domingo, 18 de maio de 2014

despertando a consciência

Hoje vamos tratar a respeito de mais uma excelente publicação de Nando Pereira, a respeito do tema "despertar da consciência":

A "prática da atenção ao momento presente" é uma das mais importantes para quem deseja agir conscientemente. É, certamente, uma ótima forma de começar o processo de compreensão mais profunda de tudo que nos acontece, tanto agora como na vida toda.
Viver de momento a momento, como dizia M. Samael, é um dos maiores desafios no caminho do despertar, é o grande diferencial entre os que "sonham" e os que estão "despertos", em todos os mundos. 
Observando a fala do monge zen vietnamita Thich Nhat Hanh, notamos algumas dicas de como podemos utilizar elementos do cotidiano, aparentemente irritantes e inoportunos, como dispositivos que estimularão nossa consciência a "presentificar-se" cada vez mais intensamente, para que ela retorne ao "aqui e agora", que é o primeiro passo para o despertar da consciência e da sabedoria que jaz adormecida dentro de nós.
A "não identificação com as coisas da vida diária" paradoxalmente só é possível quando estamos com 100% de nossa atenção ao aqui e agora. Essa atenção dirigida ao momento não pode, porém, prescindir da auto-observação. De nada adiantaria focalizar a atenção em "elementos externos", se acabasse se esquecendo de si mesmo... 
Então, é correto dizer que a atenção consciente é sempre dividida em dois aspectos simultaneamente: atenção ao QUE acontece... e em QUEM vivencia o que acontece. 

Silvio M. Max.
No mesmo sentido, N. Pereira tem outra publicação interessantíssima, agora citando o monge Ajahn Brahm, autor de “Mindfulness, Bliss, and Beyond: A Meditator’s Handbook” (2006), que aborda o mesmo tema do monge Thich Nhat Hanh, falando também sobre a arte de parar usando técnica semelhante: os sinais vermelhos

Transcrevo abaixo, ambos os trechos dos dois mestres citados no blog do Nando Pereira. 

Primeiramente, as três dicas do monge Thich Nhat Hanh: 
1- o sinal vermelho no trânsito, 
2- a placa de Pare
3-o toque do telefone
Por serem objetos marcantes, o monge entende que serviriam como " dispositivos-lembretes" para voltarmos à respiração e ao momento presente. 

Isso não impede, porém, que cada um escolha os seus próprios "dispositivos".  Você pode, por exemplo, utilizar o momento em que aguarda a chegada do elevador ou até mesmo o momento em que pára para tomar um copo de água ou em que é obrigado a lavar os pratos, como ele mesmo ensina no livro “O Milagre da Atenção Plena“, descrito no post “Lavando os pratos para lavar os pratos: consciência, presença e o milagre da vida na pia da cozinha, por Thich Nhat Hanh“.
Pereira, que fez as citações dos monges, lembra que o registro original foi feito por um grupo de estudos budistas da universidade americana de Stony Brook, em Nova Iorque (EUA), chamado “The Buddhist Studies and Practice Group”. Eis a resposta na íntegra, traduzida para o português em seu ótimo blog:

Pergunta: Como você mantém atenção plena em um  ambiente de trabalho movimentado? Algumas vezes parece que não há tempo nem para respirar com consciência.

Thich Nhat Hanh:  Esse não é apenas um problema pessoal; é um problema da civilização inteira. Por isso temos que praticar não apenas como indivíduos, mas como sociedade. Temos que fazer uma revolução de uma maneira que organizemos a sociedade e nossa vida diária, para que sejamos capazes de desfrutar do trabalho que fazemos todos os dias.

Enquanto isso, podemos incorporar um monte de coisas que temos aprendido nesse retiro para reduzir nosso estresse. Quando dirigimos pela cidade e chegamos a um sinal vermelho ou a uma placa de pare, podemos nos encostar no assento e usar esses vinte ou trinta segundas para relaxar, para inspirar, expirar, e curtir a chegada ao momento presente. Há muitas coisas como esta que podemos fazer. Anos atrás eu estava em Montreal a caminho de um retiro e notei que as placas dos carros diziam “Je me souviens” – “Eu lembro”. Não sei do que eles queriam se lembrar, mas para mim significa que eu lembro de respirar e sorrir (risos). Então eu disse a um amigo que estava dirigindo o carro que eu tinha um presente para a sangha em Montreal: cada vez que você ver “Je me souviens”, lembre-se de respirar e sorrir e voltar ao momento presente. Muitos de nossos amigos da sangha de Montreal tem praticado isso por mais de dez anos.

Acredito que podemos aproveitar o sinal vermelho, podemos também aproveitar a placa de pare. Toda vez que as vermos, nos beneficiamos: em vez de nos irritarmos com o sinal vermelho, de sermos consumidos pela impaciência, praticamos inspirar, expirar, e sorrir. Isso ajuda bastante. E quando ouvimos o telefone tocar, podemos considerar o som do sino da atenção plena. Você pratica meditação telefônica. Cada vez que você ouvir o telefone tocar você fica exatamente onde você está (risos). Inspirar e expirar e desfruta do respirar. Ouça, ouça – esse maravilhoso som lhe traz de volta pra casa. Então, quando você ouve o segundo tocar, você se levanta e vai até o telefone com dignidade (risos). Isso significa, usando o estilo da meditação andando (risos). Você sabe que consegue fazer isso, porque se a outra pessoa tem algo realmente importante pra lhe dizer, ela não vai desligar depois do terceiro toque. Isso é o que chamamos de meditação telefônica. Usamos o som como um sino de atenção plena.

E quando estiver esperando no ponto de ônibus, você pode tentar a respiração consciente, e esperar na fila do banco, você pode sempre praticar a respiração consciente. Andando de um prédio a outro, porque não usar a meditação andando, porque isso melhora a qualidade da nossa vida. Traz mais paz e serenidade, e a qualidade do trabalho que vamos fazer será melhorada por esse tipo de prática. Então é possível integrar a prática em nossa vida diária. Precisamos apenas de um pouco de imaginação criativa pra fazer isso.


Agora, da obra do monge Ajahn Brahm, “Mindfulness, Bliss, and Beyond: A Meditator’s Handbook” (2006), Nando Pereira traduziu o trecho que segue abaixo. Ele faz parte da última parte do livro (“Conclusion”), sob o título “Learning How To Do Nothing“, pgs 263-264:

“Soltar, diminuir o ritmo e parar não são apenas essenciais para chegar à iluminação, mas também cruciais para sobrevivermos na vida cotidiana. O estresse, que é causado por não saber como não fazer nada, é a mais essencial arma de destruição em massa.

Tantas doenças, mentais e físicas, são causadas por estresse. Há três séculos e meio, o filósofo francês Blaise Pascal reconheceu isso quando disse, “Todos os problemas do homem vem de não saber sentar e parar”.

Em uma parte do tempo não há nada a fazer. Mesmo assim nessas horas você é incapaz de não fazer nada. Você esqueceu como é isso. Por isso você se debate inutilmente. Se você fosse sábio, quando não houvesse nada para fazer então você não faria nada! Faz tanto sentido.

Todos nós precisamos aprender a não fazer nada para que nas horas certas possamos descansar e relaxar. Felizmente, para aqueles que não tem a oportunidade de ir aos mosteiros, professores estão disponíveis em bom número na maioria das cidades modernas. Eles podem ser encontrados nos grandes cruzamentos. Eles são os semáforos. Quando a luz vermelha aparecer, ela diz “Pare!”. Essa é a prática de soltar. Você já aprendeu a não fazer nada quando o sinal fica vermelho? Ou somente o carro para enquanto você continua correndo? Se é assim, então uma oportunidade está sendo perdida. No sinal vermelho, você pode abrir sua mente ao presente e permitir a paz e a beleza inesperadas aparecerem ao seu redor. Já ouvi, mas ainda não vi, que na capital da espiritual Índia, Nova Delhi, quando o sinal vermelho se ativa aparecem cinco letras, r, e, l, a, x: relax (relaxe). Não são sinais de pare, são sinais de relaxe. Que ótima idéia. Se não é verdade, deveria ser!

Se você não reservar um tempo para aprender a não fazer nada, se você não é capaz de relaxar num sinal vermelho da vida, então brevemente você será forçado a parar num túmulo precoce. Como diz aquele ditado antigo, “A morte é o jeito da natureza forçá-lo a diminuir o ritmo”. Recomendo a meditação no lugar da morte prematura.””

~ Ajahn Brahm, em “Mindfulness, Bliss, and Beyond: A Meditator’s Handbook”



fontes:
dharmalog.com/2014/05/12/como-manter-atencao-plena-em-um-ambiente-trabalho-movimentado-thich-nhat-hanh

http://dharmalog.com/2014/05/16/ajahn-brahm-e-arte-de-nao-fazer-nada-essencial-para-sobrevivermos-na-vida-cotidiana/

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