quinta-feira, 23 de abril de 2020

filme "Dark Waters – O Preço da Verdade" - resenha

O que um filme poderia dizer sobre o teflon da sua panela?

"Dark Waters – O Preço da Verdade"

 

O primeiro detalhe interessante a respeito do excelente filme “Dark Waters – O Preço da Verdade" (dirigido por Todd Haynes), é saber que foi baseado em uma história real e inspirado no artigo Dark Waters, do romancista e ensaísta americano Nathaniel Rich, publicado em 2016 na revista The New York Times Magazine, intitulado “The Lawyer Who Became DuPont’s Worst Nightmare”.

A obra cinematográfica é feliz em narrar a odisseia do protagonista Robert Bilott (interpretado por Mark Ruffalo), que já era advogado de sucesso defendendo grandes empresas de químicos. Ironicamente, contudo, ele acaba sendo procurado por dois agricultores de sua cidade-natal, angustiados porque seus animais estavam morrendo devido a contaminação por lixo tóxico. 

Ele, então, resolve iniciar uma meticulosa investigação particular sobre as possíveis causas da intoxicação do solo e do rio daquela região.

🔺 alerta de spoilers abaixo 🔻

É assim que Dark Waters consegue expor muito bem os métodos questionáveis da famosa DuPont, uma das empresas mais poderosas da indústria química mundial. O protagonista, graças a sua tenacidade e senso de responsabilidade social, acaba descobrindo como referida empresa não só contaminou severamente o ar, o solo e as águas da região, como também tinha prévio conhecimento dos efeitos nocivos para a saúde humana, do uso de seus produtos (a base de teflon). Por 'efeitos nocivos', entenda-se: enfermidades graves (diversos tipos de câncer), malformações e morte precoce de funcionários e milhares de clientes, sem contar os danos nefastos e incalculáveis ao meio ambiente.

Evidentemente, o exaustivo processo nos tribunais americanos acaba bem expondo como o sistema e a burocracia costumam favorecer o corporativismo empresarial. O enredo de “O Preço da Verdade”, contudo, não o torna um filme de ação ou de suspense como seu trailer sugere. Isso não quer dizer que a trama não seja envolvente e emocionante, reforçando especialmente a tensão e a pressão sofridas pelos protagonistas, ao longo de inúmeros anos de exaustiva luta contra a poderosa e multimilionária Dupont e seu famoso teflon.

De bônus, você talvez se lembre de outro memorável filme -“Erin Brockovich” (que conta a impressionante história da mulher que acabou descobrindo e investigando vários casos graves de contaminação de água causada pela empresa Pacific Gas and Eletric Company, também nos EUA, em 1993). Enfim, se você não assistiu, fica também essa outra dica!

Embora a questão ambiental apareça como pano de fundo, Dark Waters trata realmente é do conflito entre dois aspectos relevantes da vida em sociedade: de um lado a prosperidade (afinal, as pessoas precisam de seus empregos) e do outro, a ética (respeito para com o ser humano, em primeiro lugar). 

Os políticos espertalhões sempre apelarão para o falso dilema entre esses dois aspectos, como se não fosse possível conciliar economia e bioética... sem lembrar que, quando fracassamos no respeito por nós mesmos e pelo ambiente, já fracassamos em todo o resto.

🔺FICHA TÉCNICA🔻

Nome: Dark Waters
Origem: EUA, 2019
Produtora: Paris Filmes
Direção: Todd Haynes
Roteiro: Mario Correa/Matthew Michael Carnahan
Elenco: Mark Ruffalo, Anne Hathaway, Tim Robbins, Bill Camp, Victor Garber, Mare Winningham, William Jackson Harper e Bill Pullman
Fotografia: Edward Lachman
Montagem: Affonso Gonçalves
Música: Marcelo Zarvos
Gênero: Drama jurídico baseado em caso real
tempo de duração: 126 minutos
recomendado: 12 anos

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