O que aprendemos sobre
cidadania?
Silvio Motta Maximino
Em três
grandes protestos nos meses de junho e julho, centenas de milhares foram às
ruas reclamar a aprovação e rejeição de projetos, criticar o comportamento
imoral e vergonhoso de partidos e de políticos em todas as esferas...
Partidos
em geral levaram prá casa, além da bandeira rasgada ou queimada, a vergonha de
terem sido literalmente expulsos da festa para a qual, aliás, não haviam sido
convidados.
Enganam-se os ressentidos que adoram enxergar “conspirações”
fascistas ou golpes de Estado em cada esquina: o “puxão de orelha” tem
explicação relativamente mais simples: um alerta contra a canalhice e cinismo
daquelas agremiações que estão fracassando em seu papel de mediadores entre o
povo e o poder político. Quando uma instituição social perde sua credibilidade
e função, é colhida pela obsolescência. É muito triste ver isso acontecendo com
os partidos políticos.
Pois bem: pouco mais de dois meses depois,
deputados e senadores deixaram de lado boa parte das propostas incluídas em uma
pauta elaborada como resposta aos protestos. Propostas como a que torna
corrupção crime hediondo, a que institui o passe livre estudantil nacional e a
que acaba com o voto secreto no Congresso foram espertamente esquecidas. Agora
cogitam impedir o acesso de cidadãos e jornalistas ao plenário da Câmara em
dias de votações polêmicas. Para fechar o pacote, nossos nobres deputados
federais acabam de regurgitar mais uma pérola de insensatez: em votação secreta
escandalosa, rejeitaram pedido de cassação do mandato de um deputado (sem
partido), já definitivamente condenado e preso. A situação é tão bizarra que
“se a moda pega”, nada impediria que condenados no julgamento do mensalão
também tivessem semelhante destino.
Pergunto: É lícito ou ético que delinquentes
devidamente condenados participem ativamente dos destinos do país?
A política não deve ser exercida pelos melhores de
nós, ao invés de exercida pelos piores?
Por que suscitamos tais questões?
Para percebermos um detalhe que pode estar passando
despercebido: só ir às ruas não basta. Surtos públicos de indignação, pacíficos
ou violentos, não são suficientes para a conversão das células cancerosas do
corpo social, não bastam para a regeneração dos “psicopatas sociais” que
ignoram o sabor do remorso. Democracia é muito, muito mais que isso!
Assim como a democracia não se consuma apenas no
ato do voto, tampouco bastará passar horas protestando sob sol escaldante ou
sob chuva de spray-pimenta. Exercício pleno da cidadania pede uma sociedade
civil que monitore serena e energicamente, de modo mais constante e efetivo, a
ação de nossos nobres representantes. A emocionante e cívica ocupação das ruas
é maravilhosa, mas insuficiente para promover aquela mudança que desejamos ver
na Saúde, Educação ou na Segurança Públicas.
Trabalhar sozinho é difícil? Busquemos as ONGs
sérias que operam monitorando o Poder Público. Neste instante, há vários
projetos em andamento, nos quais há espaço para que façamos a diferença! O
importante é não ficar “latindo sentado” ou enfiar a cabeça num buraco,
fingindo não ser conosco.
Quase tudo que vemos ao redor é reflexo de nossas
reiteradas posturas, de nossa ação e omissão. Se queremos mudanças, trabalhemos
enérgica e serenamente por elas! Não sonhemos mais com messias de esquerda ou
direita, nem com míticos heróis mascarados. Ninguém nos salvará de nossa apatia
e estupidez, a não ser nós mesmos!
Mostremos a nós mesmos e ao mundo que não somos os
tolos que foram motivo de piada em rede nacional há poucas semanas, por causa
de uma estátua. Vamos mostrar quem são os bauruenses, os paulistas, os
brasileiros de verdade!
O
autor, Silvio Motta Maximino, é professor de filosofia e
antropologia, coordenador do Projeto Cidadania Consciente, promovido pela Batra
- email para contato: silvio.mmax@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário