,
trocar de roupas, e só então, eles entram em casa. Assim meu pai falou:
Eu não sei há quanto tempo você vem fazendo isso.
Eu disse:
Desde de que vocês me perturbaram na árvore bodhi. Eu tive que encontrar
outro lugar... E eu disse a ele: Até mesmo você pode desfrutar disso de
vez em quando. Quando se sentir cansado e muito tenso, venha aqui -
nenhum morto perturba ninguém.
Ele disse: Não fale comigo
sobre os mortos - e particularmente num túmulo maometano... Maometanos
são pobres; seus túmulos são túmulos de lama. Quando chove, às vezes um
cadáver aparece. A lama é lavada e você pode ver o cadáver - a cabeça de
alguém aparece, a perna de alguém é mostrada. Ele disse: Nunca me diga
para ir aí. Somente a ideia de que um dia estarei em tal posição, com
minha cabeça aparecendo fora do túmulo, me faz sentir tão
amedrontado...você é um menino estranho!
Eu disse: Que há de
errado nisso? O pobre companheiro está morto, ele não pode fazer nada.
Está chovendo, ele não pode conseguir um guarda-chuva, o que ele pode
fazer? Se uma de suas pernas aparece, o que ele pode fazer? Ele não pode
puxá-la - se ele a puxar para dentro, assim também haverá problema,
então ele se mantém em silêncio e deixa as coisas serem como elas são.
Um
amor de silêncio e um amor de estar ausente me ajudou tão tremendamente
que posso entender quando ele diz: Sempre funcionando, mas não-existente
- a indiferença mental de que falo agora não está separada de ter
mente. Estas não são palavras para enganar pessoas.
Ta
Hui está dizendo: Não estou usando estas palavras para enganar ninguém;
não estou tentando mostrar meus conhecimentos; não estou tentando
fingir que sou mais culto que você. Estou dizendo essas palavras apenas
para compartilhar minha experiência de que a não-mente e a mente podem
existir juntas.
Nenhum método repressivo deveria ser usado, somente pura
observação... e bem lentamente a mente perde todo o conteúdo. Ela se
torna não-mente.
Assim, indiferença mental e mente
não são separadas. Indiferença mental é mente sem qualquer conteúdo,
sem qualquer pensamento. É apenas como um espelho não refletindo coisa
alguma.
O silêncio de ser um espelho não refletindo coisa
alguma é a maior bênção que a existência permite o homem ter. E de lá,
as coisas vão se expandindo - mistérios sobre mistérios... sem questões,
sem respostas, mas tremendas experiências... nutrindo, preenchendo,
dando contentamento à alma faminta a qual esteve vagando por vidas e
vidas.
É hora de parar essa peregrinação.
Existe
um método simples para parar essa peregrinação, que é começar a
observar sua mente, seu corpo, suas ações.
O que quer que você esteja
fazendo ou não fazendo, você tem que estar alerta de uma coisa - que
você está observando.
Não perca o observador - então não importa se você
é um cristão ou um hindu ou um Jainista ou um budista.
O observador não é ninguém. É somente consciência pura.
E
somente esta consciência pura pode trazer uma nova humanidade, um novo
mundo, onde as pessoas não irão discriminar uma contra a outra por
razões estúpidas. Nações, raças, religiões, doutrinas, ideologias - são
coisas somente para crianças brincarem com elas, não para pessoas
maduras. Para pessoas amadurecidas, há somente uma coisa na existência; e
isso é vigilância.
Um monge está indo pregar a
mensagem de Gautama Buda. Ele mesmo ainda não está iluminado; eis porque
Gautama Buda o chama e lhe diz: Lembre-se, tenho que dizer isso porque
você ainda não está iluminado... você é eloquente, você fala bem, você
pode espalhar a mensagem. Você pode não ser capaz de plantar as sementes,
mas você pode ser capaz de atrair algumas pessoas para vir até mim -
mas use também esta oportunidade para seu próprio crescimento.
O monge perguntou: Que posso fazer, como posso usar esta oportunidade?
E
Buda disse: "Há somente uma coisa que pode ser feito em cada
oportunidade, em cada situação, e isso é observação".
Você, às vezes, irá
encontrar pessoas irritadas com você, raivosas, porque você feriu suas
ideologias, suas doutrinas, seus preconceitos. Permaneça silencioso e
alerta. Pode haver dias que você não obterá comida porque as pessoas
estão contra você, eles não vão lhe dar nem mesmo água. Observe...
observe sua fome, observe sua sede... mas não fique irritado, não fique
aborrecido. O que você irá ensinar às pessoas é menos importante do que
sua própria observação.
Se você voltar para mim atento,
ficarei imensamente alegre. Não importa quantas pessoas você abordou;
não importa para quantas pessoas você falou. O que importa é se você
finalmente chegou em casa, se você mesmo encontrou as bases sólidas do
testemunhar. Então tudo mais é insignificante.
Esta é a única meditação que existe... todas as outras meditações são variações do mesmo fenômeno.
Osho, The Great Zen Master Ta Hui, Chapter 28
fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário