domingo, 14 de setembro de 2014

Os joguetes da vida: cuidado!

A seguir poderemos ler uma reflexão assustadoramente radical sobre o que somos e sobre o que são as distintas situações da vida...
Aviso que a reflexão não é nada lisonjeira em relação à ideia que geralmente nutrimos sobre quem somos, sobre nossa própria identidade.
Acreditamos geralmente que somos uma substância que não se confunde com os demais, nem com o resto do mundo, que somos uma consciência, um ego, uma entidade real, substancial, uma alma ou espírito. Mas o que de fato sabemos de nós mesmos?  Realmente conhecemos a nós mesmos ou o que sabemos a nosso respeito são ideias advindas de outras pessoas, doutrinas, filosofias ou livros? De tudo, o que de fato constatamos por nós mesmos?
Nossas experiências vão se aglomerando e acontece por fim que, a este conjunto bastante difuso de vivências acumuladas, acabamos chamando de 'eu mesmo', 'mim mesmo'. Essa auto-imagem é propagandeada pela nossa personalidade. Nosso corpo e nossa personalidade nos dão a falsa sensação de que temos uma unidade egóica, contínua e coerente. Basta uma hora de prática intensa de auto-observação para constatar que essa concepção é profundamente equivocada.
No fundo, se abstrairmos o corpo físico, se o colocarmos de lado por um momento, e se fizermos o mesmo com o frágil verniz de nossa personalidade (conjunto de regras advindas da cultura do nosso grupo/sociedade), a crua realidade interior irá nos mostrar que não possuímos qualquer unidade ou constância psíquica (em verdade, a inconstância e a contradição interna são a regra)...
Se precisarmos falar com 'João', não se achará de fato um 'eu' específico ao qual possamos nos dirigir e que represente o João. Se quisermos encontrar 'Maria', a quem teríamos que nos dirigir exatamente? qual dos eus de Maria a representa? Notaremos não haver uma entidade psicológica a que possamos realmente chamar de Maria, que nos indique quem realmente Maria é.
Prova inconteste deste fato psíquico é que a cada momento, nossas opiniões, vontades, ansiedades, frustrações, suspeitas, desejos, pensamentos, emoções, anseios, medos, sentimentos, sonhos, ambições, paixões, traumas, etc se alternam num desfile tétrico e caótico, aos milhares com o passar do tempo, e ao sabor de estímulos corporais ou ambientais infinitos que recebemos.
Em uma jornada, na busca pela nossa própria identidade, absolutamente ninguém pode nos levar pela mão. Essa viagem é a única que só podemos fazê-la por nós mesmos. Ninguém pode nos conduzir até o âmago de nós mesmos. Nenhum psicólogo, mestre, anjo ou divindade. O que a divindade pode fazer? pode nos apontar o caminho. Mas ele precisa ser trilhado por cada um. Cada um de nós é que terá que constatar por si mesmo, quem de fato é... e quem não é! Nesta entrada deste caminho, aqui mesmo, caem mortas todas as teorias, teologias, poesias e fantasias...
O que há em nós que está sobrando? o que é lixo e o que tem valor? quais são as queridas falsas identidades a que temos tanto apego e apreço?
Lembre-se: os rótulos, os certificados, as credenciais, as certidões, não nos dirão nunca quem de fato somos. Nenhuma etiqueta, nenhum líder, nenhuma pessoa ou livro lhe poderá dizer quem é seu Ser Íntimo, eterno e real.
Incrivelmente, quase tudo que achamos que somos, não somos...
É disso que fala o texto abaixo. Um texto curto e duro, que deve ser lido com cuidado, mastigado e digerido aos poucos, pois em geral não gostamos de ouvir certas verdades. Preferimos os discursos de adulação, as lisonjas, os confetes, as apologias... queremos crer que somos criaturas valorosas e magnânimas, o ego quer garantir uma 'morada eterna' para si proprio, pois que teme a morte... ignoramos completamente que o único destino do ego é a aniquilação total.

Silvio MMax.



Os jogos da vida são nada mais que isso: jogos...


O que chamamos de “eu” é mais ou menos como o eixo de um redemoinho. Há movimento, você vê o centro do redemoinho e diz: “Há um eixo”. “Parece” que há um eixo. Na verdade, há um, enquanto existe o redemoinho. Cessou o redemoinho, cadê o eixo? Nós somos redemoinhos nesta existência, movimentos e fluxos de pensamentos, paixões, etc. Nosso “eu” é o eixo, mas, na verdade, nós não somos redemoinhos. Nós somos o céu azul.

Não há almas, nem espíritos, nem ninguém lá fora para nos ajudar. Nem ninguém para nos premiar, nem ninguém para nos castigar. Tudo é ação e consequência. Você caminha sobre os resultados dos seus atos. Os seus atos provocam resultados. Os resultados são tudo o que você tem. Nós somos “movimento” no Universo. Fenômenos, como os redemoinhos.
De onde saem as agitações da nossa mente? Da nossa crença nos jogos da vida. A vida é constituída de muitos jogos com os quais nós nos comprometemos. Por exemplo, quando as pessoas começam a torcer por um time de futebol, ele tem bandeira, hino, camiseta, cor; nós podemos nos comprometer com o jogo do time de futebol e começarmos a torcer por ele. Há gente que começa a torcer e se compromete tanto com aquela paixão que é capaz de sair do jogo e brigar com o torcedor do time oposto e é capaz de matar ou morrer. Não é verdade? Nós sabemos que é assim.
No entanto, o jogo foi uma fantasia criada em algum momento e nós acreditamos nela. Todo o resto da vida também é constituído assim. Nós entramos numa empresa e o que é uma empresa? Um jogo. É toda uma armação como um time: tem um nome, uma meta e vamos lutar por aquilo e nos comprometer. Se alguém nos diz uma palavra desagradável, não dormimos direito de noite. Se não atingimos nossa meta, nos sentimos frustrados. No entanto, quem se lembrará das nossas vitórias? Das nossas derrotas?
Há uma pergunta que eu já fiz para milhares de pessoas. Vamos testar aqui de novo. Seus pais e avós são pessoas importantes para você? Todos acham que são importantes… Muito importantes para você? Então, seus bisavós também, pois são os pais dos seus avós. Por favor, cada um tem oito bisavós. Você sabe o nome dos oito? Ninguém sabe. Por que ninguém sabe?
Você pensa que é importante. Mas eu tenho uma notícia para você. Sangue do seu sangue, carne da sua carne, seus descendentes, seus bisnetos não se lembrarão nem do nome de você. Muito menos das suas humilhações, derrotas, vitórias… não se lembrarão. Você será esquecido. Por que você acha que é importante? Quando acontece alguma coisa, você sempre pode dizer: “Daqui a cem anos, ninguém vai se lembrar”.

E por que a gente se importa tanto? Porque nós entramos no jogo, entramos com aquela paixão de nos comprometer com um jogo, como nos comprometemos com um time de futebol. Os jogos da vida são apenas o que são: jogos. As paixões são assim, os amores são assim, os empregos são assim.
Todas as coisas que nos parecem importantes, na verdade não são. O que seria realmente importante? Não é a poeira que o redemoinho levantou. A única coisa realmente importante é o “céu azul”. Ele vai estar lá depois de todos os redemoinhos passarem.
Na verdade, nós somos eternos! só não somos eternos como indivíduos. Só que queremos ser eternos como indivíduos, como “eus”.


o texto acima foi extraído de um artigo escrito por Meihō Genshō.  Os negritos são meus.

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