‘Diferença dos candidatos é mínima’
Thiago
Navarro
Setembro/2014 - Eleições 2014
A agenda básica dos três
principais candidatos à Presidência da República nas eleições deste ano revela
muito mais semelhanças do que divergências. A afirmação é do historiador e
cientista político Maximiliano Martin Vicente, professor doutor do Departamento
de Ciências Humanas da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), da
Unesp/Bauru.
“Não temos grandes diferenças
entre os três candidatos. Claro que o PT foca mais no aspecto social, o PSDB
prega um estado mais livre, de mercado, e a Marina Silva acaba misturando as
duas coisas. Vi atentamente o programa dos três, e não percebi diferenças
significativas. O rumo do País não deve ser significativamente alterado”,
pontua.
Já o cenário eleitoral mudou
bastante com a morte de Eduardo Campos e a entrada de Marina Silva (PSB) em seu
lugar. “A principal alteração é que, pela primeira vez em muito tempo, a
polarização não está entre PT e PSDB. Surgiu uma terceira candidata com força,
porém não surpreende a boa posição dela nas pesquisas. A Marina já teve boa
votação em 2010 (ficou em terceiro lugar) e a isso somam-se os votos que seriam
do Eduardo Campos”, explica.
Rumo das
eleições
Com a candidata Marina Silva
pulando para o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, deixando o
tucano Aécio Neves para trás, o segundo turno, que antes era uma dúvida (a
petista Dilma Rousseff poderia vencer no primeiro turno) passou a ser quase uma
certeza. “A grande surpresa na verdade é as pesquisas apontarem a Marina
vencendo no segundo turno. Isso era algo que ninguém esperava. E neste momento
não dá para falar mais em comoção pela morte do Eduardo Campos, pois já se
passou um mês e o assunto agora é a campanha de fato”, argumenta o professor.
Em caso de um segundo turno entre
Dilma e Marina - o que se desenha pelas pesquisas de opinião - o prognóstico é
difícil de ser feito. “Segundo turno é outra eleição. Acabando o primeiro
turno, já saberemos a composição do Congresso, ou seja, quem terá maioria, a
composição das Assembleias estaduais também estará definida, e ainda parte dos
governadores já terá sido eleito ou pelo menos já saberemos os dois que vão pro
segundo turno. Isso muda muito, e a composição no estados pode pesar, quem vai
subir no palanque de quem”, adianta.
O fator mais importante, contudo,
será o perfil das candidatas. “O ponto crucial será a experiência política e
administrativa da Dilma e da Marina. Entendo que a Dilma leva uma ligeira
vantagem. O voto religioso também não pode ser desprezado”, acrescenta Vicente.
Já Aécio Neves teria errado no
discurso. “Ele tem o projeto mais vazio dos três. E o PSDB erra quando traz a
lembrança do Fernando Henrique Cardoso. Quem viveu aquele período se incomoda
com o desemprego que era alto, e o PSDB o traz como uma salvação. Assim como o
PT erra em trazer o Lula sempre, ele já não puxa voto como antes. Os partidos
têm que mostrar propostas atuais e com os quadros que tem hoje”, enfatiza.
Manifestações
Os protestos que ocorreram em
junho de 2013 podem se refletir no pleito, acredita Vicente. “O que se viu no
ano passado não pode ser encarado como negação à política, mas sim um clamor
por mudanças no sistema atual. Temos um esgotamento do atual modelo político, e
uma reforma seria necessária, até para reduzir a corrupção, que acaba sendo
legitimada pelo modelo atual”, aponta.
“O financiamento público de
campanha, por exemplo, é discutido, mas hoje já temos dinheiro público indo
para os partidos, através do Fundo Partidário. Aliás muitos partidos só existem
com essa finalidade, e uma reforma poderia melhorar isso, reduzindo o número de
legendas, mas melhorando a representatividade. Hoje não temos mais do que cinco
ou seis partidos com representação no País, e alguns de caráter ideológico”,
menciona.
Segundo Vicente, entre os partidos
com representatividade efetiva hoje estariam o PMDB (maior bancada na Câmara do
Deputados), PT, PSDB, PSB, PV e DEM. Legendas como PSOL, PSTU, PCB e PCO
estariam no rol dos partidos ideológicos.
Já a Copa do Mundo, realizada
neste ano no Brasil e com saída vergonhosa da Seleção (goleada de 7 a 1
da Alemanha na semifinal) não interfere. “A Copa tem influência mínima em uma
eleição. Mesmo essa que foi aqui”, afirma.
‘Mudança
cultural é necessária’
O professor de filosofia Silvio
Motta Maximino, docente da Universidade do Sagrado Coração (USC), entende que
apenas a reforma política não mudará o País. “A reforma política é
absolutamente necessária, mas não suficiente para que as mudanças sociais que desejamos
aconteçam realmente.
Para que os efeitos esperados
ocorram, é necessária uma mudança cultural no comportamento do cidadão
brasileiro de modo geral. Precisamos, enquanto cidadãos, criar o hábito de
monitorar a ação dos políticos, fiscalizar seu desempenho e começarmos a
pensar, quando formos votar, no interesse da coletividade brasileira, antes de
nos preocuparmos com nossos interesses individuais”, relata Maximino.
Com formação em Filosofia e
Direito, Maximino é pós-graduado em Antropologia e atual vice-presidente da
Batra (Associação Bauru Transparente). A exemplo do professor Maximiliano
Martin Vicente, Silvio Maximino vê pouca diferença entre os candidatos. “Não é
possível praticamente identificá-las porque a maioria dos candidatos, temerosos
de perderem a preferência de muitos eleitores, acabam formulando discursos
suficientemente vagos a ponto de não precisarem se comprometer demasiadamente
com propostas mais concretas e profundas de transformação social”, detalha.
Já em relação às manifestações de
2013, Maximino não crê em mudanças estruturais do modelo político.
“Manifestações esporádicas ou desarticuladas de um projeto mais amplo de
monitoramento das ações de nossos representantes políticos não são suficientes
para gerar efeitos significativos a médio ou longo prazo. Protestos do tipo dos
ocorridos em 2013 tem efeito apenas a curto prazo. Os candidatos em geral não
exploram devidamente as reivindicações daquelas manifestações, uma vez que isso
implicaria em se comprometer com reformas que iriam contrariar interesses
econômicos de grupos aos quais não interessa que a situação se modifique.”
E
Bauru?
Para o professor Maximiliano
Martin Vicente, a dificuldade de eleger deputados, sobretudo federal, é
recorrente em cidades do porte de Bauru. “Eu entendo que uma reforma política
seria necessária, com a inclusão do voto distrital. Isso não só garantiria que
todas as regiões tivessem deputados, como a fiscalização do trabalho deles
seria mais eficiente. No quadro atual, de proporcionalidade, cidades como Bauru
têm muita dificuldade em eleger um representante, pois muitos votos vão para
candidatos de fora”, aponta. “Dá para eleger um deputado federal, mas será
difícil”, reitera.
Para 2018, o prefeito Rodrigo
Agostinho (PMDB) é visto como um nome em potencial. “Ele teve uma votação muito
expressiva em 2012 e vem se tornando uma liderança na cidade e região, além de
pertencer a um partido forte. Mas tudo vai depender de como ele terminará o
mandato”, opina.
Até hoje, Rodrigo raramente
declara explicitamente apoio a este ou aquele candidato a deputado. Mas o
cenário pode mudar nas eleições municipais em 2016. “Fazer um sucessor seria
importante. E ele pode deixar a decisão nas mãos do partido, através do
diretório, ou da coligação, e apoiar o nome que for indicado. Não acredito que
ele se manterá neutro em 2016, até tendo em vista o pleito de 2018. Mas o
cenário para as eleições municipais ainda é precoce”, finaliza.
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