Vocabulário básico para uma “Análise do Discurso”
É importante conhecer
alguns conceitos básicos que são utilizados durante a análise filosófica de um
discurso.
Por exemplo, quando se diz “enunciado”,
devemos entendê-lo como sendo aquela “sequência acabada de palavras de uma língua
emitida por uma ou vários falantes”. O 'fechamento' do enunciado é assegurado por
um período de silêncio (realizado pelo falante) antes e depois da sequência de
palavras, lembrando que ele pode ser formado de uma ou mais frases. Além dos enunciados gramaticais e semânticos, podemos ter também enunciados agramaticais e assemânticos. Pode-se acrescentar um
adjetivo se se quiser qualificá-lo. Então teremos:
tipos de discurso: enunciado literário, polêmico,
didático, etc.;
tipo de comunicação: enunciado falado ou escrito; ou ainda
tipo de língua: enunciado francês, latino, etc.
Então, um conjunto de enunciados constituirá o corpo de dados empíricos (corpus) da análise linguística.
Em oposição complementar ao enunciado, teremos a
“enunciação”, que é o "ato individual
de utilização (ou criação) da língua". Assim, a enunciação é constituída pelo conjunto dos fatores e dos atos que
promovem a produção de um enunciado. Noutras palavras, enunciado é simplesmente o resultado do
ato de enunciação. A enunciação é a emissão de um conjunto de
signos que é produto da interação de indivíduos socialmente organizados.
Já, a “interlocução” é o processo
de interação entre pessoas através da linguagem verbal ou não-verbal, sendo o “discurso”, o efeito de sentido
construído no processo de interlocução (opondo-se assim àquela concepção de língua como
mera transmissão de informação).
“O
discurso não é fechado em si mesmo e nem é do domínio exclusivo do locutor:
aquilo que se diz significa em relação ao que não se diz, ao lugar social do
qual se diz, para quem se diz, em que relação a outros discursos” (Orlandi).
O discurso constitui “o
ponto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos”. A
linguagem
enquanto discurso de signos, serve apenas como instrumento de
comunicação ou suporte de pensamento, mas a linguagem enquanto discurso
é interação, um modo de produção social.
Importante considerar que a linguagem está muito longe de ser neutra ou
inocente (na medida em que está engajada numa intencionalidade). Ela é, sem
dúvida, o lugar privilegiado de
manifestação da ideologia.
Como elemento de
mediação necessária entre o homem e sua realidade e como forma de engajá-lo na
própria realidade, a linguagem constitui
lugar de conflito, de confronto
ideológico, não podendo ser estudada fora da sociedade, pois os processos
que a constituem são histórico-sociais. Seu estudo não pode estar desvinculado
de suas condições de produção. ” (Brandão).
O processo de formação social, por sua vez, caracteriza-se
por um
estado determinado de relações entre as classes que compõem uma
comunidade em dado momento de sua história. Estas relações estão assentadas em
práticas exigidas pelo modo de produção que domina a formação social. A essas
relações correspondem posições políticas e ideológicas que mantém
entre si laços de aliança, de antagonismo ou de dominação.
Já, a formação ideológica é constituída por um
conjunto complexo de atitudes e representações que não são nem
individuais, nem universais, mas dizem respeito, mais ou menos diretamente, às posições
de classes em conflito umas com as outras. Cada formação ideológica
pode compreender várias formações discursivas interligadas. Assim, uma formação
discursiva é um conjunto de enunciados
marcados pelas mesmas regularidades,
pelas mesmas regras de formação. A formação discursiva se define
pela sua relação com a formação ideológica, isto é, os textos que fazem parte
de uma formação discursiva remetem a uma mesma formação ideológica. A formação
discursiva determina “o que deve ser dito” a partir de um lugar social
historicamente determinado. Um mesmo texto pode aparecer em formações discursivas
diferentes, acarretando, com isso, variações de sentido.
As regras de formação são regras
constitutivas de uma formação discursiva, possibilitando a determinação dos
elementos que a compõem. Foucault apresenta-as como um sistema de relações entre
os objetos do discurso, os diferentes tipos de enunciação que permeiam o
discurso, os conceitos e as diversas estratégias capazes de dar conta de uma
formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias.
Para a Análise do
Discurso, não existe sentido a priori, mas ele é construído,
produzido no processo da interlocução; por isso deve ser referido às condições
de produção (contexto histórico-social, interlocutores...) do discurso. Segundo
Pêcheux, o sentido de uma palavra muda de acordo com a formação discursiva a
que pertence. O sujeito, na
perspectiva da Análise do Discurso, deixa de ser uma noção idealista, imanente;
o sujeito da linguagem não é o sujeito em si, mas tal como existe socialmente,
interpelado pela ideologia. Dessa forma, o sujeito não é a origem, a fonte
absoluta do sentido, porque na sua fala outras falas se dizem. Para Pêcheux, “a
ilusão discursiva do sujeito consiste em pensar que é ele a fonte, a origem do
sentido do que diz”.
A forma-sujeito é uma denominação criada por Pêcheux para indicar o
sujeito afetado pela ideologia. Já, o texto
é a unidade complexa de significação cuja análise implica as condições
de sua produção (contexto histórico-social, situação, interlocutores). Para
Orlandi, o texto como objeto teórico não é uma unidade completa; sua natureza é
intervalar, pois o sentido do texto se constrói no espaço discursivo dos
interlocutores. Mas, como objeto empírico de análise, o texto pode ser um
objeto acabado com começo, meio e fim.
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