A crise da representatividade no
Brasil (*) -
(*) Jaime Luiz Klein
Publicado no Jornal Notícias do Dia, em SC
A democracia –
conquistada a duras penas por idealistas que lutaram contra o autoritarismo e a
tirania de governos absolutistas – no Brasil, como forma de governo,
encontra-se insculpida na Constituição da República Federativa do Brasil, no
artigo primeiro, como pilar do Estado Democrático de Direito.
Nos últimos anos, entretanto,
o Poder Legislativo – que é a instituição que representa indiretamente
esse poder popular - vem se deteriorando, revelando-se numa severa crise de
representatividade, sobretudo pelo fato de não ecoar mais nas Casas do Povo,
muitas vezes, os anseios populares, as reais necessidades dos cidadãos, o
interesse público.
Essa crise de representatividade, em termos gerais, ficou evidente nas manifestações que tomaram conta do País em junho, no ano passado, fato que foi confirmado com a divulgação do Índice de Confiança Social (ICS), também em 2013, do IBOPE, que mede a confiança dos brasileiros nas pessoas e grupos sociais. O Congresso Nacional e os Partidos Políticos figuraram nas últimas posições nesse ranking, portanto, os mais desacreditados.
O Poder Legislativo, em
síntese, tem duas missões precípuas: legislar e fiscalizar. Esta última,
entretanto, infelizmente, tem sido renunciada ou atendida precariamente. A
fiscalização tem como princípio basilar a segregação de funções, isto é, a
independência entre quem fiscaliza e quem executa. Entretanto, como é
consabido, no Brasil não há independência entre o Legislativo e Executivo,
especialmente pela voracidade dos Partidos Políticos por cargos e pastas,
resultando em dezenas, centenas, talvez milhares de parlamentares que renegarem
seus mandados, traindo a confiança do eleitor, e que partem para o
Executivo. Diferente daqui, nos Estados Unidos da América, no primeiro
governo de Barack Obama, a Senadora pelo Estado de Nova York, Hillary Clinton,
foi obrigada a renunciar para assumir o cargo de secretária de Estado.
Em função disso, como
resultado, temos no Brasil, de modo geral, uma Administração Pública
ineficiente, com baixíssimo nível de qualidade do gasto e um alto nível de
corrupção, resultando em serviços públicos deficientes ou inexistentes. Diante
dessa situação e omissão dos Parlamentares, muitos cidadãos estão transformando
sua indignação em ação, a partir da organização da Sociedade Civil em
entidades, em suas respectivas cidades, que estão desempenhando essa função, ou
seja, fiscalizando a aplicação do dinheiro público.
Nesse sentido, por
exemplo, foram constituídos, em poucos anos, mais de 80 Observatórios Sociais,
distribuídos em 14 Estados Brasileiros, que têm a missão de mobilização da
população para fiscalização dos gastos públicos dos Governos Municipais, papel
este que deveria ser realizado pelas Câmaras Municipais e seus integrantes,
tendo em vista que eles detêm a competência constitucional do exercício do
Controle Externo dos Municípios. Nos dias 27 a 29 de março, esses
Observatórios Sociais estarão reunidos no V Encontro Nacional, em Balneário
Camboriú.
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