segunda-feira, 22 de setembro de 2014

qual a diferença entre os candidatos?

‘Diferença dos candidatos é mínima’
Thiago Navarro

Setembro/2014 - Eleições 2014

A agenda básica dos três principais candidatos à Presidência da República nas eleições deste ano revela muito mais semelhanças do que divergências. A afirmação é do historiador e cientista político Maximiliano Martin Vicente, professor doutor do Departamento de Ciências Humanas da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), da Unesp/Bauru.

“Não temos grandes diferenças entre os três candidatos. Claro que o PT foca mais no aspecto social, o PSDB prega um estado mais livre, de mercado, e a Marina Silva acaba misturando as duas coisas. Vi atentamente o programa dos três, e não percebi diferenças significativas. O rumo do País não deve ser significativamente alterado”, pontua.

Já o cenário eleitoral mudou bastante com a morte de Eduardo Campos e a entrada de Marina Silva (PSB) em seu lugar. “A principal alteração é que, pela primeira vez em muito tempo, a polarização não está entre PT e PSDB. Surgiu uma terceira candidata com força, porém não surpreende a boa posição dela nas pesquisas. A Marina já teve boa votação em 2010 (ficou em terceiro lugar) e a isso somam-se os votos que seriam do Eduardo Campos”, explica.

Rumo das eleições

Com a candidata Marina Silva pulando para o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, deixando o tucano Aécio Neves para trás, o segundo turno, que antes era uma dúvida (a petista Dilma Rousseff poderia vencer no primeiro turno) passou a ser quase uma certeza. “A grande surpresa na verdade é as pesquisas apontarem a Marina vencendo no segundo turno. Isso era algo que ninguém esperava. E neste momento não dá para falar mais em comoção pela morte do Eduardo Campos, pois já se passou um mês e o assunto agora é a campanha de fato”, argumenta o professor.

Em caso de um segundo turno entre Dilma e Marina - o que se desenha pelas pesquisas de opinião - o prognóstico é difícil de ser feito. “Segundo turno é outra eleição. Acabando o primeiro turno, já saberemos a composição do Congresso, ou seja, quem terá maioria, a composição das Assembleias estaduais também estará definida, e ainda parte dos governadores já terá sido eleito ou pelo menos já saberemos os dois que vão pro segundo turno. Isso muda muito, e a composição no estados pode pesar, quem vai subir no palanque de quem”, adianta.

O fator mais importante, contudo, será o perfil das candidatas. “O ponto crucial será a experiência política e administrativa da Dilma e da Marina. Entendo que a Dilma leva uma ligeira vantagem. O voto religioso também não pode ser desprezado”, acrescenta Vicente.

Já Aécio Neves teria errado no discurso. “Ele tem o projeto mais vazio dos três. E o PSDB erra quando traz a lembrança do Fernando Henrique Cardoso. Quem viveu aquele período se incomoda com o desemprego que era alto, e o PSDB o traz como uma salvação. Assim como o PT erra em trazer o Lula sempre, ele já não puxa voto como antes. Os partidos têm que mostrar propostas atuais e com os quadros que tem hoje”, enfatiza.

Manifestações

Os protestos que ocorreram em junho de 2013 podem se refletir no pleito, acredita Vicente. “O que se viu no ano passado não pode ser encarado como negação à política, mas sim um clamor por mudanças no sistema atual. Temos um esgotamento do atual modelo político, e uma reforma seria necessária, até para reduzir a corrupção, que acaba sendo legitimada pelo modelo atual”, aponta.

“O financiamento público de campanha, por exemplo, é discutido, mas hoje já temos dinheiro público indo para os partidos, através do Fundo Partidário. Aliás muitos partidos só existem com essa finalidade, e uma reforma poderia melhorar isso, reduzindo o número de legendas, mas melhorando a representatividade. Hoje não temos mais do que cinco ou seis partidos com representação no País, e alguns de caráter ideológico”, menciona.

Segundo Vicente, entre os partidos com representatividade efetiva hoje estariam o PMDB (maior bancada na Câmara do Deputados), PT, PSDB, PSB, PV e DEM. Legendas como PSOL, PSTU, PCB e PCO estariam no rol dos partidos ideológicos.

Já a Copa do Mundo, realizada neste ano no Brasil e com saída vergonhosa da Seleção  (goleada de 7 a 1 da Alemanha na semifinal) não interfere. “A Copa tem influência mínima em uma eleição. Mesmo essa que foi aqui”, afirma.

‘Mudança cultural é necessária’

O professor de filosofia Silvio Motta Maximino, docente da Universidade do Sagrado Coração (USC), entende que apenas a reforma política não mudará o País. “A reforma política é absolutamente necessária, mas não suficiente para que as mudanças sociais que desejamos aconteçam realmente. 

Para que os efeitos esperados ocorram, é necessária uma mudança cultural no comportamento do cidadão brasileiro de modo geral. Precisamos, enquanto cidadãos, criar o hábito de monitorar a ação dos políticos, fiscalizar seu desempenho e começarmos a pensar, quando formos votar, no interesse da coletividade brasileira, antes de nos preocuparmos com nossos interesses individuais”, relata Maximino.

Com formação em Filosofia e Direito, Maximino é pós-graduado em Antropologia e atual vice-presidente da Batra (Associação Bauru Transparente). A exemplo do professor Maximiliano Martin Vicente, Silvio Maximino vê pouca diferença entre os candidatos. “Não é possível praticamente identificá-las porque a maioria dos candidatos, temerosos de perderem a preferência de muitos eleitores, acabam formulando discursos suficientemente vagos a ponto de não precisarem se comprometer demasiadamente com propostas mais concretas e profundas de transformação social”, detalha.

Já em relação às manifestações de 2013, Maximino não crê em mudanças estruturais do modelo político. “Manifestações esporádicas ou desarticuladas de um projeto mais amplo de monitoramento das ações de nossos representantes políticos não são suficientes para gerar efeitos significativos a médio ou longo prazo. Protestos do tipo dos ocorridos em 2013 tem efeito apenas a curto prazo. Os candidatos em geral não exploram devidamente as reivindicações daquelas manifestações, uma vez que isso implicaria em se comprometer com reformas que iriam contrariar interesses econômicos de grupos aos quais não interessa que a situação se modifique.”
E Bauru?
Para o professor Maximiliano Martin Vicente, a dificuldade de eleger deputados, sobretudo federal, é recorrente em cidades do porte de Bauru. “Eu entendo que uma reforma política seria necessária, com a inclusão do voto distrital. Isso não só garantiria que todas as regiões tivessem deputados, como a fiscalização do trabalho deles seria mais eficiente. No quadro atual, de proporcionalidade, cidades como Bauru têm muita dificuldade em eleger um representante, pois muitos votos vão para candidatos de fora”, aponta. “Dá para eleger um deputado federal, mas será difícil”, reitera.

Para 2018, o prefeito Rodrigo Agostinho (PMDB) é visto como um nome em potencial. “Ele teve uma votação muito expressiva em 2012 e vem se tornando uma liderança na cidade e região, além de pertencer a um partido forte. Mas tudo vai depender de como ele terminará o mandato”, opina.

Até hoje, Rodrigo raramente declara explicitamente apoio a este ou aquele candidato a deputado. Mas o cenário pode mudar nas eleições municipais em 2016. “Fazer um sucessor seria importante. E ele pode deixar a decisão nas mãos do partido, através do diretório, ou da coligação, e apoiar o nome que for indicado. Não acredito que ele se manterá neutro em 2016, até tendo em vista o pleito de 2018. Mas o cenário para as eleições municipais ainda é precoce”, finaliza.



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