Nos presídios federais um preso custa aproximadamente R$ 40 mil/ ano;
nas universidades federais cada aluno custa, em média, apenas R$ 15
mil/ano. Nos estados o preso custa, em média, R$ 22 mil/ano; a média de
investimento em alunos das redes estaduais é de apenas R$ 2,3 mil/ano.
Como os dados são de 2010, pode ser que já tenham inflacionado. Ademais,
não podemos esquecer que o montante gasto com cada marginal é bem
maior, pois não foi considerado o custo do Poder Judiciário que o
condena, do Ministério Público que o denuncia, nem o da Polícia que o
investiga e prende.
Diante disso, quando
alguém sugere que adotemos um marginal, vê-se logo que se trata de um
lunático, pois se habitasse qualquer país civilizado da Terra, há muito
teria dado conta de que já adotamos não apenas um, mas todos os
marginais.
Eu, como pago caríssimo
pelos marginais que adotei, não pretendo transformar a mim mesmo em
marginal e sair às ruas feito um selvagem infringindo leis para
caçá-los, prefiro exigir que o governo me honre e exerça sua função de
pacificação social, utilizando bem os vultosos recursos que lhe entrego
mensalmente para cumprir as obrigações das quais se omite, como, por
exemplo, a segurança.
Perguntarão: ora, você
não quer a punição dos bandidos? É claro que desejo a severa punição e
repressão ao crime, mas não à custa de me tornar um miliciano ilegal,
perdendo minha civilidade enquanto os responsáveis pelo estado em que
nos encontramos, às risadas, pensam: “Não lembraram de nos cobrar pelo
serviço que pagaram, saíram eles mesmos às ruas para executá-lo. Como
são servis!”
Outros dirão: “Você
pensa assim porque não foi vitimado pela violência”. Este, no entanto,
não é o meu caso. Quem me conhece sabe que fui assaltado duas vezes nas
ruas, minha casa foi invadida e roubada, mudei para um condomínio e ele
foi assaltado três vezes, perdi meu irmão mais novo na violência
gratuita do trânsito. Mesmo assim, sou contra execuções selvagens de
bandidos, policiais ou quem quer que seja, pois concordo com Rui
Barbosa, que dizia: “As leis que não protegem os meus inimigos, não me
protegem”.
Desejo a solução do
caos, mas ela não virá de assumir ilicitamente funções públicas enquanto
se permite a omissão impune do Estado. Ora, sabemos que o problema vem
exatamente da ausência do Estado! A saída possível é chamar as
instituições às suas responsabilidades e força-las a assumir as
atribuições que abandonaram. Se agir com violência civil contra a
violência civil trouxesse algum resultado útil, o Rio de Janeiro seria o
paraíso, haja vista a quantidade de milícias e grupos de extermínio que
há tempos operam por lá.
Sim, a violência já
atingiu meu patrimônio, meu corpo e meus entes queridos, mas eu ainda
posso me opor a ela institucionalmente, utilizando a razão. Se
porventura tivesse aderido ou apoiado algum clã selvagem de caçadores de
gente, ela teria me absorvido e derradeiramente me vencido, pois teria
atingido minha alma e desumanizado a minha existência (pior das
condenações).
Certa feita, disseram a
mim: “Seus argumentos seriam bons em um mundo perfeito”. Eu respondo,
agora: se entendes que os argumentos são válidos e o mundo é que se
revela falho, não desista nem perca a fé em si, não se limite a um
primitivo animal predador, aja como gente e utilize a energia da caçada
para transformar o mundo que te agride ao invés de se transformar também
em agressor. Na sua imensa sabedoria, Ghandi disse: “Olho por olho e o
mundo terminará cego”. Não deixe que te ceguem!
Luciano Olavo da Silva, analista judiciário, Bacharel em Direito, Especialista em Direito Eleitoral
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