Se
você é daquelas pessoas que tem bom senso e gosta de raciocinar utilizando a
lógica, estatísticas e leis de probabilidade, deve saber que em tese, há
pelo menos 100 mil civilizações inteligentes, isso apenas em nossa galáxia! Uma
pequena fração delas estaria emitindo ondas de rádio, ou qualquer
outro tipo de sinal para estabelecer comunicação. Então, você também já deve ter se
perguntado: se há tantas civilizações inteligentes pelo espaço, por que
ainda não encontramos nenhuma ou por que nenhuma delas entrou em contato explícito conosco?
Há
até uma organização (SETI -Busca por Inteligência Extraterrestre, em inglês) que
utiliza satélites para buscar sinais ou evidências de outras vidas
inteligentes no exoespaço. Então,
por que esses satélites não estão recebendo tais sinais?
Eis aí o paradoxo de Fermi, o qual permanece sem resposta objetiva até hoje. O máximo que podemos fazer é formular hipóteses sobre o que estaria acontecendo...
Eis aí o paradoxo de Fermi, o qual permanece sem resposta objetiva até hoje. O máximo que podemos fazer é formular hipóteses sobre o que estaria acontecendo...
Saber
se estamos ou não sozinhos no universo talvez seja uma questão fora do nosso
alcance. O fato é que devemos admitir com humildade que nossos sentidos ordinários e nossa tecnologia extremamente primitiva não nos dá condições de ter a menor ideia do
que está acontecendo pelo universo a fora.
Como
conclui o autor do artigo abaixo, sonhamos com a ilusão de que “somos os reis de nosso pequeno castelo, comandando
os rumos do planeta”. As hipóteses, porém, apontam para o fato de que provavelmente
não somos tão espertos como pensamos.
Além disso, muito do que consideramos como absolutamente certo pode estar errado. Há muito mais fenômenos acontecendo ao nosso redor, sobre os quais não temos a menor consciência.”
Além disso, muito do que consideramos como absolutamente certo pode estar errado. Há muito mais fenômenos acontecendo ao nosso redor, sobre os quais não temos a menor consciência.”
Abaixo segue o interessante artigo:
Algumas
pessoas ficam impressionadas pela beleza do céu, ou se deslumbram com a
vastidão do universo. No meu caso, eu passo por uma leve crise
existencial, e depois ajo bem estranhamente por meia hora. Cada um reage
de um jeito diferente.
O físico Enrico Fermi também reagia diferente, e se perguntou: “cadê todo mundo?”
Os números
Um
céu estrelado parece imenso, mas tudo o que estamos vendo é a nossa
vizinhança. Nas melhores noites estreladas, nós podemos ver até 2.500
estrelas (mais ou menos um centésimo de milionésimo do total de estrelas
em nossa galáxia).
Quase todas estão a menos de mil anos-luz de nós (ou 1% do diâmetro da Via Láctea). Então, na verdade estamos olhando para isto:
Nosso céu noturno é formado por uma pequena parte das estrelas próximas e mais brilhantes dentro do círculo vermelho.
Quase todas estão a menos de mil anos-luz de nós (ou 1% do diâmetro da Via Láctea). Então, na verdade estamos olhando para isto:
Nosso céu noturno é formado por uma pequena parte das estrelas próximas e mais brilhantes dentro do círculo vermelho.
Quando
somos confrontados com o assunto de estrelas e galáxias, uma questão
que atormenta a maior parte dos humanos é: “há vida inteligente lá
fora?”
Vamos colocar alguns números nessa questão; se você não gosta de números, pode ler só o negrito.
Vamos colocar alguns números nessa questão; se você não gosta de números, pode ler só o negrito.
Nossa
galáxia tem entre 100 bilhões e 400 bilhões de estrelas; no entanto,
este é quase o mesmo número de galáxias no universo observável. Então,
para cada estrela da imensa Via Láctea, há uma galáxia inteira lá fora.
No total, existem entre 10^22 e 10^24 estrelas no universo. Isso significa que para cada grão de areia na Terra, há 10.000 estrelas no universo.
O
mundo da ciência não está em total acordo sobre qual porcentagem dessas
estrelas são parecidas com o Sol (similares em tamanho, temperatura e
luminosidade). As opiniões tipicamente vão de 5% a 20%. Indo pela mais
conservadora (5%) e o número mais baixo na estimativa total de estrelas
(10^22), isso nos dá 500 quintilhões, ou 500 bilhões de bilhões de estrelas similares ao Sol.
Também
há um debate sobre qual porcentagem dessas estrelas similares ao Sol
poderiam ser orbitadas por planetas similares a Terra (com condições
parecidas de temperatura, que poderiam ter água líquida e que
poderia sustentar vida similar à da Terra). Alguns dizem que é até 50%,
mas vamos ficar com os conservadores 22% que apareceram em um recente estudo no PNAS.
Isso sugere que há um planeta similar à Terra, potencialmente
habitável, orbitando pelo menos 1% do total de estrelas do universo: um
total de 100 bilhões de bilhões de planetas similares à Terra.
Então existem 100 planetas parecidos com a Terra para cada grão de areia do mundo. Pense nisso na próxima vez que for à praia.
Daqui
para a frente, nós não temos outra escolha senão sermos especulativos.
Vamos imaginar que, depois de bilhões de anos de existência, 1% dos
planetas parecidos com a Terra tenham desenvolvido vida (se isso for
verdade, cada grão de areia representaria um planeta com vida). E
imagine que em 1% desses planetas avance até o nível da vida
inteligente, como aconteceu na Terra. Isso significaria que teríamos 10
quatrilhões, ou 10 milhões de bilhões de civilizações inteligentes no universo observável.
Voltando
para a nossa galáxia e fazendo as mesmas contas usando a estimativa
mais baixa de estrelas na Via Láctea, estimamos que existem 1 bilhão de planetas similares à Terra, e 100 mil civilizações inteligentes na nossa galáxia. (A Equação de Drake traz um método formal para esse processo limitado que estamos fazendo).
A
SETI (Busca por Inteligência Extraterrestre, na sigla em inglês) é uma
organização dedicada a ouvir sinais de outras vidas inteligentes. Se nós
estivermos certos e houver 100 mil ou mais civilizações inteligentes na
nossa galáxia, uma fração delas estaria emitindo ondas de rádio, ou
raios laser, ou qualquer coisa para realizar contato. Então os satélites da SETI deveria estar recebendo sinais de todo tipo, certo?
Mas não está. Nunca recebeu.
Cadê todo mundo?
Tipos de civilização
E
tudo fica mais estranho. Nosso Sol é relativamente jovem em
relação ao universo. Há estrelas muito mais velhas, com planetas muito
mais velhos e semelhantes à Terra, o que em teoria representaria
civilizações muito mais avançadas que a nossa.
Por exemplo, vamos comparar nossa Terra de 4,54 bilhões de anos com um hipotético planeta X, com seus 8 bilhões de anos.
Por exemplo, vamos comparar nossa Terra de 4,54 bilhões de anos com um hipotético planeta X, com seus 8 bilhões de anos.
Se o planeta X tiver uma história similar a da Terra, vamos olhar para onde sua civilização estaria hoje:
Hoje, o Planeta X estaria a 3,46 bilhões de anos de desenvolvimento além do que temos hoje.
A
tecnologia e o conhecimento de uma civilização mil anos à nossa frente
poderia ser tão chocante quanto nosso mundo seria para uma pessoa
medieval. Uma civilização um milhão de anos à frente poderia ser tão
incompreensível para nós quanto a cultura humana é para chimpanzés. E o
planeta X está a 3.4 bilhões de anos à frente de nós…
Existe algo chamado de Escala Kardashev, que nos ajuda a agrupar civilizações inteligentes em três grandes categorias, de acordo com a quantidade de energia que usam:
- uma Civilização Tipo I tem a habilidade de usar toda a energia de seu planeta. Nós não somos exatamente uma Civilização Tipo I, mas estamos perto (Carl Sagan criou uma fórmula para essa escala que nos coloca como uma Civilização Tipo 0,7);
- uma Civilização Tipo II pode colher toda a energia de seu sistema solar. Nosso débil cérebro Tipo I mal consegue imaginar como alguém faria isso, mas nós tentamos nosso melhor, imaginando coisas como a Esfera de Dyson.
- uma Civilização Tipo III ultrapassa fácil as outras duas, acessando poder comparável ao da Via Láctea inteira.
Se
esse nível de avanço parece difícil de acreditar, lembre-se do planeta X
e de seus 3,4 bilhões de anos de desenvolvimento além do nosso (cerca
de meio milhão de vezes mais do que o tempo que a raça humana existe).
Se uma civilização no planeta X for similar à nossa e foi capaz de
sobreviver até chegar no Tipo III, é natural pensar que a essa altura
eles provavelmente já dominaram a viagem interestelar, possivelmente até
mesmo colonizando a galáxia inteira.
Como
essa colonização galáctica teria acontecido? Uma hipótese: cria-se um
maquinário que pode viajar para outros planetas, passam-se uns 500 anos
se auto-replicando usando os materiais que encontrarem no novo planeta, e
então enviam-se duas réplicas para fazerem a mesma coisa.
Mesmo
sem alcançar nada perto da velocidade da luz, esse processo colonizaria
a galáxia inteira em 3,75 milhões de anos, relativamente um piscar de
olhos quando estamos falando de uma escala de bilhões de anos:
Nesta evolução exponencial, a galáxia estaria completamente colonizada em 3,75 milhões de anos. Fonte: J. Schombert, U. Oregon
Continuando
a especular, se 1% da vida inteligente sobreviver tempo suficiente para
se tornar uma colonizadora de galáxias Civilização Tipo III em
potencial, nossos cálculos acima sugerem que haveriam mil Civilizações
Tipo III só em nossa galáxia. Dado o poder de tal civilização, sua
presença provavelmente seria fácil de se notar. E, ainda assim, nós não
vemos nada, não ouvimos nada e não fomos visitados por ninguém.
Então cadê todo mundo?
Sejam bem-vindos ao Paradoxo de Fermi.
Ainda
não há uma resposta para o Paradoxo de Fermi. O melhor que podemos
fazer é conseguir “explicações possíveis”. E se você perguntar a dez
cientistas diferentes qual o palpite deles sobre a explicação correta,
você terá dez respostas diferentes. Sabe quando humanos de antigamente
discutiam se a Terra era redonda, ou se o Sol girava em torno da Terra,
ou achavam que os raios aconteciam por causa de Zeus? Por isso, hoje
eles parecem primitivos e ignorantes; no entanto, esse é mais ou menos o
ponto em que estamos neste assunto.
Ao
analisar as hipóteses mais discutidas sobre o Paradoxo de Fermi, vamos
dividi-las em duas grandes categorias: as explicações que supõem que não
há sinal de Civilizações Tipo II e III porque elas não existem; e as
explicações que sugerem que elas estão lá, só que não estamos vendo ou
ouvindo nada por outros motivos.
Grupo 1 de
Explicações:
não há sinais de
civilizações superiores (Tipos II e III) porque elas não existem.
Aqueles
que acreditam em explicações do Grupo 1 recusam qualquer teoria do
tipo “existem civilizações maiores, mas nenhuma delas fez qualquer tipo
de contato conosco porque todas _____”.
O pessoal do Grupo 1 vê os números, entende que deveria haver milhares (ou milhões) de civilizações superiores, e intui que pelo menos uma delas deveria ser a exceção à regra. Mesmo se uma teoria abarcasse 99,99% das civilizações superiores, o 0,001% restante se comportaria de alguma outra forma e nós perceberíamos sua existência.
O pessoal do Grupo 1 vê os números, entende que deveria haver milhares (ou milhões) de civilizações superiores, e intui que pelo menos uma delas deveria ser a exceção à regra. Mesmo se uma teoria abarcasse 99,99% das civilizações superiores, o 0,001% restante se comportaria de alguma outra forma e nós perceberíamos sua existência.
Por
isso, dizem as explicações do Grupo 1, não entramos em contato
com civilizações superavançadas porque não existem. Como a
matemática sugere que existem milhares delas só na nossa galáxia, alguma
outra coisa deve estar acontecendo.
Essa “outra coisa” é o Grande Filtro.
A
teoria do Grande Filtro diz que, em algum ponto entre o início da vida e
a inteligência Tipo III, há uma barreira. Há algum estágio naquele
longo processo evolucionário que é improvável ou impossível de ser
atravessado pela vida. Esse estágio é chamado de O Grande Filtro.
Se essa teoria for real, a grande questão é: quando acontece o Grande Filtro na linha do tempo?
Acontece
que, quando o assunto é o destino da humanidade, essa questão é muito
importante. Dependendo de quando O Grande Filtro ocorre, sobram para nós
três possíveis realidades: nós somos raros; nós somos os primeiros; ou
nós estamos ferrados.
1. Nós somos raros (já passamos do Grande Filtro)
Uma
esperança é que já tenhamos passado do Grande Filtro. Nós conseguimos
atravessá-lo, portanto é extremamente raro que a vida alcance nosso
nível de inteligência. O diagrama abaixo mostra apenas duas espécies
passando por ele; nós somos uma delas.
Esse
cenário explicaria por que não existem Civilizações Tipo III… mas isso
também poderia significar que nós podemos ser uma das exceções, já que
chegamos até aqui. Isso significaria que há esperança para nós.
Superficialmente, isso parece com as pessoas de meio século atrás,
sugerindo que a Terra é o centro do universo. Sugere que nós somos
especiais.
Mas
se nós somos especiais, quando exatamente nos tornamos especiais? Isto
é, qual passo nós superamos, apesar de quase todo mundo ficar preso
nele?
Uma
possibilidade: o Grande Filtro pode estar no comecinho de tudo; pode
ser incrivelmente raro que a vida comece. Esse é um candidato porque
demorou um bilhão de anos para a vida na Terra finalmente acontecer, e
porque nós tentamos exaustivamente replicar esse evento em laboratórios e
jamais conseguimos. Se este é mesmo o Grande Filtro, isso significaria
que não deve existir vida inteligente lá fora – pode simplesmente não
haver vida.
Outra
possibilidade: o Grande Filtro pode ser o salto de células procariontes
simples para células eucariontes complexas. Após o surgimento das
procariontes, elas permaneceram dessa forma por quase dois milhões de
anos antes de darem o salto evolucionário para se tornarem complexas e
ganharem um núcleo. Se esse é o Grande Filtro, isso significaria que o
universo está repleto de células procariontes simples e quase nada além
disso.
Há
outras possibilidades. Alguns acham até que nosso salto evolucionário
mais recente, alcançando nossa inteligência atual, é um candidato a
Grande Filtro. Ainda que o salto de vida semi-inteligente (chimpanzés)
até a vida inteligente (humanos) a princípio não pareça um passo
miraculoso, Steven Pinker rejeita a ideia de que a “escalada ascendente” da evolução seja inevitável:
Uma vez que a evolução apenas acontece, sem ter um objetivo, ela usa a adaptação mais útil para um certo nicho ecológico. O fato que, na Terra, até hoje isso levou a inteligência tecnológica apenas uma vez, pode sugerir que essa consequência da seleção natural é rara e, consequentemente, não é um desenvolvimento infalível da evolução de uma árvore da vida.
A
maioria dos saltos não se qualifica como candidatos a Grande Filtro.
Qualquer Grande Filtro possível deve ser algo que só acontece uma vez em
um bilhão, onde uma ou mais anomalias devem ocorrer para proporcionar
uma enorme exceção.
Por esse motivo, algo como pular de uma vida unicelular para uma multicelular está fora de questão como filtro, porque isso aconteceu pelo menos 46 vezes em
incidentes isolados, só no nosso planeta. Pela mesma razão, se nós
encontrarmos uma célula eucarionte fossilizada em Marte, ela iria tirar o
salto “de-célula-simples-para- complexa” da lista de possíveis
Grandes Filtros (assim como qualquer outra coisa que esteja antes desse
ponto na cadeia evolucionária). Se isso aconteceu tanto na Terra quanto
em Marte, claramente não é uma anomalia.
Se
nós formos mesmo raros, isso pode ser por causa de um acidente
biológico, mas isso também pode ser atribuído ao que se chama de
Hipótese da Terra Rara. Ela sugere que, ainda que existam muitos
planetas similares a Terra, as condições particulares do nosso planeta o
tornam tão conveniente à vida — sejam as relacionadas a seu sistema
solar, seu relacionamento com a Lua (uma lua tão grande é incomum para
um planeta tão pequeno, contribuindo para as condições peculiares de
nosso clima e nosso oceano), ou algo sobre o planeta em si.
2. Nós somos os primeiros
A civilização humana é representada pela linha laranja.
Para
pensadores do Grupo 1, se já não tivermos passado pelo Grande Filtro,
nossa única esperança é que, do Big Bang até hoje, as condições no
universo estão alcançando um nível que permita o desenvolvimento de vida
inteligente. Nesse caso, nós podemos estar a caminho da super
inteligência, mas isso ainda não aconteceu. Por acaso, nós estaríamos na
hora certa para nos tornarmos uma das primeiras civilizações super
inteligentes.
Um
exemplo de um fenômeno que poderia tornar isso realístico é o
predomínio de explosões de raios gama, detonações absurdamente imensas
que observamos em galáxias distantes. Levou algumas centenas de milhões
de anos para que os asteróides e vulcões se acalmassem e a vida se
tornasse possível.
Da
mesma forma, pode ser que o começo das existências no universo esteja
cheio de eventos cataclísmicos, como explosões de raios gama que
incinerariam tudo à sua volta de tempos em tempos, evitando que qualquer
vida se desenvolva a partir de um certo estágio. Talvez estejamos agora
no meio de uma fase de transição astrobiológica, e essa seja a primeira vez que qualquer vida tenha sido capaz de se desenvolver ininterruptamente por tanto tempo.
3. Nós estamos ferrados (o Grande Filtro está chegando)
O Grande Filtro é representado pela linha vermelha.
Se
nós não somos nem raros nem pioneiros, os pensadores do Grupo 1
concluem que O Grande Filtro deve estar no nosso futuro. Isso implicaria
que a vida frequentemente evolui até onde estamos, mas alguma coisa
impede, em quase todos os casos, que a vida vá muito adiante e alcance a
inteligência avançada — e dificilmente nós seremos uma exceção.
Um
possível Grande Filtro seria algum evento cataclísmico que ocorra
regularmente, como as já mencionadas explosões de raio gama. Só
que ela ainda não teria ocorrido e, infelizmente, é uma questão de tempo
até que ela acabe com toda a vida na Terra. Outra candidata é a
destruição possivelmente inevitável que quase todas as civilizações
inteligentes acabariam trazendo para si mesmas, uma vez atingido certo
nível de tecnologia.
É por isso que o filósofo Nock Bostrom, da Universidade de Oxford, diz que “boa novidade é não haver novidade“.
Se descobrirem vida em Marte, mesmo que simples, isso seria devastador,
porque eliminaria diversos potenciais Grandes Filtros no passado. E se
encontrarmos fósseis de vida complexa em Marte, Bostrom diz que “seria a
pior notícia já impressa em uma primeira página de jornal”, porque
significaria que o Grande Filtro está quase que definitivamente à nossa
frente, condenando toda nossa espécie de uma vez. Bostrom acredita que,
quando se trata do Paradoxo de Fermi, “o silêncio do céu noturno é
ouro”.
Grupo
2 de Explicações: civilizações inteligentes dos Tipos I e II existem,
mas há razões lógicas para que não tenhamos ouvido falar delas.
As
explicações do Grupo 2 abandonam qualquer ideia de que nós somos raros,
especiais ou qualquer coisa parecida. Pelo contrário, elas acreditam no Princípio da Mediocridade: ou
seja, até que se prove o contrário, não há nada de especial ou incomum
em nossa galáxia, sistema solar, planeta ou nível de inteligência. Além
disso, elas são mais cautelosas antes de assumir que, se não há
evidências de uma inteligência superior, ela não existe. Elas enfatizam o
fato de nossas buscas por sinais só alcançarem mais ou menos até 100
anos-luz de nós (0,1% da galáxia) e só terem ocorrido há menos de uma
década, o que é pouquíssimo tempo.
Pensadores
do Grupo 2 têm uma ampla gama de possíveis explicações para o Paradoxo
de Fermi. A seguir, eis as nove mais discutidas:
Possibilidade 1: a vida superinteligente pode ter visitado a Terra antes de estarmos aqui. Humanos
sencientes só estão por aí há uns 50 mil anos, um piscar de olhos se
comparado à existência do universo. Se o contato ocorreu antes disso,
deve ter assustado alguns patos e só. Além disso, nossa história
documentada só vai até uns 5.500 anos atrás. Por isso, talvez tribos
humanas de caçadores-coletores pode ter passado por algumas experiências
loucas com aliens, mas não tinham como contá-las para as pessoas do
futuro.
Possibilidade 2: a galáxia foi colonizada, mas nós moramos em uma área despovoada. As
Américas podem ter sido colonizadas pelos europeus muito antes de
qualquer um daquela pequena tribo Inuit ao norte do Canadá ter percebido
o ocorrido. Pode haver um elemento de urbanização nas moradias
estelares das espécies mais avançadas: todos os sistemas solares de uma
certa área são colonizados e estão em comunicação, mas seria pouco
prático e inútil pra qualquer um deles vir até o canto distante e
aleatório em que vivemos.
Possibilidade 3: todo o conceito de colonização física é comicamente atrasado para uma espécie mais avançada. Uma Civilização
Tipo II consegue usar toda a energia de sua estrela. Com toda essa
energia, eles podem ter criado um ambiente perfeito para eles,
satisfazendo todas as suas necessidades. Eles podem ter meios
hiperavançados de reduzir a necessidade de recursos, e interesse zero em
deixar sua utopia feliz para explorar um universo frio, vazio e pouco
desenvolvido.
Uma
civilização ainda mais avançada poderia ver todo o mundo físico como um
lugar horrivelmente primitivo, tendo há muito dominado sua própria
biologia e feito upload de seus cérebros para uma realidade virtual, um
paraíso da vida eterna. Viver em um mundo físico de biologia, morte,
desejos e necessidades pode soar para eles da mesma forma como nos soam
as espécies primitivas vivendo no oceano escuro e gelado.
Possibilidade
4: há civilizações predatórias e assustadoras lá fora, e as formas de
vida mais inteligentes sabem que não devem transmitir sinais e divulgar
sua localização. Essa é uma ideia desagradável, mas que ajudaria
explicar a falta de sinais recebidos pelos satélites SETI. Ela também
significaria que, ao transmitir nossos sinais lá pra fora, estamos sendo
novatos inocentes e descuidados. Há um debate envolvendo METI (Mensagem
às Inteligências Extraterrestes na sigla em inglês; o inverso de SETI,
que só escuta). Basicamente, deveríamos mesmo enviar mensagens para o
universo? A maioria das pessoas diz que não.
Stephen
Hawking adverte: “se aliens nos visitarem, o resultado pode ser
parecido com a chegada de Colombo nas Américas, que não terminou bem
para os nativos”. Mesmo Carl Sagan, que geralmente acredita que qualquer
civilização avançada o bastante para viagens interestelares seria
altruísta, não hostil, diz que a prática de METI é “profundamente imprudente e imatura“,
e recomendou que “as crianças mais novas de um cosmo estranho e incerto
deveriam ouvir em silêncio por um longo tempo, aprendendo pacientemente
e tomando notas sobre o universo, antes de gritar para uma selva
desconhecida que não conseguimos compreender”. Assustador.
Possibilidade
5: existe apenas uma única inteligência superior, uma civilização
“superpredadora” (mais ou menos como os humanos aqui na Terra) que é
muito mais avançada que todas as outras e mantém as coisas assim,
exterminando qualquer civilização que ultrapasse um certo nível de
inteligência. Isso seria um saco. Poderia funcionar se o extermínio
de todas as inteligências emergentes fosse um desperdício de recursos,
já que a maioria se mata sozinha. Mas, ultrapassado um certo ponto,
esses super seres agiriam porque, para eles, uma espécie inteligente
emergente se tornaria um vírus, conforme começasse a crescer e se
expandir. Essa teoria sugere que a vitória é de quem foi o primeiro a
alcançar a inteligência superior. Ninguém mais tem chance. Isso
explicaria a falta de atividade lá fora, porque o número de civilizações
superinteligentes seria 1.
Possibilidade
6: há muito barulho e atividade lá fora, mas nossas tecnologias são
muito primitivas e nós estamos procurando pelas coisas erradas. É
como entrar em um prédio de escritórios, ligar um walkie-talkie (que
ninguém mais usa) e, ao não ouvir nada, concluir que o prédio está
vazio. Ou talvez, como apontou Carl Sagan, pode ser que nossas mentes
trabalhem exponencialmente mais rápido ou mais lentamente do que a de
qualquer outra forma de vida lá fora. Ou seja, eles levam 12 anos pra
dizer “oi” e, quando nós ouvimos essa comunicação, isso parece apenas
ruído.
Possibilidade
7: civilizações mais avançadas sabem sobre nós e estão nos observando,
mas se ocultam de nós (a “Hipótese do Zoológico”). Até onde sabemos,
civilizações super inteligentes existem em uma galáxia controlada
rigidamente, e nossa Terra é tratada como parte de um safári amplo e
protegido, e planetas como o nosso estão sob uma estrita regra de “olhe,
mas não toque”. Nós não estamos cientes deles porque, se uma espécie
muito mais inteligente quisesse nos observar, ela saberia como fazer
isso sem nos deixar saber. Talvez haja uma regra similar à “Primeira
Diretriz” de Jornada nas Estrelas, que proíbe seres super inteligentes
de fazerem qualquer contato aberto com espécies inferiores como a nossa,
ou de se revelarem de qualquer forma, até que a espécie inferior
alcance um certo nível de inteligência.
Possibilidade 8: civilizações superiores existem à nossa volta, mas somos primitivos demais para percebê-las. Michio Kaku resumiu isso assim:
Digamos que há um formigueiro no meio da floresta. Ao lado do formigueiro, estão construindo uma super autoestrada de dez faixas. E a questão é, “as formigas seriam capazes de entender o que é uma super autoestrada de dez faixas? Elas seriam capazes de entender a tecnologia e as intenções dos seres construindo a autoestrada a seu lado?”
Então
não é que, usando nossa tecnologia, não sejamos capazes de receber os
sinais do planeta X. É que nós não conseguimos sequer entender o que são
os seres do planeta X, ou o que eles estão tentando fazer. É tão além
de nós que mesmo se eles quisessem nos esclarecer, seria como tentar
ensinar às formigas sobre a internet.
Seguindo
essa linha, essa pode ser uma resposta para “se existem tantas
exuberantes Civilizações Tipo III, por que ainda não entraram em contato
conosco?”. Para responder isso, vamos nos perguntar: quando Pizarro
chegou ao Peru, ele parou um tempo em um formigueiro e tentou se
comunicar com ele? Ele foi magnânimo, tentando ajudar as formigas? Ele
foi hostil e atrasou sua missão original só para esmagar e destruir o
formigueiro? Ou, para Pizarro, o formigueiro era completa e absoluta e
eternamente irrelevante? Essa pode ser a nossa situação nesse caso.
Possibilidade 9: nós estamos completamente enganados sobre nossa realidade.Há
muitas maneiras pelas quais nós podemos estar totalmente iludidos em
tudo que pensamos. O universo pode parecer ser de um jeito e ser de
outro completamente diferente, como um holograma. Ou talvez nós sejamos
os alienígenas e fomos plantados aqui como um experimento. Há até mesmo a
chance de que sejamos parte de uma simulação de computador de algum
pesquisador de outro mundo, e outras formas de vida simplesmente não
foram programadas na simulação.
Conclusão
Conforme
continuamos em nossa possivelmente inútil busca por inteligência
extraterrestre, eu não tenho certeza o que queremos encontrar.
Francamente, tanto faz saber se estamos oficialmente sozinhos no
universo ou se estamos oficialmente na companhia de outros, ambas são
opções assustadoras. É um tema recorrente em todos os enredos surreais
acima: qualquer que seja a verdade, ela é de enlouquecer.
Além
de seu chocante ingrediente de ficção científica, o Paradoxo de Fermi
também me deixa profundamente humilde. Não só lembra que sou
microscópico e minha existência dura uns três segundos, algo que me vem à
cabeça sempre que penso sobre o universo. O Paradoxo de Fermi traz à
tona uma humildade mais mordaz, mais pessoal, do tipo que só acontece
depois de passar horas de pesquisa ouvindo os mais renomados cientistas
de nossa espécie apresentando as teorias mais insanas, mudando de ideia e
contradizendo um ao outro freneticamente. Ele nos faz lembrar que as
futuras gerações olharão para nós da mesma forma que nós olhamos para os
antigos, que tinham certeza que as estrelas estavam sob o domo do céu;
no futuro, lembrarão de nós dizendo “uau, eles não tinham ideia nenhuma
do que estava acontecendo”.
E
ainda temos mais outro golpe à autoestima com todo esse assunto de
Civilizações Tipos II e III. Aqui na Terra, nós somos os reis de nosso
pequeno castelo, comandando os rumos do planeta mais do que qualquer
outra espécie. Nessa bolha, sem competição e sem ninguém para nos
julgar, é raro que sejamos confrontados com a ideia de sermos uma
espécie inferior a qualquer outra. Mas não somos nem uma Civilização
Tipo I!
Dito
isso, toda essa discussão é maravilhosa para mim. Sim, tenho minha
perspectiva de que a humanidade é uma órfã solitária em uma pequena
rocha no meio de um universo solitário. Mas as hipóteses apontam que
provavelmente não somos tão espertos como pensamos. Além disso, muito do
que temos certeza pode estar errado. Tudo isso me deixa esperançoso em
conhecer e descobrir mais, nem que seja um pouquinho,
porque existem muito mais coisas do que nós temos consciência.
Este artigo foi republicado com permissão do site WaitButWhy.com.
Foto inicial por Andreas Schönfeld
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