Algumas Funções da Linguagem: Cultura,
Informação e Controle
A cultura de um grupo pode ser interpretada como um tipo
de sistema semiótico, um sistema de textos, e, enquanto tal, um sistema
perceptivo, de armazenagem e divulgação de informações.
Para a semiótica, a cultura nada mais é do que um “conjunto
de informações não hereditárias que são armazenadas e transmitidas por um
determinado grupo”. Tendo em vista que a cultura compõe-se por traços
distintivos, as informações vinculadas a uma coletividade configuram-se como um
subconjunto caracterizado por um certo padrão de ordem.
“A compreensão de produção simbólica
de uma sociedade se dá pela análise das trocas informacionais que ocorrem tanto
no interior de uma dada organização, como entre diferentes estruturas".
Além
de transmitirem um determinado conteúdo, as interações entre diferentes
mensagens podem possuir outra função bem mais abrangente, já que as “transferências
informacionais” estabelecem-se como parâmetro de regulação. Tais
transferências, portanto, “visam manter a inteireza de um dado sistema,
combatendo a tendência degenerativa de uma informação em trânsito”. A contínua
retroalimentação realizada pelas trocas informacionais garante assim a
eficiência das mensagens no intuito de “assegurar uma série de invariáveis
dentre um conjunto de variáveis mantidas no interior de um sistema”.
Os
semioticistas russos, ao conceberem a cultura como informação, tratam os
códigos culturais dentro da perspectiva de “regulação
de comportamentos”. (Segundo Ivanov, o homem não somente cria signos mas é
também regulado por eles). Os códigos culturais funcionariam, assim, como “programas
de controle”.
O
filósofo russo Mikhail Bakhtin dedicou-se ao estudo das possíveis noções,
conceitos e categorias de análise da linguagem com base em discursos
cotidianos, artísticos, filosóficos, científicos e institucionais. Um dos
aspectos mais inovadores apresentados por Bakhtin foi enxergar a linguagem como
um constante processo de interação mediado pelo diálogo - e não apenas como um
sistema autônomo.
"A língua materna, seu vocabulário e sua estrutura
gramatical, não conhecemos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas
graças aos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicação
efetiva com as pessoas que nos rodeiam".
o que é Língua
A Língua pode ser definida como um tipo de mecanismo
semiótico de transmissão de mensagens por meio de um conjunto de signos
elementares. A Língua natural é um “sistema modelizante” uma vez que se
constrói a partir de outros mecanismos tais com fonação, grafismo, convenções
sócio-culturais. Modelizar traduz um esforço de compreensão da “signicidade dos
objetos culturais”. Modelizar corresponde a “semioticizar”. Mito, religião,
arte e literatura são exemplos de sistemas modelizantes.
Linguagem em sentido semiótico
A Linguagem, no sentido semiótico mais amplo, é um típico
“sistema organizado de geração, organização e interpretação da informação”, ou
seja, um sistema que serve de meio de comunicação e que se utiliza de signos. O
fato de possuir regras de combinação definidas distingue a linguagem dos demais
“sistemas não comunicativos”, bem como daqueles sistemas comunicacionais que
não utilizam signos. A linguagem se distingue igualmente dos sistemas que
servem de meio de comunicação e que utilizam signos pouco formalizados ou sem
nenhuma formalização. A Linguagem também pode acontecer por outros meios, sem
necessariamente utilizar-se de signos lingüísticos, como ocorre na arte, na
técnica de representação e de expressão gráfica, (lúdico artístico, científico,
técnico e pedagógico).
Linguagem e conflito
Na ótica da Análise do Discurso, a linguagem não
é um simples instrumento de comunicação ou de transmissão de informação. Ela também
serve para “não comunicar”. A linguagem muitas vezes é o lugar de conflitos e
confrontos, já que ela só pode ser apreendida no processo de interação social.
“O signo é uma arena privilegiada da luta de classe”, dirão os filósofos. Além
disso, não se pode dizer o que quer quando se ocupa um determinado lugar
social, pois este exige o emprego de certas representações e a exclusão de
outras.
Linguagem e forma de vida
Designar
objetos é uma das partes mais relevantes da linguagem, porém ela não é a única.
Quando uma criança está aprendendo a falar, ela ainda não é capaz de entender
elucidações indicativas (mímica, jogos com os olhos). Ela desconhece o
significado daquela palavra que queremos elucidar.
Segundo
Wittgenstein, quando mostramos um objeto a uma criança e dizemos: "este é
o rei", essa elucidação só passa a fazer sentido enquanto denominação de
uma peça de xadrez se a criança "já sabe o que é uma figura do jogo".
Isso pressupõe que ela já tenha jogado outros jogos ou que tenha assistido a
outras pessoas jogando "com compreensão" ("Investigações
Filosóficas", § 31).
Deste
modo, o aprendizado de uma língua não deve ser visto apenas como mero
aprendizado da designação de objetos isolados. Esse é apenas um ato secundário
dentro de um processo em que a criança, ao mesmo tempo em que aprende a língua
materna, também se apropria de um determinado entendimento do mundo. A criança
aprende junto com a linguagem uma determinada forma de vida.
Para
Wittgenstein, a linguagem é sempre ligada a uma forma de vida determinada,
contextualizada dentro de uma práxis comunicativa interpessoal. Formas de vida e jogos de linguagem
constituem, assim, as categorias centrais da nova imagem da linguagem.
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