quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O que aprendemos sobre cidadania?

04/09/13  - Opinião1 – Jornal da Cidade - Bauru

O que aprendemos sobre cidadania?

Silvio Motta Maximino

Em três grandes protestos nos meses de junho e julho, centenas de milhares foram às ruas reclamar a aprovação e rejeição de projetos, criticar o comportamento imoral e vergonhoso de partidos e de políticos em todas as esferas... 

Partidos em geral levaram prá casa, além da bandeira rasgada ou queimada, a vergonha de terem sido literalmente expulsos da festa para a qual, aliás, não haviam sido convidados. 

Enganam-se os ressentidos que adoram enxergar “conspirações” fascistas ou golpes de Estado em cada esquina: o “puxão de orelha” tem explicação relativamente mais simples: um alerta contra a canalhice e cinismo daquelas agremiações que estão fracassando em seu papel de mediadores entre o povo e o poder político. Quando uma instituição social perde sua credibilidade e função, é colhida pela obsolescência. É muito triste ver isso acontecendo com os partidos políticos.


Pois bem: pouco mais de dois meses depois, deputados e senadores deixaram de lado boa parte das propostas incluídas em uma pauta elaborada como resposta aos protestos. Propostas como a que torna corrupção crime hediondo, a que institui o passe livre estudantil nacional e a que acaba com o voto secreto no Congresso foram espertamente esquecidas. Agora cogitam impedir o acesso de cidadãos e jornalistas ao plenário da Câmara em dias de votações polêmicas. Para fechar o pacote, nossos nobres deputados federais acabam de regurgitar mais uma pérola de insensatez: em votação secreta escandalosa, rejeitaram pedido de cassação do mandato de um deputado (sem partido), já definitivamente condenado e preso. A situação é tão bizarra que “se a moda pega”, nada impediria que condenados no julgamento do mensalão também tivessem semelhante destino. 

Pergunto: É lícito ou ético que delinquentes devidamente condenados participem ativamente dos destinos do país? 
A política não deve ser exercida pelos melhores de nós, ao invés de exercida pelos piores? 
Por que suscitamos tais questões? 
Para percebermos um detalhe que pode estar passando despercebido: só ir às ruas não basta. Surtos públicos de indignação, pacíficos ou violentos, não são suficientes para a conversão das células cancerosas do corpo social, não bastam para a regeneração dos “psicopatas sociais” que ignoram o sabor do remorso. Democracia é muito, muito mais que isso! 

 Assim como a democracia não se consuma apenas no ato do voto, tampouco bastará passar horas protestando sob sol escaldante ou sob chuva de spray-pimenta. Exercício pleno da cidadania pede uma sociedade civil que monitore serena e energicamente, de modo mais constante e efetivo, a ação de nossos nobres representantes. A emocionante e cívica ocupação das ruas é maravilhosa, mas insuficiente para promover aquela mudança que desejamos ver na Saúde, Educação ou na Segurança Públicas. 

Trabalhar sozinho é difícil? Busquemos as ONGs sérias que operam monitorando o Poder Público. Neste instante, há vários projetos em andamento, nos quais há espaço para que façamos a diferença! O importante é não ficar “latindo sentado” ou enfiar a cabeça num buraco, fingindo não ser conosco. 

Quase tudo que vemos ao redor é reflexo de nossas reiteradas posturas, de nossa ação e omissão. Se queremos mudanças, trabalhemos enérgica e serenamente por elas! Não sonhemos mais com messias de esquerda ou direita, nem com míticos heróis mascarados. Ninguém nos salvará de nossa apatia e estupidez, a não ser nós mesmos! 
Mostremos a nós mesmos e ao mundo que não somos os tolos que foram motivo de piada em rede nacional há poucas semanas, por causa de uma estátua. Vamos mostrar quem são os bauruenses, os paulistas, os brasileiros de verdade! 



O autor, Silvio Motta Maximino, é professor de filosofia e antropologia, coordenador do Projeto Cidadania Consciente, promovido pela Batra - email para contato: silvio.mmax@gmail.com

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